O óbvio em três partes

E eis que acabam as olimpíadas de 2008. Provavelmente a que menos acompanhei. Até porque convenhamos, essa coisa de ficar acordado de madrugada para ver gente praticando esporte cansa só de pensar. De qualquer modo, com o final da competição chegamos ao primeiro óbvio do dia: a participação maizomeno do Brasil. Mas sobre os esportes no Brasil eu não vou falar muito mais, não. Já falei qualquer coisa no Pan do ano passado. Deixo vocês então com uma galeria de imagens bastante interessante. Eu ainda estou tentando entender a foto do cara no barco com a bunda para fora, juro.

Outro óbvio: ontem assisti o tal do Procurado. O plot é algo mais ou menos como “nerdinho de mal com a vida descobre que o pai é um super assassino fodão e que herdou ‘poderes’ dele”. Com algo assim, é óbvio que o filme é um exagero de perseguições, explosões e balas que fazem curva. E olha, seria muito, muito legal, se tivesse senso de humor (como no caso do Mandando Bala).

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Quem é Capitu?

Eu sei que ao mesmo tempo que diversas pessoas babam por essa personagem, às vezes até querer atribuir mais mistérios do que aqueles que Machado já deixou, existe lá também uma infinidade de pessoas que tremem só de lembrar que Capitu é personagem de Dom Casmurro (também conhecido como “aquele livro chato que fui obrigado a ler”). Eu, apesar de “obrigada” a ler Dom Casmurro, confesso que estou no primeiro time.

Não que eu tenha uma adoração tremenda pela personagem. Admiro sim, é a capacidade do Machado de ter incluído em nosso imaginário essa figura que é, por si só, uma interrogação. E acredito que justamente por isso que Quem é Capitu?, recém-lançado pela editora Nova Fronteira, é tão especial: ao invés de focar no mistério básico da traição ou não, ele vai além e mostra faces e faces não só de Capitolina, mas da obra Dom Casmurro em si.

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M is for Magic (Neil Gaiman)

Então que obviamente eu aproveitei a oportunidade de estar “lá fora” para comprar uns livrinhos. Um deles foi o M is for Magic do Neil Gaiman. Trata-se de uma coletânea de contos já anteriormente publicados (menos um, que na verdade é meio que um trecho do romance que ele lançará ainda esse ano, The Graveyard Book). É um livro voltado ao público infanto-juvenil, até porque a proposta é parecida com a das coletâneas do Bradbury como “S is for Space“, levar a Literatura para o público mais jovem, mas ao contrário de Coraline, o livro serve para leitores de todas as idades, sim.

O tom predominante é, como o nome diz, a magia. Mas aqui as coisas não aparecem como um conto de fadas serelepe e bonitinho: há muita acidez, nostalgia e melancolia. Há suicídio e sexo – embora de forma velada ou mesmo metafórica. E se seguindo a escola do Mestre Poe o Gaiman peca por escrever contos até meio longos, ainda assim ele parece ter aprendido bem a lição do efeito final: algumas conclusões são daquelas que deixam você perplexo e absorvendo o que foi lido.

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Robert Frost e a poesia

Eu às vezes vejo a poesia como uma floresta: você vai abrindo seu caminho para o coração da mata aos poucos, vencendo medos (“Poesia é só para gênios!”), se alimentando de uma ou outra fruta coletada ao longo da jornada (“Ei, esse poeta é bom mesmo!”) e claro, utilizando mapas desenhados por quem já esteve lá (ou o conhecido “seguir a indicação de professores e amigos”). Mas, ao contrário do que acontece em uma exploração em um espaço real, com a poesia parece que você dificilmente desvendará todo o caminho.

Veja o meu caso, por exemplo. Eu demorei para me encantar pela poesia, de verdade. Acho que os primeiros poetas que de fato curti foram alguns haijins (não estou lembrada se é bem esse o termo usado para quem escreve haikai, quem souber por favor confirma aí), apresentados para mim através de uma coletânea de haikais da Estrela. A paixão completa mesmo só veio na universidade, com alguns professores como a Luci e o Édison, que, continuando na metáfora da floresta, entregaram não só mapas mas fotos mostrando toda a beleza desse espaço.

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Aquele abraço!

Dias atrás, através do Pensar Enlouquece cheguei ao Saco de Filó, blog que observa a tal da “blogosfera” de uma maneira ácida, e até por causa disso bastante divertida. O legal é que antes de ler o Saco de Filó eu já estava aqui matutando sobre os textos em blogs, de como cada vez mais o que tem feito “sucesso” entre leitores são posts curtos, ou aqueles com imagens e videos engraçados/legais. Em resumo: o povo não quer ler.

