Mas aí temos casos como It’s Kind of a Funny Story de Ned Vizzini, e aí é simplesmente impossível escapar da relação vida e obra, até porque o próprio Vizzini passou alguns dias internado em uma ala psiquiátrica para tratar da depressão, tal como seu protagonista. Pior: no fim do ano passado o autor (então com 32 anos) se suicidou, deixando mulher e filho. “Um sujeito de sucesso, com pessoas que o amam e outras que dependem dele, como assim pode tirar a própria vida?”, alguns podem pensar. Outros já chegam com a resposta pronta “É coisa de covarde”. Falta talvez o exercício de empatia, de se colocar no lugar do outro para tentar compreender, o que a Literatura acaba ajudando a fazer. Assim, com It’s Kind of a Funny Story o efeito de vida do autor misturada com a obra foi bastante perturbador: ver a depressão com os olhos de quem sofreu desse mal chega a ser doloroso, especialmente se você tem conhecidos que fazem tratamento para tal.
Tag: Literatura
Para organizar (Ou: listão de livros)
E aí que falei da preguiça de atualizar, mas a verdade é que estava ficando meio incomodada com a falta de comentários sobre o que li em dezembro e agora no começo de janeiro. Não, não é que eu ache que o mundo precise saber minha opinião sobre tudo o que eu leio, eu é que tenho o péssimo hábito de esquecer minhas impressões sobre determinado livro após alguns anos, e gosto de ter algo registrado para consultar. A solução número um seria partir para o giffy review, mas a verdade é que dá muito trabalho e nem sempre uma imagem basta. Então vamos para o listão mesmo, com alguns breves comentários. Começando com:
Melhores (e piores) leituras de 2013
Então, sem mais enrolações, a listinha do ano. Clicando no link do título do livro você poderá ler minha resenha (trocentos anos escrevendo sobre livros e ainda não gosto de chamar post de blog de resenha, mas vá lá), por isso o comentário aqui no post é mais breve. Só ressaltando que a lista não conta só com livros lançados em 2013, por isso chamo de “melhores leituras” e não “melhores lançamentos”. E quando eu vi que ia dar uma roubada descarada com mini-listas, resolvi fazer um top 10 mesmo (só para explicar a quebra de ~~tradição~~, já que normalmente faço só top5). Vamos lá, para a lista:
MELHORES LEITURAS DE 2013
Eu sou da opinião que livro bom é livro que fica com você mesmo depois de muito tempo, e Haunted é exatamente o caso. Li em junho mas ainda não posso ver uma piscina e não lembrar da história do Saint Gut-Free e aí consequentemente de como esse livro mexeu comigo. E é isso: a galeria de personagens criada pelo Palahniuk acaba te assombrando, objetos ordinários fazem com que você lembre dos relatos extraordinários de cada um dos confinados. Mas mais do que os contos que mostram o que fez com que aquelas pessoas fossem ao “retiro de escritores”, o comportamento delas no tal retiro é bastante chocante também, e acaba trazendo bastante questões sobre a natureza humana. Saiu no Brasil como Assombro, pela Rocco.
Quem é você, Alasca? (John Green)
Calma. Ainda temos um narrador em primeira pessoa, masculino, nerd com alguma peculiaridade aleatória, que tem uma amizade forte com outro garoto e sim, a garota por quem o protagonista é perdidamente apaixonado. Mas há algo tanto na estrutura quanto na forma como o autor aborda certas questões (ei, já chego lá) que faz com que Quem é você, Alasca? seja único e, devo dizer, superior às publicações seguintes. A história começa aparentemente simples: Miles é um garoto meio solitário e meio sem propósito algum na vida que vê em uma ida a um colégio interno a possibilidade de dar uma virada, ou, como ele diz ao citar Rabelais, “sair em busca do grande talvez”. Chegando em Culver Creek, começa uma amizade com Chip (apelidado de “o Coronel”) e cai de amores por Alasca Young, uma garota visivelmente mais experiente, meio doidinha e, nas palavras dele, linda.
Noites de Alface (Vanessa Barbara)
E aos poucos, nós mesmos vamos conhecendo a vizinhança, num modelo que de certa forma se aproxima de The Brief History of the Dead que eu acabei de ler, com um capítulo concentrado em uma personagem. A diferença é que se no livro americano eu não achei que as personagens foram bem desenvolvidas dentro desse modelo, em Noites de Alface eu fiquei surpresa como a autora conseguiu desenvolver tão bem cada uma das figuras da cidadezinha, de torná-las tão palpáveis e carismáticas ao ponto de prenderem sua atenção mesmo que o que esteja retratado ali seja mero cotidiano: datilografa, vende remédio, bate iogurte no liquidificador, etc. Não há nada de realmente extraordinário (pelo menos aparentemente, já falo disso), mas cada um deles acaba conquistando sua atenção, como se fossem todos protagonistas junto ao Otto.
