Quiçá (Luisa Geisler)

PV Rio de Janeiro (RJ) 09/10/2012 Capas de livro Foto: ReproduçãoJá comentei sobre isso quando escrevi sobre O lado bom da vida, mas como ninguém nunca clica em links vou falar novamente: o ato de ler um livro é, de certa maneira, um jogo de adivinhação. É algo quase inconsciente, funcionando como parte do processo de recepção da história. Lembro aqui de um trecho de A leitura de Vincent Jouve que explica bem essa questão:

O texto, com felicidade qualificado por Eco de “máquina preguiçosa”, necessita das previsões do leitor para funcionar. Depende dessa condição para poder confortá-lo, surpreendê-lo ou, simplesmente, interessá-lo. (pg.76)

Dando um exemplo, aposto que nesse exato momento você está pensando “Por que diabos a Anica está citando esse cara se o título ali no topo indica que ela quer falar de Quiçá da Luisa Geisler?“. Ok, acho que deu para entender como funciona. O negócio é que acredito que em alguns casos a participação do leitor nesse processo de adivinhação não toma um espaço tão importante na leitura, em outros, como acontece com Quiçá, grande parte do charme do livro é que ele dá uma importância maior para o leitor e suas adivinhações, graças à estrutura da narrativa.

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How I Met Your Mother (Series Finale)

Eu acho que ninguém que acompanha um show por algum tempo fica lá muito satisfeito com um final de série. Porque nunca atenderá nossas expectativas, já que temos uma ideia própria do que seria o desfecho ideal. Além disso, o óbvio: se você acompanha há tempos, é evidente que você gosta, então aquele sentimento de despedida de personagens queridas pode descer meio mal. Isso se encaixaria com o finale de How I Met Your Mother? Não sei. A sensação geral que eu tive, pelo menos para os minutos finais da série, foi que o que estragou tudo foi a nona temporada (que, por incrível que pareça, eu adorei).

Vamos lá, aos poucos: se você está lendo esse post deve já ter percebido que comentarei o episódio, portanto spoilers rolarão soltos aqui, a começar pelo que  (para mim) foi o problema da conclusão. Tem um post meu aqui de julho do ano passado em que listei não-casais favoritos, onde dá para ler a seguinte descrição para o casal número três:

Aqui o azar é tão grande que a última temporada será toda sobre o final de semana do casamento da Robin com… o Barney. E então que eu estou quase querendo acreditar numa teoria louca de fãs que tem rolado por aí de que na realidade a mãe morreu e Ted está contando para os meninos como a conheceu, mas agora está com a Robin. Gente, que troço triste, melhor não.

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Rodada de YA

Explicando pela enésima vez porque sempre tem o perdido que chega aqui por causa de um único post e aí acha que eu tenho preconceito sobre YA e blablabla. Não, eu não tenho. Eu curto, me divirto e alguns eu considero acima da média, vide o caso de Eleanor & Park e A culpa é das estrelas, por exemplo. Mas a verdade é que os YA que andei lendo recentemente não são exatamente aqueles sobre os quais eu tenho muito a comentar, então resolvi agrupá-los em um post só (sim, esse que você está lendo agora), para não ficar sem o registro (porque eu já estou naquela fase em que vejo post antigo meu aqui e penso “Caramba, eu li esse livro??? Sério???”). Bom, aos comentários.

Anna e o Beijo Francês (Stephanie Perkins): Anna é uma garota americana que vai passar o último ano antes da faculdade em uma escola em Paris. Pode ser o seu sonho, mas o fato é que ela não queria nada disso, especialmente porque não queria viver longe da melhor amiga e do rolinho que poderia virar algo mais sério. Aos poucos ela vai conhecendo pessoas novas e vai se deixando encantar pela cidade.

