Ler Trigger Warning (coletânea de contos e poemas de Neil Gaiman que saiu recentemente lá fora) é um pouco como reencontrar um velho amigo querido. Ok, um velho amigo querido, mas que provavelmente tem uma mania chata que 10 minutos após o reencontro te faz lembrar porque, no final das contas, você não retornou aquela ligação ou deixou a coisa no “vamos marcar!” sem nunca marcar nada.
Não entenda mal, não é que o livro seja ruim. É só que por conta de alguns textos fica um tanto irregular. Eu entendo o que Gaiman fala logo na Introdução sobre o conto ser o lugar onde o autor pode experimentar mais, o negócio é que em uma coletânea supostamente houve uma seleção e o que sai ali pode ser resultado de experimentos, mas suponho que sejam os melhores resultados. Não é o caso. Tem coisa ali que eu teria definitivamente deixado de fora, mesmo que o livro ficasse um tanto menor do que as 350 páginas da edição gringa.
A sensação que tive ao terminar a leitura de Nobody is Ever Missing de Catherine Lacey foi de decepção. “O quê? Vai ficar nisso?”. Acho que o que mais incomodou foram as perguntas levantadas ao longo da história e que ficaram simplesmente sem resposta na conclusão. Como se a autora jogasse migalhas para traçar um caminho que levava para lugar nenhum, entende?
E aí passou um dia, outro, e outro. E eu ainda com o livro na cabeça. Não que eu estivesse buscando motivos para gostar da obra (não teria nenhuma razão para isso), é mais que eu não conseguia afastar a impressão de que as tais das migalhas tinham sim um destino, digamos assim. Aí caiu a ficha e meio que revisei minha opinião sobre Nobody is Ever Missing. E claro, este post estará cheio de spoilers porque vou passar minha interpretação do romance.
Não é de propósito. Juro que queria embarcar na onda e ler Graça Infinita do David Foster Wallace agora que a tradução do Caetano Galindo chegou (tá bonito de ver o Verão Infinito lá no Posfácio, btw), mas serei daquelas leitoras atrasadas que em uns anos vai encher o saco de todo mundo que leu querendo conversar sobre o livro. É que eu já comecei a leitura uma vez (ainda em inglês) e sei que ele demandará uma atenção que no momento não posso dar. Enfim, não deu. Ainda.
Negócio é que nessa avalanche de reportagens anunciando o lançamento da Companhia das Letras, acabei lendo uma assinada por Paulo Nogueira que saiu na revista Época. Fala daquilo que temos lido aqui e acolá mas veio com um extra: um comentário sobre um livro recentemente escrito pela viúva de Wallace, chamado Bough Down. A passagem citada por Nogueira automaticamente despertou meu interesse pela obra. Tanto que já coloquei na wishlist de aniversário – e bem, acabei de ler.
Já tem aí vários dias desde que terminei a leitura de We Have Always Lived in the Castle da escritora norte-americana Shirley Jackson. Estava quase desistindo de escrever sobre ele e ia saltar direto para o Bough Down de Karen Green (fica para outro dia), mas minha resolução de ano novo (cofcof) é que vou escrever um post para cada livro que adorei, então vamos lá.
Motivos para gostar de We Have Always… são vários. A capa pode enganar (parece de livro infantojuvenil), a autora também (Jackson é conhecida pelo terror The Haunting of Hill House, além de ser influência de autores como Stephen King e Richard Matheson – o que levaria o leitor a pensar que teria em mãos um livro de terror, pelo menos no sentido mais genérico da palavra). Mas se posso dar um conselho é: abandone as tentativas de adivinhações e se deixe levar pela história das duas irmãs Blackwood.
A história você conhece: um livro começa a aparecer aqui e ali, várias pessoas recomendando e então chega o fim do ano com aquelas ‘n’ listas de melhores e lá está ele, com a capinha verde dizendo LEIA-ME, LEIA-ME. Foi o que aconteceu comigo agora no final do ano. How To Build a Girl de Caitlin Moran ganhou o primeiro lugar na minha infinita lista de livros para ler meio que na base da insistência. Assim, não que eu não-seja-o-tipo-de-leitora de Caitlin Moran, é só que ela ainda não tinha entrado no meu radar e olhando pela sinopse não tinha nada em How To Build a Girl que fosse assim, livro para entrar em top5 de leituras do ano, por exemplo.
E aí eu comecei a ler, fechei meu top5 de leituras e agora queimei a língua e vou ter que colocar uma bônus track para a Dona Moran porque olha, garrei morzinho no livro. Antes de começar a falar dele, preciso avisar que: a) não acho que seja um livro para todo tipo de público. Já li resenha de gente que ficou ofendida com o senso de humor da autora, por exemplo. b) ele é um livro simples, que te ganha pelas ideias. c) além das ideias, é provável que role uma identificação se você foi um adolescente meio bizarro.
O bom e velho post com um breve comentário sobre livros que li mas dos quais não falei aqui.
