The Vacationers (Emma Straub)

22394275Então. Chega o verão e as editoras aqui parecem seguir um movimento contrário ao das editoras gringas: ao invés de lançarem suas apostas (pelo menos no sentido de livros mais populares), parecem dar uma segurada nos lançamentos. Acredito que tenha a ver com o fato de nosso verão coincidir com o fim do ano, de qualquer forma acabamos ficando sem essa experiência interessante que é a leitura de verão para eles. Promoções mil nas livrarias, títulos novinhos chegando nas prateleiras e aquela curiosidade sobre qual, quaaaaaal será o livro do verão.

Bom, esse ano lá fora aqui e acolá pipocou o nome The Vacationers, de Emma Straub. Até faz sentido, já que a história gira em torno da viagem de uma família disfuncional para Maiorca, na Espanha. Piscina, praia, sol, areia… meio que parece perfeito para a estação. Detalhe é que o livro simplesmente não é lá essas coisas. Sabe aquele carinha esforçado que estuda pacas mas só consegue tirar nota cinco? Algo assim.

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You see, there are still faint glimmers of civilization left in this barbaric slaughterhouse that was once known as humanity

Então. Ia escrever sobre Subject Steve do Sam Lipsyte, abri o editor mas me dei conta que é um livro com bons momentos mas que não mexeu comigo o suficiente para sentar aqui e escrever sobre ele. Basta dizer que tem uma pitada de Tibor Fischer (alou, Sol!), que tem uma ideia bem sacada só que em determinado momento ele começa a se repetir tanto, tanto, que cansa. Seria uma novela excelente, e é um romance mediano.

Mas eis que estava aqui dando uma olhada e notei que não falava dos meus filminhos desde o Oscar e que puxa, um monte de coisa linda, imperdível e inesquecível estava nesse intervalo entre o último post e o que escrevo agora. Como não vou dar conta de falar sobre tudo, deixo os ruins e os maizomeno para lá e vou direto aos que gostaria que alguém tivesse me indicado caso eu já não soubesse deles (é um conceito meio confuso mas já explico sobre isso, peraí). Naquele esquema de sempre, uns comentários breves.

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Stoner (John Williams)

“Senhoras e senhores!!! Vocês já o conhecem pelas manchetes dos jornais!! Agora tremam ao ver com seus próprios olhos o mais raro e trágico dos mistérios da natureza!! Apresento… O HOMEM COMUM!!! Fisicamente ridículo, ele possui, por outro lado, uma visão deturpada de valores. Observem o seu repugnante senso de humanidade, a disforme consciência social e o asqueroso otimismo. É mesmo de dar náuseas, não?? O mais repulsivo de tudo são suas frágeis e inúteis noções de ordem e sanidade. Se for submetido a muita pressão… ele QUEBRA!! Então, como ele faz para viver?? Como esse pobre e patético espécime sobrevive ao mundo cruel e irracional de hoje? A triste resposta é… “NÃO MUITO BEM!” Frente ao inegável fato de que a existência humana é louca, casual e sem finalidade, um em cada oito deles fica piradinho!! E quem pode culpá-los? Num mundo psicótico como esse… qualquer outra reação seria LOUCURA!!”

Sei que é estranho abrir um post com uma citação de uma hq. Mas enquanto ia me aproximando do final de Stoner (1965) imediatamente lembrei desse trecho de A Piada Mortal, escrito pelo Alan Moore. O homem comum. William Stoner, o protagonista, é apenas isso, um homem comum. Não há nada de extraordinário em suas ações ou em sua vida. Como já nos primeiros parágrafos o narrador deixa bem evidente:

Stoner’s colleagues, who held him in no particular esteem when he was alive, speak of him rarely now; to the older ones, his name is a reminder of the end that awaits them all, and to the younger ones it is merely a sound which evokes no sense of past and no identity with which they can associate themselves and their careers.

Stoner vive muito dos seus primeiros anos como que no piloto automático. Trabalha na fazenda com o pai, um serviço pesado que ele fazia sem qualquer reclamação porque bem, era o que tinha que ser feito. Surge então uma oportunidade de estudar agronomia na universidade, e ele vai – mais porque o pai acha que será bom para a fazenda deles do que por ele realmente ter alguma vontade em especial sobre isso.

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This One Is Mine (Maria Semple)

Nada como a leitura de um outro título do mesmo autor para entender o que fez com que você gostasse tanto da primeira leitura. Estava dando uma sondada aleatória na Amazon, vi uma capa num padrão familiar e “Uou, livro novo da Maria Semple?”. Bom, não é novo. É anterior ao Cadê você Bernadette?, mas essa edição nova chegou no fim de agosto e tem a tal da capa que comentei (e que ilustra esse post).

