Suíte em quatro movimentos (Ali Smith)

suiteNão sou pessoa do tipo que acredita em magia. Mas acho que livros têm, em alguns casos, um poder de encantamento, quase um feitiço. Poderia dizer que isso se dá pela escolha das palavras, pelo ritmo – mas aí no caso das traduções, o efeito acabaria, não? Então não é isso. Só sei que vez ou outra cai um livro em minhas mãos e penso “Ok, esse é diferente”. É quando você se envolve de tal maneira com a leitura que nem percebe o tempo passar. Quando nada do “mundo de fora” parece te distrair, quando você quer logo voltar para dentro daquele mundo tão logo o abandona para executar as tarefas mais triviais (como, ahn, comer e dormir).

Com Suíte em quatro movimentos de Ali Smith foi assim – e tenho certeza que eu não fui a única a ficar encantada. Conheço pelo menos mais duas pessoas que falaram sobre terem lido a primeira e a segunda parte de um dia para o outro (o que é uma porção considerável do livro).

E aí quem chega aqui pensa “Mas nossa, deve ser uma história extraordinária certeza que eu vou amar também!” e beeeeem, não é por aí. Não acho que seja o tipo de leitura que agradará todo tipo de leitor porque, apesar do inusitado do enredo – em um jantar um convidado sobe e se tranca no quarto de hóspedes, se recusando a sair- é um daqueles livros que muita gente reclamaria que não gostou porque “nada acontece”.

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Touch (Claire North)

(Mesmo sendo desnecessário dizer que muito do meu julgamento sobre esse livro pode ter sido afetado pela (altíssima) expectativa, deixarei registrado aqui porque com o tempo costumamos esquecer o contexto da leitura.)

Então que um dos meus livros favoritos do ano passado foi The First Fifteen Lives of Harry August, de Claire North. Mas assim, favoritão mesmo, de virar a chata que fica indicando para todo mundo e ansiosa para que terminem logo para perguntar o que acharam do livro. É bom, é muito bom. Estou errada em achar que a autora poderia entregar algo no mesmo nível, ainda mais não sendo iniciante?

E o triste é que Touch não passa nem perto de Harry August. A começar que a premissa não é exatamente original: essa ideia de ‘fantasmas’1 que tocam uma pessoa e passam a habitar o corpo dela eu já vi em várias histórias, com variações aqui e acolá (lembram de Possuídos, o cara cantando Time is on my side?). Piora o fato de que o conjunto de eventos para colocar a trama em movimento é forçadíssima: Kepler, o ‘fantasma’ que conta a história, quer saber quem mandou assassiná-lo e por que também mataram a mulher que ele estava hospedando no momento. Pensa numa história com fugas, investigações pela Europa, uma organização secreta. Enfim, é um mexidão de ação.

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  1. vou usar o termo entre aspas porque para o livro eles não são exatamente os fantasmas como os da nossa cultura, vagando por aí depois de mortos. Eles habitam corpos de pessoas vivas, abandonam quando não tem mais interesse para ocupar o de outra pessoa 

Como ser mulher (Caitlin Moran)

(Atrasei o post para o dia 08/03 de propósito, há.)

Então que eu tinha me apaixonado por How To Build a Girl da Caitlin Moran e resolvi não me enrolar muito para ler o How To Be a Woman, que chegou aqui no Brasil em 2012 pela Paralela (Companhia das Letras) com o título Como ser mulher.1 Comecei a ler e senti um certo déjà vu: a chegada à adolescência de uma garota que vivia em uma família enorme e de baixa renda, que passava longe dos padrões de beleza típicos e estava desesperada para ter suas primeiras experiências sentimentais/sexuais. Ou seja: How to Build a Girl pode ser um romance, mas tem MUITA coisa da vida da Moran ali.

Tanta que ler Como ser mulher poderia ser até um pouco de desperdício de tempo, não fosse a estrutura do livro: apresentação de uma anedota do passado da autora para então passar a discutir o tema de um modo mais geral, enfatizando a abordagem feminista de diversos momentos que qualquer mulher atravessou da adolescência à fase adulta – mudanças no corpo, menstruação, primeiro beijo, primeira vez, gravidez, etc.

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  1. Ignoro o subtítulo que ganhou no Brasil. E fiquei curiosa aqui sobre o que fez com que a tradução perdesse aquele ‘uma’ 

Ayoade on Ayoade (Richard Ayoade)

(Antes que alguém pergunte: sim, é o Moss do IT Crowd)

Aproveitando que finalmente O Duplo está chegando aos cinemas do Brasil (vão ver, é muito bom!), me parece um bom momento para comentar sobre Ayoade on Ayoade, de Richard Ayoade. Ao ficar sabendo que o livro consiste basicamente em um diretor de cinema se entrevistando, não tenho dúvidas que você deve pensar que as definições de punheta foram atualizadas.

Mas calma. É o Ayoade. Em mais de 300 páginas ele consegue falar muito mais de cinema (e cultura pop) do que sobre si mesmo – até porque, como responde em determinado momento, tudo o que está dito ali sobre ele é mentira (ou, talvez usando um termo mais apropriado, ficção).

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Por Lugares Incríveis (Jennifer Niven)

Vou confessar uma coisa: embora eu viva dizendo que não tenho preconceitos sobre YA, que tenho 30 e poucos mas leio merrrmo, que adoro e me divirto horrores e etc. etc. etc., a verdade é que eu andava meio sem paciência para esse tipo de livro. Pegando minha lista de leituras do ano passado, fora Isla and the Happily Ever After que achei fofo, o resto (do pouco) que li variou do mais ou menos para o simplesmente ruim. Então comecei a achar que eu que estava ficando crica, que logo ia virar aquele tipo chato que diz que não lê bestseller e só lê clássicos (seria uma recaída, eu já fui assim, haha), mas Por Lugares Incríveis de Jennifer Niven chegou para me salvar. Ufa.