Até por causa disso achei o post do último sábado de uma relevância tremenda. Ele traça perfis dos tipos de leitores (e por conseqüência, comentaristas) de blogs. E antes que não entendam qual é a relação entre o blogueiro e o leitor nisso tudo, convenhamos, quem blogueia (eca) quer ser lido, caso contrário não publicaria textos na web. Então, vamos logo aos fatos: não tem essa de escrever só para botar as mágoas (?!!!) para fora ou para manter um registro pessoal. Todos nós que estamos aqui temos nossa parcela de vaidade e queremos que batam os olhos em nossas palavras, e é justamente por isso que a figura do leitor/comentarista é tão importante dentro do processo todo.

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Um pouco de ultraviolência (com leitinho, é claro!)

Hoje cedo enquanto tomava café vi a notícia sobre o tal do grupo de skinheads que espancou um policial lá em São Paulo. A violência foi tamanha que dizem que tinha até um deles pulando sobre o rosto da vítima, que obviamente ficou completamente desfigurada. E mais uma vez, são os bem nascidos filhos da classe média brasileira, carregando consigo todas as incoerências típicas. A começar, eles têm educação, mas são ignorantes. Não falta qualquer necessidade básica para eles, mas ainda assim se comportam como animais.

Eu fui dar uma pesquisada sobre o tal do movimento para não falar qualquer bobagem, e aparentemente há uma parcela do grupo que não se envolve com esse tipo de barbárie. Por outro lado, temos os casos de grupos que pregam o ódio aos negros, nordestinos (wtf?!) e homossexuais. É sobre esses que falo daqui para frente.

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Por que os livros são caros no Brasil?

O blog Hotel Terra lançou a mesma pergunta no último dia 22: Por que os livros são caros no Brasil? Eu sei que muita gente não dá a mínima para isso – e esse ‘não dar a mínima’ é uma das razões, ou talvez sintomas dos preços altos – mas de qualquer forma, eu como apaixonada por literatura vira e mexe faço essa pergunta, especialmente quando vejo chegando nas livrarias edições nem tão caprichadas que batem na casa dos 60 reais, o que independente de quanto você receba por mês, é muito caro.

A pergunta no Hotel Terra na verdade serve para abrir espaço para citar um blog de economia estrangeiro, que fez a mesma questão sobre os preços elevados dos livros por aqui. O Marginal Revolution tenta responder com quatro argumentos, embora para falar bem a verdade o primeiro já mata a charada: a maioria dos brasileiros não lê.

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Coraline

Eu até poderia escrever um post dizendo que estava decepcionada com o Gaiman ou algo que o valha, mas o fato é que livros para criança são livros para criança e assim devem ser lidos (e criticados). Muito embora a orelha da obra indique que é leitura para todas as idades, simplesmente não é (e aí quem está ‘enganando’ o leitor é a editora, não o autor, que sempre se refere à Coraline como um livro infantil). Então, desde já vamos aos fatos: é um ótimo livro infantil. Mas para quem já leu Anansi Boys e Lugar Nenhum, dá para saber que é a raspinha do que o Gaiman é capaz de escrever (e talvez por isso em um primeiro momento eu tenha me sentido decepcionada).

Um ponto bem interessante são as imagens criadas pelo Gaiman. Aqui é coisa de gente grande mesmo, até porque é Coraline é uma história de terror (na realidade, uma espécie de Alice no País das Maravilhas de terror). A descrição da “outra casa” e as personagens que a habitam são descritos com uma riqueza de detalhes que é admirável porque não faz da narrativa algo chato, mas colabora justamente para o tom de horror (vide o “outro pai” quando chega mais no final do livro).

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O Apanhador no Campo de Centeio

Dia desses eu comentei sobre como achava idiota assistir a certos filmes só porque diversas pessoas o consideram um “must”, mas o fato é que eu não consigo aplicar a regra aos livros. Não mesmo. Alguns deles são comentados por tantas pessoas diferentes, e com tanta freqüência que eu simplesmente não consigo deixar para lá e não ler.

Aí que eu estava encucada com “O Apanhador no Campo de Centeio” do J. D. Salinger, com indicadores que variam desde Renato Russo até amigos que fiz pela Internet. Então uma aluna minha emprestou o livro para mim (ela também emprestou O Caçador de Pipas, então deixo aqui meu abraço para a Nádia), e agora eu finalmente pude conferir. E antecipo desde já: é um dos mais bacanas que já li.

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