A primeira vez que ouvi falar de House of Leaves foi em uma dessas listas que pipocam por aí sobre livros “intraduzíveis”. Fiquei curiosíssima após ver algumas imagens mostrando a formatação completamente louca das páginas, imaginando como é que aquilo se encaixaria na história, que em teoria é até simples. Temos três linhas para seguir: o artigo de Zampanò sobre um documentário, as notas que Johnny Truant incluiu neste artigo após a leitura e o material coletado por Will Navidson para criar o documentário do qual Zampanò fala. Cada linha é apresentada com uma fonte diferente, para ajudar o leitor a reconhecer a “voz” predominante. O documentário em questão é conhecido como The Navidson Record, e desde o início Truant revela nas notas de rodapé que não encontrou qualquer informação que comprovasse a existência do vídeo, porém o estudo de Zampanò vem recheado de referências a livros e pessoas tratando o documentário como real. Nós, como leitores, sabemos que é ficção mesmo que nomes como Miramax e Weinstein apareçam por ali, mas não deixa de ser interessante até como um recorte do nosso tempo a inclusão de nomes reais em um romance. Não tem como não achar graça, por exemplo, do trecho em que pessoas são entrevistadas e falam do Navidson Record. Quais pessoas? Ah, só “desconhecidos” como Anne Rice, Stephen King, Harold Bloom, Hunter S. Thompson e Stanley Kubrick. De novo: é evidente que são depoimentos “falsos”, mas ainda assim, cria um efeito interessante, puxando a ficção para a realidade.
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Livro de papel x livro digital
Então, há tempos que estou matutando sobre isso, mas pensava que seria dizer o óbvio, então largava o rascunho na lixeira. Até que hoje cedo li esta matéria na Folha: Espírito crítico empobrecerá sem o livro de papel, diz Vargas Llosa. Afirma Llosa que “O espírito crítico, que sempre foi algo que resultou das ideias contidas nos livros de papel, poderá se empobrecer extraordinariamente se as telas acabarem por enterrar os livros“. Vamos partir do princípio que o texto é bem vago e não fala especificamente de e-readers e tablets mas de “telas”, mas uma vez que ele insiste bastante no termo “livro de papel”, acredito que esteja sim se referindo às novas formas de ler um livro ou seja, a boa e velha discussão sobre livros de papel e livro digital.
Llosa continua: “Estou convencido de que a literatura que se escreverá exclusivamente para as telas será uma literatura muito mais superficial, de puro entretenimento e conformista“. Eu não sei sobre você, mas eu fiquei com a nítida impressão de que ele não faz a menor ideia do que está falando (pelo menos no caso da tecnologia). Sabe, parece que é daqueles que ainda acham que há um ser contra ou a favor dos livros digitais, como quem veste camisa com um kindle estampado para num jogo qualquer decidir qual será o meio utilizado pelas pessoas para ler. Não, não é por aí. Já começa que não acredito que livros digitais substituirão livros de papel, eles trabalham de forma complementar. Talvez os “profetas” que anunciam o fim do livro de papel tenham em mente a chegada do dvd substituindo as fitas de video cassete, não sei. Se for esse o caso, acho que vale lembrar que não há um “aparelho” para decodificar o livro que não seja o próprio leitor, então onde existir alguém que saiba ler, o livro de papel terá sua função. Outra coisa é que houve uma real melhora na qualidade da imagem e de som do vhs para o dvd, mas no caso do livro de papel para o e-reader, bem, o que importa é o que está escrito, e não como você lê.
Escolhas, escolhas…
Fico tão ansiosa com essa ideia de que não poderei ler tudo o que foi publicado que acabo encontrando dificuldades na hora da escolha. Quem vem primeiro na fila dos ‘n’ livros para ler? Aquele livro recomendadíssimo por um amigo com gosto similar ao seu? O outro que tem sido elogiadíssimo em várias resenhas? O novo do seu autor favorito? Qual o critério para quem não tem qualquer obrigação com a leitura? Pois é. Eu não tenho. Ou às vezes até tenho, mas são bizarríssimos ou completamente contraditórios, do tipo “Leia antes que chegue o filme” (como fiz com O lado bom da vida) e “Leia porque você gostou do filme” (como fiz com As aventuras de Pi). No final é tão aleatório que não dá para dizer que há um critério (ou um método nessa loucura, como dizia o tio Will).
