As relações perigosas (Choderlos de Laclos)

relacoesperigosasQuando comecei a ler O espírito da prosa de Cristovão Tezza, já estava quase chegando ao final da “autobiografia literária” quando algo chama minha atenção: Tezza fala justamente do livro que eu leria a seguir. Tratava-se de As relações perigosas, romance epistolar escrito pelo francês Choderlos de Laclos no século XVIII. Sobre o livro, Tezza diz que é “a obra-prima que consolidou a cultura moderna da correspondência escrita como o espaço perfeito da expressão privada individual“. E não é exagero do brasileiro usar o termo “obra-prima” para falar do livro de Laclos, que até hoje é referência quando o assunto é romance que tem em sua base cartas. Mas, se é possível dizer isso, obviamente é porque Laclos explora ao máximo todas as possibilidades que este tipo de narrativa pode oferecer, aproveitando-se de certas características para criar não só personagens, mas também uma história inesquecível.

O que não deixa de ser extremamente admirável, já que o enredo de As relações perigosasé até bem simples. Através das correspondências trocadas entre diversas personagens, ficamos sabendo sobre os planos da Marquesa de Merteuil para se vingar de um ex-amante, usando para tal o Visconde de Valmont. Como é então que consegue ser tão interessante? Para começar, o que vejo como a principal qualidade da obra, é a sutileza de Laclos. Valmont e Merteuil são ricos, educados e inteligentes e isso fica evidente em suas cartas, algumas bastante sensuais mas de um jeito que o leitor mais desatento pode acabar deixando passar batido. Não espere nada como as cartas de James Joyce para Nora, por exemplo. A graça aqui é o quanto se pode dizer sem ser explícito ou ainda, o quanto se pode dizer sem nada dizer.

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Cinema com mamadeira 3

Começo o número 3 do Cinema com mamadeira com uma resolução de ano novo: Ou melhor, algumas resoluções. A primeira é assistir pelo menos quatro filmes por mês em 2013 (sei que o ano não acabou, mas a tendência é que eu feche 2012 com a média de 2 por mês). A segunda é achar um nome novo para essa sessão, até porque Arthur já está quase largando a mamadeira. A terceira é conferir os Oscarizáveis ANTES do Oscar este ano, como eu gostava de fazer há uns anos. Acho que é isso. Sou péssima com resoluções, elas parecem funcionar ao contrário: eu listo as coisas e aí que eu não faço mesmo. Mas bem, fica pelo menos o registro da intenção.  Mas vamos lá, para a última rodada do que eu tenho visto este ano.

OARTISTAO Artista: Já falei sobre ele aqui. Sabe aqueles filmes que o tempo passa e a lembrança dele parece ficar cada vez melhor? Eu realmente gostei, e é um daqueles que me arrependo de não ter visto no cinema – algumas cenas devem ter ficado especiais com som e imagem apropriados (como por exemplo, naquele sonho do protagonista, em que ele começa a ouvir as pessoas falando). Se eu fizesse top10 de lançamentos este ano como costumava fazer, ele estaria entre os três primeiros colocados com certeza. Acho que o que mais me agradou foi ele ter tantas personagens boas, dá aquela sensação gostosa quando o filme acaba de que você passou algumas horas sem pensar em qualquer merda da “vida real”. Lembro que um que deu a mesma sensação foi Juno. Continue lendo “Cinema com mamadeira 3”