Bonsai (Alejandro Zambra)

bonsai(Observação: e aos poucos eu vou trazendo meus posts sobre leituras que publiquei nos tempos do Meia Palavra e deixei de publicar aqui. Este sobre Bonsai (Alejandro Zambra), foi publicado em junho do ano passado. A essa altura quase todo mundo já leu o livro, mas de qualquer forma, acho que vale a pena o registro, até como sugestão para quem ainda não conheceu a obra.)

De todos os métodos para procurar novos livros para ler, um que nunca falha para mim é o “falatório entre conhecidos”. Se um amigo seu diz que leu e adorou, depois aparece uma resenha de um crítico que você normalmente lê, aí alguém fala no twitter, etc. etc. etc. pode saber: será no mínimo bom. Foi o que aconteceu comigo sobre Bonsai, estreia na ficção do chileno Alejandro Zambra. Lançado no mês passado aqui no Brasil pela Cosac Naify, desde então quase todos os meus contatos literários estão pelo menos em um dos dois estágios com esse livro: leu ou quer ler. E já acostumada a seguir sem medo  o tal do “falatório entre conhecidos”, fui conferir o que esse livro tinha a oferecer (e saber o porquê, afinal, de falarem tanto sobre ele).

O que chama a atenção logo de cara é que Bonsai é curtíssimo. Dá pouco mais de 90 páginas, mas há de se considerar o projeto gráfico da publicação, que ocupa pouco espaço das páginas (ou seja, das 90 dá para dizer que ele provavelmente tem algo em torno de 60). Eu fiquei realmente curiosa se há alguma intenção de que o leitor apare as sobras do livro, como quem cuida de um bonsai. Confesso que ver o pontilhado da capa despertou em mim um desejo irresistível de fazê-lo, mas como sofri com meu Bartleby, resolvi deixar para lá qualquer exercício envolvendo tesouras ou guilhotinas e apenas ler. Continue lendo “Bonsai (Alejandro Zambra)”

O lado bom da vida

O leitor é um adivinhador. Inconscientemente enquanto lemos estamos sempre tentando antecipar o que vem a seguir: qual a próxima ação da personagem, quando o autor explicará alguma condição dessa e assim vai. Mesmo quando os temidos “spoilers” são revelados, ainda assim o processo de adivinhação continua: ok, você sabe que “x” acontecerá – mas quais os eventos que levarão até “x”? Muitos autores construíram suas maiores obras partindo justamente dessa dinâmica do leitor com o texto, buscando inclusive romper com as expectativas mais óbvias. Outros, criam a expectativa através dos famosos “ganchos” que finalizam um capítulo o outro.

Porém, há os que buscam de certa forma colocar o leitor na mesma condição de seus protagonistas. Aquela sensação de pegar “o bonde andando” e ter que se atualizar sobre o que andou acontecendo, a estranheza ao estar em um ambiente que deveria ser familiar mas que não é mais. É exatamente o que Matthew Quick faz em seu romance de estreia, The Silver Linings Playbook (publicado lá fora em 2008 e chegando no Brasil agora pela Instríseca como O lado bom da vida). Situando a história no momento em que o protagonista Pat está deixando um hospital psiquiátrico, e fazendo com que essa personagem seja também o narrador da história, revivemos um sentimento de termos que primeiro encaixar peças de nosso passado para então partir para a brincadeira de adivinhação sobre o que virá a seguir.

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As vantagens de ser invisível (Stephen Chbosky)

Nota: Este post foi publicado originalmente no Meia Palavra em abril do ano passado. Eu estava mantendo o histórico no meu blog-arquivo, mas como algumas pessoas andaram pedindo que eu republicasse o texto, estou colocando aqui para vocês. Sobre o filme, eu dei minha opinião neste post aqui.

