Persuasão (Jane Austen)

Quando iniciei a leitura de Persuasão, confesso ter feito isso pensando em “dar uma segunda chance” para Jane Austen. Gosto muito de Orgulho e Preconceito, mas a impressão que fiquei de Razão e Sensibilidade é que ela simplesmente se repete em tema, tipos de personagens e afins. Algo como: se você leu o mais conhecido, não precisa ler os demais, a não ser que queira replicar a experiência. Mas achei que estava sendo injusta com Austen e portanto resolvi conferir Persuasão, romance escrito no fim da vida da autora e que provavelmente refletiria um amadurecimento na escrita dessa.

A questão é que no início do livro, o que se vê sendo desenhado como base para o desenvolvimento do enredo são, de novo, os mesmo temas e tipos de personagens que já lera anteriormente. Lá estão os problemas das estruturas rígidas das classes sociais e a questão do casamento naquela sociedade, com personagens que pouco amadurecem ou mudam ao longo da narrativa. Mas foi mais ou menos na metade da leitura que me dei conta que estava fazendo isso do modo errado, considerando a superfície do enredo e perdendo assim a graça da prosa de Austen.

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Orgulho e Preconceito (Jane Austen)

É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro, de posse de boa fortuna, deve estar atrás de uma esposa. Essa frase já foi repetida e parodiada tantas vezes que o sucesso de Orgulho e Preconceito da britânica Jane Austen é simplesmente inquestionável. O livro já ganhou várias adaptações para o cinema e tv. Povoa tão fortemente o imaginário coletivo que já foi recontado com outros elementos, que vão de vampiros até zumbis. Isso para não falar das referências na cultura pop (ou você acha que a escolha de Darcy para o par romântico de Bridget Jones é uma coincidência?). O que trocando em miúdos já é o suficiente para entrar naquela seleta lista de leituras obrigatórias, nem que seja para compreender o que faz tanta gente ser apaixonada pelos casal criado por Austen, Elizabeth Bennet e Mr. Darcy.

A realidade é que excluindo as condições históricas (casamento como salvação, código rígido de comportamento para mulheres, etc.) uma grande parte das pessoas já viveu um momento “orgulho e preconceito” ou, por que não tomar emprestado o primeiro título que Austen deu à obra, “primeiras impressões”. A situação de Elizabeth, que em um baile conhece um Mr. Darcy que se acha obviamente melhor do que todos os presentes e então aos poucos vai conhecendo mais desse homem e descobrindo que fizera uma imagem equivocada dele não é um privilégio da heroína de Austen. Seus colegas de escola ou trabalho em algum momento já passaram por isso. Você já deve ter passado por isso. E é esse um dos motivos que faz de Orgulho e Preconceito uma obra tão encantadora, esse reconhecimento que transforma-se (através da prosa hábil de Austen) em empatia.

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Pride and Prejudice and Zombies (Seth Grahame-Smith)

“É uma verdade universalmente reconhecida que um zumbi, possuidor de um cérebro, deve estar em busca de mais cérebros.” É dessa forma que Seth Grahame-Smith abre seu Pride and Prejudice and Zombies (ainda não publicado no Brasil). O pastiche de Jane Austen fez tamanho sucesso lá fora que já aparece na lista de mais vendidos do New York Times e traz rumores de adaptação Hollywoodiana com nomes como Natalie Portman no elenco, além de possível publicação em português para o ano que vem. A questão é: ele agradará a legião cada vez maior de fãs dos comedores de cérebro?

Pelo menos da parte dessa que escreve, não. Infelizmente Pride and Prejudice and Zombies é uma decepção. É fato que as expectativas eram altíssimas, não só considerando o fato de ser bem sucedido no exterior, mas também por ter gostado muito de outro título do mesmo autor (How to Survive a Horror Movie). O problema é que o livro não agrada muito quem o procura pelo humor.

Pouco há para se dizer sobre ele. É todo o Orgulho e Preconceito de Jane Austen recontado com a inclusão do elemento zumbi (o que fica bem óbvio só pelo título, certo?). A questão é que as (poucas) piadas não funcionam, e a repetição de certos elementos chegam a ser cansativos – como a competição entre a Elizabeth e o Darcy para saber quem é o mais fodão nas artes do extermínio de zumbis.

