Você já deve ter passado os olhos em mais de um texto que aponta como o Facebook deixa as pessoas deprimidas. É aquela armadilha que armamos para nós mesmos: sabemos que o que aparece na timeline dos outros é “editado”, só os melhores momentos, e mesmo assim nos perguntamos por que não somos tão bonitos, felizes e bem sucedidos quanto aquelas pessoas que ali estão. E lembrando que não são só fatos da vida de uma pessoa que podem ser “editados”, como ela mesma pode criar uma personagem, expondo só o que tem de melhor (ou de pior, não vamos esquecer dos trollzinhos). Você também já deve ter lido qualquer texto daqueles que mesclam um tom de autoajuda com crítica, falando de como as pessoas têm 500 amigos em redes sociais mas poucos “na vida real”.
É essa linha cada vez mais tênue entre a vida virtual e a vida real que A vida secreta de Walter Mitty explorará, em uma metáfora até bem direta (e bastante óbvia), mas que nem por isso deixa de agradar. Mitty é um sujeito sonhador, que volta e meia está perdido em devaneios onde ele surge como um sujeito que faz tudo o que ele gostaria de fazer na realidade. O Mitty “dos sonhos” é corajoso, aventureiro, genial, extrovertido. Em suma, tudo o que Mitty “da realidade” acha que não é. Ele é o responsável pelos negativos na revista Life, que passa por um período de transição, com a edição de papel deixando de circular e passando apenas a contar com edição online. Há aqui mais um jogo entre ficção e realidade, já que a revista é real e de fato hoje em dia não conta mais com a edição impressa, por outro lado até algumas capas que aparecem no filme não são reais, incluindo aí, é claro, a capa com a foto do negativo 25, que some misteriosamente e é o que lança Mitty em uma aventura real para resgatá-lo.