Não há nada mais bacana que ter um livro em mãos sem qualquer expectativa e ser surpreendido pouco a pouco com o que ele tem a revelar. Com The Perks of Being a Wallflower, de Stephen Chbosky (lançado aqui no Brasil pela Rocco como As vantagens de ser invisível), foi exatamente assim. Comecei a ler porque depois de Psicopata Americano eu queria algo mais leve, para passar o tempo mesmo. E Perks parecia a escolha ideal: livro para jovens publicado originalmente em 1999, mas que se passa em 1991, trata-se de um romance epistolar mostrando um pouco da vida de Charlie, um adolescente de 16 anos que acaba de começar uma nova etapa na vida de estudante. O melhor (e único) amigo acabou de se suicidar, e como ele se encontra completamente sozinho, resolve enviar cartas para uma pessoa que ele não conhece, comentando sobre tudo o que tem vivido. Continue lendo “As vantagens de ser invisível (Stephen Chbosky)”

Foco (Arthur Miller)

O romance Foco, escrito por Arthur Miller, foi publicado em 1945, antes das grandes peças que o consagraram como Morte de um Caixeiro Viajante e As Bruxas de Salém. Mas quem espera um trabalho mais ingênuo, ou até mesmo mais fraco com o livro (lançado recentemente com nova tradução pela Companhia das Letras), pode ter certeza que não é o caso. A semente do que se verá em seus trabalhos mais conhecidos já está plantada ali, criando não só um retrato cru e verdadeiro dos Estados Unidos daquele tempo, mas também no desenvolvimento de personagens inesquecíveis, seja pelo que têm de melhor ou de pior – porque as figuras de Miller são assim, imperfeitas, e por isso mesmo tão cativantes.

Veja o caso de Foco. O protagonista, Lawrence Newman, é apresentado para o leitor como uma pessoa horrorosa: ouvindo os gritos pedindo socorro de uma garota na rua, ele resolve ficar quieto. E não é nem por covardia, é simplesmente porque acha que se chamasse a polícia, quando ela chegasse o assunto já estaria resolvido e ele acabaria tendo que explicar a situação para os policiais. No outro dia a coisa piora ainda mais, quando em conversa com um vizinho no caminho para o trabalho, esse conta que era “só uma latina” e que ajudou o amigo bêbado que cometia a agressão a voltar pra casa – Newman nada diz sobre isso, não repreende o vizinho como esperamos que uma personagem “boazinha” faça. E aos poucos vamos vendo como ele é preconceituoso, decidindo quem ganha ou não emprego na empresa em que trabalha baseado no juízo que ele faz da aparência da pessoa. Se parece com um judeu, por exemplo, o emprego está fora de questão. Continue lendo “Foco (Arthur Miller)”

Cinquenta Tons de Liberdade (E.L. James)

Sim, aqui estou eu de novo. Após comentar Cinquenta Tons de Cinza e Cinquenta Tons Mais Escuros, chegou a vez do último volume da série escrita por E.L. James. Com meu TOC para terminar séries eu acho até irônico do título, Cinquenta Tons de Liberdade. Siiiiim, finalmente livre! Ou não. Mas adianto-me. Vamos por partes, até porque se tem uma lição preciosa que esses livros dão é que a mulherada adora preliminares. Então que eu tinha brincado no meu post anterior que com o Grey pedindo Anastasia em casamento não sobraria muita coisa para contar nesse terceiro livro. Estava enganada. James aparentemente percebeu que juntar um enredo com a putaria dá certo, e resolveu embarcar fundo nisso, oferecendo para a protagonista não só um antagonista, mas dois.

Não que eles sejam novidade dentro da trama, a única coisa que aconteceu é que James deu um pouco mais de espaço para eles. O primeiro é Jack Hyde, o ex-chefe de Anastasia, que por incrível que pareça está mais disposto a atormentar Christian do que a garota. Por causa dele o livro tem até cena de perseguição de carro. E eu, que odeio perseguição de carro até no cinema, obviamente odiei a personagem. O segundo é a boa e velha (sem trocadilho, haha) Mrs. Robinson/Elena, que surge como pivô de uma das ‘n’ brigas de Grey e Ana. E cheesus, como esses dois brigam. Tem até um momento em que Grey, mais inteligente do que um grão de bico, resolve marcar os peitos de Ana com chupões para que ela não fizesse mais topless. Pois é. E se você não gosta de DR, imagina que emocionante que é acompanhar DR alheia, que invariavelmente apresenta um diálogo do tipo:

– Eu estou muito bravo com você, Ana!