Lançado por aqui pela Seguinte, o livro entrou no meu radar por causa da capa (essa que ilustra o post). É, a capa. Achei tão colorida, tão linda, e aqueles bloquinhos do kit pequeno engenheiro, que nostálgico! Enfim, parecia cute, e depois da paulada que foi The First Bad Man eu estava precisando de algo assim e lá fui eu.

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The First Bad Man (Miranda July)

Lançado em janeiro deste ano lá fora, The First Bad Man é o primeiro romance de Miranda July. Ênfase para romance, ela já publicou outros livos, um deles o ótimo O Escolhido Foi Você (que chegou por aqui pela Companhia das Letras). Somando aí os filmes, dá para dizer que ela é uma artista multimídia com uma grande bagagem e muitos fãs, mas eu (vergonhosamente) ainda conheço só esses dois trabalhos dela (nem os filmes eu vi, gente, socorro). Então o que for comentar aqui é meio que baseado só nisso, hmkay?

O fato é que eu notei uma semelhança grande na forma de desenvolver a história nessas duas obras, por mais que O Escolhido Foi Você não seja ficção. Duh, sim, óbvio, é a mesma autora, Anica. Calma, já explico. Quando você compara The First Bad Man com O Escolhido Foi Você dá para perceber que Miranda July não tem lá muita pressa de chegar onde realmente interessa. Para quem já leu o Escolhido, vale lembrar: páginas e páginas com boas histórias sobre os vendedores do PennySaver, para finalmente chegar na do velhinho que a tocou de tal maneira que ela até quer incluí-lo no filme que estava fazendo. Não que as outras histórias não fossem boas ou não estivessem conectadas ao encontro em questão. É só que o livro pareceu se transformar e ganhar uma força enorme a partir dali.

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Trigger Warning: Short Fictions and Disturbances (Neil Gaiman)

Ler Trigger Warning (coletânea de contos e poemas de Neil Gaiman que saiu recentemente lá fora) é um pouco como reencontrar um velho amigo querido. Ok, um velho amigo querido, mas que provavelmente tem uma mania chata que 10 minutos após o reencontro te faz lembrar porque, no final das contas, você não retornou aquela ligação ou deixou a coisa no “vamos marcar!” sem nunca marcar nada.

Não entenda mal, não é que o livro seja ruim. É só que por conta de alguns textos fica um tanto irregular. Eu entendo o que Gaiman fala logo na Introdução sobre o conto ser o lugar onde o autor pode experimentar mais, o negócio é que em uma coletânea supostamente houve uma seleção e o que sai ali pode ser resultado de experimentos, mas suponho que sejam os melhores resultados. Não é o caso. Tem coisa ali que eu teria definitivamente deixado de fora, mesmo que o livro ficasse um tanto menor do que as 350 páginas da edição gringa.

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Nobody is Ever Missing (Catherine Lacey)

A sensação que tive ao terminar a leitura de Nobody is Ever Missing de Catherine Lacey foi de decepção. “O quê? Vai ficar nisso?”. Acho que o que mais incomodou foram as perguntas levantadas ao longo da história e que ficaram simplesmente sem resposta na conclusão. Como se a autora jogasse migalhas para traçar um caminho que levava para lugar nenhum, entende?

E aí passou um dia, outro, e outro. E eu ainda com o livro na cabeça. Não que eu estivesse buscando motivos para gostar da obra (não teria nenhuma razão para isso), é mais que eu não conseguia afastar a impressão de que as tais das migalhas tinham sim um destino, digamos assim. Aí caiu a ficha e meio que revisei minha opinião sobre Nobody is Ever Missing. E claro, este post estará cheio de spoilers porque vou passar minha interpretação do romance.

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Bough Down (Karen Green)

Não é de propósito. Juro que queria embarcar na onda e ler Graça Infinita do David Foster Wallace agora que a tradução do Caetano Galindo chegou (tá bonito de ver o Verão Infinito lá no Posfácio, btw), mas serei daquelas leitoras atrasadas que em uns anos vai encher o saco de todo mundo que leu querendo conversar sobre o livro. É que eu já comecei a leitura uma vez (ainda em inglês) e sei que ele demandará uma atenção que no momento não posso dar. Enfim, não deu. Ainda.

Negócio é que nessa avalanche de reportagens anunciando o lançamento da Companhia das Letras, acabei lendo uma assinada por Paulo Nogueira que saiu na revista Época. Fala daquilo que temos lido aqui e acolá mas veio com um extra: um comentário sobre um livro recentemente escrito pela viúva de Wallace, chamado Bough Down. A passagem citada por Nogueira automaticamente despertou meu interesse pela obra. Tanto que já coloquei na wishlist de aniversário – e bem, acabei de ler.

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We Have Always Lived in the Castle (Shirley Jackson)

Já tem aí vários dias desde que terminei a leitura de We Have Always Lived in the Castle da escritora norte-americana Shirley Jackson. Estava quase desistindo de escrever sobre ele e ia saltar direto para o Bough Down de Karen Green (fica para outro dia), mas minha resolução de ano novo (cofcof) é que vou escrever um post para cada livro que adorei, então vamos lá.

Motivos para gostar de We Have Always… são vários. A capa pode enganar (parece de livro infantojuvenil), a autora também (Jackson é conhecida pelo terror The Haunting of Hill House, além de ser influência de autores como Stephen King e Richard Matheson – o que levaria o leitor a pensar que teria em mãos um livro de terror, pelo menos no sentido mais genérico da palavra). Mas se posso dar um conselho é: abandone as tentativas de adivinhações e se deixe levar pela história das duas irmãs Blackwood.

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