O problema disso tudo é que na ansiedade, você acaba largando livros mais rápido do que normalmente abandonaria. Ou ainda, quando você não tem critério fica muito fácil começar a tender para um só tipo de leitura. Porque a gente se acomoda. Gosta de um autor em específico e aí quer ler tudo dele (oi, Gillian Flynn!), fica confortável com um determinado tipo de livro e aí basicamente só troca de autor (ou título), mas o enredo continua sempre o mesmo. E mesmo assim, a tal da ansiedade de não poder ler tudo continua, dando espaço para um sentimento que faz com que eu lembre muito de uma cena em especial do filme Quase Famosos: Continue lendo “Escolhas, escolhas…”
Liberal Arts
Ted Mosby Josh Radnor) está ali na casa dos trinta e poucos, aquele momento em que os sonhos da adolescência deveriam estar se concretizando, mas a realidade mostra que não é algo assim tão fácil. Seu diploma em língua inglesa não lhe rendeu o futuro cheio de conversas com pessoas que amassem os livros como ele, não há nem sinal de um relacionamento estável em sua vida (pelo contrário, acabou de tomar um fora) e seu emprego não parece lá muito interessante. É quando ele recebe uma ligação de um antigo professor da faculdade, o convidando para um jantar onde seria homenageado já que está se aposentando. Jesse prontamente aceita o convite e seu retorno à pequena faculdade de artes no Ohio acaba trazendo aquela óbvia nostalgia de um tempo em que tudo parecia possível.
Com este plot parece que o público do filme Liberal Arts (dirigido por Josh Radnor) se restringiria a pessoas na mesma faixa etária do protagonista, mas o fato é que chegando em sua alma mater Jesse conhece (e se encanta por) Zibby, uma adolescente de dezenove anos que está justamente vivendo o período do qual ele sente tanta saudades. Zibby surge um pouco como a representação de tudo que ficou em Ohio assim que ele se graduou, aquela avidez por novas experiências e ao mesmo tempo uma certa inocência sobre o que está por vir. Sim, ela também é uma manic pixie dream girl (aparentemente todo cara na casa dos trinta e poucos sonha com uma guria assim), mas vá lá, deixando de lado a birra pelo que já é um clichê do cinema atual, a personagem é até bem interessante, rendendo bons diálogos ao longo da história.
Parando de comprar livros
10 em cada 10 leitores vorazes sustentam um hábito de comprar mais livros do que conseguem ler. Pode seguir qualquer um deles e as reclamações estarão lá: “Metade do mês e já comprei 20 livros!”, “Não aguentei a promoção e comprei mais livros!” e variações do mesmo tema. Tem pouco tempo estava todo mundo por aí compartilhando esta imagem dizendo que praticava tsundoku.
Então você quer dar livros de presente de Natal?
Pensando nisso resolvi elaborar não exatamente um post com dicas de livros para dar de presente, mas de dicas para você que resolveu dar livros de presente. O bom é que você pode usar esse guia para outras situações, como aniversário, formatura e casamento (não, seriously, até para casamento é um presente legal). Então pega na minha mão e vamos lá, pequeno gafanhoto.
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Test-drive: Kindle 3
Considerando tudo isso, como acham que recebi o conceito de e-readers? Não só total descrença que a coisa “pegaria” mas também certa de que eu jamais gastaria dinheiro em algo assim. Eis que o Fábio estava há tempos namorando a oportunidade de comprar um Kindle (e-reader da Amazon), e quando chegou a terceira geração, ele nem esperou o lançamento: já em pré-venda tratou de garantir o dele. A engenhoca chegou tem uns dias aqui em casa, e durante o feriado eu resolvi fazer um test-drive, até porque né, triste não é mudar de opinião (e não ter opinião para mudar, há!).
Livros grátis (e porque isso pode ser um bom negócio)
Aí comecei a observar algo que acontece com bastante frequência lá no Meia Palavra. Uma pessoa comenta sobre um livro que acabou de ler, e outras tantas vão procurar – seja comprando o livro, seja baixando da internet. Ok, a editora não vai ganhar o dinheiro no segundo caso, mas temos aí mais um grupo de pessoas que sugerirão o título para um outro grupo, que sugerirá para outro… e assim vai. Resumindo: as pessoas lerão.
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verdade seja dita, aqui no Brasil o tal do mercado editorial aparentemente tá sempre em crise, já que sempre falam que brasileiro não lê, né. ↩
How to Survive a Horror Movie
Aviso desde o princípio que não adianta, esse livro é para os fãs dos filmes de terror. Ou pelo menos para quem já assistiu meia dúzia de clássicos do gênero, como as séries A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13 e Poltergeist, ou outros títulos famosos como O Iluminado e O Sexto Sentido. Caso contrário, passe longe porque o livro soará tipo piada interna, da qual você é a parte que está por fora e não entenderá absolutamente nada.
Recado dado, vamos comentar sobre o livro então. Escrito por Seth Grahame-Smith, trata-se de um guia de sobrevivência para aqueles que de algum modo foram parar no que o autor chama de Terrorverse. O humor do livro é construído a partir de clichês dos filmes de terror, mais ou menos como aqueles que listei aqui no ano passado e lógico, nas ótimas tiradas do Grahame-Smith quando mistura horror com o mundo real.
Tingo
Aí vi que a referência dessa aula é o livro The Meaning of Tingo and other extraordinary words from around the world, do Adam Jacot de Boinod. Surpreendentemente, já temos uma tradução aqui no Brasil (saiu pela Conrad em 2007), que pode ser encontrada como Tingo: o irresistível almanaque das palavras que a gente não têm. Parece um daqueles livros divertidíssimos, se for considerar alguns exemplos que traduzi lá da edição americana: