Django Livre

django-livre-cartaz-nacionalVerdade seja dita, passei dias me enrolando para assistir ao filme mais recente de Quentin Tarantino, Django Livre. Eu via alguma notícia sobre o filme e antes mesmo de me empolgar e procurar mais informações, já pensava: “poutz, mas nem gostei tanto assim dos últimos”. E enrolei, enrolei, enrolei até que finalmente assisti. E aí lembrei de todos os motivos que me faziam ficar animada quando lia algo sobre “um novo filme do Tarantino”.

Eu acho que o que mais me agradou em Django foi o cuidado com o roteiro. Eu gostei de Bastardos Inglórios, mas não lembro de diálogos que eu pensasse FOOOOOOODA como o entre Schultz e Candie falando sobre Alexandre Dumas. As frases curtas e de efeito ainda estão lá, como já provaram as ‘n’ piadas sobre “Django” ser com “d” mudo (aqui tem um exemplo disso), mas a sensação que dá é que está tudo melhor amarrado, mais fluido, menos forçado. O filme tem quase três horas que passam quase sem que você sinta (embora eu tenha percebido uma ligeira quebra no ritmo ali um pouco depois da primeira hora) – esse tipo de coisa não acontece por acaso.

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O lado bom da vida

O leitor é um adivinhador. Inconscientemente enquanto lemos estamos sempre tentando antecipar o que vem a seguir: qual a próxima ação da personagem, quando o autor explicará alguma condição dessa e assim vai. Mesmo quando os temidos “spoilers” são revelados, ainda assim o processo de adivinhação continua: ok, você sabe que “x” acontecerá – mas quais os eventos que levarão até “x”? Muitos autores construíram suas maiores obras partindo justamente dessa dinâmica do leitor com o texto, buscando inclusive romper com as expectativas mais óbvias. Outros, criam a expectativa através dos famosos “ganchos” que finalizam um capítulo o outro.

Porém, há os que buscam de certa forma colocar o leitor na mesma condição de seus protagonistas. Aquela sensação de pegar “o bonde andando” e ter que se atualizar sobre o que andou acontecendo, a estranheza ao estar em um ambiente que deveria ser familiar mas que não é mais. É exatamente o que Matthew Quick faz em seu romance de estreia, The Silver Linings Playbook (publicado lá fora em 2008 e chegando no Brasil agora pela Instríseca como O lado bom da vida). Situando a história no momento em que o protagonista Pat está deixando um hospital psiquiátrico, e fazendo com que essa personagem seja também o narrador da história, revivemos um sentimento de termos que primeiro encaixar peças de nosso passado para então partir para a brincadeira de adivinhação sobre o que virá a seguir.

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Sete Psicopatas e um Shih Tzu

Eu tenho um verdadeiro fraco por filmes que zombam da violência. Nunca parei para pensar bem no motivo, mas adoro histórias como Cães de Aluguel, Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Survive Style 5+. Então é claro que logo que fiquei sabendo de Sete Psicopatas e um Shih Tzu fiquei morrendo de vontade de assistir, considerando não só o enredo mas também o elenco – um punhado de gente que adoro ver no cinema.

Dirigido por Martin McDonagh (o mesmo de Na mira do chefe), o filme conta a história de Marty (Colin Farrell), um roteirista passando por um bloqueio criativo e que recebe apoio do amigo Billy (Sam Rockwell) para escrever uma história sobre sete psicopatas. A graça do enredo é que pouco a pouco vamos percebendo que a história que Marty está escrevendo é na realidade a que estamos vendo no filme.

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Moonrise Kingdom

Eu não sou especialmente fã do Wes Anderson, daquele tipo que sai correndo conferir qualquer filme novo que ele tenha dirigido só por ter o nome dele nos créditos. Na realidade, assisti pouca coisa dele, adoro Os excêntricos Tenenbauns e achei Rushmore bacaninha e acho que fiquei por aí. Então minha curiosidade por Moonrise Kingdom era só sobre o filme em si, até porque pelas poucas informações que eu tinha recebido dele, parecia ser o tipo de história que me agradaria.

