Bartleby, o Escrivão – Uma história de Wall Street (Herman Melville)

Ao mostrar minha edição de Bartleby, O Escrivão para minha mãe, falei toda orgulhosa que era “um Cosac Naify” e então expliquei que era o equivalente para uma pessoa que gosta muito de moda comprar um produto de grife. Ok, a compração é meio leviana, mas a verdade é que os preços da Cosac são diretamente proporcionais ao capricho das edições, e toda vez que consigo colocar um na minha estante, fico toda serelepe. Mesmo que seja fininho como esse Bartleby1

Mas aí tem toda a história do dizáin do produto, né? Eu não sou exigente, normalmente uma “edição caprichada” para mim tem lá o meu amado papel pólen e capa dura. Mas no caso de Bartleby, você leva para casa o 3º colocado do 7º Prêmio Max Feffer de Design Gráfico. Hum. Confesso que quando chegou aqui em casa pensei que meu livro estava zoado, e depois pensei “Ahá, nova noção de literatura hermética!” (sacou, sacou?). O livro vem com a capa costurada, e as páginas precisam ser “rasgadas” para serem lidas. Explicação da editora:

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  1. eu estava prestes a dar a dica que na Saraiva somando com a promoção do desconto progressivo saiu por menos de 15 reais, mas agora lá já está na casa dos 31 e no site da Cosac por 37. Blé.  

Excalibur (Bernard Cornwell)

Finais de sagas são sempre tristes. Não importa se porque a conclusão por si só seja melancólica ou feliz, a verdade é que depois de ler vários livros acompanhando uma determinada personagem, você se apega e aí às vezes a “tristeza” do fim tem mais a ver com a despedida do que com o término da história. E não poderia deixar de ser assim com Excalibur, que completa a trilogia As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell.

Eu não vou dizer que me apeguei tanto assim à Derfel e cia. São apaixonantes (especialmente Artur, que na maioria das lendas é só um bundão enganado por todos e aqui é um líder cativante) e algumas delas odiosas (lembrando aqui de Lancelote, sempre um dos favoritos em histórias de Artur, e descrito por Cornwell como o mais asqueroso dos covardes). Mas talvez o fato de não ter lido um livro seguido do outro pode ter pesado um pouco na questão do “apego”.

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Smoke and Mirrors (Neil Gaiman)

Enquanto estava lá envolvida com minha monografia (que sim, envolve um trabalho do Neil Gaiman mas que não, não vou comentá-la antes de ela ter sido aprovada) me dei conta que M is for Magic não é uma boa antologia de contos do escritor. Não no sentido de ter contos ruins, quéisso, gente. Mas mais por não mostrar o verdadeiro Gaiman contista, já que ali o que temos são os trabalhos mais leves, voltados especialmente para o público infanto-juvenil. Foi por isso que decidi comprar Smoke and Mirrors para relaxar um pouco das leituras monográficas (há!).

Publicado pela primeira vez em 1998 (por coincidência, o ano que li Sandman pela primeira vez), conta lá com 30 textos de Gaiman, isso sem contar a Introdução que tem um conto no meio também. Aqui não tem a história de contos escolhidos para crianças, são os contos dele e é isso aí. E por causa do número grande de textos que eu indicaria para alguém que quer conhecê-lo além das HQs e dos romances (mas vale lembrar que alguns dos meus favoritos estão lá no M is for Magic também, incluindo Chivalry, The Price e October in the Chair).

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Dália Negra (James Ellroy)

Primeiro, vamos aos fatos: 1) Não, eu não vi o filme de Brian de Palma inspirado nessa obra de James Ellroy (que também escreveu Los Angeles: Cidade Proibida). 2) Comprei Dália Negra em uma promoção da Livrarias Curitiba e eu se fosse você aproveitava e dava uma garimpada lá, livros por apenas R$9,90 (e o que é melhor: não são todos de auto-ajuda, como costuma acontecer em promoções assim). Acertado tudo isso, vamos então ao livro em si.

Eu já tinha ouvido falar na história do assassinato da atriz Elizabeth Short – sabe como é, difícil ter acesso à Internet e em algum momento não ficar sabendo de casos que nunca foram solucionados. O que James Ellroy se propõe a fazer é escrever o que acredita ser a conclusão do crime, a partir de anos colhendo informações sobre o assunto.

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Juliet, Nua e Crua (Nick Hornby)

Depois de terminar Juliet, Nua e Crua de Nick Hornby a sensação que tive foi de ter levado dois livros pelo preço de um. Explico: a história começa com Annie e seu namorado Duncan passeando pelos Estados Unidos, fazendo uma tour por lugares onde o roqueiro Tucker Crowe passou antes de abandonar a carreira. Duncan considera-se um “crowlogo”, e Annie até gosta das músicas do cara, mas está meio cansada da vida que tem levado com o namorado, que obviamente ama mais o roqueiro sumido do que a garota.

Se o livro ficasse por aí, seria um daqueles para colocar ao lado de Alta Fidelidade, com toda certeza. Os elementos estão lá novamente: a paixão pela música, a dor e incerteza da separação, o fato de perceber que os anos passaram e você não é tudo aquilo que planejou ser quando jovem. Tudo temperado com o humor típico de Hornby, é claro. Com momentos como quando Duncan fica irritado pela nova namorada não perceber o quão desorientado ele ficou com o fim de um relacionamento de quinze anos, e aí ele se dá conta que “ele tinha dito para ela que era só um arranhão e ficou chateado quando ela não ofereceu morfina”. São pequenos detalhes que estão ali nas disgressões das personagens, aquele tipo de coisa que torna Annie, Duncan e cia. “pessoas de verdade”, gente que tem uma história parecida com a sua e com quem você sentaria para conversar por algum tempo.

