Pequena Abelha (Chris Cleave)

Algumas pessoas tem a ilusão de que o ato de ler implica apenas em “quebrar o código” que encontra impresso no papel. Entender as palavras e o que pode ter sido dito pelo autor, basicamente. É uma pena que não consigam enxergar a complexidade dessa ação que fazemos, de como ela envolve uma gama de fatores que combinadas explicam por qual motivo uma pessoa gosta muito de um livro e outra o acha ruim. Quem apresentou esse livro para você? Como apresentou? O que você esperava dele? O que você já sabe sobre o assunto abordado nele? São algumas das ‘n’ perguntas que estão relacionadas com o que você sentirá no momento que estiver lendo.

E eu comecei esse artigo comentando isso, porque no final das contas acredito que um fator externo acabou estragando minha leitura de Pequena Abelha (Little Bee no original). No caso, o problema foi a propaganda em torno do livro, justamente o primeiro contato que tive com o título através de um email da editora Intrínseca. Dizia lá: Continue lendo “Pequena Abelha (Chris Cleave)”

Harry Potter e a Câmara Secreta (J.K. Rowling)

Sigo firme com minha meta de ler toda a série do Harry Potter antes de chegar aos 30.  Agora são mais 5 livros para ler em 3 meses, o que até daria conta com tranquilidade se as histórias não fossem aumentando exponencialmente, né? Aliás, já notaram como isso costuma acontecer com coleções de sucesso? Eu até consigo imaginar a conversa na editora, a escritora manda a primeira versão lá com suas 200 e tantas páginas e aí o sujeito pergunta “Mas não dá para colocar mais detalhes sobre o Quadribol? E por que não mais informações sobre os fantasmas de Hogwarts? O público vai adorar e nem vai se importar de pagar um pouco a mais em um livro maior! Todo mundo fica feliz!“.

De fato, Harry Potter e a Câmara Secreta é um tanto mais enrolado (ok, mais cheio-de-detalhes) do que o primeiro título da série, mas a estrutura é semelhante (e não faço ideia se vai se repetir nos próximos livros): um pouco da vida de Harry com os tios, chega à Hogwarts, um mistério se apresente, Harry quebra várias regras da escola para desvendar o mistério, Harry se dá bem, Harry volta para casa. O negócio é que por ter mais detalhes, parece que Rowling teve melhor oportunidade para desenvolver a parte do mistério, que na minha opinião ficou bem melhor do que em Harry Potter e a Pedra Filosofal.

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Putas Assassinas (Roberto Bolaño)

Publicado no Brasil pela Companhia das Letras pela primeira vez em 2008, e agora em 2010 ganhando a primeira reimpressão, Putas Assassinas trata-se de uma coletânea de contos do escritor chileno Roberto Bolaño. Eu confesso que ainda estou começando a conhecer o autor (lendo 2666 aos poucos, lembram?) e fiquei bastante impressionada com o que vi, ainda mais quando os fãs de Bolaño dizem que esse é o livro mais fraco dele. Se realmente é, fico imaginando os demais deve ser excelente.

Não é que todos os contos sejam perfeitos. Mas todos chamam a atenção por algum aspecto, mesmo os que se revelam mais sem graça. Os temas são recorrentes (e inclusive ecoam no romance 2666): sexo, violência, exílio, pesadelo. A maioria das personagens mostram aquele deslocamento de quem vive em vários lugares mas não reconhece nenhum como seu. São de outros países, vão para outros países e se perdem, tentando se encontrar em resgates de memória.

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Harry Potter e a Pedra Filosofal (J.K. Rowling)

Quando viu que eu estava lendo Harry Potter e a Pedra Filosofal meu amigo perguntou se eu estava querendo entrar no livro dos recordes como a última pessoa a ler esse livro. A piada faz sentido: 13 anos após o lançamento original,10 após a chegada ao Brasil e cá estou eu, na minha primeira-segunda vez com o título.

Explico: já tinha lido anteriormente (tem aí uns sete anos), mas não me agradou. Falaram que a tradução que era meio fraquinha mas que se lesse no original eu iria gostar. E ano após ano eu fui adiando a tal da leitura “no original”, até que vi uma caixa bacana para vender na Amazon e defini uma meta: terminar a série antes de chegar os 30 anos. A saber, tenho 29.

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A Valsa dos Adeuses (Milan Kundera)

Poucos títulos conseguem dar conta de uma obra como acontece no romance A Valsa dos Adeuses, de Milan Kundera. A imagem da valsa é tão forte e representa tão bem o todo, que acompanha o leitor mesmo quando o livro acaba. Uma obra-cebola, cheia de camadas que você só vai percebendo a medida que vira as páginas. Nesse caso lembra muito algumas comédias de Shakespeare, que conseguia mesclar o cômico com o trágico de uma maneira ímpar.

A história começa com Ruzena (uma enfermeira de casa de banho) entrando em contato com um famoso trompetista para avisá-lo que espera um filho dele. As implicações desse primeiro fato se desenvolvem de forma extremamente interessante, sobretudo se pensarmos na questão da relação das personagens e leitores. Não quero influenciar julgamentos (até porque essa é uma das diversões da obra), mas chegando pela metade do livro relembre quais foram seus sentimentos/reações para o que é contado no começo: qual personagem ganhou sua simpatia, qual mereceu a antipatia e por aí vai.

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A vitória de Orwell (Christopher Hitchens)

Sempre que penso em escritores cuja biografia renderiam por si só um romance, lembro de uma frase de Oscar Wilde em O retrato de Dorian Gray, que dizia “Um grande poeta é a menos poética de todas as criaturas. Parece que escreve a poesia que não consegue viver, enquanto poetas inferiores vivem a poesia que não conseguem escrever“. Óbvio, lembro da frase porque Wilde mesmo provou que o raciocínio não estava sempre certo – e a realidade é que eu me surpreendo muito com a quantidade de vezes que algum grande escritor parece contrariá-lo.

