Fim de Partida (Samuel Beckett)

fimdepartidaO cenário é pós-apocalíptico, marcado por um cinza e ausência de sons externos, como se ali fosse o último lugar que existia no meio de um nada. Neste abrigo vivem quatro pessoas, cada uma com uma deformidade que impede com que vivam plenamente (como se o fato de já estarem vivendo no meio do nada já não os impedisse). Quase não há alimentos, os medicamentos estão acabando, assim como uma boa parte da noção de tempo. É neste espaço que de desenvolverá toda a história de Fim de Partida, do dramaturgo irlandês Samuel Beckett, sujeito que tinha um estranho talento para botar o dedo fundo na ferida ao mesmo tempo que nos fazia rir com uma certa dose de humor negro (vide o caso da peça Esperando por Godot). Como diz uma das personagens da peça, “nada é mais engraçado do que a infelicidade“.

O centro da peça me pareceu ser a dinâmica entre Hamm e Clov. Não sou especialista em Beckett, não sei quais eram suas convicções políticas ou o que for, mas a relação do patrão com o trabalhador. Não quero arranhar teorias marxistas envolvendo burguesia e proletariado, o fato é que é difícil não perceber uma certa crítica ali. Hamm é um artista que na atual situação não consegue mais criar, já que está cego. Além de cego, ele também não pode mais andar – e é aí que entra Clov, que trabalha para ele como uma espécie de “enfermeiro”. Clov é seus olhos e seus braços, e ironicamente, sofre de uma condição que não o deixa sentar, nunca. E apesar dos abusos que sofre, das péssimas condições em que vive ali com Hamm, ainda assim Clov não vai embora. Repete centenas de vezes o aviso de que está partindo, mas nunca vai. É quase um eco de Vladimir e Estragon, que nunca vão embora porque precisam esperar Godot.

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Rock n’ Roll e outras peças (Tom Stoppard)

O nome Tom Stoppard pode não soar muito familiar para você, mas vamos tentar estes aqui: Que tal Brazil, o filme? Ainda nas produções da década de 80, quem sabe Império do Sol? Ou ainda o papa-Oscar Shakespeare Apaixonado? Pois saiba que os roteiros desses filmes tem as mãos de Stoppard, seja em autoria, co-autoria ou adaptação. Não acha que são boas referências ainda? Que tal irmos para o campo em que ele realmente atua, o teatro? Ganhador de vários prêmios Tony, além de ser nada mais, nada menos do que “Sir” Tom Stoppard. Já deu para ter uma ideia da importância da figura, não?

É por isso que a publicação de Rock n’ Roll e outras peças pela coleção listrada da Companhia das Letras vem em tão boa hora. Eu já havia comentado em outro momento como fazia falta uma tradução de Rosencrantz and Guildenstern are Dead aqui no Brasil, imagine então minha alegria ao saber que não seria apenas essa peça, mas uma coletânea dos trabalhos de Stoppard que chegariam em português, traduzidas por Caetano W. Galindo. É livro para fazer os olhos dos amantes de teatro brilharem, e mais importante, é daqueles para apresentar Stoppard para um público que aprecia boa literatura.

A coletânea não está organizada por ordem cronológica, mas a forma como foi montada aproximou temas recorrentes do teatro de Stoppard, quase como se fosse uma galeria de quadros dos mais variados estilos na qual temos a oportunidade de ver um pouco de tudo que ele já fez. Stoppard já escreveu mais de 30 peças, a coletânea traz sete (oito se separarmos O Macbeth de Cahoot de O Hamlet de Dogg, embora o dramaturgo afirme que uma complementa a outra). Algumas delas vem com um texto introdutório de Tom Stoppard, explicando algumas questões sobre a criação do texto, característica de personagem, contexto, etc., o que é ótimo para uma leitura mais fluida dos textos. Continue lendo “Rock n’ Roll e outras peças (Tom Stoppard)”

A morte de um caixeiro viajante e outras 4 peças de Arthur Miller

Falar que Arthur Miller é um dos maiores nomes da dramaturgia norte-americana é até um lugar comum. Não há quem goste de teatro e em algum momento não tenha cruzado com algum texto seu, sendo que o encontro se dá normalmente com duas de suas obras mais famosas, A morte de um caixeiro viajante (Death of a Salesman) e As bruxas de Salém (The Crucible). A força de seu texto está principalmente no retrato fiel de uma época, o pós-guerra nos Estados Unidos, que tão fortemente moldou a sociedade daquela época, seja com valores como o do “sonho americano” como com a histeria do anti-comunismo.

