Desgracida (Dalton Trevisan)

Lembro de uma certa discussão na qual um rapaz de São Paulo questionava “Por que vocês curitibanos se acham donos de Dalton Trevisan?”. Na época até pensei em responder qualquer coisa sobre familiaridade, mas acho que hoje em dia eu entendo a revolta do leitor. Dalton transforma Curitiba no mundo (como Rosa fazia com o sertão? Não sei.), porque embora em certos momentos o curitibano tenha a nítida sensação de estar andando com as personagens por ruas que conhece tão bem, se você tira esse reconhecimento do espaço, o que fica é o humano – retratado às vezes com uma simplicidade que não tem como não visualizar o mini-conto como um episódio da vida do leitor, ou de um conhecido do leitor.

Desgracida, coletânea de contos lançada em julho pela Editora Record, deixa isso ainda mais evidente. Sim, você ainda pode sair em busca de Curitiba Perdida, mas repare como os contos poderiam estar em qualquer lugar. E são deliciosos, talvez até pela concisão: rápidos e rasteiros, você lê o livro em uma hora e fica querendo mais. Até porque está tudo ali, mais uma vez – a acidez, o humor, a delicadeza. Plural de pequenos eventos, um melhor que o outro.

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2666: A parte de Fate

Dando continuidade à leitura de 2666 de Roberto Bolaño, acabo de terminar A parte de Fate. Para quem chegou aqui agora, vale lembrar que estou escrevendo sobre a obra aos poucos, seguindo a ideia inicial de Bolaño de que cada parte seria um livro. Sobre A parte dos críticos você pode ler o artigo clicando aqui, e sobre A parte de Amalfitano você pode ler clicando aqui. Vamos seguir então aos comentários sobre a terceira parte de 2666.

Eu estava com algumas leituras acumuladas, e acabou que passou mais de um mês entre a conclusão da parte anterior e a dessa. O que no final das contas foi algo positivo, acabou possibilitando um envolvimento com a nova personagem (o jornalista norte-americano Fate) que provavelmente não seria possível se eu tivesse engatado a leitura buscando os críticos ou Amalfitano. Porque é assim que começamos, com uma personagem completamente nova, em um lugar completamente novo e só pensando o que é que isso tudo tem a ver com o que tinha sido lido até então.

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A vitória de Orwell (Christopher Hitchens)

Sempre que penso em escritores cuja biografia renderiam por si só um romance, lembro de uma frase de Oscar Wilde em O retrato de Dorian Gray, que dizia “Um grande poeta é a menos poética de todas as criaturas. Parece que escreve a poesia que não consegue viver, enquanto poetas inferiores vivem a poesia que não conseguem escrever“. Óbvio, lembro da frase porque Wilde mesmo provou que o raciocínio não estava sempre certo – e a realidade é que eu me surpreendo muito com a quantidade de vezes que algum grande escritor parece contrariá-lo.

Veja só o caso de George Orwell. Tomando apenas os trabalhos mais conhecidos, como 1984 e Revolução dos Bichos, é indiscutível a importância desse escritor para a literatura do século XX. E se ao bater os olhos nas fotos de Eric Arthur Blair (nome de batismo do autor) você pensa que era só um tiozinho que escrevia umas boas histórias entre uma xícara de chá e outra, temos A vitória de Orwell (de Christopher Hitchens) para mostrar o contrário. Continue lendo “A vitória de Orwell (Christopher Hitchens)”

Camisetas para apaixonados por literatura

Achei isso no blog Girl Gone Geek e me apaixonei. A Novel-T é uma loja especializada em camisetas que fazem referências literárias (ahá, sacou o nome da loja?), divididas em duas categorias: American Canons e National Puncs. Muito legal mesmo, até porque cada “time” tem um símbolo relacionado com algo da obra ou autor citado (Poe vem com um corvo ou um coração, Quixote com um moinho de vento, Hester Prynne com o “A” da Letra Escarlate, etc.). Saca só (para ampliar as imagens, basta clicar sobre elas):

Quero o site todo!! *_*

Diego e Frida: Biografia (J.M.G. Le Clézio)

Meu primeiro contato com a pintora mexicana Frida Kahlo foi através do filme Frida (2002), uma adaptação de Frida: A Biography of Frida Kahlo de Hayden Herrera. Como pareceu uma personagem forte cuja biografia se confunde de forma muito interessante com a obra, fiquei bastante interessada quando soube da publicação no Brasil do livro Diego e Frida: Biografia, do vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2008, J.M.G. Le Clézio.

Inicialmente fiquei preocupada que fosse muito parecido com o que já tinha assistido, mas o comprometimento em falar não só de Frida, mas também de seu marido Diego Rivera, acabam por garantir uma nova perspectiva sobre a história. E Le Clézio conduz muito bem essa biografia, mesclando a narrativa sobre a vida dos dois artistas de tal modo que deixa clara a ideia de que tudo o que fizeram jamais teria a mesma beleza se nunca tivessem ficado juntos. Apesar da importância da arte tanto para Frida quanto para Diego, outra constante que fica clara já no Prólogo é a presença da política. Os dois tinham modos diferentes de pensar sobre o tema, mas a todo momento os ideais políticos dos protagonistas se mesclam com suas criações. Assim como o amor de um pelo outro acaba servindo como elemento para a obra, por isso da importância de conhecer a história não só sob o ponto de vista de Frida (como acontece na cinebiografia), mas também de Diego. Continue lendo “Diego e Frida: Biografia (J.M.G. Le Clézio)”

O beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e Revolução

A Flip começou quarta e segue até domingo trazendo muitas discussões e novidades sobre Literatura e assuntos relacionados. Um dos nomes da festa literária é o historiador norte-americano Robert Darnton, que estará presente em duas mesas que debaterão o futuro do livro. A primeira, na quinta-feira às 19:30h, com Peter Burke e a segunda na sexta-feira às 10h, com John Makinson. E marcando a vinda de Darnton para o Brasil, a Companhia das Letras relançou no fim do mês passado O beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e Revolução em formato de bolso.

