Quando viu que eu estava lendo Harry Potter e a Pedra Filosofal meu amigo perguntou se eu estava querendo entrar no livro dos recordes como a última pessoa a ler esse livro. A piada faz sentido: 13 anos após o lançamento original,10 após a chegada ao Brasil e cá estou eu, na minha primeira-segunda vez com o título.
Explico: já tinha lido anteriormente (tem aí uns sete anos), mas não me agradou. Falaram que a tradução que era meio fraquinha mas que se lesse no original eu iria gostar. E ano após ano eu fui adiando a tal da leitura “no original”, até que vi uma caixa bacana para vender na Amazon e defini uma meta: terminar a série antes de chegar os 30 anos. A saber, tenho 29.
Poucos títulos conseguem dar conta de uma obra como acontece no romance A Valsa dos Adeuses, de Milan Kundera. A imagem da valsa é tão forte e representa tão bem o todo, que acompanha o leitor mesmo quando o livro acaba. Uma obra-cebola, cheia de camadas que você só vai percebendo a medida que vira as páginas. Nesse caso lembra muito algumas comédias de Shakespeare, que conseguia mesclar o cômico com o trágico de uma maneira ímpar.
A história começa com Ruzena (uma enfermeira de casa de banho) entrando em contato com um famoso trompetista para avisá-lo que espera um filho dele. As implicações desse primeiro fato se desenvolvem de forma extremamente interessante, sobretudo se pensarmos na questão da relação das personagens e leitores. Não quero influenciar julgamentos (até porque essa é uma das diversões da obra), mas chegando pela metade do livro relembre quais foram seus sentimentos/reações para o que é contado no começo: qual personagem ganhou sua simpatia, qual mereceu a antipatia e por aí vai.
Como comentei no meu post de test-drive do Kindle 3, eu testei o e-reader com a versão eletrônica do décimo livro da coleção que inspirou a série True Blood da HBO. Lançado em maio desse ano, Dead in the Family deixa bem claro qual será o tema principal da história de Sookie e companhia nesse livro: os entes queridos. Às vezes nem tão queridos assim, hehe. Já aviso para quem acompanha True Blood que talvez seja uma boa não ler esse post porque pode ter alguns spoilers (vá saber se a série durará dez anos, ou se continuarão mantendo alguma fidelidade aos livros, né…).
Quem já está acostumado com os livros sabe que Charlaine Harris descobriu ali um jeitinho de garantir o ganha pão, e estica a narrativa ao máximo, dando pouco tempo de intervalo entre os acontecimentos. Aqui Sookie começa lidando com os eventos de Dead and Gone: se recuperando da tortura que sofreu na mão de fadas (é estranho usar fadas para homens, se alguém tiver alguma tradução para fairies que seja masculina me avisa _o/ ) e da morte de Claudine, está “casada” com Eric, a cidade ainda reage a “saída do armário” dos shifters e por aí vai.
O pessoal que me conhece sabe da minha paixão por livros. Não, não estou falando da paixão por leitura, embora eu também a tenha. Mas é aquela coisa quase de fetiche, de colecionar edições bacanas de títulos que gosto (Bartleby, oi?), ter o maior orgulho de possuir daquelas tiragens especiais (tipo a de O Senhor dos Anéis, que temos três aqui em casa) ou ainda o velho e ótimo prazer de sentir o cheiro de livro novo, especialmente quando esse era desejado há muito tempo (naquele esquema Felicidade Clandestina, saca?).
Considerando tudo isso, como acham que recebi o conceito de e-readers? Não só total descrença que a coisa “pegaria” mas também certa de que eu jamais gastaria dinheiro em algo assim. Eis que o Fábio estava há tempos namorando a oportunidade de comprar um Kindle (e-reader da Amazon), e quando chegou a terceira geração, ele nem esperou o lançamento: já em pré-venda tratou de garantir o dele. A engenhoca chegou tem uns dias aqui em casa, e durante o feriado eu resolvi fazer um test-drive, até porque né, triste não é mudar de opinião (e não ter opinião para mudar, há!).
Lembro de uma certa discussão na qual um rapaz de São Paulo questionava “Por que vocês curitibanos se acham donos de Dalton Trevisan?”. Na época até pensei em responder qualquer coisa sobre familiaridade, mas acho que hoje em dia eu entendo a revolta do leitor. Dalton transforma Curitiba no mundo (como Rosa fazia com o sertão? Não sei.), porque embora em certos momentos o curitibano tenha a nítida sensação de estar andando com as personagens por ruas que conhece tão bem, se você tira esse reconhecimento do espaço, o que fica é o humano – retratado às vezes com uma simplicidade que não tem como não visualizar o mini-conto como um episódio da vida do leitor, ou de um conhecido do leitor.
Desgracida, coletânea de contos lançada em julho pela Editora Record, deixa isso ainda mais evidente. Sim, você ainda pode sair em busca de Curitiba Perdida, mas repare como os contos poderiam estar em qualquer lugar. E são deliciosos, talvez até pela concisão: rápidos e rasteiros, você lê o livro em uma hora e fica querendo mais. Até porque está tudo ali, mais uma vez – a acidez, o humor, a delicadeza. Plural de pequenos eventos, um melhor que o outro.