E é engraçado eu ter citado os Tenenbauns e Rushmore, porque Moonrise Kingdom parece pegar muito dos temas principais dessas duas histórias. Pode ser uma constante do cinema do Anderson, mas de novo, eu não vi tudo dele então não posso afirmar. De qualquer forma, vemos lá o crescimento, o deslocamento e, principalmente, aquele tom doce, mas ao mesmo tempo triste – ele tem seus momentos “Nhoooum!” ao mesmo tempo em que você vê a personagem de Bill Murray dizendo que deseja que o telhado saia voando e que ele seja tragado para o espaço.

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Cinema com mamadeira 3

Começo o número 3 do Cinema com mamadeira com uma resolução de ano novo: Ou melhor, algumas resoluções. A primeira é assistir pelo menos quatro filmes por mês em 2013 (sei que o ano não acabou, mas a tendência é que eu feche 2012 com a média de 2 por mês). A segunda é achar um nome novo para essa sessão, até porque Arthur já está quase largando a mamadeira. A terceira é conferir os Oscarizáveis ANTES do Oscar este ano, como eu gostava de fazer há uns anos. Acho que é isso. Sou péssima com resoluções, elas parecem funcionar ao contrário: eu listo as coisas e aí que eu não faço mesmo. Mas bem, fica pelo menos o registro da intenção.  Mas vamos lá, para a última rodada do que eu tenho visto este ano.

O Artista: Já falei sobre ele aqui. Sabe aqueles filmes que o tempo passa e a lembrança dele parece ficar cada vez melhor? Eu realmente gostei, e é um daqueles que me arrependo de não ter visto no cinema – algumas cenas devem ter ficado especiais com som e imagem apropriados (como por exemplo, naquele sonho do protagonista, em que ele começa a ouvir as pessoas falando). Se eu fizesse top10 de lançamentos este ano como costumava fazer, ele estaria entre os três primeiros colocados com certeza. Acho que o que mais me agradou foi ele ter tantas personagens boas, dá aquela sensação gostosa quando o filme acaba de que você passou algumas horas sem pensar em qualquer merda da “vida real”. Lembro que um que deu a mesma sensação foi Juno. Continue lendo “Cinema com mamadeira 3”

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2012)

Uma breve história para começar.

Zambra em seu livro Bonsai fala de um casal que tem uma relação de certa forma construída com livros. A graça é que um diz para o outro que leu Em busca do tempo perdido, quando na verdade não o fizeram. Digo isso porque de certa forma minha história com o Fábio também tem uma presença forte dos livros, mais especialmente os de Tolkien. E ontem de manhã, enquanto ele se arrumava para ir trabalhar, eu tive que despejar a bomba que seguro há quase 8 anos: EU NUNCA TERMINEI DE LER O HOBBIT. Pois é. Cheguei na metade, cansei, larguei. Nunca li os Apêndices de O Senhor dos Anéis também. Eu acho que nosso relacionamento sobreviverá a isso (eu não o perdoo por nunca ter lido Os Três Mosqueteiros, talvez façamos uma negociação aí), mas se estou deixando registrado esse momento é para explicar que, embora eu tenha sido fã de Senhor dos Anéis, eu nunca fui fã hardcore – não sou do tipo que discute personagens ou passagens obscuras do livro, até porque eu provavelmente os ignorei enquanto lia. Ok, divago: fato é que eu fui ao cinema ontem à noite mais como leiga do que como fã. Acho importante ressaltar isso e logo mais explico o por quê.

Então, o filme. Começo avisando que não vou cuidar para filtrar spoilers, então se você ainda não viu, não leia. Também não vou passar todo o histórico, a essa altura vocês já devem estar carecas de saber. Mas vou ressaltar novamente que foram 9 anos de espera entre o lançamento de O Retorno do Rei e a estreia de Uma Jornada Inesperada, um período de tempo que por si só já é um ótimo alimento para uma expectativa gigante. O filme abre com um prólogo mostrando Bilbo mais velho (interpretado por Ian Holm) escrevendo sua história para Frodo no dia de sua festa de aniversário. Sim, aquelaaaaa de A sociedade do anel. Quando chegar o dvd alguém provavelmente vai mostrar como uma coisa se encaixa com outra (Frodo indo encontrar Gandalf em Uma Jornada Inesperada e Frodo encontrando Gandalf em A Sociedade do Anel, por exemplo). O prólogo serve não só para conectar as duas trilogias, mas também para apresentar a história dos anões de Erebor, que será a base dos eventos que ocorrerão em O Hobbit.

