Então, pensando nessa relação entre Música e True Blood, eu resolvi fazer um top5 de músicas de cada temporada, adicionando alguns comentários sobre a temporada em si. Para ouvir a música basta clicar nos links (e torcer para que os deuses da internetz não façam deles links quebrados no futuro). Vamos lá!
Tag: Literatura
Barba Ensopada de Sangue (Daniel Galera)
Mas vamos por partes, porque não é um livro que merece ser comentado apenas na base do é bom ou não. Eu sabia alguma coisa da história por conta da leitura de Apneia: o pai do protagonista queria se suicidar, e ao conversar com o filho, conta sobre o passado de seu pai, dado como morto em Garopaba (litoral catarinense) muitos anos antes. Tendo isso em mente, acabei estranhando o texto de abertura do romance, em itálico e na primeira pessoa, falando “meu tio”. Meu tio? Mas não seria o avô? Como assim? Ok, resolvi confiar em uma explicação que surgiria mais para frente (e aparece, falarei sobre isso depois) e deixei o narrador (que passa a ser em terceira pessoa) me conduzir.
Breves comentários sobre o que tenho lido
Rapidinhas.
Serena (Ian McEwan)
(Se vale de consolo para você que ainda não leu o livro, eu posso resumir brevemente que Serena é uma história que envolve espiões mas não tem nada daquele estilo “James Bond”, e é muito mais sobre a relação das pessoas com a Literatura do que qualquer outra coisa. E sim, é lindo. E sim, você deveria ler. Obrigada pela compreensão, espero que volte mais tarde.)
Então que Serena é um romance narrado em primeira pessoa pela narradora-protagonista Serena Frome, que para mim chegou como mais uma personagem para a galeria dos odiáveis de Ian McEwan. Não, ainda não é uma Briony (precisa tomar muito Nescau para chegar aí), mas inicialmente não tem como gostar da garota, tão egocêntrica e aparentemente tão apaixonada por si mesma. Vou enfatizar o inicialmente e pedir um tanto de paciência que depois volto para o motivo de ser só no começo. Retornando, Serena conta para o leitor como é que, após um breve romance com um homem mais velho, acabou sendo contratada pelo MI5, serviço de Inteligência Britânico. Quem espera toda a ação eglamour típicos das histórias de espiões pode se decepcionar: o cargo inicial da jovem é bastante sem graça, e pelo menos uma boa parte do começo do livro de McEwan se sustenta quase que só na curiosidade do leitor em saber por que o ex-amante de Serena a indicou para aquele trabalho. Mas aí chega o projeto Tentação e a narrativa realmente engrena. Continue lendo “Serena (Ian McEwan)”
Foco (Arthur Miller)
Veja o caso de Foco. O protagonista, Lawrence Newman, é apresentado para o leitor como uma pessoa horrorosa: ouvindo os gritos pedindo socorro de uma garota na rua, ele resolve ficar quieto. E não é nem por covardia, é simplesmente porque acha que se chamasse a polícia, quando ela chegasse o assunto já estaria resolvido e ele acabaria tendo que explicar a situação para os policiais. No outro dia a coisa piora ainda mais, quando em conversa com um vizinho no caminho para o trabalho, esse conta que era “só uma latina” e que ajudou o amigo bêbado que cometia a agressão a voltar pra casa – Newman nada diz sobre isso, não repreende o vizinho como esperamos que uma personagem “boazinha” faça. E aos poucos vamos vendo como ele é preconceituoso, decidindo quem ganha ou não emprego na empresa em que trabalha baseado no juízo que ele faz da aparência da pessoa. Se parece com um judeu, por exemplo, o emprego está fora de questão. Continue lendo “Foco (Arthur Miller)”
Cinquenta Tons de Liberdade (E.L. James)
Não que eles sejam novidade dentro da trama, a única coisa que aconteceu é que James deu um pouco mais de espaço para eles. O primeiro é Jack Hyde, o ex-chefe de Anastasia, que por incrível que pareça está mais disposto a atormentar Christian do que a garota. Por causa dele o livro tem até cena de perseguição de carro. E eu, que odeio perseguição de carro até no cinema, obviamente odiei a personagem. O segundo é a boa e velha (sem trocadilho, haha) Mrs. Robinson/Elena, que surge como pivô de uma das ‘n’ brigas de Grey e Ana. E cheesus, como esses dois brigam. Tem até um momento em que Grey, mais inteligente do que um grão de bico, resolve marcar os peitos de Ana com chupões para que ela não fizesse mais topless. Pois é. E se você não gosta de DR, imagina que emocionante que é acompanhar DR alheia, que invariavelmente apresenta um diálogo do tipo:
– Eu estou muito bravo com você, Ana!