This One Is Mine foi o primeiro livro da Maria Semple, publicado em 2008. Pelo que eu entendi, marcou um pouco a transição da carreira dela de roteirista de séries de TV para escritora. É um primeiro livro, deve ser avaliado como tal e blablabla, mas meudeus, que decepção.

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Uma mensagem dos deuses dos livros

Eu sei que quase não atualizo aqui e que deveria aproveitar o raro tempo livre que encontro para falar de algo relevante, mas é que hoje eu definitivamente tive uma prova de que os deuses dos livros estão mandando uma mensagem para mim. A mensagem: LEIA STONER.

Não sei sobre o seu, mas o meu deus literário agora tem a forma da Tilda em Only Lovers Left Alive.

Ok, do começo, sinal número um. Estava lá na Amazon no meu velho esqueminha de “Customers Who Bought This Item Also Bought” buscando algo meio parecido com Dept. of Speculation porque (como visto no episódio anterior) eu adorei o livro. Eis que entre as ‘n’ opções (algumas que eu já tinha lido, outras que já estão no kindle mas não estou bem no momento certo para ler) aparece um tal de Stoner, de John Williams.

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Sim, inverno, estamos vivos*

Começo dizendo que é só uma fase, que um dia eu volto ao normal e escrevo posts longos e detalhados sobre cada livro que estou lendo. Mas entenda: há um ser humano novo em folha aqui em casa que depende quase que totalmente da minha atenção (e dos meus peitos). Tenho lembrado muito de uns trechos de Tipos de perturbação da Lydia Davis, especialmente este:

Você se acostuma a não terminar nada. Por exemplo, o bebê está olhando fixo para uma bola vermelha. Você está na pia lavando uns rabanetes bem grandes. O bebê começa a se agitar quando você acabou de lavar quatro e ainda faltam oito.

O que significa que comecei este post já achando que não vou terminá-lo.  Ou que escreverei aos poucos, em pedacinhos. Essa coisa de escrever aos poucos lembra uma história que contam sobre a carta que o Wilde escreveu para o Bosie enquanto estava na cadeia (sim, a que virou o De Profundis), que ele recebia uma quantidade limitada de papel e que tudo que ele escrevia era recolhido no fim do dia, mas mesmo assim ele conseguia manter a coesão do texto, começando um novo trecho da carta no papel novo exatamente onde tinha parado no dia anterior. Moral da história: não sou Oscar Wilde, então espera um post meio sem sentido.

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No qual eu finalmente atualizo o blog


Quase três semanas sem atualizar, acabou que até o aniversário de 11 anos do Hellfire passou batido e eu acabei de clicar em “Justificar” e pensei como seria legal se ao clicar nesse botão aparecesse uma justificativa automática, mas divago. O fato é que desde que o Hellfire é Hellfire eu sempre tive problemas para escrever enquanto minha cabeça estava em outro lugar. No momento só penso no Augusto, nos últimos detalhes que faltam para a chegada dele. Então sento aqui, penso em como preciso dizer que O Grande Hotel Budapeste é lindo, falar mais um pouco sobre Penny Dreadful ou sobre os livros que estou lendo e bem, como deve ter dado para reparar, o rascunho vai para a lixeira ou nem existe. Mããããs…

… eu preciso deixar anotado aqui uma coisa ou outra sobre os livros. Aquela história que vivo dizendo: não confio muito na minha memória. Tenho uma tendência horrível de achar tudo muito melhor ou muito pior do que realmente achei depois de um tempo. Com o registro, pelo menos a opinião de quando li algo não se perde. Acho.  Então é isso, atualizando agora com umas rapidinhas sobre as leituras da metade de junho para cá.

(Se você pensar bem, parei de atualizar tão logo começou a Copa. Será que estou usando Augusto de desculpa para minha sem-vergonhice? Pior que nem tem como saber: é provável que o guri chegue bem na final)

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A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert (Joël Dicker)

Um novo livro, Marcus, é uma nova vida que começa. É também um momento de grande altruísmo: você oferece, a quem estiver disposto a conhecer, uma parte sua. Alguns vão adorar, outros, detestar. Alguns vão tratá-lo como celebridade, outros, desprezá-lo. Alguns sentirão inveja, outros, terão interesse. Não é para eles que você escreve, Marcus. E sim para todos aqueles que, graças a Marcus Goldman, terão tido um bom momento em seu dia a dia. Você me dirá que isso não é nada de mais e, não obstante, já é muito. Alguns escritores querem mudar o mundo. Mas quem realmente pode mudar o mundo?