Então. Apesar de o enredo tomar um caminho bem previsível, o livro me conquistou principalmente porque as descrições que Perkins faz de Paris são ótimas, você quase viaja junto com a protagonista. a escola de Anna fica no Quartier Latin, mesma região em que fiquei quando fui para lá, então acabei morrendo saudades (e de vontade de viajar). Além disso, o interesse romântico da menina é um fofo, então o lado noveleira meio que pega o balde de pipoca e acompanha animada o will they won’t they por mais que já tenha ideia que yes, they wil.
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O escolhido foi você (Miranda July)

Não sei sobre você, mas eu devo ter memória seletiva quando o assunto é resenha de terceiros, porque não é possível eu ler opiniões de outras pessoas – em alguns casos até bem detalhadas – e ainda assim me surpreender com livros. Vai ver é por isso que não ligo muito para spoilers, vá saber. O fato é que quando finalmente comecei a leitura de O escolhido foi você de Miranda July eu já tinha lido tanta coisa sobre o livro que em teoria não haveria mais espaço para surpresas. Mas caramba, que surpresa. E que surpresa boa.

Então, aquilo que eu lembrava de ter lido em toda resenha e que eu conto aqui para você caso ainda não tenha visto nada sobre o livro por aí (o que acho difícil, já que ele foi lançado em fevereiro do ano passado, mas nunca se sabe, né): Miranda July é roteirista, e estava vivendo um momento de bloqueio criativo quando um dia no meio da já rotineira procrastinação, tem a ideia de entrevistar pessoas que publicam anúncios no PennySaver. Quer conhecê-las, capturar um tanto de suas histórias e transformar isso em um projeto paralelo que justifique seu “não-escrever”, digamos assim. Continue lendo “O escolhido foi você (Miranda July)”

True Detective (ou: Porque o finale foi tão bom)

(O título já deveria ser bem explicativo, mas né, vale o aviso: se você é fresco de spoiler e ainda não viu a série, volte depois)

Foi mais ou menos assim: começo de ano, eu ainda empolgada com o retorno de Sherlock, e começam a aparecer ali e aqui notas comentando sobre uma nova série que era a grande promessa da HBO, chamada True Detective. Por coincidência, a curiosidade falou mais alto exatamente na semana em que saiu o primeiro episódio, então comecei a acompanhar logo que começou, sem aquela desconfiança que todos nós sentimos sobre séries que do nada começam a ser muito comentadas. Cheguei meio perdida, sem saber qual era a proposta, o formato e a fins – só sabia que tinha um crime da década de 90 investigado por uma dupla de policiais, que seria ligado com outro na década de 00. Hmkay, é o tipo de coisa que pode ser interessante, vamos conferir.

Negócio é que terminei o primeiro episódio (The Long Bright Dark) com o queixo no chão. A forma como a história é construída, com três linhas temporais principais (2012, 2002 e 1995), funciona muito bem porque instiga nossa curiosidade ao mesmo tempo que vai cozinhando as personagens em fogo baixo, digamos assim. Em 2012 vemos um Rustin Cohle (Matthew McConaughey) comentando sobre certa investigação da qual fizera parte em 1995. Há um abismo tão grande entre o Rust de 90 e o de 10 que você não consegue deixar de se perguntar: o que diabos aconteceu com esse sujeito? Por outro lado o Martin Hart (Woody Harrelson) que também está prestando depoimento é um sujeito engomadinho que obviamente “subiu na carreira” dentro da polícia desde 95. O que dividiu o caminho desses homens? Por que não são mais uma dupla? Mais além, por que tanto tempo depois outros investigadores chegam até eles querendo saber sobre um crime do passado?

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Oscar 2014: O dia seguinte

Ok, aqui estou eu de novo com minha caneca de café, lutando contra o sono e pensando se realmente valeu a pena dormir tão tarde. Não entenda mal: todo mundo para quem eu torcia ganhou, quem eu torcia contra voltou de mãos abanando e Ellen esteve bem na apresentação. O problema é que foi tão previsível e sem graça. Sei lá, a cerimônia do ano passado não foi muito diferente mas lembro de ter me divertido muito mais enquanto assistia, isso desde o tapete vermelho, que neste ano contou basicamente com dois momentos: Jennifer Lawrence tropeçando mais uma vez (ganhando comentários divididos entre “ha, ha essa jen!” e “haja vontade de aparecer”, o que dá uma boa dica de como a imagem dela ficou desgastada em um ano) e o Benedict Cumberbatch fazendo isso:

