Este ano estou elaborando a lista sem medo de deixar o último livro de 2015 de fora (porque é uma praga, todo ano sempre depois de fechar a lista eu me encanto por um livro, tipo o How to build a girl da Moran no ano passado). O negócio é que comecei a ler A Little Life e considerando o combo 700 páginas + correria de fim de ano, sei que só termino este em janeiro. Então é isso, né.
Categoria: Literatura
Slade House (David Mitchell)
Então lá vou eu, né, contando que não saber nada do universo de Mitchell não pese na hora da leitura. E olha, a impressão que tenho é que ao invés de atrapalhar, ajudou, mas falo disso mais para frente. Só que isso nos leva à óbvia conclusão: é um livro bacana de ler sabendo o mínimo possível, a diversão está justamente nas pequenas descobertas que vamos fazendo em cada capítulo. Ou seja: este é um post para quem já leu Slade House.
(Eu adoro esses meus posts sabotadores que afastam os leitores ao invés de trazê-los para cá, haha.
Mentira, não adoro, não. Mas sei lá. Quando é importante não saber eu prefiro avisa para não estragar a experiência de quem planeja ler o livro. Dizer que gostei muito já ajuda? Espero que sim.)
A Head Full of Ghosts (Paul Tremblay)
De qualquer forma, mesmo sendo rebelde e deixando de lado as orientações do autor, tem um tipo de livro que respeito e sigo direitinho até o fim: as histórias de terror. O terror depende muito disso, de você conseguir se transportar para o momento narrado, como se estivesse com outras personagens. Porque veja bem: terror (bom) vem armado de sutilezas, de pequenas sugestões, ideias plantadas em parágrafos que parecem cheios de irrelevâncias que vão crescendo em sua mente conforme a leitura avança. E Paul Tremblay me conquistou justamente por esse horror sutil em seu A Head Full of Ghosts. Assim, de desligar o kindle e ficar com medo de dormir com a luz apagada à noite.
Operação Impensável (Vanessa Barbara)
O bom de saber o futuro é que podemos selecionar, reinterpretar e editar o passado à luz do que sabemos que veio a ocorrer.
E não só é algo bastante comum em nossas vidas, mas a Literatura também está cheia de histórias sobre rompimentos e esse momento do ONDE DIABOS EU ESTAVA COM A CABEÇA?. O que parece que poucos até hoje conseguiram perceber é que muitas vezes não é só uma questão de hormônios exaltados ou fatos escondidos que nos levam ao que seria uma cegueira temporária. O lance é que bem, a resposta às vezes é simples. Nossa cabeça estava num bom lugar, porque estávamos felizes e as coisas iam bem.
E digo tudo isso porque provavelmente o que mais gostei em Operação Impensável de Vanessa Barbara1 foi o trabalho da autora em mostrar esse momento de paz. Aliás, não estou usando por acaso o termo aqui – como a narradora Lia é uma historiadora especialista em Guerra Fria, as quatro partes do livro são divididas exatamente como fases do conflito: Período de paz, Early War, Mid-War e Late War (já volto a falar da divisão). Continue lendo “Operação Impensável (Vanessa Barbara)”
A primeira edição pela Biblioteca Pública do Paraná era bem chatonildo de achar por aí, agora benzadeus, está saindo pela Intrínseca e super acessível ↩
The Story of the Lost Child (Elena Ferrante)
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The Story of the Lost Child tem como ponto de partida o final do terceiro livro: Lenu abandonando tudo para passar alguns dias em Montpellier com Nino. De novo Elena Ferrante cozinha a história em fogo brando, com Lenu descrevendo seus dias com o amante e o início da separação. Terminado o livro eu ainda queria muito, MUITO, MUUUUUUITO que o final de Those Who Leave and Those Who Stay ainda fosse aquela fala da Lenu para Nino: “I said my way, not yours. Between you and me is over.” porque não é querer ficar julgando a vida de personagens fictícios, mas caramba, decisão ruim atrás de decisão ruim da dona Lenu, sabe. Foi puxado, foi sofrido.
