Pergunte ao Pó (John Fante)

Em Literatura, como em qualquer outra arte, influência é sempre uma constante. Às vezes sem nem ter consciência disso, o autor escreve algo que de certa forma lembra a obra de outro escritor, como se existisse um DNA que fosse passado de geração a geração através de novos livros. Um “DNA” bastante recorrente na literatura contemporânea é o de John Fante, mais especificamente com seu livro Pergunte ao Pó. Procure um pouco e não será difícil encontrar nomes que se dizem influenciados por essa obra, como por exemplo Charles Bukowski.

É ele quem abre a edição da José Olympio, com uma ótima introdução que representa muito bem o encontro de um leitor com uma obra que o modificará, que entrará na lista dos favoritos e por lá ficará muito tempo. É quase como mágica, as frases simplesmente vão aparecendo em um ritmo único, como se fosse uma canção feita para hipnotizar uma pessoa. É difícil chegar a uma resposta sobre o que especificamente encanta, mas Pergunte ao Pó é simplesmente apaixonante.

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Como me tornei estúpido (Martin Page)

Há tempos ouço falar de Como me tornei estúpido do francês Martin Page. Pela premissa (jovem decide se tornar estúpido, como o título indica) eu já tinha mais ou menos ideia do que encontraria, mas mesmo assim minha surpresa com esse livro foi enorme, e muito positiva. Enquanto lia a história de Antoine ficava pensando “Por favor, que o Page já tenha escrito mais coisas porque depois desse vou querer ler mais!”. Tudo é cativante. O jeito de contar a história, as sacadas geniais de Page, o protagonista… É daqueles casos em que o único aspecto negativo que você pode encontrar para o livro é o fato de ele ser muito curto (só 158 páginas, em um formato quase do tamanho de livro de bolso).

Em Como me tornei estúpido temos Antoine, um rapaz de seus vinte e tantos anos que se dá conta que é infeliz por causa de seu senso crítico e inteligência. A primeira saída que encontra para o problema é o alcoolismo – esse momento é o que Page usa para já alertar o leitor que seu livro é cheio de humor, e principalmente humor nonsense: Antoine não consegue se tornar alcoólatra porque com meio copo de cerveja já entra em coma. Ele busca então o suicídio, e um curso para tal, mas logo acaba deixando de lado a ideia. É aí que começa o projeto de se tornar estúpido.

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Por que não sou cristão (Bertrand Russell)

O britânico Bertrand Russell foi já em vida reconhecido não só por seu raciocínio lógico, mas também pela defesa da liberdade de pensamento, tanto que em 1950 ganhou o prêmio Nobel “em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais ele lutou por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento”. É talvez que justamente por conta desses aspectos de seu trabalho que Por que não sou cristão mereça uma leitura mesmo daqueles que o são, sem preconceitos religiosos ou não, apenas vendo como pensa “o outro lado”.

Em uma coletânea de 14 ensaios envolvendo principalmente religião, Russell mostra de forma clara sua visão a respeito do que é crer e dos motivos pelos quais ele não crê. Em alguns momentos, talvez até mesmo pelo senso de humor e simplicidade com o qual discursa sobre tema tão complexo, ele lembre bastante os artigos de Richard Dawkins, biólogo famoso por suas duras críticas às religiões. Mas não achem que por Russell ter sido um filósofo Por que não sou cristão trata-se de um livro apenas para iniciados, qualquer um com um mínimo de curiosidade sobre o assunto pode acompanhar muito bem os ensaios de Russell.

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Zuckerman Acorrentado (Philip Roth)

O escritor norte-americano Philip Roth é dito por muitas pessoas como um dos melhores de seu país atualmente – já ganhou prêmios como o Man Booker e o Pulitzer para reforçar essa ideia. Por conta de suas origens, um tema constante em sua obra é a questão da identidade dos judeus nos Estados Unidos, o que pode ser visto em muitas de suas obras, como por exemplo Nêmesis, que ganhou tradução recentemente pela Companhia das Letras. No mesmo mês foi lançado também pela série listrada a coletânea Zuckerman Acorrentado, que conta com três romances e uma novela envolvendo a personagem Nathan Zuckerman, considerado o alter ego do escritor.