Sobre os fãs do romance da Austen, as reações podem ser bem contraditórias. Os mais puristas odiarão, com certeza. Mas Pride and Prejudice and Zombies pode agradar aqueles que conhecem o romance de cor, e reconhecerão passagens favoritas e o que Grahame-Smith fez delas incluindo os mortos-vivos. De minha parte acho que foi apenas chato, e talvez justamente por não ser tão apaixonada pela obra original.

Na verdade dessas “realidades alternativas” que andam pipocando por aí envolvendo Mr. Darcy e companhia, acredito que Mr. Darcy, Vampyre agrada muito mais, por não transcrever a história simplesmente, mas ir além – contando o que aconteceria depois do casamento entre Darcy e Elizabeth se o “herói” fosse na realidade um vampiro.

De qualquer forma, o negócio é torcer para que se realmente exista uma adaptação de Pride and Prejudice and Zombies como estão comentando, ela seja boa o suficiente para permitir versões cinematográficas de outros ótimos livros de zumbis, como por exemplo World War Z (que ainda está só na base dos rumores) e mesmo a série da Anita Blake.

(Post originalmente publicado no Blog do Meia Palavra dia 12/12/09. Sim, ando preguiçosa e relapsa com minhas atualizações aqui.)

Mr. Darcy, Vampyre (Amanda Grange)

Algumas personagens conquistam os leitores de tal maneira que parece que um romance só não basta. A pessoa quer saber o que aconteceu antes e o que veio depois, quer mais daquela figura que tanto a encantou. É o caso de Mr. Darcy, acredito eu. O “herói” de Orgulho e Preconceito (de Jane Austen) arranca suspiros do público feminino até os dias de hoje e mais do que isso, gerou um filão de obras que tentam descrever o que aconteceu depois (caso não acredite, dá uma consultada em “Mr. Darcy” na amazon.uk para conferir). “Obras” é meio que elogioso, no final das contas acho que não é muito diferente de qualquer fanfic (a não ser pelo fato de que vem impresso, há!).

É o caso de Mr. Darcy, Vampyre, de Amanda Grange (escritora dita como especialista em Jane Austen). Ok, vamos então primeiro ao contexto que é sempre importante para entender a opinião do leitor sobre o livro comentado. Eu tinha lido esse ano Pride and Prejudice and Zombies do Seth Grahame-Smith. Quando comprei sabia que tratava-se de uma paródia, e que portanto a ideia era rir (e se divertir, é óbvio). Mas não foi bem o que aconteceu, achei o livro bem chatinho e com poucos momentos que realmente tinham graça. Continue lendo “Mr. Darcy, Vampyre (Amanda Grange)”

O Clube de Leitura de Jane Austen

Então que aproveitei que Fábio estava jogando rpg para assistir mais um chick flick. Porque sabe como é, dentro de mim mora uma mulézinha que adora filmes fofos com uma moral no final da história. A de O clube de leitura de Jane Austen (lançado direto em DVD no ano passado aqui no Brasil) não é muito diferente de algo que Jim Morrison já cantava lá em Riders on the Storm: Girl ya gotta love your man. Ok, ok… com mais firulinhas do tipo “Não tente mudá-lo”, “Não tente controlá-lo”, “Perdoe a traição”, etc. Eu confesso que fiquei surpresa ao ver que o filme foi dirigido por uma mulher, sério.  Mas ei, calma, calma! Tirando isso de lado (e ok, para alguns de vocês o fato de ser chick flick), O clube de leitura de Jane Austen é legal.

O que fez com que eu o escolhesse esse título entre outras tantas comédias românticas disponíveis foi o fato de que muitos dos usuários lá do Meia Palavra chegaram procurando por um Clube de Leitura após assistir a esse filme. E eu pensei com meus botões que a história deveria ser no mínimo interessante para convencer o pessoal a procurar pelo Google por um clube para debater livros. E pelo menos a parte da discussão dos livros é.

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