Love Is a Mix Tape: Life and Loss, One Song at a Time (Rob Sheffield)

LADO A

Love is a mix tape

Muito embora meu contato com música no último ano seja mais Interpol/Paul Banks em eterno repeat no player, a verdade é que gosto de música. Muito. Cresci em uma família de pessoas apaixonadas por música, durante um bom período da minha adolescência música era o que movia meus dias e portanto eu sei bem o que Rob Sheffield quer dizer quando comenta sobre nossa capacidade de conversar através da música em sua autobiografia Love is a Mix Tape: Life and Loss, One Song at a Time, publicado em janeiro de 2007 nos Estados Unidos e, pelo menos após uma rápida googlada, aparentemente sem tradução no Brasil (ainda). Mais do que nos ajudar a falar, a música também tem outra característica (também reconhecida por Sheffield e muito, muito apreciada por mim) de permitir viagens no tempo. Toca Bitter Sweet Symphony e lá estou eu, caminhando pelos corredores da PUC. Escuto Love Me Do e estou em uma viagem de carro com a família quando ainda era criança. Toca Qualquer coisa e tenho quinze anos e estou voltando do colégio com minha amiga e juntas cantamos a música bem alto. E por aí vai. Não tem a ver com o ano de lançamento da canção, mas com o momento em que você conheceu a canção. Quem estava com você. O que você estava fazendo. Quem te apresentou. Quem ouvia muito com você.

E Love is a Mix Tape toma emprestada essa característica da música para que o autor resgate as lembranças do tempo em que conheceu e viveu com sua esposa, Renée Crist. Ambos eram jovens recém-formados e obcecados por música (e mix tapes, é óbvio), casaram cedo mas, infelizmente, tiveram apenas cinco anos para compartilharem essa paixão. Renée faleceu em maio de 1997, vítima de embolia pulmonar.1

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  1. Sei que isso parece ser um spoiler, mas lembrem, é uma autobiografia centrada justamente na morte de Renée. Tem coisas que não tem como não dizer, mas de qualquer forma, comento um pouco mais sobre isso um pouco para frente 

Trilhas Sonoras de Amor Perdidas

Há cerca de 11 anos a Sutil Companhia de Teatro apresentava ao público a adaptação do romance Alta Fidelidade de Nick Hornby, chamada A Vida é Cheia de Som e Fúria. Foi paixão e identificação instantânea com aquela personagem cheia de falhas e com uma visão meio ácida do que tinha ao redor, que estabelecia relações entre a música e tudo o que vivia. Passado esse tempo, a Sutil chega agora no Festival de Teatro de Curitiba com o que seria a segunda parte da trilogia Som e Fúria, a peça Trilhas Sonoras de Amor Perdidas.

O importante a se destacar é que é uma segunda parte mas não é uma continuação. Do dono da loja de discos vamos agora para um sujeito que tem uma coluna em um jornal e trabalha em uma rádio, e que em mais uma madrugada sem conseguir dormir relembra o passado através de várias “mixtapes”, aquelas fitas cassetes que costumávamos gravar em tempos pré-internet. O humor de Felipe Hirsch continua presente, mas agora ao invés do resgate de memórias de ex-namoradas, temos um homem tentando se reconstruir após a perda da mulher que amava. Assim, a nostalgia é muito mais melancólica do que se via na primeira peça da trilogia.

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