Nesta coletânea, talvez até por termos Zuckerman em cena a questão da identidade do judeu abre espaço para uma combinação entre essa mais a questão da identidade do escritor. O quanto da vida de alguém que vive da escrita está refletido em suas obras, de como por pertencer a um determinado grupo social o autor acaba carregando consigo uma espécie de obrigação em falar de seu povo, e mais – falar bem. São essas as questões que tomam conta de Zuckerman Acorrentado, alinhavando os três romances e o que é considerado seu epílogo. Continue lendo “Zuckerman Acorrentado (Philip Roth)”

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (Washington Irving)

Lançada no primeiro semestre deste ano, a coleção Eternamente Clássicos das editoras Leya e Barba Negra buscam trazer ao público histórias que são bastante conhecidas, já fazendo parte do nosso imaginário coletivo, ganhando adaptações para as mais diversas mídias. O primeiro título foi O Mágico de Oz, e recentemente foi lançado o segundo, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, do norte-americano Washington Irving.

A escolha do conto de Irving para a coleção é de fato bastante acertada, considerando sua proposta. Eu, por exemplo, já conhecia a história da Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça de cor, embora nunca a tenha lido. E isso por quê? Por causa das diversas adaptações, incluindo aí até uma feita pela Disney (eu não encontrei no Youtube, mas tenho certeza que quando criança assisti uma em que o Pateta fazia o papel do professor Crane), ou uma da década de 90, feita por Tim Burton.

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Paciente 67 (Dennis Lehane)

Lançado lá fora como Shutter Island, aqui no Brasil o livro de Dennis Lehane chegou pela Companhia das Letras em 2005 com o título Paciente 67, e depois da adaptação para o cinema ganhou novo título, Ilha do Medo (seguindo o nome do longa com Leonardo DiCaprio). Lembro que quando o filme saiu em 2010 fiquei bastante curiosa por conta dos inúmeros elogios, mas acabou que a oportunidade de ler o livro no qual ele foi adaptado veio antes, e talvez isso tenha sido melhor. Não que o roteiro se sustente apenas nas surpresas e mistérios que vão se apresentando ao longo da história, mas é sem dúvida um dos aspectos chave da trama, o que prende a atenção do início ao fim.

Se você já ouviu falar no gênero “Thriller”, acredito que não estou exagerando ao dizer que este foi um dos melhores que li em muito tempo (e sim, eu tenho uma queda por esse tipo de história). Lehane desenvolve uma trama que dá sentido a frases como “narrativa eletrizante” que tanto atribuem ao gênero mas que os títulos nem sempre entregam ao leitor. É suspense do começo ao fim, e suspense de qualidade, com um enredo complexo, tenso e muito bem amarrado.A história de Paciente 67 situa-se em 1954, quando o detetive Teddy Daniels encontra no ferryboat o detetive Chuck Aule, que será seu companheiro de missão. Eles devem ir para a Shutter Island, conhecida por abrigar um hospício para criminosos do qual uma paciente fugira na noite anterior, sem deixar qualquer rastro ou pista de como o fizera. Chegando na ilha, aos poucos a história de Teddy nos é revelada, e também aos poucos vamos conhecendo melhor o sanatório – e junto dos detetives passamos a desconfiar do que de fato é realizado ali.

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40 Novelas (Luigi Pirandello)

Embora seja mais conhecido como dramaturgo, o siciliano e ganhador do Prêmio Nobel Luigi Pirandello (1867-1936) produziu literatura dos mais variados gêneros, incluindo a poesia e as novelas. São essas que se encontram reunidas no volume 40 Novelas que faz parte da Coleção Prêmio Nobel da Companhia das Letras, com seleção, tradução e (excelente) prefácio de Maurício Santana Dias. Todos os textos dessa coletânea depois foram desenvolvidos por Pirandello em peças de teatro (das 40, 31 peças foram originadas), por isso serve como apresentação para os que não conhecem o autor, e como aprofundamento para quem já conhece a porção dramaturgo de Pirandello.

