Garota Exemplar (Gone Girl, 2014)

enhanced-buzz-wide-28958-1406900006-11Lembro que cheguei a escrever no meu post sobre o livro Garota Exemplar que essa era uma história que sobrevivia ao spoiler: mesmo você sabendo detalhes importantes do enredo, ainda assim valia a pena ler. E até por isso fiquei bastante ansiosa sobre a adaptação para o cinema, dirigida por David Fincher (de quem eu curto alguns trabalhos, mas não chego a ser pagadora de pau, etc.). Uns tempos depois, saiu por aí uma notícia de que a Gillian Flynn (autora do livro e responsável pelo roteiro) tinha alterado o final, o que obviamente aumentou minha curiosidade – alterou como? O que muda? E lá vou eu, tão logo o filme chega aos cinemas para conferir.

Antes de continuar a comentar aqui, vale lembrar que ainda acho que seja uma história que vale a pena mesmo com spoilers (embora agora esteja cá co a dúvida se um aspecto realmente não se perde quando você aprende uma coisa ou duas sobre as personagens), mas que caso você seja do tipo que se importa MUITO com isso, é melhor não continuar a ler o que escreverei aqui.  Ok? Ok. Vamos lá.

Continue lendo “Garota Exemplar (Gone Girl, 2014)”

You see, there are still faint glimmers of civilization left in this barbaric slaughterhouse that was once known as humanity

Então. Ia escrever sobre Subject Steve do Sam Lipsyte, abri o editor mas me dei conta que é um livro com bons momentos mas que não mexeu comigo o suficiente para sentar aqui e escrever sobre ele. Basta dizer que tem uma pitada de Tibor Fischer (alou, Sol!), que tem uma ideia bem sacada só que em determinado momento ele começa a se repetir tanto, tanto, que cansa. Seria uma novela excelente, e é um romance mediano.

Mas eis que estava aqui dando uma olhada e notei que não falava dos meus filminhos desde o Oscar e que puxa, um monte de coisa linda, imperdível e inesquecível estava nesse intervalo entre o último post e o que escrevo agora. Como não vou dar conta de falar sobre tudo, deixo os ruins e os maizomeno para lá e vou direto aos que gostaria que alguém tivesse me indicado caso eu já não soubesse deles (é um conceito meio confuso mas já explico sobre isso, peraí). Naquele esquema de sempre, uns comentários breves.

Continue lendo “You see, there are still faint glimmers of civilization left in this barbaric slaughterhouse that was once known as humanity”

Oscar 2014: O dia seguinte

Ok, aqui estou eu de novo com minha caneca de café, lutando contra o sono e pensando se realmente valeu a pena dormir tão tarde. Não entenda mal: todo mundo para quem eu torcia ganhou, quem eu torcia contra voltou de mãos abanando e Ellen esteve bem na apresentação. O problema é que foi tão previsível e sem graça. Sei lá, a cerimônia do ano passado não foi muito diferente mas lembro de ter me divertido muito mais enquanto assistia, isso desde o tapete vermelho, que neste ano contou basicamente com dois momentos: Jennifer Lawrence tropeçando mais uma vez (ganhando comentários divididos entre “ha, ha essa jen!” e “haja vontade de aparecer”, o que dá uma boa dica de como a imagem dela ficou desgastada em um ano) e o Benedict Cumberbatch fazendo isso:

Ah, tá, teve a piada do Jared Leto como Jesus. Ok, de repente eu que estava com sono desde o começo da cerimônia, então desconsiderem qualquer comentário mais ranzinza. Falando no Jared Leto, foi a escolha óbvia (e merecida) para melhor ator coadjuvante – sei que fiquei devendo um post sobre O Clube de Compras Dallas, mas resumo minha opinião aqui: teria sido perfeito não fossem as cenas meio “romance de sessão da tarde” entre Woodroof e a médica. Ouvi comentários (maldosos) de que só faltava a personagem de Leto ser judia para completar o que seria o tipo de personagem para quem sempre dão prêmios, mas sério, assistam ao filme e vejam o que ele fez com o Rayon. É lindo. Tem uma cena em especial que eu acho que vou demorar para esquecer, em que ele sabe que vai morrer e está na frente do espelho se maquiando que olha, você tem que ser muito insensível para achar que foi só a perda (absurda) de peso ou alguns esteriótipos que deram esse prêmio para o Leto. Discurso dele foi total self-service, chegou uma hora que achei até que ele ia falar meu nome, há.

