Bom, esse ano lá fora aqui e acolá pipocou o nome The Vacationers, de Emma Straub. Até faz sentido, já que a história gira em torno da viagem de uma família disfuncional para Maiorca, na Espanha. Piscina, praia, sol, areia… meio que parece perfeito para a estação. Detalhe é que o livro simplesmente não é lá essas coisas. Sabe aquele carinha esforçado que estuda pacas mas só consegue tirar nota cinco? Algo assim.
You see, there are still faint glimmers of civilization left in this barbaric slaughterhouse that was once known as humanity
Mas eis que estava aqui dando uma olhada e notei que não falava dos meus filminhos desde o Oscar e que puxa, um monte de coisa linda, imperdível e inesquecível estava nesse intervalo entre o último post e o que escrevo agora. Como não vou dar conta de falar sobre tudo, deixo os ruins e os maizomeno para lá e vou direto aos que gostaria que alguém tivesse me indicado caso eu já não soubesse deles (é um conceito meio confuso mas já explico sobre isso, peraí). Naquele esquema de sempre, uns comentários breves.
Stoner (John Williams)
Sei que é estranho abrir um post com uma citação de uma hq. Mas enquanto ia me aproximando do final de Stoner (1965) imediatamente lembrei desse trecho de A Piada Mortal, escrito pelo Alan Moore. O homem comum. William Stoner, o protagonista, é apenas isso, um homem comum. Não há nada de extraordinário em suas ações ou em sua vida. Como já nos primeiros parágrafos o narrador deixa bem evidente:
Stoner’s colleagues, who held him in no particular esteem when he was alive, speak of him rarely now; to the older ones, his name is a reminder of the end that awaits them all, and to the younger ones it is merely a sound which evokes no sense of past and no identity with which they can associate themselves and their careers.
Stoner vive muito dos seus primeiros anos como que no piloto automático. Trabalha na fazenda com o pai, um serviço pesado que ele fazia sem qualquer reclamação porque bem, era o que tinha que ser feito. Surge então uma oportunidade de estudar agronomia na universidade, e ele vai – mais porque o pai acha que será bom para a fazenda deles do que por ele realmente ter alguma vontade em especial sobre isso.
This One Is Mine (Maria Semple)
This One Is Mine foi o primeiro livro da Maria Semple, publicado em 2008. Pelo que eu entendi, marcou um pouco a transição da carreira dela de roteirista de séries de TV para escritora. É um primeiro livro, deve ser avaliado como tal e blablabla, mas meudeus, que decepção.
Uma mensagem dos deuses dos livros
Eu sei que quase não atualizo aqui e que deveria aproveitar o raro tempo livre que encontro para falar de algo relevante, mas é que hoje eu definitivamente tive uma prova de que os deuses dos livros estão mandando uma mensagem para mim. A mensagem: LEIA STONER.
Ok, do começo, sinal número um. Estava lá na Amazon no meu velho esqueminha de “Customers Who Bought This Item Also Bought” buscando algo meio parecido com Dept. of Speculation porque (como visto no episódio anterior) eu adorei o livro. Eis que entre as ‘n’ opções (algumas que eu já tinha lido, outras que já estão no kindle mas não estou bem no momento certo para ler) aparece um tal de Stoner, de John Williams.
Sim, inverno, estamos vivos*
Você se acostuma a não terminar nada. Por exemplo, o bebê está olhando fixo para uma bola vermelha. Você está na pia lavando uns rabanetes bem grandes. O bebê começa a se agitar quando você acabou de lavar quatro e ainda faltam oito.
O que significa que comecei este post já achando que não vou terminá-lo. Ou que escreverei aos poucos, em pedacinhos. Essa coisa de escrever aos poucos lembra uma história que contam sobre a carta que o Wilde escreveu para o Bosie enquanto estava na cadeia (sim, a que virou o De Profundis), que ele recebia uma quantidade limitada de papel e que tudo que ele escrevia era recolhido no fim do dia, mas mesmo assim ele conseguia manter a coesão do texto, começando um novo trecho da carta no papel novo exatamente onde tinha parado no dia anterior. Moral da história: não sou Oscar Wilde, então espera um post meio sem sentido.