– Por favor, não fique bravo comigo.

– Mas eu estou. E eu vou te dar…. PORRADA. Continue lendo “Cinquenta Tons de Liberdade (E.L. James)”

Cinquenta Tons Mais Escuros (E. L. James)

Sim, eu traí o ~movimento~, continuei a ler a trilogia Cinquenta Tons de Cinza de E.L. James. Passei para o segundo volume, Cinquenta Tons Mais Escuros (a ser lançado no Brasil pela Intrínseca em setembro deste ano) e, embora tenha quase desistido no começo, fui até o fim por conta de uma série de motivos, entre os quais: a) tenho TOC com séries, não consigo abandoná-las sem ler todos os livros; b) ainda não conseguia entender a quantidade apavorante de leitoras apaixonadas por um cretino como o Christian Grey (não, a resposta “ele é rico, bonito e pauzudo” não serve para mim) e c) não queria ser injusta com a série, tentei observar o todo. Vai que. Então respirei fundo e resolvi observar a história apenas quanto à diversão que pode proporcionar, já que pelo primeiro volume sabia de antemão que a parte da escrita era sofrível mesmo. A saber, continua sofrível no segundo livro, assim como também continua a chatíssima repetição de expressões/verbos (alguém por favor ensina esta mulher a procurar sinônimos na internet, sim?).

Poréééém, é fato que Cinquenta Tons Mais Escuros é bem mais tolerável do que o primeiro volume. Por tolerável quero dizer: não é bom, mas também não é mais tão ruim. A começar que a dona E.L. James resolve criar um enredo de fato. Isso faz toda a diferença, porque se for observar bem, a estrutura de Cinquenta Tons de Cinza era praticamente uma colagem de micro-contos eróticos, repetindo sempre a mesma sequência de criar a base para o momento em que Grey e Ana transariam e o ato em si, e o livro meio que é só isso, o que é obviamente chato (motivos explicados no meu post anterior). Mas, como disse, no segundo livro temos algo além disso. E. L. James lança mão de vários clichês de livros para mulherzinha, mas consegue criar uma situação de antagonismo e um pouco de mistério, que faz com que o leitor consiga chegar até o final (apesar de um certo mal uso de uma poesia linda de Emily Dickinson). Um pouco do passado de Grey aqui, a ex-sub louca acolá, um acidente com helicóptero, uma tentativa de estupro e vamos indo. Continue lendo “Cinquenta Tons Mais Escuros (E. L. James)”

A trama do casamento (Jeffrey Eugenides)

Não vou mentir e dizer que amei A trama do casamento (de Jeffrey Eugenides) logo de início. Nas primeiras páginas fiquei com certo receio de que tinha em mãos um livro que focaria em uma protagonista tão vazia que precisava se completar com uma figura masculina, daí sua incansável busca pelo par. Madeleine Hanna surge como uma personagem cujo eixo central dos eventos da sua vida são os homens com que se relacionou, se relaciona ou possivelmente se relacionará. E é evidente que esse tipo de figura cria uma certa antipatia inicial (especialmente se o leitor, como eu, buscava algo mais como As Virgens Suicidas, e não mais um romance juvenil no estilo de “quem vai ficar com quem”).  Mas a realidade é que acredito ser um daqueles casos em que valeu a pena continuar a leitura, mesmo tendo começado com o pé esquerdo: aos poucos Eugenides vai te seduzindo, mostrando que Madeleine não é só aquilo, assim como A trama de casamento não é só sobre a escolha da garota entre Leonard e Mitchell, seus dois “pretendentes”.

