O filho de mil homens (Valter Hugo Mãe)

o-filho-de-mil-homens-valter-hugo1Muitas vezes como leitor você pode dizer que gostou de um livro, mas na realidade gostou do enredo. Ou ainda, gostou das ideias apresentadas pelo autor. Pode também gostar de alguma técnica de narrativa inovadora ou mesmo difícil de usar, mas que o escritor soube dominar muito bem. Mas a verdade é que depois de um tempo como leitor, ter os três elementos combinados vai se tornando algo cada vez mais raro, e é por isso que enquanto lia O filho de mil homens, de Valter Hugo Mãe (agora com maiúsculas!), já o fazia pensando que era livro para entrar fácil nos favoritos do ano. Sim, todos os elementos estão ali. E sim, se você como eu também se apaixonou por A máquina de fazer espanhóis, deve correr atrás sem perder tempo – vale a pena até furar aquela sua interminável lista de leituras pendentes, acredite.

O enredo encanta porque, embora melancólico, é de uma doçura surpreendente. Temos inicialmente um pescador chamado Crisóstomo, que ao chegar nos 40 anos se dá conta que por conta de fracassos na vida amorosa é agora um homem sem filho. E ele realmente acredita que um filho o tornaria completo, tiraria dele uma tristeza na qual mergulhara. “Via-se metade no espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausência e silêncios como os precipícios ou poços fundos“. Sai então procurando alguém que o aceite como um pai, para encontrar Camilo, metade como ele que com Crisóstomo forma algo inteiro, completo. Até que o menino sugere ao pai que busque uma mulher, para que seja o dobro.

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a máquina de fazer espanhóis (valter hugo mãe)

Você já se apaixonou à primeira página? Comigo isso não acontece muito frequentemente, sou chata e preciso lá de umas 20 páginas para esse tipo de coisa. Mas eis que tinha em mãos a máquina de fazer espanhóis do português valter hugo mãe (é gente, é tudo assim em minúsculas mesmo), e aconteceu. Lendo as primeiras frases, fui completamente tragada pela correnteza de seus longos parágrafos, com o coração até batendo mais forte ao passar em alguns períodos (e isso não é figura de linguagem). “Há alguém por aí que pensa algumas coisas que eu também penso, mas consegue colocar em palavras com uma genialidade sem igual”, passa por minha cabeça enquanto vou virando as páginas. Pronto, me apaixonei.

Já tinha ouvido falar em valter hugo mãe, apontado como um dos grandes nomes da literatura portuguesa do momento. Mas eu realmente não fazia ideia de que sua prosa teria tanta força, tanto esteticamente quando do ponto de vista dos temas que aborda (e como o faz). A comparação com José Saramago (outro lusitano) é inevitável, mas há de se fazê-la considerando como algo positivo. Não trata-se de autor sem talento querendo copiar um grande mestre. valter hugo mãe tem influência clara, mas estilo próprio.

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