As novelas presentes na coletânea lembram muito a definição que Nádia Gotlib apresenta em Teoria do Conto: não tanto ligada ao tamanho do texto (alguns são curtos o suficiente para serem definidos como contos), mas por levar “a marca do eu criador (…) que tenta representar uma parcela peculiar da realidade, segundo seu ponto de vista único”. São indiscutivelmente marcados por um tom único que só Pirandello conseguiria imprimir aos pequenos retratos daquela Itália de Pirandello, vivendo a transição do passado com a modernidade, e talvez por isso mesmo misturando a melancolia com o humor de um jeito único. São pequenos recortes, alguns de momentos até bem banais (como o da novela que abre a coletânea, Limões da Sicília), com outros que trazem um toque sutil de fantástico, como O filho trocado. Continue lendo “40 Novelas (Luigi Pirandello)”

A morte de um caixeiro viajante e outras 4 peças de Arthur Miller

Falar que Arthur Miller é um dos maiores nomes da dramaturgia norte-americana é até um lugar comum. Não há quem goste de teatro e em algum momento não tenha cruzado com algum texto seu, sendo que o encontro se dá normalmente com duas de suas obras mais famosas, A morte de um caixeiro viajante (Death of a Salesman) e As bruxas de Salém (The Crucible). A força de seu texto está principalmente no retrato fiel de uma época, o pós-guerra nos Estados Unidos, que tão fortemente moldou a sociedade daquela época, seja com valores como o do “sonho americano” como com a histeria do anti-comunismo.

Miller era um crítico ácido e astuto, e em suas peças em determinados momentos até bastante sutil. Do recorte de um dia comum na vida de pessoas ordinárias é possível tirar tanto que chega a ser injusto reduzir a importância de sua obra só à literatura norte-americana: ele fala de homens, tão reais, tão tridimensionais que poderiam estar falando de suas tristezas, paixões, medos e sonhos em qualquer lugar do mundo. É o que se pode perceber na coletânea A morte de um caixeiro viajante e outras 4 peças de Arthur Miller, lançada pela Companhia das Letras com tradução de José Rubens Siqueira.

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Persuasão (Jane Austen)

Quando iniciei a leitura de Persuasão, confesso ter feito isso pensando em “dar uma segunda chance” para Jane Austen. Gosto muito de Orgulho e Preconceito, mas a impressão que fiquei de Razão e Sensibilidade é que ela simplesmente se repete em tema, tipos de personagens e afins. Algo como: se você leu o mais conhecido, não precisa ler os demais, a não ser que queira replicar a experiência. Mas achei que estava sendo injusta com Austen e portanto resolvi conferir Persuasão, romance escrito no fim da vida da autora e que provavelmente refletiria um amadurecimento na escrita dessa.

A questão é que no início do livro, o que se vê sendo desenhado como base para o desenvolvimento do enredo são, de novo, os mesmo temas e tipos de personagens que já lera anteriormente. Lá estão os problemas das estruturas rígidas das classes sociais e a questão do casamento naquela sociedade, com personagens que pouco amadurecem ou mudam ao longo da narrativa. Mas foi mais ou menos na metade da leitura que me dei conta que estava fazendo isso do modo errado, considerando a superfície do enredo e perdendo assim a graça da prosa de Austen.

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O Clube do Suicídio e outras histórias (Robert Louis Stevenson)

Robert Louis Stevenson nasceu em Edimburgo, em 1850. Caso tivesse feito o gosto do pai, seria engenheiro, e não um dos melhores contadores de história da Grã-Bretanha. Stevenson viajou o mundo e transpôs muito do que viu para seus trabalhos, como por exemplo A Ilha do Tesouro – trazendo relatos que são diversão garantida para quem lê, e talvez até por isso mesmo já tenha sido uma “celebridade” ainda em vida, o que lhe garantiu a segurança para ter a escrita como profissão, e o que em consequência nos trouxe histórias inesquecíveis, que continuam agradando ao leitor mesmo tantos anos após a publicação original.

E isto fica evidente ao ler O Clube do Suicídio e outras histórias, que chegou este mês através da coleção Prosa do Mundo da Cosac Naify. O livro tem duas novelas e quatro contos que retratam de forma exemplar a produção do autor, além disso traz introdução de Davi Arrigucci Jr. e também no Apêndice dois textos interessantíssimos para quem gostou do que pode conferir nessa coletânea: Robert Louis Stevenson por Henry James e O estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde por Vladimir Nabokov.

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