Trilogia Jogos Vorazes (Suzanne Collins)

Então que há tempos toda vez que vou mencionar Jogos Vorazes eu lembro que não coloquei os posts que publiquei no Meia Palavra aqui no Hellfire, tenho só meus comentários sobre o filme. Eu li os livros entre fevereiro e março do ano passado, daquele jeito meio imerso que depois dá até uma ressaca literária depois. No Meia escrevi separadamente sobre cada um deles, mas convenhamos, sendo isso aqui só uma republicação, não vejo motivo para separar em três posts. Portanto senta que lá vem história, porque aqui vou falar de Jogos Vorazes, Em chamas e A Esperança.

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JOGOS VORAZES

Confesso que comecei a ler Jogos Vorazes com uma certa carga de preconceito que tenho sobre o que se publica ultimamente para o público infantojuvenil. Pensei “Lá vem mais uma história romântica com um casal improvável…”. Mas estava dando um crédito mesmo assim para o primeiro livro da série escrita por Suzanne Collins porque pessoas cujo gosto é parecido com o meu falavam muito bem do livro. Primeiras páginas, fico conhecendo Katniss Everdeen, adolescente que vive em um futuro para lá de distópico: o mundo se organiza em distritos, cada qual com sua matéria-prima principal, todos tendo que servir a Capital sem perguntas. A última vez que uma revolta aconteceu, a Capital acabou com quem ia contra seu poder e criou a partir daí os Jogos Vorazes. Continue lendo “Trilogia Jogos Vorazes (Suzanne Collins)”

Love Is a Mix Tape: Life and Loss, One Song at a Time (Rob Sheffield)

LADO A

Muito embora meu contato com música no último ano seja mais Interpol/Paul Banks em eterno repeat no player, a verdade é que gosto de música. Muito. Cresci em uma família de pessoas apaixonadas por música, durante um bom período da minha adolescência música era o que movia meus dias e portanto eu sei bem o que Rob Sheffield quer dizer quando comenta sobre nossa capacidade de conversar através da música em sua autobiografia Love is a Mix Tape: Life and Loss, One Song at a Time, publicado em janeiro de 2007 nos Estados Unidos e, pelo menos após uma rápida googlada, aparentemente sem tradução no Brasil (ainda). Mais do que nos ajudar a falar, a música também tem outra característica (também reconhecida por Sheffield e muito, muito apreciada por mim) de permitir viagens no tempo. Toca Bitter Sweet Symphony e lá estou eu, caminhando pelos corredores da PUC. Escuto Love Me Do e estou em uma viagem de carro com a família quando ainda era criança. Toca Qualquer coisa e tenho quinze anos e estou voltando do colégio com minha amiga e juntas cantamos a música bem alto. E por aí vai. Não tem a ver com o ano de lançamento da canção, mas com o momento em que você conheceu a canção. Quem estava com você. O que você estava fazendo. Quem te apresentou. Quem ouvia muito com você.

E Love is a Mix Tape toma emprestada essa característica da música para que o autor resgate as lembranças do tempo em que conheceu e viveu com sua esposa, Renée Crist. Ambos eram jovens recém-formados e obcecados por música (e mix tapes, é óbvio), casaram cedo mas, infelizmente, tiveram apenas cinco anos para compartilharem essa paixão. Renée faleceu em maio de 1997, vítima de embolia pulmonar.1

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  1. Sei que isso parece ser um spoiler, mas lembrem, é uma autobiografia centrada justamente na morte de Renée. Tem coisas que não tem como não dizer, mas de qualquer forma, comento um pouco mais sobre isso um pouco para frente 

Tempo para ler

O texto a seguir foi publicado originalmente no Meia Palavra em 30 de novembro de 2011. Eu já tinha planejado colocá-lo aqui tem algum tempo, mas sempre acabava adiando a publicação, até que hoje cedo dei de cara com uma citação no tumblr e pensei: “uou, isso basicamente resume tudo o que eu quis falar naquele texto, mas de um jeito mais bonito”. Então vou colocar a citação seguida do texto, iepiiii.

“By making time to read, like making time to love, we expand our time for living. If we had to think of love in terms of our busy schedule, who’d risk it? Who’s got time to fall in love? But have you ever seen someone in love not finding time for it? I’ve never had time to read, but nothing’s ever stopped me from finishing a novel I loved. Reading isn’t about managing your social life better; it’s a way of being, like being in love.”

