Desonra (J.M. Coetzee)

Quando um autor é sugerido por mais de uma pessoa, é natural que o leitor crie alta expectativas sobre sua obra. É um misto de curiosidade, tentando entender a razão pela qual ele agradou tanta gente, com um pouco de dúvida, se para você o livro também será especial. Foi dentro desse contexto que finalmente pude ler Desonra, do sul-africano J.M. Coetzee. Inicialmente achava que seria algo no estilo da narrativa que conquistasse tantos elogios, mas logo pude perceber que não era esse o ponto alto do trabalho do escritor em questão.

Se em muitos casos o que salta aos olhos é o modo como se narra uma história, aqui o importante é de fato a história. Não que a escrita de Coetzee não seja digna de nota, pelo contrário: ele consegue fazer uma prosa que flui muito bem, sem qualquer excesso que venha a causar enfado ao leitor. A tensão vai sendo construída aos poucos, de modo que chega um momento em que não se quer largar o livro. Mas mesmo assim, a força de Desonra está nos diálogos e no desenvolvimento da trama e das personagens.

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Balanço Literário: Fevereiro

Livros lidos: Never let me go (Kazuo Ishiguro), O fio das missangas (Mia Couto), Slam (Nick Hornby), O Palácio de Inverno (John Boyne), Papéis Avulsos (Machado de Assis), Medo e Delírio em Las Vegas (Hunter S. Thompson), Um dia de chuva (Eça de Queiroz), O estranho mundo de Zofia e outras histórias (Kelly Link), O Violinista e outras histórias (Herman Melville), Disgrace (J. M. Coetzee).

Leituras em andamento: Falling Angel (William Hjortsberg) e O Despertar do Vampiro (Nazarethe Fonseca)

Livros que chegaram: A Universal History of the Destruction of Books: From Ancient Sumer to Modern-day Iraq (Fernando Baez), The Book of Lost Books: An Incomplete History of All the Great Books You’ll Never Read (Stuart Kelly), Slam (Nick Hornby), House of Leaves (Mark Z. Danielewski), O Violinista e Outras Histórias (Herman Melville), Ubik (Philip K. Dick), O Fio das Missangas (Mia Couto), Papéis Avulsos (Machado de Assis), O Despertar do Vampiro (Nazarethe Fonseca),O Império dos Vampiros (Nazarethe Fonseca), O Pacto dos Vampiros (Nazarethe Fonseca) e Kara e Kmam (Nazarethe Fonseca)

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O violinista e outras histórias (Herman Melville)

A vida de um escritor sempre vem carregada de ironias. Vide o caso do autor norte-americano Herman Melville, famoso pelo catatau Moby Dick, e que por outro lado tem algumas de suas obras mais curtas (contos e novelas) completamente ignorados pelo público. O que não deixa de ser uma pena, porque Melville se sai muito bem nesse estilo de narrativa mais breve, o que fica óbvio em trabalhos como Bartleby. E é até por causa dessa dificuldade em reconhecê-lo não só como o escritor de Moby Dick que a coletânea  O violinista e outras histórias, lançada recentemente pela editora Arte&Letra, é simplesmente essencial para quem quer conhecer mais sobre ele.

O livro traz sete contos de Herman Melville, (muito bem) traduzidos por Lúcia Helena de Seixas Brito. São como pequenos recortes da vida do século XIX, e talvez por isso mesmo acabará agradando bastante aqueles que tem gosto pela literatura da época.  Mas o que se destaca nesses contos é como a leitura que se faz deles pode ser tão atual mesmo nos dias de hoje.

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O estranho mundo de Zofia e outras histórias (Kelly Link)

Desde a primeira vez que bati os olhos na capa do livro O estranho mundo de Zofia e outras histórias de Kelly Link (que ilustra esse post), pensava sempre a mesma coisa: Tim Burton. Tinha algo naquelas pernas com meia calça listrada de preto e vermelho, a rosas em tom meio vitoriano que evocavam a lembraça dos filmes meio estranhos e darks do diretor, como Eduardo Mãos de Tesoura e A Noiva Cadáver. Agora ao terminar a leitura desta coletânea de contos, chego à conclusão de que a referência não está assim tão errada.

Para quem acha que elementos fantásticos como bruxas, fantasmas e zumbis são coisa para livros de crianças, talvez devesse dar uma conferida nos contos de Kelly Link. Morte, solidão, aquela sensação de não se encaixar – está tudo ali, mesmo com a presença do sobrenatural, que aparece para dar contornos de fábulas ou contos de fadas à histórias na realidade bastante urbanas.

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Um dia de chuva (Eça de Queiroz)

Conto publicado após a morte do escritor português Eça de Queiroz, Um dia de chuva foi publicado agora em fevereiro pela editora Cosac Naify, em uma edição em capa dura com ilustrações de Eloar Guazzelli. A curiosidade é que trata-se de um texto inacabado, portanto teve que ser estabelecido por Beatriz Berrini, e no corpo do texto encontram-se diversas notas indicando trocas de nomes de personagens ou lugares, além de trechos perdidos – o que não deixa de ser curioso para o leitor, que pode observar um pouco de como funciona o processo de escrita.

O enredo é bastante simples, não vai além do que o próprio título já diz. José Ernesto, um homem da cidade grande resolve comprar uma quinta no interior de Portugal. Porém, ao chegar ao local rapidamente tem sua visão ideal do local desfeita pelo dia de chuva que dá nome ao conto. Sem ter o que fazer ou para onde ir, acaba se entretendo através de conversas com o padre da região.

