We (Yevgeny Zamyatin)

We, romance do russo Yevgeny Zamyatin tem uma história por trás da história. Os manuscritos mais antigos da obra datam de 1919, mas ela só foi concluída em 1921. Por conta do tema tratado, foi a primeira obra censurada pelo Goskomizdat, na época o novo bureau de censura da União Soviética. A primeira vez que o livro foi publicado foi em inglês, três anos após ter sido terminado. Em russo, só em 1988 ele foi impresso, revelando-se assim um dos casos raros em que a tradução foi publicada muito tempo antes do original.

E mesmo com tantas dificuldades para ser publicada, ainda assim We serviu de inspiração para várias das distopias da literatura moderna, incluindo aí a citadíssima obra de George Orwell, 1984. Nesse caso é importante ressaltar a questão que um inspirou outro, porque levando-se em conta que a obra do russo ganhou ares “cult” no Brasil (não há traduções disponíveis nem no Estante Virtual), o inglês parece mais conhecido e então há uma inversão na distribuição dos méritos: ao ler o romance russo, não esqueçam, foi Orwell que se inspirou, e não o contrário.

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There Once Lived a Woman who Tried to Kill Her Neighbor’s Baby

There Once Lived a Woman who Tried to Kill Her Neighbor’s Baby chegou nos Estados Unidos em 2009, através de uma tradução de Keith Gessen e Anna Summers publicada pela Penguin. O livro traz uma coletânea 19 de contos da escritora russa Lyudmila Petrushevskaya, selecionados pelos tradutores e divididos em quatro categorias:  Song of the Eastern Slavs, Allegories, Requiems e Fairy Tales; todos englobados pelo subtítulo “contos de fadas assustadores”.

Por contos de fadas é importante ressaltar que esse não é um livro indicado para o público infantil. O tom predominante das histórias é o horror, mostrando como a história de um país acaba se refletindo na obra de um escritor, aqui Petrushevskaya (nascida em 1938) traz consigo a herança do pós-guerra (extremamente forte na cultura russa), com todo o pessimismo e melancolia desses tempos.  Pense nos contos de “There once lived a woman…” como se Crime e Castigo virasse contos de fadas, e então você terá uma boa ideia de como se apresentarão enredo e personagens ao longo das histórias.

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Memórias do Subsolo (Fiódor Dostoiévski)

Sempre lembro de um momento em O Tempo e o Vento de Érico Verissimo no qual uma personagem dizia que O Capital de Marx era o livro mais citado e menos lido de todos os tempos. Se fôssemos esticar o raciocínio para um autor, tenho certeza que o campeão seria o russo Fiódor Dostoiévski. Por alguma razão que me escapa ele ganhou fama de “leitura difícil”, e por consequência quem o lê seria automaticamente uma pessoa inteligente. Portanto o autor consta em diversas listas de livros favoritos, muitas vezes mais como uma espécie de troféu “ah, eu venci essa leitura!” do que como uma indicação de prazer. O nome na lista não significa necessariamente que o autor foi lido, pelo menos não no sentido de imersão na obra.

Bobagem sem tamanho, tanto o medo da leitura (classificando um autor como difícil sem conhecê-lo) assim como usar leituras como troféu. De que adianta dizer que leu Dostoiévski se nada foi absorvido? E claro, isso vale para qualquer autor. Então, antes de descermos ao subsolo, vamos combinar isso: o importante é ler o que você gosta. Leia Dostoiévski sim, mas porque você deseja, e não porque vai parecer mais inteligente para outras pessoas. Continue lendo “Memórias do Subsolo (Fiódor Dostoiévski)”