The Rights of the Reader by Daniel Pennac

É inevitável: pessoa aleatória começa a fazer parte da minha rotina, repara nos livros que leio e logo comenta: “Nossa, mas quantos livros você lê por semana? Está sempre mudando!” . Eu fico meio sem jeito de dizer que são em média dois por semana, ainda mais considerando que tem alguns anos 2 era a média de leitura anual do brasileiro. Aquela coisa, fica parecendo que estou querendo me exibir. Aí o que eu invariavelmente escuto é algum elogio ao meu hábito de leitura (obrigada) normalmente seguida pela famosa frase “Puxa, queria ter tempo para ler.” Continue lendo “Tempo para ler”

E foram todos para Paris (Sérgio Augusto)

Antes de tudo, um relato pessoal. Antes de conhecer Paris, eu pensava na cidade como um clichêzão, não tinha lá muita curiosidade para conhecê-la. Lembro que, ao contrário de Londres, sobre a qual já tinha lido tanto, tanto que já parecia conhecer as ruas que ainda nem visitara, cheguei na Cidade Luz tendo em mente dois destinos: o cemitério Pere Lachaise (meta ainda mais definida: túmulo de Oscar Wilde) e a óbvia Torre Eiffel (seguindo a dica do 1001 lugares para conhecer antes de morrer, de ser a última visita ao local). Sei que no final das contas foram poucos dias, mas serviram para eu compreender porque a cidade é um clichê. Ela é de fato apaixonante. Não dá para visitar Paris e sair ileso. Fica um pouco de você ali, aquela vontade de voltar, de rever lugares que parecem ter saltado da tela de um filme.

E muito dessa saudade que sinto da cidade fez com que eu me encantasse perdidamente por Meia Noite em Paris, filme de Woody Allen lançado no ano passado. Misturando figuras populares da década de 20, de Fitzgerald até Hemingway, a mescla entre figurinhas carimbadas do universo literário e a cidade dos sonhos inevitavelmente tinha que ser encantadora. E creio que não só para mim, já que o filme foi um sucesso (que se refletiu nas livrarias, com leitores procurando os autores que aparecem na história). E é na esteira do sucesso desse filme que o jornalista Sérgio Augusto lança seuE foram todos para Paris: um guia de viagem nas pegadas de Hemingway, Fitzgerald e cia. Continue lendo “E foram todos para Paris (Sérgio Augusto)”

Viagem ao fundo da sala (Tibor Fischer)

Tive uma leve ressaca literária depois de terminar o apaixonante O oceano no fim do caminho. Começava um livro, abandonava, começava outro, ficava para lá. Acho que é o lado ruim do kindle: são tantas opções que acaba ficando mais fácil desistir de uma leitura (com aquela desculpa do ‘ok, esse fica para depois’). Então resolvi dar uma olhada na pilha dos livros de papel que comprei este ano e ainda não tinha lido, e abri o Viagem ao fundo da sala, do inglês Tibor Fischer. “Eu só fiquei rica porque estava em casa às quatro e meia da tarde numa sexta-feira“. Pronto, senti ali, logo na primeira frase, que este seria o livro que curaria minha ressaca – o que de fato aconteceu.

Daquela história dos vários sentidos que uma palavra carrega, sempre que ouvia a Sol comentando sobre este livro eu pensava que a “sala” do título era a sala de aula. Coisa de professor, sabe como é. E qual não foi minha surpresa quando dou de cara com Oceane, uma designer que é, como conta a primeira frase do romance, rica e acaba usando seu dinheiro para manter um estilo de vida recluso. A jovem não sai de casa nem mesmo quando vai viajar: contrata um agente de viagens que organiza festas temáticas com estrangeiros no apartamento do andar de baixo para saciar sua curiosidade sobre as diferentes culturas.