Trata-se de uma série de textos publicados pelo historiador, que já na introdução Darnton deixa claro ao leitor que não apresentam necessariamente uma ordem ou conexão. E de fato, cada parte parece um pequeno livro que em comum tem apenas a relação do homem com o texto impresso, e muito da experiência do autor sobre a França do século XVIII para ilustrar o que está sendo comentado. Continue lendo “O beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e Revolução”

Plim-plim

Propaganda cara-de-pau do Meia Palavra, mas vocês sabem, é um cantinho que me enche de orgulho e tudo o mais. Então, para quem perdeu, vamos lá:

  • Como aquecimento para a chegada do autor no Brasil, começamos a promoção “Conn Iggulden na Bienal”, que vai até dia 03/08. Se ainda não participou, ‘bora lá mandar email.
  • 10 Perguntas e Meia para Tony Belotto – siiiim, o Tony Belotto dos Titãs e dos livros do Bellini. Boa entrevista, vale a pena dar uma conferida. E fiquem espertos porque logo chega outro 10 Perguntas e Meia muito legal.
  • A lista de sugestões d’Os 14 Casais Fofos da Literatura que está rolando lá no Votorama MTV foi criada por membros do Fórum Meia Palavra. A enquete ficará aberta por mais 20 dias, e eu até sugeriria uma trollagem nérdica que tirasse Harry Potter e Crepúsculo das primeiras colocações, mas meeeh, deixa a rapaziada ser feliz.
  • E bem, aproveitando para deixar o convite: se tiver algum artigo que você queira publicar no Blog Meia Palavra, basta mandar um email para [email protected]. E se ainda não visitou o Fórum Meia Palavra, passa lá que no momento está rolando uma discussão bem legal sobre Cândido do Voltaire no Clube de Leitura.

2666: A parte de Amalfitano

Continuando a leitura de 2666 de Roberto Bolaño, terminei ontem à noite a segunda parte (A parte de Amalfitano). Para situar quem acabou de chegar, estou seguindo na direção contrária do que foi adotado pela família do autor (publicação do que seriam cinco livros em um só) e fazendo os comentários aos poucos, sempre antes de iniciar a parte seguinte. Minhas opiniões sobre a primeira parte (A parte dos críticos) você pode encontrar aqui.

Eu sei que em teoria estou lendo o livro tal e qual a qualquer um – até porque mal estou interrompendo a leitura. Por causa disso acho que as sensações que tive sobre A parte de Amalfitano não serão tão diferentes, talvez só os achismos sobre o que as outras três partes podem trazer, o que será até divertido de confirmar depois. A verdade é que se não fosse a já familiar dificuldade para ler o catatau na cama, fiquei em alguns momentos com a impressão que tratava-se de um outro livro.

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Louras Zumbis (Brian James)

Já vão aí uns dois anos em que o que mais se tem visto sobre lançamentos para o público jovem são histórias de amor entre uma garota e alguma figura sobrenatural (o segundo normalmente sendo vampiro, certo?). A fórmula básica se repete exaustivamente, com pequenas variações que não chegam a de fato fazer diferença porque no fim é tudo sobre o sujeito diferentão que atrai a menina para sua vida, que apresenta supostos perigos. No final das contas, quem ainda busca esses livros atrás de diversão acaba se desapontando e simplesmente deixando de lado títulos novos, pensando que será mais do mesmo.

E é por isso que li com certo alívio Louras Zumbis, de Brian James lançado aqui no Brasil pela Galera Record. Quando fiquei sabendo sobre o título, pensei que lá vinha outra história com uma heroína desajeitada perdidamente apaixonada, só que dessa vez por um zumbi. Bem, as coisas são diferentes com Louras Zumbis, porque não se trata de um livro romântico, mas de ação (ou, sendo mais específica, de horror). Continue lendo “Louras Zumbis (Brian James)”

Burnt Offerings (Laurell K. Hamilton)

Então que tem aí uns dois anos que estou lendo livros de vampiros para cá, livros de vampiro para lá. Eles parecem ter em comum mais do que os dentuços. Eles costumam vir em séries também. E o público-alvo é quase sempre a mulherada. Pode reparar aí: Crepúsculo, Vampire Diaries, Vampire Academy, The Southern Vampire Mysteries (que deram origem ao True Blood)… Enfim, dessa patota toda, o que eu achava que tinha mais chances de agradar também a macharada era a série Anita Blake.

Aquela coisa: não focava tanto na melação das relações da protagonistas com sujeitos perfeitos mas em crimes envolvendo o sobrenatural, já que Anita é uma necromancer que ajuda a polícia em investigações envolvendo vampiros, ghouls, lobisomens, etc. E a coisa funciona porque Anita por si só não tem nada a ver com as “mocinhas em perigo” das demais séries, que acabam sempre tendo que ser protegidas pelos vampirões que amam e blablabla. Anita é forte, independente e gosta de manter-se assim. A narrativa em primeira pessoa ajuda também na construção da personalidade da protagonista, incluindo elementos legais como o senso de humor cáustico e a visão dela sobre o que seriam “os monstros”.

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