Veja só o caso de George Orwell. Tomando apenas os trabalhos mais conhecidos, como 1984 e Revolução dos Bichos, é indiscutível a importância desse escritor para a literatura do século XX. E se ao bater os olhos nas fotos de Eric Arthur Blair (nome de batismo do autor) você pensa que era só um tiozinho que escrevia umas boas histórias entre uma xícara de chá e outra, temos A vitória de Orwell (de Christopher Hitchens) para mostrar o contrário. Continue lendo “A vitória de Orwell (Christopher Hitchens)”

Diego e Frida: Biografia (J.M.G. Le Clézio)

Meu primeiro contato com a pintora mexicana Frida Kahlo foi através do filme Frida (2002), uma adaptação de Frida: A Biography of Frida Kahlo de Hayden Herrera. Como pareceu uma personagem forte cuja biografia se confunde de forma muito interessante com a obra, fiquei bastante interessada quando soube da publicação no Brasil do livro Diego e Frida: Biografia, do vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2008, J.M.G. Le Clézio.

Inicialmente fiquei preocupada que fosse muito parecido com o que já tinha assistido, mas o comprometimento em falar não só de Frida, mas também de seu marido Diego Rivera, acabam por garantir uma nova perspectiva sobre a história. E Le Clézio conduz muito bem essa biografia, mesclando a narrativa sobre a vida dos dois artistas de tal modo que deixa clara a ideia de que tudo o que fizeram jamais teria a mesma beleza se nunca tivessem ficado juntos. Apesar da importância da arte tanto para Frida quanto para Diego, outra constante que fica clara já no Prólogo é a presença da política. Os dois tinham modos diferentes de pensar sobre o tema, mas a todo momento os ideais políticos dos protagonistas se mesclam com suas criações. Assim como o amor de um pelo outro acaba servindo como elemento para a obra, por isso da importância de conhecer a história não só sob o ponto de vista de Frida (como acontece na cinebiografia), mas também de Diego. Continue lendo “Diego e Frida: Biografia (J.M.G. Le Clézio)”

2666: A parte de Amalfitano

Continuando a leitura de 2666 de Roberto Bolaño, terminei ontem à noite a segunda parte (A parte de Amalfitano). Para situar quem acabou de chegar, estou seguindo na direção contrária do que foi adotado pela família do autor (publicação do que seriam cinco livros em um só) e fazendo os comentários aos poucos, sempre antes de iniciar a parte seguinte. Minhas opiniões sobre a primeira parte (A parte dos críticos) você pode encontrar aqui.

Eu sei que em teoria estou lendo o livro tal e qual a qualquer um – até porque mal estou interrompendo a leitura. Por causa disso acho que as sensações que tive sobre A parte de Amalfitano não serão tão diferentes, talvez só os achismos sobre o que as outras três partes podem trazer, o que será até divertido de confirmar depois. A verdade é que se não fosse a já familiar dificuldade para ler o catatau na cama, fiquei em alguns momentos com a impressão que tratava-se de um outro livro.

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2666: A parte dos críticos

A tradução de Eduardo Brandão para 2666 do escritor chileno Roberto Bolaño é, sem dúvida, um dos maiores lançamentos literários aqui no Brasil em 2010. E por maiores não falo apenas da importância do acesso ao texto em português, mas também ao tamanho do catatau publicado pela Companhia das Letras: 856 páginas, adotando a decisão da família de Bolaño em não dividir 2666 em cinco partes como sugerido pelo escritor para facilitar o sustento dos filhos quando morresse. A obra foi publicada mais de um ano após sua morte, mas, como garante Ignacio Echevarría em nota à primeira edição, “o romance se aproxima muito do objetivo que ele traçou”.

E eu sei que para muitos fãs de Bolaño (e de 2666) eu provavelmente estarei cometendo uma heresia, mas decidi seguir o caminho oposto da família, e comentar o livro por partes, publicando os comentários  sempre antes de iniciar a leitura da parte seguinte. E para começar, vamos de A parte dos críticos, primeira parte de 2666. Acredito ser importante destacar aqui que estou tentando ler o mínimo possível sobre o livro para não estragar a experiência, e que muito do que falar agora eu posso contrariar em textos futuros. Mas bem, qual é a graça de se ler uma obra sem participar da brincadeira da adivinhação do que está por vir?

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Louras Zumbis (Brian James)

Já vão aí uns dois anos em que o que mais se tem visto sobre lançamentos para o público jovem são histórias de amor entre uma garota e alguma figura sobrenatural (o segundo normalmente sendo vampiro, certo?). A fórmula básica se repete exaustivamente, com pequenas variações que não chegam a de fato fazer diferença porque no fim é tudo sobre o sujeito diferentão que atrai a menina para sua vida, que apresenta supostos perigos. No final das contas, quem ainda busca esses livros atrás de diversão acaba se desapontando e simplesmente deixando de lado títulos novos, pensando que será mais do mesmo.

E é por isso que li com certo alívio Louras Zumbis, de Brian James lançado aqui no Brasil pela Galera Record. Quando fiquei sabendo sobre o título, pensei que lá vinha outra história com uma heroína desajeitada perdidamente apaixonada, só que dessa vez por um zumbi. Bem, as coisas são diferentes com Louras Zumbis, porque não se trata de um livro romântico, mas de ação (ou, sendo mais específica, de horror). Continue lendo “Louras Zumbis (Brian James)”