No qual Anica conta mais uma vez sobre sua história com Sandman, tece comentários sobre a adaptação da Netflix e tenta mais uma vez guiar novos sonhadores.
Começamos no Mundo Desperto
Eu sempre conto a história de como láááá em 1998 eu e meu irmão matávamos aula do cursinho para visitar a Gibiteca, onde líamos Sandman a tarde toda antes de voltar para casa – o retorno sempre com aquela sensação esquisita de estar no limite entre o Sonhar e o Mundo Desperto, depois de tanto tempo lendo.
O que eu nunca contei, e porque eu simplesmente não lembro mais (hahaha), é como foi meu primeiro contato com Sandman. Quem foi que deu o empurrãozinho no meu irmão para fazer a carteirinha na Gibiteca? Nós fomos lá já procurando Sandman? Realmente não consigo mais lembrar. Então no fim das contas, Anica está tendo uma relação com uma HQ. Só uma daquelas coisas. Um encontro casual que se tornou importante para ambas.
E aí para quem acompanha de lá para 2022, deu para ver muitas tentativas de publicação no Brasil, muitos formatos diferentes. Também vários títulos novos complementando o que saiu nas 75 revistas anteriores, incluindo aí o maravilhoso Overture. E o mais importante: nos 24 anos em que conheço Sandman, já ouvi falar muitas, mas MUITAS vezes de uma possível adaptação. Tanto que quando anunciaram a série pela Netflix, eu só acreditei que realmente iria acontecer quando saiu o primeiro anúncio de nomes do elenco.
Agora no fim do ano bateu uma preguiça e um cansaço de tudo, então acho que vou acabar fechando minhas listas de favoritos mais cedo. Por causa da pandemia eu achava que teríamos em 2020 um problema parecido com o da greve dos roteiristas – que pela impossibilidade de gravar novos episódios teríamos um monte de reprise e pouca coisa nova – mas não foi o caso.
Das que eu acompanhava deu para perceber um corte em número de episódios, e acho que só uma não teve temporada nova lançada (Younger, minha novelinha de mercado editorial favorita, mas assisti Romance is a Bonus Book e meio que deu para matar saudades?). Resumindo: Mais um ano que eu não dou conta de ver tudo o que sai por aí, há.
2020 foi também o ano em que acabaram duas das minhas séries favoritas, Bojack Horseman e The Good Place. O encerramento das duas foi perfeito, e de vez em quando eu me pego voltando para alguns episódios, algumas falas, alguns momentos. No meio de tanta coisa que a gente vê sabendo que passada a febre do lançamento provavelmente ninguém mais comentará, é bom saber que por uma série de fatores eu acabei apostando em coisas tão legais, que seguirão comigo.
Das que eu já acompanho, What We Do in the Shadows continua excelente. The Boys eu achei que deu uma ligeira caída, mas a personagem interpretada pela Aya Cash ( <3 ) rendeu os melhores momentos. Doom Patrol deu uma piorada grande, muito episódio eu acabei assistindo mais porque com a pandemia a temporada foi mais curta e então eu pensava “ok, falta pouco”. Não sei se volto para a terceira.
E chegamos então ao top5 das novidades de 2020. Eu acho que a maior parte dos títulos da lista são minisséries ou antologias, algumas não chegaram a ganhar o sinal verde para a segunda temporada ainda. Enfim, é uma lista esquisita para um ano esquisito. Fora de ordem, pense que se chegou aqui é porque gostei tudo igual.
Agora em 2020 Alta Fidelidade de Nick Hornby completa 25 anos. Dos 25, pelo menos 16 eu passei comentando, citando, babando ovo para o livro aqui no Hellfire – então dá para entender que sim, eu sou exatamente o público da nova adaptação do romance que saiu em fevereiro desse ano no Hulu. Soma aí a curiosidade de ver como é que ficaria a série em uma versão mais moderna e com o tal do gender flip – Rob Fleming agora é Robyn “Rob” Brooks, interpretada por Zoë Kravitz.
Começando pela versão moderna – vale lembrar que quando o livro saiu, as pessoas ainda compravam cds. Não só pessoas apaixonadas por música, mas pessoas comuns. Não tinha internet para baixar trocentos mil álbuns de bandas de todos os cantos do mundo, a relação ainda era diferente. Eu nem vou me prolongar muito nisso porque sobre as diferenças o próprio Nick Hornby já comentou em um artigo que escreveu há cinco anos para a Billboard (recomendo demais a leitura).
Acabei de ler um livro1 que tem uma passagem que segue mais ou menos assim: a protagonista está se apresentando para uma pessoa que acabou de conhecer, a pessoa parece emanar todo aquele “tô com a vida nos eixos” ao qual a protagonista tanto aspira. Ao ser perguntada sobre o que faz, a protagonista primeiro pensa “Eu assisto muita Netflix“, e depois se dá conta que a pergunta era sobre seu emprego.
Eu ri muito porque está aí algo que eu provavelmente responderia. Não que eu assista muita Netflix, eu assisto muitas séries. Fiz uma lista aqui e só de títulos novos foram 20. E mesmo assim, aquela angustiazinha de não estar vendo tudo o que todo mundo vê (como conseguem? do que se alimentam?), por exemplo, The Mandalorian eu resolvi assistir através dos gifs de Baby Yoda nas redes sociais mesmo2.
E aí por causa do tanto de coisa nova que está saindo eu pensei “uou, dá até para fazer uma lista de favoritos de 2019, como eu já faço com filmes e livros”. Então cá estou, um ano depois de prometer que ia atualizar o blog com maior constância, mas como tenho feito há anos, constantemente não cumprindo a promessa. De repente em 2020.
o livro é Would Like to Meet da Rachel Winters. Eu sei que comédia romântica britânica não é a vibe de todo mundo, mas é meio que meu cope mechanism nesses tempos loucos, quando a nuvem em cima da cabeça está começando a ficar preta, pego logo um romancezinho para me animar. E esse é hilário demais, e eu adoraria ver um filme dele e que mais pessoas conhecessem. Eu tinha esquecido como é bom rir no meio da madrugada por causa de um livro ↩
Um casal em crise se encontra uma vez por semana em um pub, um pouco antes do horário da terapia. Ela toma sempre vinho branco, ele uma London Pride. Enquanto esperam, conversam sobre o relacionamento e as expectativas – em uma conversa salpicada com referências aos mais variados assuntos atuais, desde aplicativos como o Tinder até o Brexit. Ah, sim: tudo isso em 10 minutos.
Esse poderia ser um resumo de State of the Union, série com roteiro de Nick Hornby (autor de Alta Fidelidade) e dirigida por Stephen Frears (diretor da adaptação para o cinema de Alta Fidelidade, hehe). Interpretando o casal Tom e Louise temos Chris O’Dowd (de The IT Crowd, e vá lá, depois deJuliet, Naked virou minha referência para protagonista do Hornby) e Rosamund Pike (de Garota Exemplar). Ou seja: um monte de gente bacana no projeto, não tinha como dar errado.
Mês passado aproveitei que tinha recém-assinado Amazon Prime e resolvi dar uma conferida nas comédias disponíveis no catálogo. Você sabe: aquelas com episódios de 25 minutos e que está tudo bem se você resolver assistir a uns quatro seguidos, porque afinal, só 25 minutos. Nessas assisti toda a primeira temporada de Forever e depois saltei para Fleabag, sobre a qual já tinha lido uma coisa ou outra. Pois bem, eis-me aqui apaixonada por Fleabag.
Criada e protagonizada por Phoebe Waller-Bridge, a primeira temporada saiu em 2016 e a segunda acabou de estrear (assim, mesmo: primeiro episódio foi semana passada). Não tem muito como vender o peixe descrevendo de forma geral: é a vida de uma guria (a Fleabag), tentando sobreviver à morte da melhor amiga e uma família bem disfuncional, basicamente. Mas se você está lá com seu espaço para séries de 25 minutos, reserva e vai com fé porque vale muito a pena.
O título já explica, então não vou me prolongar. Volto para lista de filmes e livros? Certeza.
MÚSICA
Saiu o novo do Interpol, Marauder. Eu gostei bastante, achei melhor do que El Pintor (que no fim das contas não me empolgou tanto quanto pensei na época, já que quase nunca toco nada dele). The Rover, Number 10e Mountain Child são as favoritas.
Além disso, finalmente conheci melhor The National. A Taizze vive falando deles e eu confio no gosto da guria, mas sei lá por qual motivo acabava deixando para depois. Aí um dia ouvi This is the last time, me apaixonei e provavelmente foi a banda que mais ouvi nos últimos meses, então vale citar aqui, mesmo que não tenham lançado nada novo este ano, he he.
E, finalmente:
Não tem como falar de música em 2018 e não citar esta música e este clipe maravilhosos. This is America é aquele tipo de coisa que você assiste a primeira vez de queixo caído, repete mais umas e ainda não perde a sensação de maravilhamento.
QUADRINHOS
Finalmeeeeente li Daytripper do Fábio Moon e Gabriel Bá. Não sei se foi o tempo sem ler HQ (a última deve ter sido The Runaways), mas terminei me arrependendo pela demora para ter lido. Aliás, foi o que fez com que eu fosse atrás de mais HQs este ano, incluindo um reencontro com meu Dylan Dog do coração, que voltou a ser publicado no Brasil pela Mythos agora em 2018.
Outra descoberta muito legal é Sex Criminals: um casal que consegue parar o tempo quando atingem o orgasmo (sim) resolve assaltar bancos (siim) para juntar dinheiro para salvar uma biblioteca (siiiiim). É bem absurdo, tem momentos hilários, mas é bacana como retrata as piras das pessoas sobre relacionamentos. E a sequência da Suzie cantando Fat Bottomed Girls já faz valer toda a leitura. Já tem cinco volumes (o quinto saiu em agosto deste ano) e eu quero mais.
SÉRIES DE TV
Eu não sei se foi a preguiça de baixar séries ou realmente a Netflix está criando um conteúdo muito bacana, mas quase todas as minhas favoritas de 2018 estão no catálogo dela. Começa com a quinta temporada de Bojack Horseman, que conseguiu manter o nível depois de uma quarta temporada perfeita. Eu tento convencer as pessoas a assistir mas nunca consigo, falho miseravelmente toda vez que digo que Bojack é hilária mas que te faz chorar (e o protagonista é um cavalo).
Aí tem The Good Place, que começou em 2016 mas só comecei a ver agora em 2018 – quando já está na terceira temporada. O elenco é ótimo, o roteiro é espetacular (do tipo: “deixa eu pausar, voltar e ver essa cena de novo porque isso é bom demais”). E sim, é muito engraçada. Dia desses fiz o Fábio assistir toda a cena do Jeremy Bearimy. Para cada coisa maluca que tem acontecido no país atualmente a imagem da juíza dizendo THAT RIPPLES OUT, MAN aparece na minha cabeça. É boa demais.
E tem A Maldição da Residência Hill, que eu tenho recomendado até para quem não é muito fã de terror, embora com ressalvas, porque tem uns episódios lazarentos de assustadores. A história da família Crain lidando com um trauma do passado me atraiu muito mais do que qualquer possível explicação sobre o que acontece na Residência Hill. É levemente baseado em um livro da Shirley Jackson, que já ganhou outras adaptações para o cinema: uma de 1963 que aqui no Brasil se chama Desafio do Além e outra de 1999, chamada A Casa Amaldiçoada.
