Autobiography (Morrissey)

Morrissey_Autobiography_coverA autobiografia do Morrissey saiu lá fora já tem quase dois anos. Os direitos de publicação aqui no Brasil são da Globo Livros, que prometia a tradução para abril do ano passado mãããs, numa pesquisa rápida no site da editora eu não encontrei nada. Não sei o que pode ter acontecido, talvez o problema envolvendo a venda dos direitos pela Penguin (que, surpresa, surpresa, deixaram o Moz descontente). De qualquer forma: quase dois anos, e eu ainda não tinha lido. Logo eu.

Sendo bem sincera, a verdade é que aquele primeiro parágrafo gigante me enchia de preguiça, o que vencia qualquer curiosidade sobre o que Moz tinha a dizer sobre a própria vida (já comentei por aqui, não sou do tipo que se sente confortável esmiuçando a vida pessoal de artistas). Não sei se vou conseguir explicar, mas é mais ou menos assim: por exemplo, o A Arte de Pedir da Amanda Palmer é bem bacana, e eu admiro horrores a Amanda (às vezes acho que até mais do que o trabalho dela). Mas me incomodou profundamente o tom de justificativa para hater que o livro acabou tomando. Não estou dizendo que com isso o livro ficou ruim, mas aquela pontinha da justificativa desnecessária está sempre lá, cutucando.

E eu achei que o Morrissey seguiria por esse caminho, uma espécie de carta de justificativa, um mero “dar a última palavra” sobre assuntos do passado. Porque mesmo que você não dê a menor bola sobre a vida do Morrissey, é impossível não ficar a par das inúmeras polêmicas em que ele acabou se envolvendo durante sua carreira. São muitas. O cara é um pára-raio de treta. Mas então lá vamos nós, começando na infância do músico…

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Como Shakespeare se tornou Shakespeare (Stephen Greenblatt)

O maior problema das biografias sempre me pareceu ser a falta de criatividade de quem as escreve. O modelo que invariavelmente se adota é de transformar a pessoa em personagem, e aí narrar sua vida como um romance linear, partindo da infância até os últimos dias. É evidente que em alguns casos a fórmula funciona porque a pessoa cuja vida é retratada é interessantíssima1, imagino aqui que deva ser extremamente difícil errar a mão em uma biografia sobre Oscar Wilde ou Voltaire, por exemplo.  Mas no final das contas é isso: o texto pode até ser bom de ler, mas não traz novidades.

Pensava isso pelo menos até ler Como Shakespeare se tornou Shakespeare, de Stephen Greenblatt. O modo como ele escolhe falar sobre a vida daquele que é considerado um dos nomes mais importantes da literatura de língua inglesa é simplesmente genial, indo além da já citada linearidade (sim, começa do “começo”, como qualquer outra biografia) detalhando momentos que foram fundamentais para que as obras de Shakespeare fossem tais como são. O curioso da ideia por trás desse livro, de que Shakespeare era um reflexo do tempo em que vivia, é que enquanto lia lembrava da faculdade, da professora Célia Arns na disciplina sobre Shakespeare dizendo exatamente isso: que Shakespeare só existiu (e consequentemente sua obra) porque ele nasceu naquele exato momento da história. Tivesse surgido hoje em dia, não teríamos o Bardo.

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  1. parece bobo dizer isso, como se fosse óbvio que só pessoas interessantíssimas merecessem biografias, mas a verdade é que o fato da pessoa ser famosa ou ter realizado algo grande não faz da vida dela algo que desperte o interesse do leitor 

Oscar Wilde (Daniel Salvatore Schiffer)

Vigésimo título da coleção Biografias da editora L&PM, Oscar Wilde de Daniel Salvatore Schiffer apresenta uma pesquisa completíssima sobre a vida do autor britânico. Trechos de cartas de Wilde e seus amigos, biografias de pessoas que conheceram o escritor, depoimentos de seus filhos, etc. tudo foi utilizado para montar um retrato fiel do que foi esse grande homem, que de certa forma dá até para dizer que foi maior do que sua própria obra.

Antes da “era paparazzi” isso acontecia com poucos artistas: ter a vida pessoal tão esmiuçada pelo público, ser de fato artista e celebridade. Wilde criou uma personagem que serviria como uma máscara protetora para quando passou a frequentar a sociedade inglesa, que tão ferinamente criticava em suas peças e em seu único romance, O Retrato de Dorian Gray. É justamente por ter a difícil tarefa de separar o homem da personagem que Schiffer merece destaque entre os biógrafos de Wilde.

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Diego e Frida: Biografia (J.M.G. Le Clézio)

Meu primeiro contato com a pintora mexicana Frida Kahlo foi através do filme Frida (2002), uma adaptação de Frida: A Biography of Frida Kahlo de Hayden Herrera. Como pareceu uma personagem forte cuja biografia se confunde de forma muito interessante com a obra, fiquei bastante interessada quando soube da publicação no Brasil do livro Diego e Frida: Biografia, do vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2008, J.M.G. Le Clézio.