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Neuromancer (William Gibson)

Quando comecei a ler Neuromancer lembro que estava mais supresa com o quanto os irmãos Wachowski tinham “bebido da fonte Gibsoniana” (fiquemos com o eufemismo, sim?) do que com qualquer outra coisa. Aí Fábio vai lá e chama minha atenção para o detalhe de que quando o livro foi escrito (em 1984) muitos conceitos  ali está apresentados e passa batido por nossos olhos “modernos” sequer existia naquele tempo. A partir disso você até esquece de Neo e cia. (ok, às vezes não dá para evitar a comparação) e se rende completamente à história.

Com um tom que lembra bastante aquele sci-fi meio noir escrito pelo Philip K. Dick em Blade Runner e Ubik – no qual nada nem ninguém parece ser o que é – Neuromancer apresenta Case, um “cowboy” (hacker) que era um dos melhores ladrões de informação da matrix, que então tem a ideia infeliz de roubar de um cliente. A consequência é que tem seu sistema nervoso lesado de tal forma que não pode mais trabalhar, o que faz dele um completo perdedor quando Molly entra em cena para oferecer uma chance única.

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Abril de Shakespeare 2010

Como já está virando tradição aqui no Hellfire, post para divulgar o Abril de Shakespeare. Organizado por Liana Leão, Célia Arns e Anna Camati, o evento conta não só com a presença, mas também com a divulgação de todos. Então mesmo que você não vá, passe o convite adiante para o pessoal de Curitiba e para quem mais se interessar pelo Bardo.  Para ver a programação completa, é só clicar na imagem para ampliá-la.

Caim (José Saramago)

Uma característica que acho louvável em um autor é saber ser o mesmo e ser diferente ao mesmo tempo. Ele tem aquele tom que é familiar ao leitor, alguns temas reaparecem, mas aí ele tem uma carta qualquer na manga que muda tudo, e faz com que o livro mais recente não seja só “mais um livro de fulano”. Tive o prazer de perceber isso em José Saramago e seu Caim (lançado ano passado pela Companhia das Letras). Aquele que leu O Evangelho Segundo Jesus Cristo vai pensar “Ok, Saramago explorando temas relacionados com a Bíblia…”. Mas aí entramos no como ele o faz.

Em O Evangelho… o que temos é, obviamente, um foco no Novo Testamento. Saramago desconstrói a imagem que temos de Jesus, humanizando ao mostrar defeitos e fraquezas. Mas talvez até por conta disso, a ironia de Saramago em O Evangelho… é sutil, e não é nem de longe o tom predominante de uma narrativa que é extremamente densa. E agora temos Caim, no qual Saramago ao focar o Antigo Testamento desconstrói ninguém mais ninguém menos do que Deus, mas com um tom completamente diferente: narrativa leve, rápida e com o humor quase como constante.

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O Rei do Inverno (Bernard Cornwell)

Está aí um livro que estou retirando da lista de atraso. O Rei do Inverno foi originalmente publicado em 1995, mas só ganhou tradução aqui no Brasil em 2001. Eu o ignorei solenemente desde os primeiros comentários, tinha cá minha birrinha pessoal contra bestsellers. Mas já vão aí quase 10 anos da publicação e as pessoas continuavam falando do livro, de como era legal, de como passava uma visão diferente das lendas sobre o Rei Artur e então ok, chegou o momento de deixar o preconceito de lado e peguei emprestado com meu tio para conferir.

O Rei do Inverno é o primeiro de três livros que compõem As Crônicas de Artur. Como já fica claro pelo nome, a história gira em torno de Artur, tentando deixar ao máximo de lado o elemento fantástico que vemos nas lendas mais conhecidas (como Excalibur sendo entregue para Artur pela Dama do Lago), focando no aspecto real do que eram aqueles tempos e partindo do teoria de que não houve um rei Artur, mas um equivalente a um general extremamente amado e respeitado chamado Artur. Esqueça daquela história de tirar uma espada de uma pedra e o que mais outras lendas possam ter apresentado porque o que você tem em mãos é mais um romance histórico do que fantasia.

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O Sétimo Unicórnio (Kelly Jones)

Virou tipo uma mania literária, acho. Sei que quando bati os olhos na sinopse de O Sétimo Unicórnio não resisti e comprei o livro. A história se passa em Paris e gira em torno de um conjunto de tapeçaria chamado La Dame à la licorne, que tive a oportunidade de ver no Museu de Cluny, o Museu Nacional de Idade Média. Mas no geral eu meio que já sabia o que esperar, qualquer coisa meio O Código Da Vinci, mas sem tanta teoria de conspiração como pano de fundo.

E O Sétimo Unicórnio segue bem essa linha, incluindo aí o elemento do romance (que não lembro se era tão evidente no livro de Dan Brown). Alex é curadora do Museu de Cluny, e em visita a um convento de Lyon, encontra um desenho que parece ser o rascunho que deu origem às tapeçarias da Dama e o unicórnio. Também acha um poema que parece indicar que na realidade não são seis, mas sete obras que fazem parte do conjunto. E aí uma parte da história é a busca dela pelo que seria esse sétimo unicórnio.

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