Continue lendo “Oscar 2014: O dia seguinte”

Esquenta para o Oscar 2014

Louis, acho que este é o começo de uma bela tradição. Como no ano passado, aqui estou para lembrar todos vocês que a) Amanhã tem Oscar, b) Não vai passar na Rede Globo (e eu que reclamava de quando eles passavam a programação normal incluindo BBB e só então começavam a transmissão, acabo de me dar conta que tudo pode piorar), c) Vai passar na TNT a partir das 21:30h, d) Red Carpet na E! aparentemente a partir das 17h (esses canais de tv a cabo sempre me confundem com os fusos) e e) não poderia faltar a seleçãozinha básica de links relacionados, clica aí:

Ok, hora dos palpites. Acho que será algo parecido com o ano passado, sem muitas surpresas e bem, sem nada de muito absurdo. A temporada de premiação antes do Oscar acabou selecionando quase sempre os mesmos nomes, e alguns casos são meio que dados como certos para a noite de amanhã.

Continue lendo “Esquenta para o Oscar 2014”

12 anos de escravidão (12 Years A Slave, 2013)

Como acontece com esses filmes em temporada de premiação, já tinha ouvido falar bastante sobre 12 anos de escravidãoFalaram que era o filme definitivo sobre os horrores da escravidão e que, justamente por isso, era bastante difícil de assistir. Não por ser um daqueles filmes obscuros com significados ocultos, simplesmente pelo que faria você sentir. Eu não posso falar nada sobre ser definitivo ou não porque, assumindo aqui, assisti pouco ou nada de histórias semelhantes. Mas concordo sobre como ele te faz sentir. Não é fácil, ainda mais se for pensar que aquele é apenas um recorte, e que existiram milhares e milhares de Solomons e Patseys não só nos Estados Unidos, mas aqui também – onde o horror de apagar a identidade de uma pessoa e coisificá-la também aconteceu.

O filme é baseado em um relato real de Solomon Northup (interpretado por Chiwetel Ejiofor), nascido livre e que vivia bem com mulher e filhos em Nova York, até que em uma noite foi sequestrado e vendido como escravo. Não há muita informação sobre o passado de Northup, mas a noção que se tem é que vive de sua música e é respeitado em sua região. Mas, após o sequestro, começa o período de sofrimento da personagem. Eu sei que parece ser pior se pensarmos que ele ocupava uma posição de relativo prestígio dentro da sociedade, mas calma, não se apresse. Apesar de um caso atípico (se considerarmos que a maior parte dos escravos era de pessoas que só tiveram a oportunidade de se dizer livres enquanto estavam em sua terra natal), a história de Northup revela um processo vivido por todos os escravos. É embarcar nesse pesadelo em que nada que você fale vale como verdade, a entrada em uma realidade distorcida em que você é pouco a pouco despido de de sua identidade e transformado em coisa.  

Continue lendo “12 anos de escravidão (12 Years A Slave, 2013)”

Ela (Her, 2013)

Tá. Acho que vale começar a dizer que apesar do histórico, não sou particularmente fã do Spike Jonze, muito menos do Joaquin Phoenix. Digo isso porque não são nomes que despertem minha curiosidade sobre um filme, nem é um daqueles casos em que você já gosta antes mesmo de assistir. Mas aí saiu trailer, e depois começaram a aparecer os comentários e, principalmente, as citações de algumas falas do filme, então de todos os “oscarizáveis”, Her acabou entrando no topo da lista dos que eu tinha vontade de ver. E não decepcionou.

Veja bem, eu tenho um fraco por histórias que buscam trabalhar um tema trivial (aqui, como nos relacionamos com o outro) de forma pouco convencional. Na história Theodore (Phoenix) é um homem que ganha a vida escrevendo cartas por outras pessoas que não são tão boas com as palavras quanto ele. Um dia ele fica sabendo sobre um novo sistema operacional criado para se adaptar ao dono e decide instalá-lo. Poucas perguntas depois, eis que surge Samantha (voz de Scarlett Johansson), que aparentemente não vai só se “adaptando” ao Theodore, mas evoluindo: ela tem senso de humor próprio e, o principal, sentimentos. O resultado disso é bizarro, mas óbvio para o enredo: os dois se apaixonam.

(Aviso: o post será uma série de aloprações minhas sobre variados momentos do filme, então assim, se você ainda não viu, pode ter spoilers, etc.)

Continue lendo “Ela (Her, 2013)”

Os melhores filmes de 2013

A notícia boa é que ao contrário do que aconteceu em 2011 e 2012, agora em 2013 consegui ver até que uma quantidade razoável de lançamentos, o que justifica o top 10 como costumava fazer deeeeeeesde 2004. A notícia ruim é que o ano virou e eu não escrevi o post e ele está meio atrasadinho, mas ok, ok, antes tarde do que nunca. Lembrando que na lista valem apenas filmes lançados no Brasil em 2013 (falo mais sobre isso ali para frente). Só para deixar arrumadinho, links para os outros anos: 2004 | 2005 | 2006 | 2007 | 2008 | 2009 | 2010

Hum, sendo bem honesta aqui: primeiro lugar porque é combo com os outros dois, Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol. Minha primeira experiência com Jesse e Celine não foi das melhores, mas fazendo uma maratona para o Antes da Meia-Noite, me encantei de tal forma que foi uma das melhores experiências que tive no cinema este ano. Falei mais sobre os três neste post aqui.

Continue lendo “Os melhores filmes de 2013”

A vida secreta de Walter Mitty

 

Você já deve ter passado os olhos em mais de um texto que aponta como o Facebook deixa as pessoas deprimidas. É aquela armadilha que armamos para nós mesmos: sabemos que o que aparece na timeline dos outros é “editado”, só os melhores momentos, e mesmo assim nos perguntamos por que não somos tão bonitos, felizes e bem sucedidos quanto aquelas pessoas que ali estão. E lembrando que não são só fatos da vida de uma pessoa que podem ser “editados”, como ela mesma pode criar uma personagem, expondo só o que tem de melhor (ou de pior, não vamos esquecer dos trollzinhos). Você também já deve ter lido qualquer texto daqueles que mesclam um tom de autoajuda com crítica, falando de como as pessoas têm 500 amigos em redes sociais mas poucos “na vida real”.

É essa linha cada vez mais tênue entre a vida virtual e a vida real que A vida secreta de Walter Mitty explorará, em uma metáfora até bem direta (e bastante óbvia), mas que nem por isso deixa de agradar. Mitty é um sujeito sonhador, que volta e meia está perdido em devaneios onde ele surge como um sujeito que faz tudo o que ele gostaria de fazer na realidade. O Mitty “dos sonhos” é corajoso, aventureiro, genial, extrovertido. Em suma, tudo o que Mitty “da realidade” acha que não é. Ele é o responsável pelos negativos na revista Life, que passa por um período de transição, com a edição de papel deixando de circular e passando apenas a contar com edição online. Há aqui mais um jogo entre ficção e realidade, já que a revista é real e de fato hoje em dia não conta mais com a edição impressa, por outro lado até algumas capas que aparecem no filme não são reaisincluindo aí, é claro, a capa com a foto do negativo 25, que some misteriosamente e é o que lança Mitty em uma aventura real para resgatá-lo.

Continue lendo “A vida secreta de Walter Mitty”

Só para deixar registrado

(Seguindo a mesma ideia deste post aqui e deste outro aquivamos lá para alguns comentários aleatórios sobre os filmes que tenho assistido)

Caindo na real (Reality Bites, 1994): Não me julgue por nunca ter assistido a este filme, quando ele saiu eu ainda não tinha idade para me interessar por esse tipo de história. Enfim, foi um daqueles casos de conjunção referencial: eu ainda estava empolgada com a trilogia do Linklater (que tem Ethan Hawke no elenco, como em Caindo na real), e eu estava empolgada com um filme que está para sair que foi dirigido pelo Ben Stiller (que também dirigiu Caindo na real) e como tinha acado de ver Romy e Michele lembrei de quanto gosto da  (que está no elenco de Caindo na real). Acabei resolvendo conferir e pans, é bacaninha. Não me diz muita coisa porque eu já saí da fase de pensar oh-gosh-agora-que-me-formei-farei-o-que-da-minha-vida, mas de qualquer forma há um efeito de nostalgia duplo ali, seja pelos anos 90 (porque este filme berra anos 90), seja por justamente descrever um período de vida pelo qual já passei. Enfim, o engraçado sobre o filme é que a personagem principal (interpretada por Winona Ryder), faz um documentário com depoimentos dos amigos, que depois é vendido para  (e deformado por) um canal de tv. Hm, ok, isso não é engraçado. O negócio é que em 1992 a MTV americana lançou o que seria um dos primeiros reality shows, o programa que aqui no Brasil chegou como Na Real. Não sei se houve uma inspiração ou se é só coincidência, mas é difícil assistir ao filme e não lembrar do programa (btw, eu assisti. Meu favorito era o Na Real em Londres).

The Bling Ring: A Gangue de Hollywood (The Bling Ring, 2013): Ai, que filme mais ou menos. A impressão que tive de ser superficial talvez seja porque as personagens assim o são, não sei. Mas passei a maior parte do tempo pensando “Caramba, Sofia. Você nos conta uma história linda como Lost in Translation, por que diabos resolveu contar essa história desses adolescentes idiotas?”. Crítica à sociedade, blablabla, ok, entendi. Mas eu acho que pelo menos neste caso em específico uma alegoria serviria melhor ao propósito de crítica do que mostrar os fatos tal como são. Um dos pontos positivos desse filme é que as personagens são detestáveis (como deveriam ser, já que estamos falando em crítica). A trilha sonora é um horror (e considerando isso já me arrependo de um dia ter falado mal de Maria Antonieta) e ai, tem Emma Watson lambendo a linguinha, que sexy. Sorry, eu não tenho essa pira pela atriz, portanto não tem lambeção de linguinha que me faça pensar que seja um filme daquele tipo imperdível. Pelo contrário: não dá nem um ano e tenho certeza de que já terei esquecido que um dia o assisti. Talvez sob efeito do filme eu tenha achado o começo do livro (lançado aqui no Brasil pela Intrínseca) um saco, daqueles que larguei sem dó.

Continue lendo “Só para deixar registrado”

Guerra Mundial Z (World War Z)

Então. Eu não tinha qualquer esperança sobre Guerra Mundial Z, na realidade, tinha é a certeza de que seria uma bomba, começando no fato de que nada tinha a ver com o livro do Max Brooks. Mas como a adaptação de Warm Bodies teve nada a ver com o livro e eu achei bacaninha, resolvi dar uma chance. Começam os créditos, que descrevem os eventos anteriores ao momento em que se passa a história, dando a entender que os zumbis aqui são pessoas infectadas por um vírus, provavelmente uma gripe que sofreu mutação. Hum, falam de aquecimento global também. Eu que já acho que a regra número um dos filmes de zumbis é não explicar como eles surgiram achei que o combo vírus + aquecimento global já é muita informação, mas olha, foi muito bem montado. Eu não sou muito de ficar dando trela para créditos, mas tem alguns fatores ali que já fizeram com que eu automaticamente ficasse mais otimista sobre o filme:

a) gostei de como usam imagens da tv para contar a história, mesclando notícias que já apontam para a catástrofe com banalidades como programas de variedade; até que finalmente fica certo que o vírus sofreu mutação, e aí as imagens (mesmo as dos animais) ficam mais fortes, a música PAM PAM PAM vai aumentando a tensão, etc. bom modo de deixar o espectador a par dos eventos, e prepará-lo para o clima geral do filme.

b) é bobagem, mas ainda sobre a trilha (e as letras usadas no crédito), lembrei dos filmes de zumbi da década de 70.

c) Isso:

Alooou? Douglas Adams? ” So long and thanks for all the fish?”

 

d) E isso:

Michio Kaku

 

Sim, adoro referências nérdicas. Ok, voltando ao Guerra Mundial Z. Cena típica, família acordando para mais um dia comum (tem algo de Dawn of the Dead naquela cena matutina na cama, btw),  e aí você já está tão escolado com filmes do gênero que sabe que vai dar merda aquele ursinho da menina e o inalador da outra em algum momento, mas ok, continuemos. Chega a cena que apareceu em vários trailers, com a família no carro bem no momento em que a coisa fica feia e então dá para ter uma noção de qual será a configuração do filme: 1) família tentando sobreviver, 2) Gerry (Brad Pitt) buscando o paciente zero/uma cura/whatever ao redor do mundo.

Continue lendo “Guerra Mundial Z (World War Z)”