Crônicas

Nada contra o Luís Fernando Veríssimo (escritor que, por acaso, acho engraçadíssimo). Mas quando o assunto são crônicas e, indo mais além, crônicas engraçadas, o melhor cronista aqui do Brasil é o Carlos Eduardo Novaes. Estou para lembrar de uma vez que eu tenha rido TANTO enquanto lia uma crônica, do modo que ri quando li “A Cadeira do Dentista”, há muito tempo atrás em um dos volumes daquela série Para Gostar de Ler (que algum número certamente você teve que ler para a provinha de interpretação do colégio).

Sério. Se tiverem oportunidade, confiram o trabalho dele. Eu até transcreveria um trechinho de umas das crônicas, mas enfim, vida corrida essa de duas monografias e um trampo. Mas não vou reclamar. Pelo menos as coisas estão acontecendo, ahn?

Como prometido, um trechinho:

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Menos de 2 por ano.

wall_o_books.jpgAcabei de ver no jornal, enquanto tomava café. Brasileiro tem uma média de leitura de menos de dois livros por ano. A pesquisa citada também falava que os franceses liam 3 vezes mais livros do que os brasileiros, mas que o número de compradores de livros era maior no Brasil (acredito que por motivos óbvios).

Mas fico cá pensando: do que adiantam esses números (e colocar livro por 4,90 no supermercado), se eles não fazem uma pesquisa dos motivos que levam o brasileiro a ler tão pouco? É burrice se conformar com a idéia de que a única razão para isso é o preço do produto, não é – até porque quando você tem bibliotecas públicas perto de você, dinheiro é só desculpa.
A base dessa situação toda é a educação. Enquanto em sala de aula ler for sinônimo de tortura, essa média continuará assim, bizonhamente baixa. E quem se habilita a “mudar o esquema”, agora que o jeito de ensinar Língua Portuguesa e Literatura já está tão cristalizado?

Éééé… futuro negro para quem pensa em viver de livros. Pelo menos o buraco na camada de ozônio diminuiu, né? :uhu:

Um pouco de Alice, e pouco tempo.

Alice sighed wearily. `I think you might do something better with the time,’ she said, `than waste it in asking riddles that have no answers.’

`If you knew Time as well as I do,’ said the Hatter, `you wouldn’t talk about wasting IT. It’s HIM.’

`I don’t know what you mean,’ said Alice.

`Of course you don’t!’ the Hatter said, tossing his head contemptuously. `I dare say you never even spoke to Time!’

`Perhaps not,’ Alice cautiously replied: `but I know I have to beat time when I learn music.’

`Ah! that accounts for it,’ said the Hatter. `He won’t stand beating. Now, if you only kept on good terms with him, he’d do almost anything you liked with the clock. For instance, suppose it were nine o’clock in the morning, just time to begin lessons: you’d only have to whisper a hint to Time, and round goes the clock in a twinkling! Half-past one, time for dinner!’

(`I only wish it was,’ the March Hare said to itself in a whisper.)

`That would be grand, certainly,’ said Alice thoughtfully: `but then–I shouldn’t be hungry for it, you know.’

`Not at first, perhaps,’ said the Hatter: `but you could keep it to half-past one as long as you liked.’

`Is that the way YOU manage?’ Alice asked.

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Obras Primas que Poucos Leram

Ontem eu e o Fábio estávamos dando uma voltinha no shopping e, na Sciciliano, acabamos encontrando na estante 3 dos quatro volumes da série “Obras Primas que Poucos Leram“, que consiste basicamente numa reunião de artigos de gente bacana como o Otto Maria Carpeaux sobre os que seriam os livros ‘must read‘ (obs. acabei de ler que esses artigos foram encomendados pela revista Manchete na década de 70).

E sabe, para quatro volumes, têm títulos pra caramba (não são só livros, têm poesias também). Alguns eu já li (até por questões acadêmicas hehe), mas passando os olhos nos nomes citados, eu me dei conta de que não posso perder muito do meu tempo com porcarias: tenho muito para ler ainda. Não é que eu concorde com tudo que esteja ali (e acredito que alguns ficaram injustamente de fora, hehe). Mas, por exemplo, não me conformo de até hoje não ter ido além de algumas páginas de “Irmãos Karamázov“, ou não ter lido outra coisa do Henry James que não seja “The Turn of the Screw“.

Inclusive, tenho que largar mão de ser vagal e atualizar aquela minha lista de livros para ler

Vampiros

Imagine que há pouco tempo aconteceu uma guerra biológica na Terra, que por algum motivo fez com que se alastrasse uma epidemia de vampirismo. Imagine que embora exista explicação científica para aqueles seres de dentes pontudos andando na calçada na frente da sua casa à noite, ainda assim muito do “mito” prevalece: eles fogem de alho e de cruz, morrem com uma estaca no coração e morrem com a luz solar.