A citação acima, um dos vários ensinamentos do professor Quebert para o jovem Marcus Goldman, aparece em um momento já avançado do romance A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert (que saiu recentemente aqui no Brasil pela Intrínseca). Na hora que bati os olhos nessa fala imediatamente pensei na recepção que esse livro vem tendo desde que foi lançado. Como previsto por Quebert, tem quem adore e tem quem odeie. E como em quase todos os casos de livros que despertam opiniões tão contrárias, acho que pelo menos no caso do ódio o romance de estreia de Dicker foi meio que vítima do hype.

Olha, é óbvio que um autor publicado deseja que sua obra seja lida pelo maior número de pessoas. O problema é que quanto maior o número de pessoas “lendo para saber o motivo de tanta gente estar falando desse livro”, parece que a expectativa sobre o conteúdo da obra aumenta. Como se existisse uma relação direta entre qualidade e pessoas falando do livro, ou números de exemplares vendidos (o fato de noticiarem que A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert desbancou Cinquenta Tons de Cinza do topo das listas de mais vendidos parece já falar bem alto sobre como não existe esse tipo de relação, certo?). Resultado: muita gente lendo o livro como se Dicker fosse o próximo nome a ser cogitado para o Nobel, quando na realidade aquela citação que abre o post já indica muito bem qual o caminho que ele quer tomar ao escrever esta ficção: te oferecer um momento de distração no seu dia. Só.

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Sete dias sem fim (Jonathan Tropper)

Já devo ter comentado por aqui de como quando estou sem ideia sobre o que ler uso aquele “users who bought this also bought this” na Amazon1 de livros que gostei para ver se acho outra coisa bacaninha, certo? Bem, um título que aparecia bastante era o This Is Where I Leave You, do Jonathan Tropper. Publicado lá fora em 2009, e chegando no Brasil pela Arqueiro como Sete dias sem fim no ano passado, pela sinopse ele parecia ter um jeitão meio “nickhornbyesco“, digamos assim.  E eu ia lá enrolandinho e deixando para ler outra hora, até que vi o trailer da adaptação que está para sair em setembro deste ano, e sabe aqueles filmes que só pelo elenco você já assistiria? Pois é. Então porque eu não gosto de ler o livro depois de ver o filme, acabei jogando para o começo da fila.

Negócio é: Sete dias sem fim é o equivalente literário de comédia com famílias disfuncionais que vemos no cinema ou na TV. Enquanto o narrador (Judd Foxman) ia descrevendo os irmãos, a relação com os pais e afins, pensei em um punhado de histórias similares. Pega um bocadinho de Six Feet Under, mistura com uma pitadinha de Os excêntricos Tenenbaums, um tantico de Os Simpsons e por que não um punhado de Pequena Miss Sunshine? Mais ou menos assim.  Então sim, você terá aquela sensação de já ter “visto esse filme”, mas veja bem: eu acho que o tanto de histórias já contadas sobre famílias assim só é grande porque se for ver bem, famílias-modelo são a exceção, não o contrário. Então é um tema tão comum que talvez a familiaridade que você venha a sentir com algumas personagens seja grande não por causa de filmes, mas por causa de pessoas reais que você conheça (lá em casa tínhamos uma piada sobre uma família perfeita que chamávamos de “Os Flanders”, sempre nos referíamos a eles desse jeito. Obviamente nos víamos como “Os Simpsons”).

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  1. e agora graças ao Stephen Colbert eu jamais clicarei nessas opções sem visualizá-lo fazendo isso aqui 

Condenada (Chuck Palahniuk)

Quando fui pesquisar sobre Condenada de Chuck Palahniuk (livro que saiu pela Leya aqui no Brasil no ano passado), fiquei um tanto surpresa ao descobrir que ele tinha começado a escrever a história como uma forma de lidar com a morte da mãe. Ok, ele repete incontáveis vezes a ideia de que morrer todos nós vamos mesmo (não importa quantas horas passe na academia, se abre mão do açúcar e só coma orgânicos), e isso me parece até algo saudável para se agarrar no momento da morte de um ente querido. Por outro lado, como é que ele conseguiu manter tamanho senso de humor com algo tão triste?

Porque dos três livros do Palahniuk que li até o momento (O Clube da Luta, Assombro e agora Condenada), esse foi de longe o mais engraçado. Insano os três são, cada um de um jeito completamente diferente. Mas engraçado ao ponto de você estar rindo com alguma passagem para lá de absurda envolvendo uma noção bem errada da palavra “malho”? Definitivamente não.

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