perturbação
s. f.
1. Ato ou efeito de perturbar.
2. Desarranjo.
3. Transtorno.
4. Confusão.
5. Alteração.
6. Desordem.
7. Tontura.perturbar –
(latim perturbo, -are)
v. tr.
1. Mudar, resolver ou alterar a ordem, o concerto, a quietação ou sossego de.
2. Abalar, agitar, transtornar (ex.: perturbar o sossego).
3. Interromper, confundir.
4. Envergonhar.
v. pron.
5. Perder a serenidade de espírito.
6. Atrapalhar-se.
7. Ficar envergonhado; envergonhar-se.
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Fim de Partida (Samuel Beckett)
O centro da peça me pareceu ser a dinâmica entre Hamm e Clov. Não sou especialista em Beckett, não sei quais eram suas convicções políticas ou o que for, mas a relação do patrão com o trabalhador. Não quero arranhar teorias marxistas envolvendo burguesia e proletariado, o fato é que é difícil não perceber uma certa crítica ali. Hamm é um artista que na atual situação não consegue mais criar, já que está cego. Além de cego, ele também não pode mais andar – e é aí que entra Clov, que trabalha para ele como uma espécie de “enfermeiro”. Clov é seus olhos e seus braços, e ironicamente, sofre de uma condição que não o deixa sentar, nunca. E apesar dos abusos que sofre, das péssimas condições em que vive ali com Hamm, ainda assim Clov não vai embora. Repete centenas de vezes o aviso de que está partindo, mas nunca vai. É quase um eco de Vladimir e Estragon, que nunca vão embora porque precisam esperar Godot.
A visita cruel do tempo (Jennifer Egan)
Há alguns anos em Hollywood existia um tipo de “febre” entre os lançamentos, que era a criação de filmes que mostravam recortes das vidas de diversos personagens que acabariam se cruzando em determinado momento, em uma tentativa de passar para a telona a grande teia de aranha que criamos vivendo em sociedade. 21 Gramas e Crash são só dois exemplos de outros tantos que se sustentavam nessa premissa, que hoje em dia já nem é vista com aqueles ares de novidade.
Na literatura, porém, são poucos os que se arriscam nesse complicado exercício de recriar as relações humanas em seus mais diferentes níveis. E é nisso que se sustenta a força de A visita cruel do tempo, de Jennifer Egan1, vencedora do prêmio Pulitzer de 2011. O romance poderia muito bem ser lido como uma série de contos, mas a ligação entre as personagens alinha a narrativa, que tem como palavra de ordem as relações. Fora isso nada é linear ou, digamos assim, lógico: o tempo avança e retrocede, o foco narrativo muda, há diferentes estilos de textos e por aí vai. Continue lendo “A visita cruel do tempo (Jennifer Egan)”
presença confirmada na FLIP de 2012. ↩
Cidades de Papel (John Green)
A história aqui é sobre Quentin “Q” Jacobsen, que vive em Orlando. Na primeira parte eles nos descreve a amiguinha de infância Margo Roth Spiegelman, e um dia em que encontram em um parque o corpo um homem que se suicidara. Salto no tempo, agora ambos são adolescentes, mas aquela amizade da infância não existe mais: Q é platonicamente apaixonado por Margo, que virou uma das garotas populares da escola, em partes por causa de todas as histórias sobre sumiços e aventuras que ninguém duvida que sejam verdadeiras: Margo é uma lenda. E eis que uma noite esta “lenda” bate na janela de Q e pede ajuda para um plano de vingança. Só a noite em que os dois circulam pela cidade para dar o recado de Margo já valeria por si só o livro, tem aquele tom gostoso de Sessão da Tarde. Mas aí no dia seguinte Q, que tinha certeza que agora a amizade dos dois voltaria ao que era na infância, descobre que a menina desapareceu. Por conta da paixão que tem pela garota decide investigar por conta própria seu paradeiro, e é dessa investigação que temos a maior parte da história, e também a mais importante.
Alta Fidelidade (Nick Hornby)
Fiquei apaixonada, de ter algumas citações do filme escritas na agenda e por muito tempo aquela cena em que o Rob atacava o Ian foi piada minha e do meu namorado na época. Foi em outubro de 2001 que finalmente li Alta Fidelidade de Nick Hornby. É uma edição de 1998 da Rocco, com uma capa meio xumbreguinha, papel branco toscão mas que depois da primeira leitura, só emprestei para três pessoas: Alex, Sol e Fábio. Medo tremendo de perder o livro, porque nunca antes eu tinha me reconhecido tanto em uma história, e queria tê-la sempre por perto. Não que eu fosse tão fissurada por música como o protagonista, era mais em pequenos trechos que eu me via ali. Na época, eu tinha largado Jornalismo e começado Letras, estava naquela fase em que o namoro começa a entrar em crise e você passa a se arrepender de ter se afastado tanto dos amigos. Eu não estava exatamente infeliz, mas era um reflexo pálido do que era minha vida um pouco tempo antes. Então eu entendia o que Rob queria dizer sobre os habitantes de Pompéia, porque me sentia petrificada naquela situação em que estava para sempre. Entendia Laura e seu “Estou cansada demais para não estar com você”. Ou o que era ter uma Charlie em seu passado. Ou como era ser “o cara mais patético do planeta”. Enfim.