Inicialmente fiquei preocupada que fosse muito parecido com o que já tinha assistido, mas o comprometimento em falar não só de Frida, mas também de seu marido Diego Rivera, acabam por garantir uma nova perspectiva sobre a história. E Le Clézio conduz muito bem essa biografia, mesclando a narrativa sobre a vida dos dois artistas de tal modo que deixa clara a ideia de que tudo o que fizeram jamais teria a mesma beleza se nunca tivessem ficado juntos. Apesar da importância da arte tanto para Frida quanto para Diego, outra constante que fica clara já no Prólogo é a presença da política. Os dois tinham modos diferentes de pensar sobre o tema, mas a todo momento os ideais políticos dos protagonistas se mesclam com suas criações. Assim como o amor de um pelo outro acaba servindo como elemento para a obra, por isso da importância de conhecer a história não só sob o ponto de vista de Frida (como acontece na cinebiografia), mas também de Diego. Continue lendo “Diego e Frida: Biografia (J.M.G. Le Clézio)”

Música, Ídolos e Poder – do Vinil ao Download (André Midani)

Deixando de lado os casos de pessoas que vivem de música ou são obcecadas pelo assunto o fato é que o público em geral tem contato basicamente com o produto final e o artista, esquecendo que existe  todo um processo bem longo e complicado entre a composição e a venda de uma canção. E é justamente aí que entra o ponto alto de Música, Ídolos e Poder – do Vinil ao Download do André Midani: pelo autor ter sido parte tão importante em muito do que ouvimos hoje como nossa MPB, vemos muito mais desse processo.

A Bossa Nova, a Tropicália, as carreiras solo de Erasmo Carlos e Rita Lee, Tim Maia, Kid Abelha, Barão Vermelho, Titãs… Você pensa em qualquer coisa criada no Brasil até os anos 90 e pode ter certeza que tem o dedo desse Midani no meio. E mesmo nas figuras que ele não “descobriu”, nos grandes momentos desses artistas ele esteve presente (caso de Chico Buarque, por exemplo).

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George, Eric, Patti e eu.

Mais ou menos assim: você percebe que George era seu Beatle favorito, quando em uma aula com um exercício de listening contando brevemente a história envolvendo a composição de Something, Layla e Wonderful Tonight, você não só conhece a história toda como ainda faz um diagrama no quadro, toda empolgada, para explicar o que rolou.

Se você não conhece a história: George casa com Patti. George está apaixonado e compõe Something. George passa a não dar muita bola para Patti. Patti usa o amigão do George, Eric Clapton, para fazer ciúmes para o marido. Eric se apaixona por Patti. Patti não tem certeza se rola largar o bítou. Eric compõe Layla, música meio ‘piada interna’, que só a Patti sacou na época. Patti larga George e casa com Eric. Eric compõe Wonderful Tonight, porque fica todo orgulhoso da pequena que está pegando. Anos depois, Eric e Patti se divorciam. Pans.

Moral da história versão aula: Nada como o amor para inspirar grandes canções.

O bandido que sabia latim

Na noite de sábado para domingo comecei a ler a biografia Paulo Leminski – O bandido que sabia latim (escrita por Toninho Vaz), mas foi ontem à noite que a leitura engrenou de um modo que eu simplesmente não conseguia deixar o livro de lado (o que rendeu bastante reclamação do Fábio sobre a luz, hehe). Eu sei que não basta uma personagem interessante sem talento para se contar a história, só que, não desmerecendo o trabalho do Vaz (que é excelente, diga-se de passagem), Leminski parece uma daquelas pessoas que renderam histórias que nem o mais inapto dos escritores conseguiria tirar o brilho.

O que eu acho engraçado é que quando comecei a ler me dei conta que na realidade nunca fui fã do Leminski, mas da obra dele. E isso é raro, visto que sempre que me apaixono por algum trabalho quero logo fuçar a vida do autor (vide Wilde, Voltaire e Poe, por exemplo). Sabia pouco dele, pelo menos comparado com o que há para se saber.

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1984

Algo que me perturbou muito durante a leitura de 1984 era a questão da manipulação da História. Lembro que passei dias pensando naquilo, querendo falar disso com alguém, como se eu tivesse um espinho de peixe na garganta. É até por causa disso que acredito que dificilmente a obra do George Orwell sairá da minha lista de favoritos de todos os tempos (mas aí já é outra história).

Então, para quem não lembra, Winston (o protagonista) trabalhava no Departamento de Arquivos do Ministério da Verdade. E talvez até mesmo por trabalhar nesse departamento, ele ainda tinha uma visão diferente sobre o mundo no qual vivia. Ele sabia que o tempo estava distorcido, tanto que no começo do livro há uma passagem na qual ele escreve no diário e se questiona se de fato está no ano de 1984. Mas o pior, o que realmente aterroriza, é o que eles fazem com as pessoas que são contra o regime político:

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Plano 9 do Espaço Sideral

Algumas coisas ganham fama por causa da história por trás dos fatos. Eu sei que corro o risco de soar herege, mas Oscar Wilde era um sujeito que provavelmente ficaria ali na maré dos escritores querendo ser famosos se ele não fosse o indivíduo que era: aquele que a cada momento que abria a boca, lançava uma pérola pronta para ser repetida por anos e anos1. Não é que ele não seja bom, longe disso. É um dos meus favoritos, como muitos bem o sabem. Mas tem muita gente boa que não ganha destaque porque é conta histórias de forma excelente, mas não tem uma história de vida digna de nota, digamos assim.

É seguindo essa trilha que chegamos ao Plano 9 do Espaço Sideral. A fama do filme? Simplesmente a de ser a pior produção de todos os tempos. A história acabou se espalhando com maior facilidade após o lançamento de Ed Wood, cinebiografia sobre o diretor de Plano 9, lançada em 1994 (e apresentando um Johnny Depp ainda começando a brilhar no papel principal).

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  1. por exemplo, na alfândega: “não tenho nada a declarar, a não ser o meu gênio”