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Era final de 2001…

… tinha acabado de ganhar o livro de capa preta da minha mãe – não que ela tivesse adivinhado que eu queria muito aquele, eu sempre deixo muito claro o que eu quero muito ler perto de Natal e aniversário. “O Senhor dos Anéis”. Eu lia a revista SET (na realidade, tinha assinatura) e sabia de toda a agitação ao redor da produção que chegaria ao Brasil no dia primeiro de janeiro, e esse aliás foi um dos ‘n’ fatores que atiçaram minha curiosidade sobre o livro. Devorei em poucos dias (livro favorito: As duas torres. personagem favorito na época: Legolas), empolgadérrima ao ponto de tentar por conta própria aprender tengwar e aquelas runas dos anões cujo nome não lembro mais. Enfim, evidente que eu era uma das malucas que no primeiro dia do ano, com o resto do shopping inteiro fechado, estava lá fazendo fila para conferir o filme A sociedade do anel, o primeiro da trilogia do Peter Jackson.

Entendam: não era aquela nerd apaixonada pelos livros, que já tinha lido tudo o que saiu sobre Tolkien. Tolkien nem passava no meu radar antes de começarem os falatórios sobre a adaptação. Mas o filme me encantou ao ponto de eu começar a querer saber mais daquele mundo. Porém, a vida vai atropelando nossos pequenos prazeres, e em janeiro eu tinha aulas na faculdade para colocar em dia o calendário após uma greve longa, que inclusive só perdeu o posto de “greve mais longa” este ano. Verdade seja dita, acho que meu ex se envolveu muito mais em “tolkienidades” do que eu, tanto que ele que me apresentou o site e o fórum Valinor. Sobre o fórum, no começo eu lia usando a conta dele, adorava os tópicos do Clube da Insônia. Até que resolvi me cadastrar, com o fantástico nick ~·*Preciosssssa*·~ (sim, messsstre, preciossssa), que depois mudei para o ~·*Ana Lovejoy*·~. Fiz amigos lá, ao ponto de fazer uma churrascada em casa com trocentas pessoas que nunca tinha visto pessoalmente até então. Comecei a achar graça de questões que antes nem passavam na minha cabeça (alou, asas de balrog?), e a ansiedade pelo segundo filme foi crescendo. As Duas Torres chegou aos cinemas no dia 27 de dezembro, e eu estava lá na fila da estreia também.

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O Artista

Eu já estava curiosa para ver O Artista desde que o título surgiu como um dos indicados ao Oscar. É uma mania que persiste mesmo quando já não tenho mais tempo para correr atrás de todos os lançamentos: ver os indicados a melhor filme do Oscar (fazia isso com a Sol, anos atrás). Enfim, sexta à noite, finalmente fui dar uma conferida no filme. Não tinha muitas expectativas – já sabia que era um filme mudo e preto e branco, mas vá lá, a ideia nem é tão original se pensarmos em filmes como The House of the Devil que também recriam a estética e a técnica do período da história que conta (embora nesse caso ele faça referência ao cinema de horror do final da década de 70 e começo da de 80). Mas mesmo assim, eu tinha lá o palpite de que tinham acertado no que fizeram – não pelo Oscar, mas pela quantidade de pessoas que sei que não são exatamente as que assistem cinema mudo dizendo que adoraram o filme.

E meu palpite estava certo, mas vamos por partes. Se a parte técnica não é uma novidade, o plot também não é: a ideia da transição do cinema mudo para o cinema falado já havia sido explorada por um grande clássico do cinema, o Dançando na chuva. Então você me pergunta: se o filme não tem realmente nada de novo, como pode ter agradado tanto? Bom, acho que porque as qualidades não são as supostas inovações, ao contrário do que se imagina. Os aspectos mais positivos de O Artista estão no fato de – assim como o cinema que está homenageando – saber mostrar que simplicidade nada tem a ver com má qualidade ou desleixo. É trazer novamente aquele gosto pelo cinema pelo que ele tem de melhor, a possibilidade de fazer com que acreditemos num mundo que não mais existe.

