My heart’s made of parts of all that surround me And that’s why the devil just can’t get around me
Maio do ano passado meu irmão fez aniversário e preparou uma lista no Spotify com músicas para cada ano em que ele esteve vivo. Achei a ideia ótima, até porque muitas vezes a história da nossa vida se confunde com a história da formação dos nossos gostos. E aí eu resolvi roubar a ideia na cara dura, mas com uma “pequena mudança”: será sobre livros.
Algumas explicações: obviamente, estou considerando o ano de publicação original e não o ano em que li o livro. Tentei equilibrar um tico o fator nostalgia para que a lista não seja só uma egotrip mas também uma lista de sugestão de leituras? Hmmm, o que mais? Ah, sim. Títulos em português quando tem tradução no Brasil, em inglês para livros ainda sem tradução. Se tiver link no título é porque eu falei do livro aqui no blog. Finalmente: única regra foi “não pode repetir o autor, menos quando é o Gaiman porque o Gaiman é o Gaiman”. Nota de 2024: Superarei. Aceito sugestões de leitura de títulos publicados em 1989 e 1990, mas por enquanto são os melhores que li daqueles anos.
E olha, estou com o post nos rascunhos desde 21 de maio de 2017. Não é fácil elaborar uma lista desse tipo, e a verdade é que está quase chegando o segundo 18 de janeiro desde que comecei a escrever o post, o que colocou o ponto final no que eu não parava de editar. Talvez em um 18 de janeiro da próxima década eu volte com uma lista assim? Quando a gente chega aos 38 falar em década já é otimismo demais?
Nota de 2024: Andei mexendo na lista, não só porque queria atualizar com os livros de 2021, 22 e 23, mas também porque descobri que alguns entraram com data de publicação original errada. Desolada pela saída de Como me tornei estúpido.
Já tinha um tempo que Spoonbenders estava na minha lista de livros para ler, mas eu me enrolava e nunca começava a leitura. Lançado lá fora em 2017, já tinha pintado até em algumas listas de melhores dos gringos (ainda não tem tradução no Brasil, infelizmente) – e sempre que batia os olhos no título pensava “ei, parece legal, tenho que ler” tipo uma Dory dos livros. Enfim, chegam as férias, o final do ano e eu finalmente começo a ler. E caramba, que livro perfeito para o momento.
É aquela coisa: cabeça cansada, uma leitura leve cai como uma luva. Spoonbenders é assim: gostoso, divertido. Enquanto lia pensava que a história parece implorar por uma adaptação para a Netflix, em um formato fechado como A Maldição da Residência Hill. Aliás, era outra coisa que passava constantemente por minha cabeça, de como ao assumir as relações de família como o coração da história, acaba agradando até quem não é fã do gênero (aqui no caso seria Fantasia/Ficção Científica). Continue lendo “Spoonbenders (Daryl Gregory)”
Quase chegando no final do ano, não tenho lá grandes esperanças de sequer terminar The Spoonbenders ainda em 2018, então acho que já dá para fechar a lista com segurança. Tanta coisa bacana este ano que confesso que tive que dar umas chunchadas na minha lista, incluindo duas regras novas (“não vale releitura”, “hq fica separado”), o que significa deixar de fora Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas do Machado de Assis e As Bruxas de Salém do Arthur Miller. E as hqs estão no post anterior.
Sobre os do Machado: segundo semestre fiz uma optativa maravilhosa com o professor Luís Bueno. A ideia de ler em um intervalo curto de tempo os principais romances do Machadão foi ótima, até porque te dá uma visão diferente do todo. Enfim, acabei me reapaixonando por Machado – deve ter uns 10 anos aí da última vez que li os romances, e bater os olhos no Brás Cubas logo em 2018 é um daqueles momentos mágicos do livro certo na hora certa.
(Aliás, dessa experiência tenho que dizer: é esquisito dizer que um livro é seu livro favorito depois de tantos anos e preciso urgentemente reler alguns.)
Então é isso, lista dos favoritos logo após o pulinho – não está exatamente em ordem porque afinal, separar dez já foi complicado.
O título já explica, então não vou me prolongar. Volto para lista de filmes e livros? Certeza.
MÚSICA
Saiu o novo do Interpol, Marauder. Eu gostei bastante, achei melhor do que El Pintor (que no fim das contas não me empolgou tanto quanto pensei na época, já que quase nunca toco nada dele). The Rover, Number 10e Mountain Child são as favoritas.