The Brief History of the Dead (Kevin Brockmeier)
A premissa básica do romance é que quando uma pessoa morre, ela não vai para um céu ou inferno. Ela vai para uma cidade, onde ficará com outras pessoas mortas até o momento em que não exista mais ninguém vivo que lembre dela. Há alguns trocadilhos no texto que deixam implícita a ideia de “alma”, mas os habitantes dessa cidade comem, dormem, ouvem música, se apaixonam, enfim, “vivem” como fariam do lado de cá. E aí você pega o papelzinho onde anotou o número de gente de quem você lembra e pensa: nossa, então essa cidade deve estar cheia, e seu raciocínio está correto, embora a cidade de adapte às novas “almas” que vão chegando, e vai crescendo cada vez mais, além de existir um certo equilíbrio: para um determinado número de gente que chega, há outro que vai embora.
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House of Leaves (Mark Z. Danielewski)
A primeira vez que ouvi falar de House of Leaves foi em uma dessas listas que pipocam por aí sobre livros “intraduzíveis”. Fiquei curiosíssima após ver algumas imagens mostrando a formatação completamente louca das páginas, imaginando como é que aquilo se encaixaria na história, que em teoria é até simples. Temos três linhas para seguir: o artigo de Zampanò sobre um documentário, as notas que Johnny Truant incluiu neste artigo após a leitura e o material coletado por Will Navidson para criar o documentário do qual Zampanò fala. Cada linha é apresentada com uma fonte diferente, para ajudar o leitor a reconhecer a “voz” predominante. O documentário em questão é conhecido como The Navidson Record, e desde o início Truant revela nas notas de rodapé que não encontrou qualquer informação que comprovasse a existência do vídeo, porém o estudo de Zampanò vem recheado de referências a livros e pessoas tratando o documentário como real. Nós, como leitores, sabemos que é ficção mesmo que nomes como Miramax e Weinstein apareçam por ali, mas não deixa de ser interessante até como um recorte do nosso tempo a inclusão de nomes reais em um romance. Não tem como não achar graça, por exemplo, do trecho em que pessoas são entrevistadas e falam do Navidson Record. Quais pessoas? Ah, só “desconhecidos” como Anne Rice, Stephen King, Harold Bloom, Hunter S. Thompson e Stanley Kubrick. De novo: é evidente que são depoimentos “falsos”, mas ainda assim, cria um efeito interessante, puxando a ficção para a realidade.
Love and Other Perishable Items (Laura Buzo)
Negócio é que não começou muito bem. Amelia, menina de 15 anos descreve seus primeiros dias no emprego em um supermercado. Hum, sim, ela se apaixona por um funcionário chamado Chris. Não sei se era só porque eu estava em uma fase ruim (já mencionada no post anterior), mas a leitura só engrenou mesmo para mim quando descobri que a história era narrada por Amelia, mas cada trecho dela era seguido por páginas dos diários de Chris (uma personagem bem mais interessante, digo desde já). Assim, como leitores nós ficamos sabendo dos eventos primeiro sob o ponto de vista da garota, depois do garoto.
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Jack o Estripador (Paulo Schmidt)
Um dos pontos altos de Jack o Estripador é o modo como o autor consegue nos transportar para a Inglaterra Vitoriana, mesclando fatos sobre os assassinatos e as investigações com o dia-a-dia dos envolvidos (algo que também gostei no texto da Cornwell). Não é uma mera descrição fria de detalhes até perturbadores (se formos pensar especialmente nas descrições das vítimas), mas um texto montado de tal forma que pequenas informações te fazem lembrar uma das principais razões para Jack não ter sua identidade revelada: era a mente de alguém do século XX contra uma polícia que na realidade parecia pertencer ao século XVIII: impressão digital, amostra de sangue e outras pistas que hoje são lugar comum em qualquer investigação hoje sequer existem. Junte a isso um lugar superpovoado, com iluminação fraquíssima e temos o cenário perfeito para que Jack o Estripador cometesse seus crimes.
Fangirl (Rainbow Rowell)
Continuando, eu acho que Fangirl é um presente da Rowell para os Potterheads. Poderia ser para qualquer outro fandom entre os milhares existentes por aí, é evidente, mas você não consegue deixar de lado as óbvias referências e principalmente, da homenagem que a autora presta aos leitores que cresceram (literalmente) lendo Harry Potter. Você sabe, este não é meu caso. Morro de inveja dessa galerinha que mal tinha entrado na adolescência quando leu o primeiro livro e já estava quase chegando na fase adulta quando leu o último. Deve ter sido uma experiência única, crescer junto com um livro. Não à toa esse pessoal é profundamente devotado, e continua falando dos livros como se o último não tivesse sido publicado há o que? Uns seis anos? É essa paixão pelos livros que a Rowell acaba captando ao contar a história de Cather, uma garota completamente obcecada pelas histórias de Simon Snow (o que seria aqui o equivalente de Harry Potter). Dezoito anos, morando fora de casa pela primeira vez, começando a se ambientar na faculdade e mantendo firme o amor pelas histórias de Snow, bem como o gosto por escrever fanfics sobre a personagem.