The Subject Steve (Sam Lipsyte): Fiquei sabendo sobre esse livro porque a Sutil Companhia tinha feito uma peça baseada nele, mas como só tinha livro de papel fiquei me enrolando até sair uma edição para o kindle. Enfim, é legal, mas acho que fiquei no “meh” porque li com as expectativas lá no alto já que outros dois livros que renderam peça da Sutil eu adorei,Alta Fidelidade (A Vida é Cheia de Som e Fúria) e Love is a Mixtape (Trilhas Sonoras de Amor Perdidas).
A proposta é bem maluca e o desenvolvimento mais ainda: um cara saudável (Steve) é diagnosticado com uma doença que lhe dá poucos dias de vida. Detalhe é que mal avançamos na leitura e ficamos sabendo que o que o que Steve tem é meio que o que todos nós temos: a certeza de que morreremos eventualmente já que estamos vivos.
Boa parte das melhores piadas saem disso, mas a metralhadora do Lipsyte dispara para todo lado da nossa vida “moderna” e todas as maluquices inclusas no pacote. Em um outro post já tinha comentado um tico dele aqui, dizendo que “é um livro com bons momentos mas que não mexeu comigo o suficiente para sentar aqui e escrever sobre ele. Basta dizer que tem uma pitada de Tibor Fischer (alou, Sol!), que tem uma ideia bem sacada só que em determinado momento ele começa a se repetir tanto, tanto, que cansa. Seria uma novela excelente, e é um romance mediano“.
“Was I living?” I said.
“Wow”, said Desmond. “Don’t talk. Don’t say another thing. Those should be your last words. Mythic, man. I knew you had style.”
Eu entrei em um período de ressaca literária forte – comecei trocentos livros, com nenhum a leitura realmente engatava. O único que engatou (Por Escrito, da Elvira Vigna) era livro de papel e no momento eu só estou conseguindo ler no kindle porque acredite, por mais que mães sejam mestres da arte perdida de fazer tudo com uma mão só, virar páginas com uma criança no colo não é bolinho. Enfim, surge esse The House of Impossible Loves, parece interessante, amostra para o kindle, uou, interessante mesmo, comprei (a facilidade do processo de comprar um e-book só pode ser coisa do diabo).
Tem uma frase do Tibor Fischer que ficou martelando na minha cabeça: “Nunca existira um livro que não contivesse fibras de outro livro”. The House of Impossible Loves da espanhola Cristina Lopez Barrio parece ser a prova disso. Ecos de outros autores estão ali, de forma bastante clara – não à toa quase todas as resenhas desse livro acabam invariavelmente falando de García Márquez e Isabel Allende. Talvez o que diferencie a influência da mera cópia seja o fato de que no primeiro caso esses ecos surgem como ingredientes de um grande ensopado, e não como o prato principal. Barrio consegue fazer o tal do ensopado ao contar a história da estranha família Laguna e suas mulheres, amaldiçoadas há séculos a ter apenas filhas e sempre serem infelizes no amor.
(Insira aqui parágrafo introdutório comentando a dificuldade de escrever sobre um livro que você adorou, além de aviso de possíveis spoilers)
A História do Amor. Ahhhhh, A História do Amor. Pega um título desses e já toca O Amor e o Poder na minha cabeça e penso que lá vem um daqueles livros fofos de romances improváveis que vá lá, eu curto mas no fim é sempre mais do mesmo. Vou confessar aqui que o livro só apareceu no meu radar por causa de um post no tumblr. Pois é. Aparentemente todo mundo já tinha ouvido falar, já leu ou morre de vontade de ler, e eu não fazia a menor ideia de que existia esse livro por aí. O tal do post reforçava um pouco minha ideia sobre qual seria o enredo da obra, no final das contas. Era esta imagem:
Então. Chega o verão e as editoras aqui parecem seguir um movimento contrário ao das editoras gringas: ao invés de lançarem suas apostas (pelo menos no sentido de livros mais populares), parecem dar uma segurada nos lançamentos. Acredito que tenha a ver com o fato de nosso verão coincidir com o fim do ano, de qualquer forma acabamos ficando sem essa experiência interessante que é a leitura de verão para eles. Promoções mil nas livrarias, títulos novinhos chegando nas prateleiras e aquela curiosidade sobre qual, quaaaaaal será o livro do verão.
Bom, esse ano lá fora aqui e acolá pipocou o nome The Vacationers, de Emma Straub. Até faz sentido, já que a história gira em torno da viagem de uma família disfuncional para Maiorca, na Espanha. Piscina, praia, sol, areia… meio que parece perfeito para a estação. Detalhe é que o livro simplesmente não é lá essas coisas. Sabe aquele carinha esforçado que estuda pacas mas só consegue tirar nota cinco? Algo assim.
Nada como a leitura de um outro título do mesmo autor para entender o que fez com que você gostasse tanto da primeira leitura. Estava dando uma sondada aleatória na Amazon, vi uma capa num padrão familiar e “Uou, livro novo da Maria Semple?”. Bom, não é novo. É anterior ao Cadê você Bernadette?, mas essa edição nova chegou no fim de agosto e tem a tal da capa que comentei (e que ilustra esse post).
This One Is Mine foi o primeiro livro da Maria Semple, publicado em 2008. Pelo que eu entendi, marcou um pouco a transição da carreira dela de roteirista de séries de TV para escritora. É um primeiro livro, deve ser avaliado como tal e blablabla, mas meudeus, que decepção.