Muitas pessoas torcem o nariz para livros de fantasia, isso é fato. Mesmo que autores como J.R.R. Tolkien e J.K. Rowling conquistem legiões de fãs, parece que livros desse tipo estão sempre com o estigma de “literatura de entretenimento”, como se por serem assim não tivessem qualquer qualidade. Não é verdade. O simples fato de conseguirem nos transportar para um lugar onde as regras do “mundo real” não são mais válidas, de nos permitir romper um pouco com nossa chata realidade já é, por si só, um aspecto mais do que positivo. Pensei nisso enquanto me maravilhava com Le Cirque des Rêves, criado por Erin Morgenstern em seu romance de estreia, O Circo da Noite. Não há outro verbo, é maravilhar mesmo, imaginando pequenos momentos descritos pela escritora e pensando em como isso ficaria lindo se visto “na vida real” (ou, pelo menos, em um filme).
A premissa é até bastante simples: uma garotinha de cinco anos é entregue ao pai logo após a morte de sua mãe. O pai é Próspero, um grande mago (embora não se refira a si mesmo como tal), que finge ser um ilusionista (se não ficou claro, a ideia é parecida com a do Teatro dos Vampiros em Entrevista com o Vampiro, só que ao invés de vampiros estamos falando de pessoas que conseguem manipular a realidade). O sujeito resolve envolver a filha em uma espécie de desafio com outro mago, que acolherá um pupilo para tal fim. O desafio em si não fica claro nem para a menina (Celia) nem para o rapaz (Marco) e ok, nem para o leitor – e em partes é isso que prende a atenção de quem tem o livro em mãos, descobrir o que é o tal do duelo entre Próspero e Alexander.