Não é que realmente a base do enredo não seja a relação de Madeleine com os dois rapazes. De fato, temos desde o início a narrativa centrada nas dificuldades de seu romance com Leonard (que aparecera em sua vida como o cara perfeito que ela nem conseguia acreditar que começara a namorar) e da possibilidade de algo acontecer com Mitchell (o rapaz que a conhecia desde o primeiro ano na faculdade e que obviamente fora colocado na friend zone e não parecia ter muitas perspectivas de sair dali). A questão é que o escritor usa as relações entre as três personagens para ir além, falando não só sobre o amor, mas sobre solidão, sobre crescer, tornar-se adulto, sobre até mesmo a própria literatura. A leitura do romance de Eugenides é como se encontrássemos um objeto coberto de pó e aos poucos, enquanto fôssemos limpando, descobríssemos toda sua real beleza.

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The Paris Wife (Paula McLain)

Muito bem posicionado em listas dos mais vendidos lá fora, The Paris Wife de Paula McLain vem com uma proposta bem interessante: narrar a história de Ernest Hemingway e outras figuras da dita “Geração Perdida” que viveu em Paris na década de 20, sob o ponto de vista da primeira esposa do escritor norte americano, Hadley. De certa maneira, acredito que muito do sucesso do livro tenha acontecido por conta do lançamento do filme de Woody Allen, Meia Noite em Paris, que criou um grande interesse por parte do público sobre os grandes nomes das artes que circulavam por Paris naqueles tempos.

E digo isso porque o livro por si só não explica o fato de ele estar entre os mais vendidos. É uma ótima ideia, porém muito, muito mal executada. O começo ainda passa alguma impressão de que será uma leitura que valerá a pena – Hadley, a narradora, avisa de antemão que não trata-se de um livro de mistério, construído de modo a descobrir quem será a segunda esposa de Hemingway (Pauline, uma amiga de Hadley que conhece o escritor em Paris). A franqueza da narradora conquista o leitor, o problema é que a atenção logo é perdida com devaneios completamente desnecessários para a narrativa. Continue lendo “The Paris Wife (Paula McLain)”

O vendedor de armas (Hugh Laurie)

Thomas Lang (protagonista e narrador do primeiro romance do britânico Hugh Laurie) entrega logo de cara o que O vendedor de armas tem a oferecer: um punhado de ação, recheado de comentários ácidos sobre as pessoas e sobre si mesmo. Contratado para assassinar um homem, ele recusa a proposta e segue avisar essa pessoa que sua cabeça está a prêmio: é aí que começa a se envolver em um caso que tem até a CIA e o Ministério da Defesa britânico, para se ter uma ideia. O livro parece prometer muito, mas logo nos primeiros capítulos já começa a decepcionar.

O maior problema talvez seja abuso do uso do recurso de reviravolta. São tantas aos longos das páginas que chega uma hora que você até se perde – não consegue confiar em nada nem ninguém e meio que continua lendo só para saber no que vai dar. Até porque o excesso de reviravolta acaba já preparando o leitor, que lá pela metade do livro já sabe que “lá vem mais uma” – mas ao contrário dos bons livros que dão vontade de continuar lendo, até pela curiosidade, as ditas “reviravoltas” são tão simplórias que não atraem.

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A Gangue do Pensamento (Tibor Fischer)

Pense em um livro que em dado momento tem o seguinte parágrafo:

“Há um momento na vida em que se precisa sair de um carro que contém um criminoso imperdível, e, trajando um uniforme zunindo de ridículo, entrar à força num empório de azeitonas, numa tentativa de resgatar um assaltante à mão armada maneta, e tombar morto a tiros.”

A citação acima é do livro A Gangue do Pensamento, do escritor britânico Tibor Fischer, e representa muito bem o que o leitor terá em mãos ao começar a ler o romance. Não é um livro comum em diversos sentidos. Mas a insanidade da trama é certamente para poucos até porque Fischer não é sutil: quem pensa que o trecho citado é um momento máximo da loucura da história, é bom já saber que desde o começo é assim.

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