É esse exame das possibilidades que Laura Barnett traz em seu primeiro romance, The Versions of Us. Aqueles momentos que uma vez ou outra vemos em nossas vidas como decisivos, e tentamos adivinhar como seria “se…” eles não tivessem ocorrido, ou ao menos ocorressem de maneira diferente. Seguindo três versões das personagens Eva e Jim, que se conhecem em 1958, quando têm 19 anos.
História de quem foge e de que fica (Elena Ferrante)
Então. Eu tinha um plano, ficar enrolandinho com minhas leituras mais ou menos até a última semana de agosto, quando então leria o terceiro livro da série napolitana, Those Who Leave and Those Who Stay. Aquela coisa: Elena Ferrante já tinha armado nos dois livros anteriores desfechos de deixar o leitor louco para partir para o próximo volume, assim eu já esperava por algo do tipo no terceiro – com a diferença que nesse caso seria obrigada a esperar até setembro quando só então poderia ler o quarto livro. Era um bom plano, mas não deu. Caí em tentação, fui “dar só uma olhadinha” e quando percebi já foram lá 50 páginas e bem, continuei.
Isso tudo é para você que ainda não leu a Elena Ferrante entender que não é só a história em si, é como ela conta. É um daqueles casos de escritas meio viciantes, e você até saca as estratégias da autora para prender sua atenção, mas ok, você caiu como um patinho e está lá “só mais um capítulo e eu vou dormir/almoçar/fazer qualquer coisa que seres humanos não viciados em um determinado livro fazem”. E também para dizer que o post conterá spoilers e que se você quiser saber mais sobre os outros dois volumes, é só clicar aqui e aqui (eles também têm spoilers hahaha).
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A Garota no Trem (Paula Hawkins)
boba automática e aí e enrolo um monte para ler o livro (ou em alguns casos, nem leio). Mas quando comparam A Garota no Trem de Paula Hawkins com Garota Exemplar, tenho que dizer que eu meio que consigo entender o motivo.
Sim, tem lá o óbvio: o sumiço de uma mulher e a culpa caindo sobre o marido. Ok, já vimos isso em vários outros lugares, não é exatamente novidade – já não era quando Garota Exemplar chegou nas livrarias. A questão é que, como sempre, não é bem o que se conta, mas como se conta. E assim como o motor principal de Garota Exemplar era mostrar que não conhecemos realmente ninguém e nos apressamos em julgamentos a partir das pequenas porções das histórias sobre essas pessoas, A Garota no Trem parece trazer uma ideia semelhante, embora executada de maneira um pouco diferente – daí as comparações.
My Mad Fat Diary
Por uma coincidência bizarra eu comecei a assistir uns poucos dias antes do último episódio (foi ao ar dia 6 de julho) e acabei as três temporadas em uma semana. É engraçado, tem série que eu demoro para engatar e aí realmente assistir um episódio após o outro, no caso de My Mad Fat Diary já no primeiro eu pensei “ok, essa você vai ter que economizar” (e como deu para perceber, não consegui).
História do Novo Sobrenome (Elena Ferrante)
***
Eu ainda estou esperando aparecer alguém que tenha lido as últimas frases de A Amiga Genial de Elena Ferrante sem ter no mínimo sentido um tanto de esperança de que novas páginas brotassem e aquele não fosse de fato o final do romance. Para quem ainda não leu o primeiro volume da Série Napolitana, talvez isso pareça algo ruim, mas não é. É o sentimento de quem se encantou pela trajetória das personagens e não só quer saber mais sobre elas, mas também saber quais serão os desdobramentos de um momento difícil em que elas se encontram. Tenho certeza que anos passarão e eu ainda lembrarei da cena do casamento, com o macarrão pisoteado pelos garçons, portas abrindo e fechando, risadas forçadas para piadas vulgares – como se estivesse lá, como se fosse uma das convidadas.
E por isso acabou que eu não consegui segurar a curiosidade e esperar a tradução do segundo volume chegar pela Editora Globo, comecei The Story of a New Name. É uma experiência um tanto estranha ler um livro em português e depois sua continuação em inglês (e o pessoal ainda acredita em tradutor que “some” no texto, ahaaam), mas depois dá para reencontrar a “voz” da Lenu e então a leitura engrena e… e agora vem aquele aviso básico de que os comentários a seguir terão spoilers (mesmo que eu ache que a experiência de leitura sobreviva às revelações, de qualquer forma prefiro avisar).
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A Amiga Genial (Elena Ferrante)
Primeiro volume da série napolitana, A Amiga Genial foi recebido lá fora com muito barulho e chegou recentemente no Brasil pela Biblioteca Azul da Editora Globo. A saber, os quatro romances da série seguem a vida de duas amigas, Elena Greco (Lenu) e Rafaella Cerullo (Lila), sendo que o primeiro conta eventos da infância e adolescência das personagens. Pelo Prólogo sabemos que já em idade avançada Lila simplesmente desaparece, não deixa vestígio algum de sua existência, e Lenu escreve os livros para contar tudo o que lembra da amiga, um tanto como vingança (embora o leitor ainda não sabe sobre o que é a vingança). É meio que a moldura que amarrará a história dos quatro livros, acredito.