Porque mesmo quando Nino diz umas coisas bonitas lá no terceiro volume, você sabe, não dá, ele não presta. São várias bandeirinhas com um ALERTA! escrito em vermelho que vão aparecendo, pequenos detalhes narrados por Lenu que te fazem perceber que o sujeito é um grandíssimo filho da puta. Nem tanto por ser mulherengo – isso é irritante, e em determinado momento no livro chega até a ser chocante – mas são as ações dele. Todo aquele discurso que parece empoderar mulheres e de repente está ele lá, anulando completamente Lenu na França, só dando alguma atenção para a mulher quando outras pessoas descobrem (porque ELA falou) algo sobre os livros que tinha publicado. Ou quando morre de ciúmes sobre Pietro mesmo não tendo a coragem que Lenu teve e continuar mantendo o casamento com Eleonora. Continue lendo “The Story of the Lost Child (Elena Ferrante)”
Autobiography (Morrissey)
Sendo bem sincera, a verdade é que aquele primeiro parágrafo gigante me enchia de preguiça, o que vencia qualquer curiosidade sobre o que Moz tinha a dizer sobre a própria vida (já comentei por aqui, não sou do tipo que se sente confortável esmiuçando a vida pessoal de artistas). Não sei se vou conseguir explicar, mas é mais ou menos assim: por exemplo, o A Arte de Pedir da Amanda Palmer é bem bacana, e eu admiro horrores a Amanda (às vezes acho que até mais do que o trabalho dela). Mas me incomodou profundamente o tom de justificativa para hater que o livro acabou tomando. Não estou dizendo que com isso o livro ficou ruim, mas aquela pontinha da justificativa desnecessária está sempre lá, cutucando.
E eu achei que o Morrissey seguiria por esse caminho, uma espécie de carta de justificativa, um mero “dar a última palavra” sobre assuntos do passado. Porque mesmo que você não dê a menor bola sobre a vida do Morrissey, é impossível não ficar a par das inúmeras polêmicas em que ele acabou se envolvendo durante sua carreira. São muitas. O cara é um pára-raio de treta. Mas então lá vamos nós, começando na infância do músico…
My Fat, Mad Teenage Diary (Rae Earl)
O legal de livros baseados em diários é que eles acabam mostrando bem a vida como ela é. Aquele sujeito para quem você não dava a menor bola de repente vira seu melhor amigo em pouco tempo. Algo que ocupava sua mente de forma obsessiva vai sendo deixado de lado. Um ano às vezes pode ser pouco tempo, mas para a vida de um adolescente é tempo suficiente para refletir dezenas de transformações, mesmo que às vezes o leitor fique sem um desfecho propriamente dito (o dia 31 de dezembro pode não trazer todas as respostas, mas convenhamos, poucos dias 31 de dezembro trazem para todos nós).
The Versions of Us (Laura Barnett)
É esse exame das possibilidades que Laura Barnett traz em seu primeiro romance, The Versions of Us. Aqueles momentos que uma vez ou outra vemos em nossas vidas como decisivos, e tentamos adivinhar como seria “se…” eles não tivessem ocorrido, ou ao menos ocorressem de maneira diferente. Seguindo três versões das personagens Eva e Jim, que se conhecem em 1958, quando têm 19 anos.
História de quem foge e de que fica (Elena Ferrante)
Então. Eu tinha um plano, ficar enrolandinho com minhas leituras mais ou menos até a última semana de agosto, quando então leria o terceiro livro da série napolitana, Those Who Leave and Those Who Stay. Aquela coisa: Elena Ferrante já tinha armado nos dois livros anteriores desfechos de deixar o leitor louco para partir para o próximo volume, assim eu já esperava por algo do tipo no terceiro – com a diferença que nesse caso seria obrigada a esperar até setembro quando só então poderia ler o quarto livro. Era um bom plano, mas não deu. Caí em tentação, fui “dar só uma olhadinha” e quando percebi já foram lá 50 páginas e bem, continuei.
Isso tudo é para você que ainda não leu a Elena Ferrante entender que não é só a história em si, é como ela conta. É um daqueles casos de escritas meio viciantes, e você até saca as estratégias da autora para prender sua atenção, mas ok, você caiu como um patinho e está lá “só mais um capítulo e eu vou dormir/almoçar/fazer qualquer coisa que seres humanos não viciados em um determinado livro fazem”. E também para dizer que o post conterá spoilers e que se você quiser saber mais sobre os outros dois volumes, é só clicar aqui e aqui (eles também têm spoilers hahaha).
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A Garota no Trem (Paula Hawkins)
boba automática e aí e enrolo um monte para ler o livro (ou em alguns casos, nem leio). Mas quando comparam A Garota no Trem de Paula Hawkins com Garota Exemplar, tenho que dizer que eu meio que consigo entender o motivo.
Sim, tem lá o óbvio: o sumiço de uma mulher e a culpa caindo sobre o marido. Ok, já vimos isso em vários outros lugares, não é exatamente novidade – já não era quando Garota Exemplar chegou nas livrarias. A questão é que, como sempre, não é bem o que se conta, mas como se conta. E assim como o motor principal de Garota Exemplar era mostrar que não conhecemos realmente ninguém e nos apressamos em julgamentos a partir das pequenas porções das histórias sobre essas pessoas, A Garota no Trem parece trazer uma ideia semelhante, embora executada de maneira um pouco diferente – daí as comparações.