Além disso, finalmente conheci melhor The National. A Taizze vive falando deles e eu confio no gosto da guria, mas sei lá por qual motivo acabava deixando para depois. Aí um dia ouvi This is the last time, me apaixonei e provavelmente foi a banda que mais ouvi nos últimos meses, então vale citar aqui, mesmo que não tenham lançado nada novo este ano, he he.
E, finalmente:
Não tem como falar de música em 2018 e não citar esta música e este clipe maravilhosos. This is America é aquele tipo de coisa que você assiste a primeira vez de queixo caído, repete mais umas e ainda não perde a sensação de maravilhamento.
QUADRINHOS
Finalmeeeeente li Daytripper do Fábio Moon e Gabriel Bá. Não sei se foi o tempo sem ler HQ (a última deve ter sido The Runaways), mas terminei me arrependendo pela demora para ter lido. Aliás, foi o que fez com que eu fosse atrás de mais HQs este ano, incluindo um reencontro com meu Dylan Dog do coração, que voltou a ser publicado no Brasil pela Mythos agora em 2018.
Outra descoberta muito legal é Sex Criminals: um casal que consegue parar o tempo quando atingem o orgasmo (sim) resolve assaltar bancos (siim) para juntar dinheiro para salvar uma biblioteca (siiiiim). É bem absurdo, tem momentos hilários, mas é bacana como retrata as piras das pessoas sobre relacionamentos. E a sequência da Suzie cantando Fat Bottomed Girls já faz valer toda a leitura. Já tem cinco volumes (o quinto saiu em agosto deste ano) e eu quero mais.
SÉRIES DE TV
Eu não sei se foi a preguiça de baixar séries ou realmente a Netflix está criando um conteúdo muito bacana, mas quase todas as minhas favoritas de 2018 estão no catálogo dela. Começa com a quinta temporada de Bojack Horseman, que conseguiu manter o nível depois de uma quarta temporada perfeita. Eu tento convencer as pessoas a assistir mas nunca consigo, falho miseravelmente toda vez que digo que Bojack é hilária mas que te faz chorar (e o protagonista é um cavalo).
Aí tem The Good Place, que começou em 2016 mas só comecei a ver agora em 2018 – quando já está na terceira temporada. O elenco é ótimo, o roteiro é espetacular (do tipo: “deixa eu pausar, voltar e ver essa cena de novo porque isso é bom demais”). E sim, é muito engraçada. Dia desses fiz o Fábio assistir toda a cena do Jeremy Bearimy. Para cada coisa maluca que tem acontecido no país atualmente a imagem da juíza dizendo THAT RIPPLES OUT, MAN aparece na minha cabeça. É boa demais.
E tem A Maldição da Residência Hill, que eu tenho recomendado até para quem não é muito fã de terror, embora com ressalvas, porque tem uns episódios lazarentos de assustadores. A história da família Crain lidando com um trauma do passado me atraiu muito mais do que qualquer possível explicação sobre o que acontece na Residência Hill. É levemente baseado em um livro da Shirley Jackson, que já ganhou outras adaptações para o cinema: uma de 1963 que aqui no Brasil se chama Desafio do Além e outra de 1999, chamada A Casa Amaldiçoada.
Finalmente, para não ficar só na Netflix, Objetos Cortantes da HBO. Eu gostei bastante do livro da Gillian Flynn, mas acho que a adaptação aqui de alguma forma foi além. As atuações (Patricia Clarkson está maravilhosa!), a beleza das imagens, a trilha sonora (eu tinha esquecido o quanto gostava de I Can’t Quit You, Baby), tudo. E garrei um morzinho no Chris Messina que acabei bingeando The Mindy Project (aliás, muito legal também) só por causa do Danny Castellano.
***
E é isso. Sei que foi um ano bem merda em muitos sentidos, mas eu estou tirando o pó daqui porque acho que vou ter que falar muita coisa. Não dá mais para ficar quieto. A gente cansou do argument sketch e perdeu o debate por WO. Os próximos anos vão pedir coragem mas muita, muita resiliência.
Não sei bem como começar. Quero falar de tantas coisas, talvez o ideal seria comentar comentar brevemente cada um dos contos, porque todos são ótimos – algo raro em coletânea de contos, convenhamos. Se tem alguma escala de mais para menos no livro é “assustador”, e mesmo assim isso não tem relação alguma com a qualidade deles.