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O Oceano no Fim do Caminho (Neil Gaiman)

Sei que quando falo disso pareço aquelas pessoas que visitam a praia pela primeira vez depois de anos de vida, mas vá lá, pense comigo em como a Internet mudou as coisas para todos nós. Começo de 2000 eu fiquei sabendo sobre Deuses Americanos de Neil Gaiman e como já era fã do autor por causa de Sandman, obviamente entrei no modo “OHMEUDEUSEUPRECISOLERESTELIVRO”. E aí eu ia todo dia na livraria perto da faculdade e perguntava “Já chegou Deuses Americanos?” e necas. E foram dias e dias assim, até que finalmente tive o livro em mãos. Agora no caso do lançamento mais recente de Gaiman, O Oceano no Fim do Caminho, não só acompanhei pelo twitter do escritor todo o processo de publicação da obra, como também tive o prazer de acordar na manhã do dia do lançamento e já ter o livro lá no meu kindle, me esperando. Isso para não dizer que eu tinha a opção de escolher entre o original e o traduzido, já que a Intrínseca lançou a tradução simultaneamente (e então os fãs que não leem em inglês não precisaram esperar meses para poder conferir o trabalho do Gaiman, certo?).

Enfim, sobre o livro. O Oceano no Fim do Caminho foi anunciado como o primeiro romance para adultos desde Os Filhos de Anansi. Gaiman de fato tem se dedicado mais à literatura infantojuvenil, com livros como Odd and the Frost Giants ou ainda, O livro do CemitérioEntão com um intervalo de seis anos, é claro que havia uma certa dose de expectativa. Eu estou frisando esse ponto porque normalmente quando criamos expectativa sobre algo, acaba que elas não são superadas e ficamos com um gosto amargo pelo livro “não ter sido tão bom assim”. Mas o fato é que esse não é o caso. Gostei tanto de O Oceano no Fim do Caminho que, quando vi que a porcentagem de leitura no kindle se aproximava dos 99%, comecei a me despedir das personagens junto com o narrador com lágrimas nos olhos. Sério. LÁGRIMAS. Neil Gaiman, seu puto, devolve meu coração.

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A Máquina Diferencial (William Gibson & Bruce Sterling)

O termo steampunk em literatura é aplicado para histórias que se passam em uma realidade alternativa na qual o século XIX ainda tem como principal fonte de energia o vapor (daí o termo “steam”), mas encontra-se mais avançada tecnologicamente do que realmente foi em nossa história. Seja a Inglaterra vitoriana, seja o velho oeste norte-americano, a ideia é incluir no cotidiano das personagens elementos que não existiam na época e que hoje em dia nos são comum, tudo isso adequado ao que estava disponível naquele tempo em termos de matéria prima ou mesmo de tecnologia.

Foi em 1990 que dois autores famosos por trilharem o caminho do cyberpunk (William Gibson e Bruce Sterling) escreveram a quatro mãos uma história que parte desse princípio, criando o agora clássico da ficção científicaA Máquina Diferencial. Vencedor de prêmios, o livro embora não possa exatamente ser chamado como o primeiro steampunk da literatura, ainda assim tem papel fundamental na divulgação desse gênero, sendo que por isso frequentemente aparece como referência ao falar desse tipo de obra.

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Sharp Objects (Gillian Flynn)

Primeiro livro escrito por Gillian Flynn, Sharp Objects foi publicado lá fora em 2007, chegando no ano seguinte ao Brasil pela Rocco como Na Própria Carne. Para quem já leu os outros livros da autor (Garota Exemplar, 2012 e Dark Places, 2010) muitos elementos já são até familiares: a protagonista que ao mesmo tempo que é bastante inteligente ainda assim tem sérios problemas psicológicos, a família completamente bizarra que é culpada em partes pelos problemas citados, um crime e um mistério e por conta disso um livro que se apresenta como thriller mas que ali para frente vai se transformando em outra coisa. Ah, claro. Tem também aquela sensação agridoce de ler algo bem escrito e bom, mas ao mesmo tempo tão perturbador que fica difícil classificar a experiência de leitura em si. É algo diferente.

Em Sharp Objects Gillian Flynn nos apresenta Camille Preaker, uma jornalista de Chicago que  recebe de seu editor a tarefa de voltar à cidade natal para investigar o que parece ser um caso de assassinatos em série. Ela segue para Wind Gap, uma cidadezinha no Missouri que não visitava há oito anos. Logo de cara ficamos sabendo que há algo de errado ali – não só pelo tempo em que a protagonista passa longe do local, mas do visível receio que ela tem de retornar, com todo um capítulo envolvendo muita bebida como parte da preparação para finalmente encarar a mãe e toda a cidade. Como de costume, Flynn não tem pressa em construir as personagens e desenvolver a ambientação, são pequenas informações deixadas como migalhas de pão junto ao que imaginamos ser a linha narrativa principal, a investigação de Camille sobre a morte das duas meninas.