Agora imagine que dentro desse cenário, você é o único sobrevivente. Preso dentro de sua casa, agora transformada em uma ‘fortaleza anti-vampiro’, podendo sair apenas quando o sol ainda brilha. Imaginou? Bem, essa é basicamente a trama de Eu sou a Lenda, de Richard Matheson.

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Ai!

Acabo de voltar do salão, onde fui tirar o excesso de sobrancelha (eu invejo as mulheres que não precisam pagar por isso, mas meu astigmatismo não permite que eu faça esse tipo de coisa sozinha em casa). Sabe, ser mulher dói. Pacaceta. E tem coisas meio sem sentido, tipo tirar o excesso de sobrancelha, enquanto tem tanto homem pelas ruas com tarântulas sobre os olhos e que nunca pensaram em ser pinçados para parecerem mais “cute” para as mulheres.

Nessas horas em que começo a reclamar das agruras da vida feminina, sempre lembro de um trecho sobre a Sabina, em A Insustentável Leveza do Ser (my personal bible =P ):

Ser mulher é para Sabina uma condição que ela não escolheu. Aquilo que não é conseqüência de uma escolha não pode ser considerado como mérito ou fracasso. Diante de uma condição que nos é imposta, é preciso, pensa Sabina, encontrar a atitude certa. Parecia-lhe tão absurdo insurgir-se contra o fato de ter nascido mulher quanto glorificar-se dsso.

Éééé… e Deus abençoe a pinça! Abaixo ao sovaco cabeludo! :dente:

O que veio antes, a música ou a dor?

Eu ouvia a música porque estava infeliz? Ou estava infeliz porque ouvia a música? Esses discos todos transformam você numa pessoa melancólica?

As pessoas se preocupam com o fato das crianças brincarem com armas e dos adolescentes assistirem vídeos violentos; temos medo de que assimilem um certo tipo de culto à violência. Ninguém se preocupa com o fato das crianças ouvirem milhares – literalmente milhares – de canções sobre amores perdidos e rejeições e dor e infelicidade e perda.

(do livro Alta Fidelidade, de Nick Hornby, que além de ser uma ótima sugestão de leitura – até mesmo para os que não são muito fãs de livros – ainda corre o sério risco de ser objeto de estudo no meu Mestrado, hehe)

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Palavras, palavras, palavras…

Nesse último semestre cursei uma disciplina de Tradução e, eu que odiava traduzir, acabei tomando gosto pela coisa. Nós traduzimos textos de autores irlandeses (algum dos quais eu nunca tinha ouvido falar, devo dizer), e nessa tarefa sempre levantamos os problemas da tradução (relativa às escolhas, falta de background para entender um termo utilizado, etc.). Sim, é algo bacana – tão bacana que estou pensando em tirar diploma em tradução também (o que envolveria mais uma monografia além das outras duas que estou fazendo hehe).

Deixando o blablabla de lado, hoje cedo estava dando uma olhada básica no “A Megera Domada” do Shakespeare, com tradução do Millôr Fernandes. A obra já começa com um breve texto sobre ser tradutor que achei bem bacana, mas o mais legal ainda é ver, através das notas do tradutor, a preocupação do Millôr com o texto, como por exemplo em um momento que ele diz:

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Quem tem medo de Virginia Woolf?

Entre tantas tarefas que tinha para concluir o semestre na faculdade, uma delas era um seminário sobre Virginia Woolf. Sim, sim. É aquela moça que se afogou no rio naquele filme com a Nicole Kidman. O que era para ser só mais uma tarefa, acabou virando uma ótima experiência – pude ir além de Mrs. Dalloway e conhecer algumas jóias que essa mulher produziu.

A primeira, e a que mais chamou minha atenção, foi Flush: Uma Biografia. É considerado um dos trabalhos mais ‘leves’ de Virginia, e ela de fato escreveu para ‘passar o tempo’ depois de criar obras mais complexas. Mas saca só a idéia: é a biografia de Elizabeth Barret Browning sob o olhar de Flush, seu cocker spaniel de estimação.

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Kent

“Se eu também conseguir modificar s sons da minha voz, alterando o meu modo de falar, a minha boa intenção me fará realizar plenamente o objetivo que me levou a transformar meu aspecto.”

– Kent.

Sabe qual Kent disse isso? Nããão, não foi o Clark Kent, mas o Duque Kent da peça Rei Lear de Shakespeare. Desde que reli Lear (hehehe) esse ano, fiquei com essa fala na cabeça. Não que eu ache que o Clark seja Kent por causa do duque, mas adoro essas coincidências.

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