Miller era um crítico ácido e astuto, e em suas peças em determinados momentos até bastante sutil. Do recorte de um dia comum na vida de pessoas ordinárias é possível tirar tanto que chega a ser injusto reduzir a importância de sua obra só à literatura norte-americana: ele fala de homens, tão reais, tão tridimensionais que poderiam estar falando de suas tristezas, paixões, medos e sonhos em qualquer lugar do mundo. É o que se pode perceber na coletânea A morte de um caixeiro viajante e outras 4 peças de Arthur Miller, lançada pela Companhia das Letras com tradução de José Rubens Siqueira.

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Trilhas Sonoras de Amor Perdidas

Há cerca de 11 anos a Sutil Companhia de Teatro apresentava ao público a adaptação do romance Alta Fidelidade de Nick Hornby, chamada A Vida é Cheia de Som e Fúria. Foi paixão e identificação instantânea com aquela personagem cheia de falhas e com uma visão meio ácida do que tinha ao redor, que estabelecia relações entre a música e tudo o que vivia. Passado esse tempo, a Sutil chega agora no Festival de Teatro de Curitiba com o que seria a segunda parte da trilogia Som e Fúria, a peça Trilhas Sonoras de Amor Perdidas.

O importante a se destacar é que é uma segunda parte mas não é uma continuação. Do dono da loja de discos vamos agora para um sujeito que tem uma coluna em um jornal e trabalha em uma rádio, e que em mais uma madrugada sem conseguir dormir relembra o passado através de várias “mixtapes”, aquelas fitas cassetes que costumávamos gravar em tempos pré-internet. O humor de Felipe Hirsch continua presente, mas agora ao invés do resgate de memórias de ex-namoradas, temos um homem tentando se reconstruir após a perda da mulher que amava. Assim, a nostalgia é muito mais melancólica do que se via na primeira peça da trilogia.

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As minhas fotos de quando eu era uma criança

“…As minhas fotos quando eu era uma criança, começaram a me dar uma agonia leve, uma espécie discreta e profunda de arrependimento. Há uma em que estou com um chapéu de cowboy, apontando uma arma para a câmara, que Laura achava doce, e um dia prendeu com um imã na geladeira. Mal consigo olhar para ela hoje em dia. Fico querendo pedir desculpas para aquele sujeitinho. Desculpe, se eu te decepcionei. Eu era a pessoa que devia tomar conta de você. Mas fiz algumas cagadas, tomei decisões erradas em momentos ruins, e transformei você em mim…”

(de ‘A Vida é Cheia de Som e Fúria’).

Não preciso dizer mais nada.

Teatro em Curitiba

Aeeeeee, agora chega o momento curitiboca mor: O Festival de Teatro de Curitiba!! Não me levem a mal, eu sei que rola muita coisa em Curitiba sem ser durante o festival. O lance é que curitiboca que é curitiboca só vai ao teatro nessa época, e ainda enche a boca para reclamar da “pobre vida cultural curitibana”.

pfft.

Da Mostra de Teatro Contemporâneo a única peça que me chamou a atenção mesmo foi Arena Conta Danton, peça da qual o Kim falou bastante para mim (o suficiente para eu pensar “Malditos Gremlins! Quando eles virão para cá?!!”).

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Nós, os idiotas

“…Nós, os idiotas, precisamos de alguém que nos salve dos sorrisos na fila do cinema nas noites de domingo, alguém, que nos impeça de cair no fosso, onde os solitários vivem com suas mães e pais. Nós, os idiotas, como dizia Shakespeare, devemos contar a história das nossas vidas, cheias de fúria e som, e que não significam nada”.(A Vida é Cheia de Som e Fúria)

… me sentindo mais idiota que o normal (em todos os sentidos). Mas enfim, quem puder veja essa peça. Parece que ficaria em cartaz em São Paulo no começo de 2005, mas começo de 2005 é um conceito tãããão abrangente…

Morgue Story

Morrer é um troço
que acaba com a vida
de qualquer um.

Há dias que estou louca para ir assistir essa peça. Acabou que hoje o Alex chegou com um cupom de desconto, a Jô se animou e combinamos de ir ver. Eu nem sabia do que se tratava, mas só o pôster já tinha chamado minha atenção. É como um pedaço de histórias em quadrinhos, tão nonsense quanto “Como uma Luva de Veludo Moldada em Ferro”, do Daniel Clowes. Por enquanto fica o que os outros falaram sobre a peça:

Gazeta do Povo

Curitiba Interativa

Morgue Story

Morrer é um troço
que acaba com a vida
de qualquer um.

Há dias que estou louca para ir assistir essa peça. Acabou que hoje o Alex chegou com um cupom de desconto, a Jô se animou e combinamos de ir ver. Eu nem sabia do que se tratava, mas só o pôster já tinha chamado minha atenção. É como um pedaço de histórias em quadrinhos, tão nonsense quanto “Como uma Luva de Veludo Moldada em Ferro”, do Daniel Clowes. Por enquanto fica o que os outros falaram sobre a peça:

Gazeta do Povo

Curitiba Interativa