Sonetos de Amor Obscuro e Divã do Tamarit (Federico García Lorca)
A primeira surpresa é uma “Apresentação do tradutor”, no caso William Agel de Mello. Sempre respeitei o trabalho dos tradutores, mas se tem algo para que eu realmente tiro o chapéu é para tradutores de poesias, e o que de Mello comenta nesse texto introdutório ilustra muito bem as dificuldades de quem tenta transmitir para outra língua os versos de alguém. Achei positivo esse destaque dado ao tradutor, porque dá uma sensação de terreno seguro que eu (pessoa que não fala absolutamente nada de espanhol) acabo precisando para começar a leitura. Logo adiante, a segunda surpresa: trata-se de uma edição bilíngue, o que deve ser um prato cheio para quem entende espanhol (de minha parte fiquei arranhando um espanhol com sotaque la garantía soy yo só para tentar sentir o ritmo dos poemas de Lorca, confesso).
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A garota que eu quero (Markus Zusak)
Zusak me pareceu muito pretensioso com o excesso de frases pseudo-impactantes, o que ele pareceu querer ressaltar com parágrafos de uma linha ou de poucas palavras. Tudo bem que ninguém espera alta literatura de um best-seller considerado infanto-juvenil em alguns países, mas os Harry Potter também têm as frases de efeito e funcionam. A diferença: elas estão à altura do mistério e suspense da história. (…)
Isso sem contar aqueles “poemas” intercalando (na verdade, quebrando) a narrativa com comentários absolutamente irrelevantes. Provavelmente a intenção era ser “diferente” ou “engraçado”, maaas…. hm.
Era sobre A menina que roubava livros. Eu, que estava completamente apaixonada pela história, encantada no estilo “Querer dar o livro de presente para todo mundo”, achei que a historia “evoluía”, portanto era apenas um caso de um mal começo. Então imagina qual não foi minha surpresa ao ler A garota que eu quero e lembrar das palavras do usuário e após reler o comentário dele, notar que é uma descrição perfeita desse livro? Ficou a dúvida: se o estilo de escrita do Zusak é tão ruim, porque A menina que roubava livros me conquistou (e comoveu) e no caso de A garota que eu quero eu só saí do entediada para ir para o irritada?
É assim que você a perde (Junot Díaz)
Como já mencionado, É assim que você a perde é uma coletânea de nove contos. Abre com uma epígrafe linda, citando Sandra Cisneros:
Tudo bem, a nossa relação não deu certo e, para ser sincera, nem todas as lembranças são boas.
Mas até que tivemos momentos felizes.
O amor foi legal. Adorei seu sono irrequieto ao meu lado e nunca sonhei com medo.
Deveria haver estrelas para grandes guerras como a nossa.
A epígrafe e o título do livro apontam para o tema principal dos contos, a unidade da coletânea: rompimentos. Certo? Não, calma. Há rompimentos, vários rompimentos, mas não pense que é só sobre isso, ou que segue o estilo comédia romântica de Hollywood, com o mocinho tendo um momento de iluminação e correndo atrás da mocinha para implorar perdão e que fiquem juntos novamente. Díaz finca os pés na realidade, e ao falar desses rompimentos, prefere partir para a pancada seca do que normalmente acontece do que um retrato falso das histórias de amor.
Dublinenses (James Joyce)
Primeiro que já tinha lido Dublinenses há alguns anos, em inglês. O fato de eu ter “conseguido” ler sem qualquer dificuldade no idioma original serve para atestar que você não terá nenhum bicho de sete cabeças em mãos caso decida conhecer esta coletânea de contos de James Joyce. Segundo que este mês surgiu uma ótima oportunidade de conhecer o livro, já que a editora Hedra acabou de lançar Dublinenses com tradução de José Roberto O’Shea, um dos grandes nomes da tradução literária no Brasil. A tradução foi publicada anteriormente 20 anos atrás, mas O’Shea teve a oportunidade de revisá-la de tal modo que o próprio tradutor na introdução diz “o texto aqui publicado configura uma nova tradução”. Saiba portanto que se esse será seu primeiro contato com James Joyce, você estará em boas mãos. Continue lendo “Dublinenses (James Joyce)”
Cadê Você Bernadette? (Maria Semple)
Ok. O negócio é que eu realmente não esperava o que acabei encontrando ali. E digo isso de forma positiva. Eu achava que a narrativa já partiria do sumiço de Bernadette e da investigação pela personagem, mas vão lá páginas e páginas do livro em que ela ainda está lá, vivendo com a filha Bee e o marido Elgin em uma casa bizarríssima que na realidade era um internato abandonado. Nesse primeiro momento, o que prendeu minha atenção à história foi uma vontade incontrolável de que algo muito ruim acontecesse com as “gnats”, as mães das colegas de escola de Bee, especialmente Audrey, que parecia até uma daquelas personagens caricatas de comédias que envolvem uma relação complicada entre vizinhos: pense em uma mulher que chega a inventar que foi propositalmente atropelada, ou que invade o quintal da vizinha por causa de plantas que estão invadindo seu terreno. É a dondoca típica, que tenta ganhar um espaço importante na comunidade a qualquer custo, e não consegue compreender por que Bernadette não dá a mínima para esse tipo de coisa (portanto, transformando Bernadette em inimiga).