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Thirteen Reasons Why (Jay Asher)

Mês passado ao comentar meu post sobre O futuro de nós dois, o Bruce falou sobre Thirteen Reasons Why, também escrito pelo Jay Asher. Fui pesquisar sobre o livro e fiquei bastante curiosa, porque parecia um daqueles casos de YA como A culpa é das estrelas e As vantagens de ser invisível: pode até ter um público-alvo, mas pode ser lido tanto por adolescentes quanto adultos. A história é sobre Hannah Baker, adolescente que decide se suicidar, mas deixa sete fitas cassete com um depoimento contando quais são os motivos (ou ainda, quem são os culpados) por seu suicídio, cada fita vem com um número pintado com esmalte azul, indicando a ordem para se ouvir o depoimento (assim como a ordem dos culpados). Há uma série de regras que garantem que as fitas chegarão apenas aos treze nomes listados por Hannah e quando o livro começa, é a vez de Clay Jensen ouvir as fitas, o que faz com que duas vozes acabem narrando o livro: Hannah (pelo depoimento na fita, marcado em itálico) e Clay, que descreve suas reações ao que está ouvindo.

Antes de continuar a falar sobre o livro, vamos para um apanhado de notícias:

Eu poderia continuar linkando uma série de notícias descrevendo o suicídio de adolescentes que sofreram bullying na escola (aparentemente a regra do jornalismo para não noticiar suicídio tem lá suas exceções), mas prefiro manter o foco nessas duas garotas em especial porque acho que elas têm algo em comum com Hannah. Vou falar melhor sobre isso ali para frente, mas tenha em mente essas duas garotas enquanto for pensar no enredo de Thirteen Reasons Why.

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A Peculiar Tristeza Guardada Num Bolo de Limão (Aimee Bender)

Rose é uma garotinha que está prestes a completar nove anos de idade, quando experimenta um bolo de limão com calda de chocolate feito especialmente por sua mãe. Ao colocá-lo na boca, sente um gosto ruim, mas não um sabor de ingrediente estragado ou excesso de doce ou seja lá o que deixa um bolo de limão ruim. Não, o que Rose sente é a profunda tristeza da mãe. É ali que ela descobre que tem um “poder especial”, de sentir o sentimento das pessoas ao comer algo preparado por elas. E então você une essa ideia bacanérrima com um título bastante curioso (gente, tenho uma queda por “peculiar”), uma capa fofíssima e lógico que a curiosidade sobre a história faz com que ele pule algumas posições na infinita lista de livros para ler. E aí quando você termina, com o perdão do trocadilho, sente um sabor meio agridoce. Aquela sensação de “certo, eu até gostei do livro, mas ao mesmo tempo, poutz, que ideia boa jogada fora!”. Mas me apresso, vamos devagar.

O fato é que para Rose, ainda uma criança, o tal do “poder especial” acaba se apresentando como um fardo, e não como uma dádiva. Isso porque a protagonista (e narradora) vive em um lar bastante disfuncional: não basta a mãe deprimida, ela tem um pai que parece bastante distante e um irmão tratado como prodígio mas que tem óbvios problemas para lidar com outras pessoas (inclusive Rose). Sem poder contar com a família e sem muitos amigos, a garota acaba recorrendo ao amigo do irmão, George, que a ajuda a “testar” seu poder, ou ainda, compreendê-lo melhor. A aproximação obviamente acaba virando uma apaixonite, mas sobre isso falamos logo mais. O fato é: esse primeiro momento da narrativa é fofo, embora não passe nenhuma ideia de onde é que vai dar (será uma história em que nada acontece? algo acontecerá? o foco será o poder de Rose?, etc). Mas assim que Rose começa a crescer, ela começa a ficar amarga e a narrativa também azeda. E juro que a partir de agora vou para com os termos relacionados ao paladar para falar de A peculiar tristeza guardada num bolo de limão, sério.

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