– Por favor, não fique bravo comigo.
– Mas eu estou. E eu vou te dar…. PORRADA. Continue lendo “Cinquenta Tons de Liberdade (E.L. James)”
Cinquenta Tons de Cinza (E.L. James)
E é nítido que o “passado” do livro acaba ficando bastante evidente já nas primeiras páginas, pelo menos no caso de quem já leu Crepúsculo. As semelhanças vão desde bobagens (como o fato de Christian achar que azul fica bem em Ana, assim como Edward achava sobre Bella) até questões mais importantes para o enredo (ou vão dizer que nunca ninguém achou a dependência de Bella pelo vampiro meio estranha?). Algumas vezes só pelas características já dá para saber quem são as personagens que inspiraram James (o irmão de Christian, Eliott, seria o Emmet de Crepúsculo; a amiga de Ana, Kate, seria Rosalie, etc.). O maior problema é que como a autora quando escreveu afanfic contava provavelmente com o conhecimento prévio do leitor sobre características das personagens, acabou criando um Christian e uma Anastasia bastante vazios. Ela é uma garota insegura de cabelo rebelde que está prestes a se formar e gosta de livros clássicos. Ele é um empresário milionário aos 27 anos, frio e dominador. E é basicamente isso que sabemos sobre os dois, o que chega a ser irônico se considerarmos o tanto que a autora usa do livro para descrever espaço e as roupas de suas personagens. Continue lendo “Cinquenta Tons de Cinza (E.L. James)”
Antologia Poética (Carlos Drummond de Andrade)
É evidente que muito da obra de Drummond foi devidamente apresentada para mim em sala de aula (acredito que o mesmo deve ter acontecido com outras pessoas, especialmente com os que já foram vestibulandos). Mas a sensação de familiaridade não vem só do fato de muitos dos poemas do escritor serem bastante conhecidos e estudados, mas também pelos temas abordados pelo poeta e o modo como ele faz, o que fica bastante evidente nesta coletânea.
A antologia foi organizada pelo próprio autor em 1962, e é dividida em nove partes que, segundo Drummond, representam “o indivíduo, a terra natal, a família, amigos, o choque social, o conhecimento amoroso, a própria poesia, exercícios lúdicos, uma visão ou tentativa de, da existência” (pg.15). Mas a abordagem do poeta é tão sensível, que ele poderia tratar de temas completamente alienígenas e ainda assim conseguir fazer com que o leitor se identificasse com seus versos. Portanto não é à toa que muitos recitem por aí trechos de poemas dele (mesmo que às vezes sem nem saber a quem pertencem). É um daqueles casos em que o poeta parece assumir o papel de porta-voz da humanidade, colocando em palavras (e versos!) o que muitos sentem. Continue lendo “Antologia Poética (Carlos Drummond de Andrade)”
O Substituto (Brenna Yovanoff)
Sim, temos criaturas sobrenaturais, temos o carinha com um horrível segredo e até um amorzinho (!!) entre o ser em questão e uma humana, e sim, o sempre constante narrador em primeira pessoa. Mas mesmo com todos esses lugares-comuns Yovanoff consegue inovar, trazer algo de diferente para quem gosta de livros deste tipo. Já começa que temos um raro protagonista do sexo masculino (atenção para o termo “raro”, não estou dizendo que seja a primeira vez), o que por si só já traz uma dezena de inovações. Mackie é um substituto, criatura subterrânea colocada no lugar do filho do casal Doyle. Engana-se quem pensa que o enredo girará em torno do garoto descobrindo-se um substituto ou algo que o valha. Ele sabe o que é. Seus pais sabem o que ele é. Não há mistérios sobre isso. Continue lendo “O Substituto (Brenna Yovanoff)”
A trama do casamento (Jeffrey Eugenides)
Não é que realmente a base do enredo não seja a relação de Madeleine com os dois rapazes. De fato, temos desde o início a narrativa centrada nas dificuldades de seu romance com Leonard (que aparecera em sua vida como o cara perfeito que ela nem conseguia acreditar que começara a namorar) e da possibilidade de algo acontecer com Mitchell (o rapaz que a conhecia desde o primeiro ano na faculdade e que obviamente fora colocado na friend zone e não parecia ter muitas perspectivas de sair dali). A questão é que o escritor usa as relações entre as três personagens para ir além, falando não só sobre o amor, mas sobre solidão, sobre crescer, tornar-se adulto, sobre até mesmo a própria literatura. A leitura do romance de Eugenides é como se encontrássemos um objeto coberto de pó e aos poucos, enquanto fôssemos limpando, descobríssemos toda sua real beleza.