Orpheu

Hoje eu estava pensando na história de Orpheu. É, o da mitologia mesmo. Mais precisamente, no final da história. Bom, eu vou dar uma resumida de leve para que seja possível entender o que estou pensando sobre Orpheu.

A Eurídice, amor da vida dele, morre no dia do casamento. Ele, apaixonado, vai até o inferno (submundo) atrás dela. Chegando lá, ele consegue convencer Hades e Perséphone a deixá-la voltar ao mundo dos vivos, mas tinha uma condição: ele deveria retornar no escuro, sem olhar para trás. Eurídice o seguiria, mas se ele olhasse para trás, ela ficaria presa no submundo para sempre. Orpheu aceita a condição e segue seu caminho para o mundo dos vivos, mas sabe-se lá se pela escuridão ou pela ansiedade, começa a querer olhar para trás para se certificar que Eurídice o segue. Quando está quase chegando… não resiste, e perde sua amada para sempre, e logo a seguir é destroçado pelas Bacantes. Continue lendo “Orpheu”

Vinicius de Moraes

O que eu mais gosto sobre conhecer pessoas é que elas sempre nos ensinam alguma coisa. Qualquer coisa. Seja simples experiência de vida, seja um novo poeta, ninguém passa sem ensinar algo. E tem uma pessoa de quem vou lembrar para sempre por ter me apresentado um dos maiores poetas brasileiros: Vinícius de Moraes.

A obra de Vinícius tem cheiro de boemia. Vai ver é por isso que eu gosto tanto, não sei. Ouvir as músicas dele (especialmente as que ele faz parceria com o Toquinho) são simplesmente uma delícia, não há uma palavra que defina melhor a sensação. É aquela coisa de se estirar na cama e sentir o ventinho entrando pela janela, curtindo o som como quem está ouvindo uma cantiga de ninar. Continue lendo “Vinicius de Moraes”

Da manipulação

Ontem quando voltava para casa tive uma conversa sobre manipulação que me fez lembrar do livro do Choderlos de Laclos, o As Relações Perigosas. Muitos já devem ter assistido a versão cinematográfica com a Glenn Close como Marquesa de Merteuil (quem não viu, assista. Vale a pena).Enfim, já que lembrei do livro, vou colocar aqui um dos momentos mais bacanas da história (que é toda contada através de cartas, o que faz do livro algo bem original).

Carta CLIII

(do Visconde de Valmont à Marquesa de Merteuil)

Respondo imediatamente a vossa carta, e tratarei de ser claro; o que não é fácil convosco, quando tomais a resolução de não entender. Continue lendo “Da manipulação”

Chaucer e Os Contos da Cantuária

Pouco se sabe da vida e da personalidade de Geoffrey Chaucer. O escritor nasceu em Londres, por volta de 1340, filho do comerciante de vinhos John Chaucer. Com a ajuda de algum parente influente, Chaucer tornou-se pajem junto ao Príncipe Lionel, terceiro filho do rei Eduardo III, o que lhe concedeu a oportunidade de receber uma educação privilegiada, que incluía aulas de Latim e Francês.

Há informações de que Chaucer teria freqüentado uma escola de Direito de Londres e que em 1359 esteve lutando na França. Sempre próximo à realeza, Chaucer exerceu as funções de Inspetor Alfandegário junto aos mercadores de lã, até o Duque de Gloucester delimitar os poderes do então rei, Ricardo II, o que fez com que o escritor perdesse seu posto de Inspetor. Continue lendo “Chaucer e Os Contos da Cantuária”

Momento *SÓ PARA RAROS* do mês

O CREPÚSCULO DOS RESENHISTAS (Hans Magnus Enzensberger)

Desde quando existem críticos? Desde quando eles deixaram de existir? As profissões e seus nomes aparecem e desaparecem; como figuras na divisão de trabalho, eles são sujeitos a obscuras regras de evolução cultural. Reconhecemos essa situação e a aceitamos, pelo menos em termos genéricos. É apenas no nosso próprio ofício que as coisas são um pouco diferentes. É extremamente difícil para nós acreditar que somos dispensáveis! No entanto, basta pensarmos no mineiro das salinas, no fabricante de espadas – para onde eles sumiram? -, no homem que faziam cestos, no que fundia latão, no fabricante de agulhas ou de esporas. É possível que, sem que nos déssemos conta, o mesmo tenha acontecido conosco. Uma extinção brutal, completa e abrupta costuma ser a exceção. Transições graduais, transformações imperceptíveis – é assim que as coisas costumam acontecer. As quantidades nas espécies ameaçadas vão diminuindo num processo dificilmente percebido pelo restante do mundo, até que o último desapareça. É perfeitamente imaginável que num futuro próximo perguntemos o que aconteceu com o crítico, o resenhista. Eles estavam lá, há questão de momentos… ou teriam sido frutos de nossa imaginação? Continue lendo “Momento *SÓ PARA RAROS* do mês”

Sobre Capitu

Segundo Fábio Lucas, na introdução do livro Dom Casmurro lançado pela Editora Ática, “sob a forma de um memorial de acusação, temos que considerar o relatório como força re-construtiva do protagonista e fixadora da imagem dos demais figurantes”.

É ao narrar sua história que Bentinho, ao invés de justificar sua vida através de acusações contra Capitu, acaba por gerar a dúvida sobre se ela seria de fato culpada. Mais do que isso, ao evidenciar a tendência que Capitu tinha de dissimular, acaba criando em torno dela uma aura mística, um mistério que só é menor ao da sua traição.
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Os heróis e a morte na Ilíada

Observação: A Ilíada está entre os livros que mais me traumatizaram em uma primeira leitura. Eu nunca me senti tão burra na minha vida quanto no momento em que comcei a ler os versos “Canta-me a cólera – ó deusa! – funesta de Aquiles Pelida,/causa que foi de os Aquivos sofrerem trabalhos sem conta/e de baixarem ao Hades as almas de heróis numerosos”.
Ler a tradução em versos é um verdadeiro exercício, mais além: um desafio. Por volta do Canto III ou IV a pessoa já se acostuma com a linguagem e aí segue mais tranqüilo. Mas o começo é pesado *mesmo*.
Eu sempre sugiro a tradução do Carlos Alberto Nunes, que saiu pela Ediouro. O trabalho de tradução dele é excelente, sem cair nos “Auroras rosidáctilas” do Odorico Mendes.
Com relação a história, gosto muito mais da Odisséia do que da Ilíada. Porém, é com a Ilíada que temos as várias cores da cultura grega. É realmente um espelho do comportamento, credos e conceitos da época. É a partir disso que tracei esse paralelo entre os conceitos de Morte e de Heroísmo na Ilíada.

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O Eterno Despertar

Eu já comentei por aqui do lance das vezes que eu durmo tão pouco que acho que nem acordei, não? Pois é. Isso me lembra muito o primeiro arco de histórias de Sandman escrito pelo Neil Gaiman, o Prelúdios e Noturnos.

Resumindo para quem não conhece: Um mago aprisiona Morpheus por engano, uma vez que tentava aprisionar a Morte. Sonho fica preso durante anos, tempo suficiente para que esse mago morresse e o filho do mesmo continuasse mantendo Sandman preso. Eis que o Lorde Moldador consegue escapar e qual providência ele toma tão logo se recuperou? Vingança.

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