Ah, tá, teve a piada do Jared Leto como Jesus. Ok, de repente eu que estava com sono desde o começo da cerimônia, então desconsiderem qualquer comentário mais ranzinza. Falando no Jared Leto, foi a escolha óbvia (e merecida) para melhor ator coadjuvante – sei que fiquei devendo um post sobre O Clube de Compras Dallas, mas resumo minha opinião aqui: teria sido perfeito não fossem as cenas meio “romance de sessão da tarde” entre Woodroof e a médica. Ouvi comentários (maldosos) de que só faltava a personagem de Leto ser judia para completar o que seria o tipo de personagem para quem sempre dão prêmios, mas sério, assistam ao filme e vejam o que ele fez com o Rayon. É lindo. Tem uma cena em especial que eu acho que vou demorar para esquecer, em que ele sabe que vai morrer e está na frente do espelho se maquiando que olha, você tem que ser muito insensível para achar que foi só a perda (absurda) de peso ou alguns esteriótipos que deram esse prêmio para o Leto. Discurso dele foi total self-service, chegou uma hora que achei até que ele ia falar meu nome, há.

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Esquenta para o Oscar 2014

Louis, acho que este é o começo de uma bela tradição. Como no ano passado, aqui estou para lembrar todos vocês que a) Amanhã tem Oscar, b) Não vai passar na Rede Globo (e eu que reclamava de quando eles passavam a programação normal incluindo BBB e só então começavam a transmissão, acabo de me dar conta que tudo pode piorar), c) Vai passar na TNT a partir das 21:30h, d) Red Carpet na E! aparentemente a partir das 17h (esses canais de tv a cabo sempre me confundem com os fusos) e e) não poderia faltar a seleçãozinha básica de links relacionados, clica aí:

Ok, hora dos palpites. Acho que será algo parecido com o ano passado, sem muitas surpresas e bem, sem nada de muito absurdo. A temporada de premiação antes do Oscar acabou selecionando quase sempre os mesmos nomes, e alguns casos são meio que dados como certos para a noite de amanhã.

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Watchmen (Alan Moore/Dave Gibbons)

Eu acho que vendo de forma distante (time is a flat circle…), posso dizer que em dois momentos da minha vida gostei muito de HQs. O primeiro durou algo ali entre os 17 e os 19 anos, quando comecei a acompanhar X-Men e depois descobri Sandman. Em um combo Gibiteca mais amigo da faculdade que entendia bastante do assunto e me emprestou outras coisas, foi quando li TransmetropolitanSin City, A Última Caçada de Kraven, Livros da Magia entre outros. Mas foi uma fase em que eu mais lia do que de fato prestava atenção aos “detalhes” como, quem era responsável pelo texto ou pela arte do que eu tinha em mãos (um exemplo: confundia Alan Moore com Alex Ross). Aí em uma segunda fase, entre os 21 e os 23, comecei a ler muita coisa por causa do pessoal da Valinor (e por causa do Rapadura Açucarada, hehehe). Houve uma mudança como leitora, um amadurecimento – não buscava mais só frases de efeito que se encaixavam em um quadrinho (“Perguntem-se todos vocês, que poder teria o inferno se os aqui aprisionados não fossem capaz de sonhar com o paraíso?“). E foi aí que eu li Watchmen pela primeira vez. Então você pensa “Bom, ela não confundia mais Alan Moore com Alex Ross nessa época, provavelmente ela quer dizer com tudo isso que já estava mais atenta aos “detalhes” que fazem de HQs como Watchmen algo genial”. Não, péra. Não foi bem isso. Lembro que era janeiro de 2003, e em um chat de MSN fui contar toda animada para o V que tinha lido Watchmen. O diálogo seguiu mais ou menos assim:

ANICA: VÊÊÊÊ, li watchmen!!!!!!!!!!
V: E aí, gostou?
ANICA: Muito, bem legal!
V: O que você achou daqueles extras no final de cada revista?
ANICA: Eu não li =S
V: Pô, Anica, aquilo é muito importante!