No qual eu finalmente atualizo o blog
Quase três semanas sem atualizar, acabou que até o aniversário de 11 anos do Hellfire passou batido e eu acabei de clicar em “Justificar” e pensei como seria legal se ao clicar nesse botão aparecesse uma justificativa automática, mas divago. O fato é que desde que o Hellfire é Hellfire eu sempre tive problemas para escrever enquanto minha cabeça estava em outro lugar. No momento só penso no Augusto, nos últimos detalhes que faltam para a chegada dele. Então sento aqui, penso em como preciso dizer que O Grande Hotel Budapeste é lindo, falar mais um pouco sobre Penny Dreadful ou sobre os livros que estou lendo e bem, como deve ter dado para reparar, o rascunho vai para a lixeira ou nem existe. Mããããs…
… eu preciso deixar anotado aqui uma coisa ou outra sobre os livros. Aquela história que vivo dizendo: não confio muito na minha memória. Tenho uma tendência horrível de achar tudo muito melhor ou muito pior do que realmente achei depois de um tempo. Com o registro, pelo menos a opinião de quando li algo não se perde. Acho. Então é isso, atualizando agora com umas rapidinhas sobre as leituras da metade de junho para cá.
(Se você pensar bem, parei de atualizar tão logo começou a Copa. Será que estou usando Augusto de desculpa para minha sem-vergonhice? Pior que nem tem como saber: é provável que o guri chegue bem na final)
A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert (Joël Dicker)
Um novo livro, Marcus, é uma nova vida que começa. É também um momento de grande altruísmo: você oferece, a quem estiver disposto a conhecer, uma parte sua. Alguns vão adorar, outros, detestar. Alguns vão tratá-lo como celebridade, outros, desprezá-lo. Alguns sentirão inveja, outros, terão interesse. Não é para eles que você escreve, Marcus. E sim para todos aqueles que, graças a Marcus Goldman, terão tido um bom momento em seu dia a dia. Você me dirá que isso não é nada de mais e, não obstante, já é muito. Alguns escritores querem mudar o mundo. Mas quem realmente pode mudar o mundo?
A citação acima, um dos vários ensinamentos do professor Quebert para o jovem Marcus Goldman, aparece em um momento já avançado do romance A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert (que saiu recentemente aqui no Brasil pela Intrínseca). Na hora que bati os olhos nessa fala imediatamente pensei na recepção que esse livro vem tendo desde que foi lançado. Como previsto por Quebert, tem quem adore e tem quem odeie. E como em quase todos os casos de livros que despertam opiniões tão contrárias, acho que pelo menos no caso do ódio o romance de estreia de Dicker foi meio que vítima do hype.
Olha, é óbvio que um autor publicado deseja que sua obra seja lida pelo maior número de pessoas. O problema é que quanto maior o número de pessoas “lendo para saber o motivo de tanta gente estar falando desse livro”, parece que a expectativa sobre o conteúdo da obra aumenta. Como se existisse uma relação direta entre qualidade e pessoas falando do livro, ou números de exemplares vendidos (o fato de noticiarem que A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert desbancou Cinquenta Tons de Cinza do topo das listas de mais vendidos parece já falar bem alto sobre como não existe esse tipo de relação, certo?). Resultado: muita gente lendo o livro como se Dicker fosse o próximo nome a ser cogitado para o Nobel, quando na realidade aquela citação que abre o post já indica muito bem qual o caminho que ele quer tomar ao escrever esta ficção: te oferecer um momento de distração no seu dia. Só.
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Sete dias sem fim (Jonathan Tropper)
Negócio é: Sete dias sem fim é o equivalente literário de comédia com famílias disfuncionais que vemos no cinema ou na TV. Enquanto o narrador (Judd Foxman) ia descrevendo os irmãos, a relação com os pais e afins, pensei em um punhado de histórias similares. Pega um bocadinho de Six Feet Under, mistura com uma pitadinha de Os excêntricos Tenenbaums, um tantico de Os Simpsons e por que não um punhado de Pequena Miss Sunshine? Mais ou menos assim. Então sim, você terá aquela sensação de já ter “visto esse filme”, mas veja bem: eu acho que o tanto de histórias já contadas sobre famílias assim só é grande porque se for ver bem, famílias-modelo são a exceção, não o contrário. Então é um tema tão comum que talvez a familiaridade que você venha a sentir com algumas personagens seja grande não por causa de filmes, mas por causa de pessoas reais que você conheça (lá em casa tínhamos uma piada sobre uma família perfeita que chamávamos de “Os Flanders”, sempre nos referíamos a eles desse jeito. Obviamente nos víamos como “Os Simpsons”).
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e agora graças ao Stephen Colbert eu jamais clicarei nessas opções sem visualizá-lo fazendo isso aqui ↩
Condenada (Chuck Palahniuk)
Porque dos três livros do Palahniuk que li até o momento (O Clube da Luta, Assombro e agora Condenada), esse foi de longe o mais engraçado. Insano os três são, cada um de um jeito completamente diferente. Mas engraçado ao ponto de você estar rindo com alguma passagem para lá de absurda envolvendo uma noção bem errada da palavra “malho”? Definitivamente não.