A vida secreta dos grandes autores (Robert Schnakenberg)

Comentando com o Fábio ontem sobre uma Super com uma lista dos 122 livros para entender o mundo (vi lá no Arte e Vício) ele observou “Você e essa sua mania de livros sobre livros…”. É, eu e essa minha mania de livros sobre livros. A grande verdade é que a maior parte eu ainda não tive oportunidade de conferir, como por exemplo História Universal da Destruição dos Livros ou ainda O livro dos livros perdidos. Mas recentemente pude conferir uma obra que segue essa linha mas de forma mais leve e divertida, digamos assim. Estou falando de A vida secreta dos grandes autores, de Robert Schnakenberg.

Como deve dar para notar pelo nome do autor, o livro é gringo. Mas a tradução brasileira ganhou ilustrações do gaúcho Allan Sieber, o que serve como um diferencial bem bacana com relação à edição de lá.  E nesse caso, fica claro que figuras carimbadas da literatura tupiniquim não dão as caras no livro. Porém, os nomes escolhidos por Schnakenberg representam bem a literatura, acredito eu. Na obra temos  um monte de curiosidades sobre diversos, desde Shakespeare até Thomas Pynchon.

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Depressão pós-livro

Eu ando bastante frustrada desde que terminei a leitura da saga Twilight. Eu estava definindo isso mais ou menos como “Ninguém entende quando eu digo que estou chateada por viver em um mundo no qual acordar e descobrir-se transformado em uma barata soa absurdo.”, mas tipos que uma garota lá do fórum Crepúsculo soube se expressar tão bem que eu preciso abrir uma exceção e usar aqui no Hellfire palavras que não minhas, mas de outra pessoa.

E antes que os meninos escapem achando que é um caso de apaixonite por personagens, por favor, continuem. O post dessa menina expressa muito bem quando nós, amantes da fantasia em geral, nos sentimos quando fechamos o livro e descobrimos que nesse mundo não há vampiros, hobbits ou zumbis. Se você já esteve por aí (e ei, não importa a idade, a Literatura faz dessas coisas com o mais maduro dos velhinhos), eu tenho certeza que de qualquer forma entenderá o que essa menina escreveu. E que atire a primeira pedra quem nunca pensou duas vezes sobre a fantasia.

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Crepúsculo (Stephenie Meyer)

Começou com um comentário no intervalo no trabalho, a Pri falando sobre o tal do livro que eu tinha que ler que era muito legal e tudo o mais. Depois a sugestão começou a pipocar aqui e acolá, e a coincidência foi tão grande que eu resolvi ver qual era a do livro. Mais uma coincidência: quando viajei, as livrarias dos aeroportos aqui do Brasil anunciavam a chegada da obra como se fosse um novo fenômeno de vendas nas prateleiras. Então eu comprei e comecei a ler.

Eu não quero formar uma imagem errada sobre a coleção de livros da Meyer, mas o fato é que o primeiro livro da série (Crepúsculo) é sim apaixonante. Sobretudo por causa do “mocinho” da história, o vampiro Edward, que é capaz de arrancar um monte de nhóóóuuuuums e suspiros de qualquer mulher. E aí obviamente você não quer parar de ler (sério, eu lia enquanto caminhava na rua!) e quando o primeiro acaba, você quer devorar todos os outros. Poisé. O problema são justamente os outros. Falarei brevemente de cada um dos livros aqui nesse post (títulos em inglês porque alguns deles não chegaram no Brasil ainda).

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Ubik (Philip K. Dick)

Nunca tinha lido obra alguma de Philip K. Dick, mas o fato de o roteiro de um dos meus filmes prediletos ser baseado em um livro dele (alou, Blade Runner!) já fazia com que eu tivesse pelo menos curiosidade em ler algo escrito por ele. A minha primeira escolha era A Scanner Darkly, mas como o Fábio já estava lendo, resolvi começar pelo até então desconhecido Ubik mesmo. O que no final das contas foi ótimo, porque é realmente um livro muito bom.

Do começo, vamos à pronúncia da coisa, que é algo como yoo-bik. E sim, como pelo menos quase todas as obras mais conhecidas do Dick, essa se passa no futuro. Pelo menos futuro para o autor, já que foi escrito em 1969 e a história se passa em 1992. De qualquer forma, já temos aí um ponto muito interessante de Ubik: apesar de ser escrita no final da década de 60, ele não tem muito daquele tom inocente de ficção científica que insiste em entulhar a história com coisas mudernosas, deixando a história em si fraca. O “moderno” complementa o que está sendo contado. Não haverá mais ênfase para o fato do sujeito ter uma nave pessoal e poder viajar normalmente para a Lua do que haveria para dizer que ele tem uma Ferrari e pode viajar para a Islândia.

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Mystic River (Dennis Lehane)

Há coisa de quatro anos atrás eu terminei meu post falando de Sobre Meninos e Lobos com um “Veja o filme, leia o livro”, indicando um link para a tradução do romance de Dennis Lehane no qual o filme de Clint Eastwood foi adaptado. O fato é que eu mesma não segui minha indicação e só agora finalmente li a obra. E eu poderia até me arrepender por ter demorado tanto para ler um livro tão bom, mas o fato é que não ter mais a lembrança da versão cinematográfica na cabeça provavelmente ajudou muito na hora da leitura.