De forma geral o que ficou da leitura de As coisas que perdemos no fogo de Mariana Enríquez foi: como nossa história é parecida com a da Argentina e como eu nunca tinha me tocado disso. Como frases do tipo “All electronics were cheap – TVs and stereos, photo and video cameras. It couldn’t last long, said my parents, it couldn’t be true that an Argentine peso had the same worth as a dollar” me transportaram para minha adolescência em 1994, no início do Plano Real.
Desde Stoner volta e meia acabo pensando em como todo o processo do que faz um livro sobreviver ao tempo da publicação original pode ser meio injusto. Não sei bem quais os elementos daquele 1965 que deixaram para trás um livro tão bom, que hoje em dia ganhou até tradução para o português porque no começo dos anos 2000 uma editora resolveu republicá-lo.
Não dá um comichão, pensar em quantos outros tantos títulos também não estão por aí, esquecidos, esperando serem resgatados? Outro exemplo: o ótimo Mrs. Caliban de Rachel Ingalls (de 1982) e só voltou a ganhar alguma atenção porque foi relançado seguindo o rastro do sucesso do último Del Toro, A Forma da Água. Não fosse o filme, talvez nenhuma editora enxergasse a possibilidade de publicar novamente o título.
Tem ano que é difícil fechar uma lista com dez livros, porque a maior parte das leituras ficaram só na média. Aí tem outros anos como 2017, que por mais sorte do que qualquer outra coisa, foi difícil fechar a lista por causa do tanto de coisa boa que li e não queria deixar de fora.
Enfim, que fique registrado que 2017 foi o ano que conheci Margaret Atwood. E assim, pela obviedade da presença da dona Atwood, vou começar o top10 a partir do favorito do ano. E vamos logo lá para a lista porque do jeito que estou me enrolando é capaz de sair junto com a de 2018.
Um pouco atrasada, mas lá vai a lista dos melhores filmes deste ano. Para quem chegou agora: vale apenas filmes lançados no Brasil entre janeiro e dezembro de 2017 (eu tenho burlado o critério com uns “lançados em festivais no Brasil” para filmes que gostei demais e inexplicavelmente ainda não apareceram por aqui). Listas dos anos anteriores:
(Aviso amigo: não tem spoiler de Mitologia Nórdica por motivos óbvios, mas tem spoiler de Sandman e Deuses Americanos.)
É provável que com a série Deuses Americanos novos leitores acabem chegando até Neil Gaiman por um caminho diferente daqueles da década de 90, que o conheceram por Sandman. Mas a porta de entrada pode ser diferente, só que uma coisa não muda: em ambos os casos fica nítido o talento de Gaiman para manipular mitologias e a partir delas criar novas histórias.
Óbvio que para tal o escritor precisa de uma excelente bagagem sobre antigas lendas de várias culturas. E com Mitologia Nórdica podemos dar uma espiada no universo de mitos e lendas favoritos de Gaiman – isso nas palavras do autor no prefácio, vale ressaltar. E você percebe essa predileção pelo modo como ele reconta as histórias de Thor, Odin, Loki e os demais deuses, porque a voz que domina o livro não é a de um especialista, mas de uma pessoa encantada.
Antes mesmo de sair lá fora em fevereiro, Lincoln in the Bardo já tinha toda a pinta de ser um dos queridões do ano, aqueles que aparecem em todo tipo de lista de favoritos e volta e meia alguém te recomenda muito, muito fortemente (imagine aqui aquele seu amigo leitor com os olhos arregalados te puxando pela gola da camisa e dizendo VOCÊ TEEEEEM QUE LER ESSE LIVRO). E eu sei que nós leitores somos bichinhos esquisitos que enxergam os tais queridões com certa desconfiança, mas aqui é o momento em que eu arregalo os olhos, te puxo pela gola da camisa e digo: VOCÊ TEEEEEEM QUE LER ESSE LIVRO.
Primeiro romance do norte-americano George Saunders (mais conhecido por seus contos), é um misto de fantasia e romance histórico que gira em torno da morte de Willie, terceiro filho de Abraham Lincoln e Mary Todd. William Wallace Lincoln tinha onze anos quando adoeceu. Historiadores acreditam que tenha sido um caso de febre tifoide, que foi piorando gradualmente até que em 20 de fevereiro de 1862, o garoto faleceu. Após o velório na Casa Branca, o corpo de Willie foi enterrado no cemitério Oak Hill, em um jazigo emprestado por William Carroll – a ideia é que o corpo fosse transferido quando os Lincolns voltassem para Illinois, mas após o assassinato do presidente em 1865 seu caixão voltou no trem junto com o do pai.