Dando continuidade à leitura de 2666 de Roberto Bolaño, acabo de terminar A parte de Fate. Para quem chegou aqui agora, vale lembrar que estou escrevendo sobre a obra aos poucos, seguindo a ideia inicial de Bolaño de que cada parte seria um livro. Sobre A parte dos críticos você pode ler o artigo clicando aqui, e sobre A parte de Amalfitano você pode ler clicando aqui. Vamos seguir então aos comentários sobre a terceira parte de 2666.
Eu estava com algumas leituras acumuladas, e acabou que passou mais de um mês entre a conclusão da parte anterior e a dessa. O que no final das contas foi algo positivo, acabou possibilitando um envolvimento com a nova personagem (o jornalista norte-americano Fate) que provavelmente não seria possível se eu tivesse engatado a leitura buscando os críticos ou Amalfitano. Porque é assim que começamos, com uma personagem completamente nova, em um lugar completamente novo e só pensando o que é que isso tudo tem a ver com o que tinha sido lido até então.
Sempre que penso em escritores cuja biografia renderiam por si só um romance, lembro de uma frase de Oscar Wilde em O retrato de Dorian Gray, que dizia “Um grande poeta é a menos poética de todas as criaturas. Parece que escreve a poesia que não consegue viver, enquanto poetas inferiores vivem a poesia que não conseguem escrever“. Óbvio, lembro da frase porque Wilde mesmo provou que o raciocínio não estava sempre certo – e a realidade é que eu me surpreendo muito com a quantidade de vezes que algum grande escritor parece contrariá-lo.
Veja só o caso de George Orwell. Tomando apenas os trabalhos mais conhecidos, como 1984 e Revolução dos Bichos, é indiscutível a importância desse escritor para a literatura do século XX. E se ao bater os olhos nas fotos de Eric Arthur Blair (nome de batismo do autor) você pensa que era só um tiozinho que escrevia umas boas histórias entre uma xícara de chá e outra, temos A vitória de Orwell (de Christopher Hitchens) para mostrar o contrário. Continue lendo “A vitória de Orwell (Christopher Hitchens)”
Achei isso no blog Girl Gone Geek e me apaixonei. A Novel-T é uma loja especializada em camisetas que fazem referências literárias (ahá, sacou o nome da loja?), divididas em duas categorias: American Canons e National Puncs. Muito legal mesmo, até porque cada “time” tem um símbolo relacionado com algo da obra ou autor citado (Poe vem com um corvo ou um coração, Quixote com um moinho de vento, Hester Prynne com o “A” da Letra Escarlate, etc.). Saca só (para ampliar as imagens, basta clicar sobre elas):
Meu primeiro contato com a pintora mexicana Frida Kahlo foi através do filme Frida (2002), uma adaptação de Frida: A Biography of Frida Kahlo de Hayden Herrera. Como pareceu uma personagem forte cuja biografia se confunde de forma muito interessante com a obra, fiquei bastante interessada quando soube da publicação no Brasil do livro Diego e Frida: Biografia, do vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2008, J.M.G. Le Clézio.
Inicialmente fiquei preocupada que fosse muito parecido com o que já tinha assistido, mas o comprometimento em falar não só de Frida, mas também de seu marido Diego Rivera, acabam por garantir uma nova perspectiva sobre a história. E Le Clézio conduz muito bem essa biografia, mesclando a narrativa sobre a vida dos dois artistas de tal modo que deixa clara a ideia de que tudo o que fizeram jamais teria a mesma beleza se nunca tivessem ficado juntos. Apesar da importância da arte tanto para Frida quanto para Diego, outra constante que fica clara já no Prólogo é a presença da política. Os dois tinham modos diferentes de pensar sobre o tema, mas a todo momento os ideais políticos dos protagonistas se mesclam com suas criações. Assim como o amor de um pelo outro acaba servindo como elemento para a obra, por isso da importância de conhecer a história não só sob o ponto de vista de Frida (como acontece na cinebiografia), mas também de Diego. Continue lendo “Diego e Frida: Biografia (J.M.G. Le Clézio)”
A Flip começou quarta e segue até domingo trazendo muitas discussões e novidades sobre Literatura e assuntos relacionados. Um dos nomes da festa literária é o historiador norte-americano Robert Darnton, que estará presente em duas mesas que debaterão o futuro do livro. A primeira, na quinta-feira às 19:30h, com Peter Burke e a segunda na sexta-feira às 10h, com John Makinson. E marcando a vinda de Darnton para o Brasil, a Companhia das Letras relançou no fim do mês passado O beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e Revolução em formato de bolso.
Trata-se de uma série de textos publicados pelo historiador, que já na introdução Darnton deixa claro ao leitor que não apresentam necessariamente uma ordem ou conexão. E de fato, cada parte parece um pequeno livro que em comum tem apenas a relação do homem com o texto impresso, e muito da experiência do autor sobre a França do século XVIII para ilustrar o que está sendo comentado. Continue lendo “O beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e Revolução”