Eu lembrava das atuações brilhantes do elenco (portanto lembrava do elenco), mas parava aí. Não lembrava de mais nadica de nada da história, e foi quase como ler pela primeira vez. E, levando em conta que é um policial, isso é muito bom.

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No Country For Old Men (Cormac McCarthy)

Acabei de ler o livro no qual se baseou o filme que papou quatro estatuetas do Oscar desse ano (e não por acaso, devo dizer). Confesso que inicialmente o estilo do McCarthy me irritou um tanto. Porque ele simplesmente aboliu o uso de aspas nesse livro (não li os outros, não posso confirmar se é um recurso que ele sempre utiliza). Isso significa ficar completamente perdido sobre o que é diálogo e o que não é, além de ler vários donts, cants bem desse jeito (e imaginem a pira que uma professora de inglês não tem ao ver isso).

Mas ali pela página 50 você já se acostuma com o estilão do sujeito, e então é só alegria. A primeira coisa a ser dita: a adaptação dos Coen foi uma das melhores adaptações que já vi. Quase ipsis litteris. E o legal é que nos momentos em que não segue exatamente as palavras do McCarthy, você consegue compreender a razão para isso (aquela velha história dos problemas da troca de mídia).

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O óbvio em três partes

E eis que acabam as olimpíadas de 2008. Provavelmente a que menos acompanhei. Até porque convenhamos, essa coisa de ficar acordado de madrugada para ver gente praticando esporte cansa só de pensar. De qualquer modo, com o final da competição chegamos ao primeiro óbvio do dia: a participação maizomeno do Brasil. Mas sobre os esportes no Brasil eu não vou falar muito mais, não. Já falei qualquer coisa no Pan do ano passado. Deixo vocês então com uma galeria de imagens bastante interessante. Eu ainda estou tentando entender a foto do cara no barco com a bunda para fora, juro.

Outro óbvio: ontem assisti o tal do Procurado. O plot é algo mais ou menos como “nerdinho de mal com a vida descobre que o pai é um super assassino fodão e que herdou ‘poderes’ dele”. Com algo assim, é óbvio que o filme é um exagero de perseguições, explosões e balas que fazem curva. E olha, seria muito, muito legal, se tivesse senso de humor (como no caso do Mandando Bala).

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Quem é Capitu?

Eu sei que ao mesmo tempo que diversas pessoas babam por essa personagem, às vezes até querer atribuir mais mistérios do que aqueles que Machado já deixou, existe lá também uma infinidade de pessoas que tremem só de lembrar que Capitu é personagem de Dom Casmurro (também conhecido como “aquele livro chato que fui obrigado a ler”). Eu, apesar de “obrigada” a ler Dom Casmurro, confesso que estou no primeiro time.

Não que eu tenha uma adoração tremenda pela personagem. Admiro sim, é a capacidade do Machado de ter incluído em nosso imaginário essa figura que é, por si só, uma interrogação. E acredito que justamente por isso que Quem é Capitu?, recém-lançado pela editora Nova Fronteira, é tão especial: ao invés de focar no mistério básico da traição ou não, ele vai além e mostra faces e faces não só de Capitolina, mas da obra Dom Casmurro em si.

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M is for Magic (Neil Gaiman)

Então que obviamente eu aproveitei a oportunidade de estar “lá fora” para comprar uns livrinhos. Um deles foi o M is for Magic do Neil Gaiman. Trata-se de uma coletânea de contos já anteriormente publicados (menos um, que na verdade é meio que um trecho do romance que ele lançará ainda esse ano, The Graveyard Book). É um livro voltado ao público infanto-juvenil, até porque a proposta é parecida com a das coletâneas do Bradbury como “S is for Space“, levar a Literatura para o público mais jovem, mas ao contrário de Coraline, o livro serve para leitores de todas as idades, sim.

O tom predominante é, como o nome diz, a magia. Mas aqui as coisas não aparecem como um conto de fadas serelepe e bonitinho: há muita acidez, nostalgia e melancolia. Há suicídio e sexo – embora de forma velada ou mesmo metafórica. E se seguindo a escola do Mestre Poe o Gaiman peca por escrever contos até meio longos, ainda assim ele parece ter aprendido bem a lição do efeito final: algumas conclusões são daquelas que deixam você perplexo e absorvendo o que foi lido.

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Robert Frost e a poesia

Eu às vezes vejo a poesia como uma floresta: você vai abrindo seu caminho para o coração da mata aos poucos, vencendo medos (“Poesia é só para gênios!”), se alimentando de uma ou outra fruta coletada ao longo da jornada (“Ei, esse poeta é bom mesmo!”) e claro, utilizando mapas desenhados por quem já esteve lá (ou o conhecido “seguir a indicação de professores e amigos”). Mas, ao contrário do que acontece em uma exploração em um espaço real, com a poesia parece que você dificilmente desvendará todo o caminho.

Veja o meu caso, por exemplo. Eu demorei para me encantar pela poesia, de verdade. Acho que os primeiros poetas que de fato curti foram alguns haijins (não estou lembrada se é bem esse o termo usado para quem escreve haikai, quem souber por favor confirma aí), apresentados para mim através de uma coletânea de haikais da Estrela. A paixão completa mesmo só veio na universidade, com alguns professores como a Luci e o Édison, que, continuando na metáfora da floresta, entregaram não só mapas mas fotos mostrando toda a beleza desse espaço.

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