Poisé. Não tão pronta assim. Lembro que cheguei a reler depois incluindo na leitura os extras mas naquele momento sempre tive a sensação de que era um trabalho fantástico, mas não chegava perto de V de Vingança, por exemplo. Em algum momento devo até ter usado o termo “overrated”, para se ter ideia. Aí os anos passam (muitos anos aliás), começa o falatório sobre Before Watchmen (que eu ainda não li) e penso “Ah, bem, agora eu não sou mais uma universitária que mal tem dinheiro pro xerox e pra pizza frita com café na cantina, já posso comprar um encadernado e reler isso aí“. Ok, fiz. E desculpem todo esse blablabla inicial, mas ele serve como um alerta para o que virá a seguir. Porque essa releitura veio em um momento tão diferente da minha vida de leitora que a experiência não foi só como se fosse a primeira vez, ela foi mind-blowing mesmo, do tipo: ter vontade de voltar em 2003 e dar uns tapas na Anica que disse que “era legal mas V é melhor”. E eu vou tentar mostrar aqui algumas das coisas que não notei há uma década e que agora fizeram com que eu me encantasse tanto por essa história, então fica o aviso: desculpa, é um post só para quem já leu Watchmen. E não seja teimoso, não leia isso se ainda não tiver lido todo Watchmen porque sério, você vai estragar uma experiência muito legal. Volta aqui depois para trocarmos umas figurinhas, sim? Agora você que já leu, clica no play e vem comigo.

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12 anos de escravidão (12 Years A Slave, 2013)

Como acontece com esses filmes em temporada de premiação, já tinha ouvido falar bastante sobre 12 anos de escravidãoFalaram que era o filme definitivo sobre os horrores da escravidão e que, justamente por isso, era bastante difícil de assistir. Não por ser um daqueles filmes obscuros com significados ocultos, simplesmente pelo que faria você sentir. Eu não posso falar nada sobre ser definitivo ou não porque, assumindo aqui, assisti pouco ou nada de histórias semelhantes. Mas concordo sobre como ele te faz sentir. Não é fácil, ainda mais se for pensar que aquele é apenas um recorte, e que existiram milhares e milhares de Solomons e Patseys não só nos Estados Unidos, mas aqui também – onde o horror de apagar a identidade de uma pessoa e coisificá-la também aconteceu.

O filme é baseado em um relato real de Solomon Northup (interpretado por Chiwetel Ejiofor), nascido livre e que vivia bem com mulher e filhos em Nova York, até que em uma noite foi sequestrado e vendido como escravo. Não há muita informação sobre o passado de Northup, mas a noção que se tem é que vive de sua música e é respeitado em sua região. Mas, após o sequestro, começa o período de sofrimento da personagem. Eu sei que parece ser pior se pensarmos que ele ocupava uma posição de relativo prestígio dentro da sociedade, mas calma, não se apresse. Apesar de um caso atípico (se considerarmos que a maior parte dos escravos era de pessoas que só tiveram a oportunidade de se dizer livres enquanto estavam em sua terra natal), a história de Northup revela um processo vivido por todos os escravos. É embarcar nesse pesadelo em que nada que você fale vale como verdade, a entrada em uma realidade distorcida em que você é pouco a pouco despido de de sua identidade e transformado em coisa.  

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Meu coração de pedra-pomes (Juliana Frank)

Da minha época de solteira acostumada a voltar do bar só depois das cinco da manhã, eu lembro de um dia em que cheguei em casa morrendo de sede, abri a geladeira e tomei um belo gole de coca-cola. Calma, não é aqui que eu imito o ursinho polar e faço HUMMMMM. Negócio é que um segundo depois descobri que não era coca o que eu tinha tomado, mas shoyu. A memória do incidente que na época serviu como lição (se chegar bêbada, não abra a geladeira) voltou assim que avancei na leitura de Meu coração de pedra-pomes, de Juliana Frank. Calma, não é um livro ruim como beber shoyu às cinco da manhã. É que considerando algumas resenhas que li por aí, estava esperando algo completamente diferente dessa obra lançada em no ano passado pela Companhia das Letras.

Eu não sei bem como foi que criei essa imagem, mas a impressão que tinha é que Lawanda, a faxineira do hospital, seria uma espécie de mistura de Amélie Poulain com Macabéa, e que o livro seria todo fofo, olha aquela borboleta na capa que não me deixa mentir. Bom, eis o choque de perceber que Lawanda não tem nada de fofa ou apática. Ela é tosquíssima e justamente por causa disso muito engraçada. Aliás, o tom do romance é esse: cômico. Um humor ácido e algumas vezes beirando ao nonsense (a começar pelo primeiro capítulo, com um julgamento da autora), do jeitinho que eu gosto.

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