Finalmente, para não ficar só na Netflix, Objetos Cortantes da HBO. Eu gostei bastante do livro da Gillian Flynn, mas acho que a adaptação aqui de alguma forma foi além. As atuações (Patricia Clarkson está maravilhosa!), a beleza das imagens, a trilha sonora (eu tinha esquecido o quanto gostava de I Can’t Quit You, Baby), tudo. E garrei um morzinho no Chris Messina que acabei bingeando The Mindy Project (aliás, muito legal também) só por causa do Danny Castellano.
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E é isso. Sei que foi um ano bem merda em muitos sentidos, mas eu estou tirando o pó daqui porque acho que vou ter que falar muita coisa. Não dá mais para ficar quieto. A gente cansou do argument sketch e perdeu o debate por WO. Os próximos anos vão pedir coragem mas muita, muita resiliência.
Lembro que comecei a ver a primeira temporada do Demolidor meio naquela desconfiança de “Ok, só um episódio para ver qualé”. E aí gostei e foram lá mais dois, três e quando vi já tinha assistido toda a primeira temporada e queria mais.
Tá bom, o fato de serem só treze episódios ajuda para a sensação, mas além disso o negócio é que no meio do cansaço de tanta coisa de herói saindo no cinema e na TV, Demolidor chegava como algo completamente diferente, trazendo um pouco da humanidade que os “super” – hiperbólicos em seus poderes e paixões – já tinham deixado para trás.
Até porque o Demolidor da primeira temporada ainda é um herói em construção, aprendendo sobre como “ser” e também se questionando bastante sobre o que faz. A dúvida de Matt Murdock não vem só por ser católico, mas também porque a partir do momento que veste sua roupa (preta) para combater o crime à noite, ele de certa forma está aceitando o fato de que a justiça não funciona.
Antes de começar, dois alertas:
1. Meu teclado está uma caca, posso ter comido algumas letras sem querer. Volto para editar aqui em outro momento.
2. Ahmm… spoilers, spoilers everywhere.
Na época que começaram a sair as primeiras notícias sobre séries do Netflix com personagens da Marvel, minha animação sobre Jessica Jones estava mais baseada no fato de que estavam dando chance para mulheres protagonistas no universo Marvel, mas era meio que só isso.
Pouco sabia sobre Jessica Jones, fora o que já seria o básico do enredo dessa primeira temporada: a personagem atuava como heroína (uniformizada e tudo), até o momento em que o Purple Man (peixe pequeno das histórias do Demolidor se comparar com o Kingpin) começou a controlar sua mente. Quando finalmente consegue escapar do controle do vilão, deixa de lado a vida de vigilante e passa a ser uma detetive particular.
E então o material promocional aparecia falando tanto do Purple Man (que na série não chega a ser chamado assim, embora esteja sempre usando roupas em tons de roxo) que pronto, apitou lá meu maior medo: que a história de uma heroína Marvel acabasse virando uma história de um vilão Marvel1. Como dá para perceber, nada me preparou para o que eu de fato veria assim que a série ficou disponível no Netflix em 20 de novembro.
Ok, séries com grupos de adolescentes lidando com os dramas típicos da idade aparecem aos montes por aí. E mesmo temas como a dificuldade em se aceitar quando a garota do outdoor te diz que você não é o que as outras pessoas querem não são exatamente novidade nos dias de hoje. Mas My Mad Fat Diary é tão, mas tão bem executada que entra naquela categoria “Sério, em algum momento você vai ter que assistir”. Assim, desse jeito mesmo.
Por uma coincidência bizarra eu comecei a assistir uns poucos dias antes do último episódio (foi ao ar dia 6 de julho) e acabei as três temporadas em uma semana. É engraçado, tem série que eu demoro para engatar e aí realmente assistir um episódio após o outro, no caso de My Mad Fat Diary já no primeiro eu pensei “ok, essa você vai ter que economizar” (e como deu para perceber, não consegui).