A visita cruel do tempo (Jennifer Egan)

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Há alguns anos em Hollywood existia um tipo de “febre” entre os lançamentos, que era a criação de filmes que mostravam recortes das vidas de diversos personagens que acabariam se cruzando em determinado momento, em uma tentativa de passar para a telona a grande teia de aranha que criamos vivendo em sociedade. 21 Gramas e Crash são só dois exemplos de outros tantos que se sustentavam nessa premissa, que hoje em dia já nem é vista com aqueles ares de novidade.

Na literatura, porém, são poucos os que se arriscam nesse complicado exercício de recriar as relações humanas em seus mais diferentes níveis. E é nisso que se sustenta a força de A visita cruel do tempo, de Jennifer Egan1, vencedora do prêmio Pulitzer de 2011. O romance poderia muito bem ser lido como uma série de contos, mas a ligação entre as personagens alinha a narrativa, que tem como palavra de ordem as relações. Fora isso nada é linear ou, digamos assim, lógico: o tempo avança e retrocede, o foco narrativo muda, há diferentes estilos de textos e por aí vai. Continue lendo “A visita cruel do tempo (Jennifer Egan)”


  1. presença confirmada na FLIP de 2012. 

Breves comentários sobre o que tenho lido

Rapidinhas.

The Lover’s Dictionary (David Levithan): Não lembro o que me levou a ler, acho que estava nos títulos similares de alguma coisa que gostei lá da Amazon. O livro é bacana, o problema é que a ideia não é nova, pelo menos não para mim: já comentei por aqui sobre meu amor por Pequeno Dicionário Amoroso, filme da década de 90 que chegou até a ganhar uma versão em livro. A mecânica do livro é contar a história de um casal a partir de verbetes de dicionário, que se relacionam com o que está sendo narrado. A diferença do livro do Levithan é que, ao contrário do roteiro do Halm e do Torero, a narrativa não é linear, dá saltos entre o presente e o passado, o que cria dois efeitos bacanas. O primeiro é que você fica curioso para saber o motivo do rompimento do casal, o segundo é se eles reatam ou não. Tem algumas passagens bem interessantes (daquelas que dá vontade de grifar), e eu provavelmente teria me emocionado mais se tivesse lido em tempos de dor de cotovelo (como foi o caso de Pequeno Dicionário Amoroso). Resultado: valeu a pena para passar o tempo. Sugestão: procure o filme nacional, é muito legal.

Poesia é não (Estrela Ruiz Leminski): Uma vez lembro de ter lido algo escrito ou citado pelo Antonio Xerxenesky, falando sobre não se resenhar textos de amigos. Mas vá lá, não é uma resenha, é só uma breve opinião que funciona mais para registro quando alguém me perguntar “Ei, você leu x? O que achou dele?”, etc. Enfim: gosto muito de como ela experimenta não só com as palavras, mas também com imagens, colagens. Tem senso de humor (o que eu adoro, e o que acho que falta na poesia atual) e vale ressaltar que a formação musical acaba influenciando bastante em muito do que ela coloca ali. Ouvi em qualquer lugar que o livro foi adotado pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola do MEC, o que me parece ótimo, já que tira um pouco daquela imagem que muito jovem tem de que “poesia é coisa do século passado (ou melhor, retrasado, já que o passado já tinha internet e talz)” – melhor ainda porque a linguagem da Estrela é jovem, até no sentido de querer romper com o convencional. Resultado: lembrei que gosto de poesia. Sugestão: aproveita que está lendo a Estrela e procure pela obra do Paulo Leminski e da Alice Ruiz e faça uma reunião de família. Continue lendo “Breves comentários sobre o que tenho lido”