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Cinema com mamadeira 2

Não deixa de ser engraçado que logo o número 2 do Cinema com mamadeira seja quase todo com filmes que revi, e não filmes novos. Se o tempo é curto, por que estou assistindo novamente alguns filmes? Bem, a resposta é óbvia: porque eles valem a pena. Ou porque esqueci que já tinha visto, há. De qualquer forma, vamos lá, um pouco sobre cada um deles.

O melhor amigo da noiva (2008): Era uma noite aleatória, eu estava morta de cansaço e não queria nada além de uma comediazinha bonitinha e aí vi esta opção no Netflix e resolvi conferir. E né, pelo menos nos primeiros minutos pareceu entregar o que eu queria. Vemos Patrick Dempsey como Tom, um carinha pegador que não se prende a ninguém previsivelmente se apaixonando pela melhor amiga Hannah justo no momento em que ela larga mão do amor platônico por ele para ficar com outro cara. Aí eu comecei a pensar “Peraí, tudo bem que o enredo é previsível, mas isso tudo está começando a soar muuuuito familiar”. Pensei que estava confundindo com algum outro filme que envolvesse casamento, fura olho e afins, e então quando eles chegam na Escócia (sim, vergonhosamente uma parte já bem avançada do filme) eu me dei conta de que já tinha assistido O melhor amigo da noiva. Não lembro quando, não tenho nada anotado – muito provavelmente nos meses finais da gravidez ou em algum momento dos primeiros meses do Arthur, quando não dormir era algo bastante comum. Enfim, o filme não é ruim. Só dá aquele arrependimento ter usado meu tempo revendo algo quando tem tanta coisa que ainda não vi. Continue lendo “Cinema com mamadeira 2”

Cinema com mamadeira 1

Porque eu sou mãe, e não tenho mais muito tempo nem para ver muito filme, nem para escrever grandes posts sobre cada um deles. Por isso resolvi fazer comentários breves sobre o que andei assistindo.

Drive (2011): Podia jurar que tinha comentado sobre ele aqui. Acho que foi meu primeiro filme com Ryan Gosling como protagonista, e gostei bastante do que vi. É daquelas histórias que acabam sendo construídas muito mais nos silêncios das personagens do que em suas falas propriamente ditas. E bem, nas ações, é claro. O motorista (que se eu não me engano nunca tem o nome revelado na história) vai se revelando aos poucos a partir do momento que conhece a nova vizinha e tenta ajudá-la. Achamos que é um sujeito que quer só a sorte de um amor tranquilo ou algo que o valha (e bem, parece que é o que ele quer), mas a seta na régua da moralidade da personagem não está apontando para o mesmo lugar que a maioria dos heróis, tornando a personagem bem interessante, no final das contas. Chamou minha atenção principalmente a forma como a tensão é mantida ao longo da história, em pelo menos uma cena eu lembro de ter dado um pulo de susto.

O primeiro ano do resto de nossas vidas (1985): Pode parecer meio bizarro se for pensar que já passei dos 30, mas não, eu ainda não tinha assistido a esse filme. E lógico, o efeito não foi o mesmo que teria se eu tivesse assistido, sei lá, uns 10 anos atrás (não necessariamente logo que foi lançado). Mas é bastante curioso, no final das contas, ver uma Demi Moore (hoje uma senhoooura) pirralhinha e atores que já foram galãs no seu tempo e hoje são ilustres desconhecidos. A história fala de um grupo de amigos que está naquela difícil fase de transição entre a vida de jovem e a de adulto – pagar conta, trabalhar, enfim, entrar na roda viva. Chamou minha atenção a movimentação dos atores e o ritmo dos diálogos, lembrou MUITO o estilo de uma peça de teatro (especialmente nas partes que passam dentro do bar St. Elmo’s). Foi dirigido por Joel Schumacher 12 anos antes do horroroso Batman & Robin.

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