“Mas… mas… é só isso?”, você até poderia perguntar. Nunca é só isso. O bacana da obra da Elena Ferrante é aquele mergulho dentro da cabeça de suas personagens, expondo seus pensamentos em sua totalidade: dos bons aos mesquinhos. Além disso, o espaço toma conta da narrativa. O bairro napolitano descrito por Lenu surge quase como personagem, uma sombra que constantemente cai sobre a vida das meninas, influenciando suas ações. E assim, mesmo que o grande conflito em algum período da vida da protagonista seja pura e simplesmente tirar nota para passar na escola, ou fugir das pedras atiradas por garotos, você percebe que essa é só a superfície, porque tem muito mais ali.
A História Secreta (Donna Tartt)
Books come to me through recommendations, reading, browsing — sometimes through my own bookshelves — but I can’t really take part in the cultural conversation that, I suspect, isn’t really happening anyway. Everyone reads books like this, surely? Everyone switches from Jane Austen to Hilary Mantel to an old PD James that someone who was staying in the spare room left behind? (Even when I’m in the right place, it’s at the wrong time. In 2009, a passionate recommendation from a reader of the column led me to an obscure 1965 novel that the splendid New York Review of Books imprint had made available. I read it, loved it, and recommended it forcefully. If anyone was listening, then they did so only slowly: the novel was called Stoner, and by the time everyone else was reading it, I could no longer talk about it in any detail.)
E aqui estou eu, abrindo um post para falar de um livro escrito por Donna Tartt no começo da década de 90. Se deu muito falatório na época do lançamento eu não sei, porque em 1992 eu ainda estava variando minhas leituras entre um Stephen King e alguma coisa do Pedro Bandeira. A tradução saiu por aqui em 1995 – aparentemente ganhou edição nova depois que O Pintassilgo deu as caras (nota mental: a capa da edição da década de 90 é mais bonita).
De qualquer forma, mais de 20 anos de existência dão a impressão de que tudo já foi dito sobre A História Secreta, mas ainda assim eu quero falar sobre A História Secreta. O que significa que eu não vou ficar me cuidando muito sobre spoilers, até porque a própria Donna Tartt já abre o livro dizendo quem matou quem, há.
The Book of Strange New Things (Michel Faber)
Se fosse possível fazer algo assim sem qualquer prejuízo eu adoraria poder separar alguns livros em duas partes. The Book of Strange New Things, por exemplo. Tem algo ali que seria um livro “uou, que foda, vocês precisam ler!”, mas também tem aquela série de torcidas de nariz que acabam esculhambando um pouco a coisa, ao ponto de você nem poder mandar aquela famosa frase de resenha de blog literário “mas esses pontos não estragam o todo”. Estragam sim. Mas estou me adiantando, só para variar.
Lançado lá fora em outubro do ano passado (e ainda sem tradução por aqui), The Book of Strange New Things tem uma premissa interessante: um novo planeta está sendo colonizado e Peter é chamado para, hum, “catequizar” os nativos. Você sabe, meio nos esquemas europeus chegando nas Américas. O negócio é que a esposa de Peter (Beatrice) não é selecionada para acompanhá-lo na missão, e ele é daqueles caras que ficam meio sem chão quando a mulher (que aparentemente cuidava de todos os aspectos práticos de sua vida) fica assim tão longe, podendo se comunicar basicamente através de e-mails (no livro o nome da ferramenta usada por eles é ‘Shoot’).
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Aniquilação (Jeff VanderMeer)
Já tinha visto algo sobre Aniquilação aqui e acolá, mas ele acabou atraindo minha curiosidade ao derrotar o Dept. of Speculation no ToB deste ano (Spoiler: nenhum dos dois foi para frente, o vencedor desta edição foi o Station Eleven). Sabe como é, gostei demaaaaais do livro da Offill, então mesmo dando o benefício da dúvida (sabe como é, visão subjetiva, o que toca uma pessoa pode não dizer nada para outra, etc) ainda assim você fica com a ideia de que só poderia ser um livro acima da média. E é. [birra]Só não é melhor que Dept. of Speculation[/birra].
Mas sei lá, aqui não sou obrigada a comparar banana com alface só porque são do reino vegetal, então vamos deixar as comparações de lado. Porque são livros distintos, que atraem públicos diferentes, no final das contas. A começar, Aniquilação é um livro de terror. Você pode colocar lá mais ‘n’ gêneros, subgêneros, rótulos ou o que for, mas essencialmente, Aniquilação é um livro de terror. E é uma aula sobre como fazer terror em literatura.
Jackaby (William Ritter)
E eu sei que isso poderia dar errado de várias formas, mas caramba, como Jackaby é divertido. Gostoso tipo a sensação de rever O Enigma da Pirâmide na Sessão da Tarde1. É daquele tipo de história que você até percebe como previsível, mas ao invés de se deixar levar pelo cinismo já esperado de quem tem horas e horas acumuladas de leituras de livros de detetive, dá de ombros porque no final das contas o caminho está tão legal que não importa muito o destino.
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eles ainda passam O Enigma da Pirâmide na Sessão da Tarde? Deveriam. ↩