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Medo e Delírio em Las Vegas (Hunter S. Thompson)

“Quem faz de si um animal selvagem fica livre da dor de ser um homem.” Com essa citação de Samuel Johnson abrindo Medo e Delírio em Las Vegas – Uma Jornada Selvagem Ao Coraçao Do Sonho Americano, já dá para imaginaro que vem por aí. Conhecido como um dos maiores exemplos de Jornalismo Gonzo já publicados, o livro narra a busca de Raoul Duke e seu advogado Doutor Gonzo pelo Sonho Americano, completamente chapado de todos os tipos de drogas que se possa imaginar.

Na realidade, a história por trás de Medo e Delírio em Las Vegas é a seguinte: Thompson estava fazendo uma reportagem para a Rolling Stone sobre Rúben Salazar, usando o ativista e advogado Oscar Zeta Acosta como principal fonte para a matéria. Acosta, como o nome já indica, tinha origem mexicana, o que tornava complicada a conversa com um homem branco em tempos de tensão racial em Los Angeles, portanto os dois buscaram uma oportunidade para que conversassem em outro lugar. A tal “oportunidade” surgiu quando a revista Sports Illustrated ofereceu para Thompson um trabalho cobrindo um evento em Las Vegas, o 400 Mint.

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Papéis Avulsos (Machado de Assis)

O Machado de Assis contista sempre se apresentou aos poucos para mim. Fora a coletânea Contos Fluminenses, não lembro de ter buscado outras coletâneas, mas os contos de forma avulsa mesmo. Sem nem pensar duas vezes penso em A Igreja do Diabo, Missa do Galo e outros textos que mostram que quando o assunto era prosa, Machado de Assis sabia muito bem o que estava fazendo. E justamente por isso quis conferir a edição de Papéis Avulsos que saiu pela Penguin & Companhia das Letras: mesmo que já conhecesse alguns contos, sabia que seria um prazer reler.

Minha grande surpresa é que mesmo as releituras viraram novas leituras. Porque o trabalho com as notas de Hélio Guimarães (professor de Literatura Brasileira na USP) tornou textos já conhecidos como O Alienista e O Espelho algo completamente diferente, ampliando a noção do Rio de Janeiro e do Brasil de Machado e, mais do que isso, mostrando a pluralidade de referências do escritor, que citava autores então modernos como Allan Poe e Longfellow, além dos clássicos.

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Kindle: Compartilhando trechos grifados

Um dos maiores horrores de alguns bibliófilos é a ideia de riscar livros, grifando e anotando passagens que merecem destaque. Sei disso porque sou uma das pessoas que preferem gastar algum dinheiro com acessórios que não marcam o livro de modo permanente. Eis então que chega o Kindle e acaba com esse sentimento de culpa: você pode grifar o texto e fazer notas sem qualquer preocupação. Não vou entrar nos méritos dos motivos pelos quais nós bibliófilos não suportamos a ideia de riscar um livro de papel mas podemos fazer isso em ebooks, vamos aceitar que isso simplesmente acontece e seguir em frente, certo?

A questão é que o Kindle permite mais do que isso. Comprando a ideia das mídias sociais, o e-reader também oferece uma opção muito bacana, a de compartilhar esses trechos grifados no Twitter e no Facebook. Se for livro comprado na Amazon, chega inclusive a aparecer uma imagem da capa do livro que você está citando para ilustrar o trecho, como você pode ver aqui.

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O Palácio de Inverno (John Boyne)

Em uma noite de 1918, o Czar Nicolau II e sua família foram brutalmente assassinados pelos bolcheviques na Casa Ipatiev. A tragédia que marcou o fim de uma era para os russos sempre foi cercada de mistérios, baseados principalmente no fato de que quando realizada a exumação dos corpos, faltavam dois Romanovs – que muitos supunham ser os filhos do Czar: Alexei (herdeiro direto do trono) e Anastácia. Por anos especulou-se sobre o que poderia ter acontecido com os dois e, mais ainda, o que de fato ocorre naquela noite. Com O Palácio de Inverno John Boyne nos oferece o ponto de vista de um empregado do Czar, alguém comum narrando os fatos daqueles tempos e seus desdobramentos.

Boyne foi extremamente competente na tarefa de prender a atenção do leitor usando duas fórmulas já bem conhecidas tanto no cinema quanto na literatura: a primeira é a do homem comum vivendo situações extraordinárias. Geórgui, o empregado do Czar, era um simples camponês antes de mudar-se para o Palácio de Inverno (que dá o título da edição brasileira do livro). A segunda é de começar com a história já na velhice do protagonista, mostrando antecipadamente o fim – isso causa empatia imediata, o leitor quer saber como ele chegou naquele momento, o que obviamente se revela aos poucos.

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Slam (Nick Hornby)

O bom de já estar familiarizado com o estilo de um escritor (e bem, o fato de ele não variar muito esse estilo) é que não tem muito erro na hora de comprar o livro. Você sabe que completamente insatisfeito com a leitura você não se sentirá. Então, quando estou com vontade de ler algo sem querer me arriscar, normalmente procuro por Nick Hornby, que mesmo em seus piores momentos ainda é legal. Foi por isso que finalmente dei uma chance para Slam, publicado lá fora em 2007.

Digo “finalmente dar uma chance” porque como fã de Hornby, eu geralmente compro o título novo assim que chega nas livrarias. Mas o enredo de Slam me pareceu meio bobo, então foi a primeira vez que adiei uma leitura do autor. A história tem como base gravidez na adolescência, e o narrador-protagonista (figura típica nas histórias de Hornby) é um rapaz ali na casa dos 16 anos, apaixonado por skate e que costuma conversar com um pôster do skatista Tony Hawk. Continue lendo “Slam (Nick Hornby)”