Harry Potter e a Câmara Secreta (J.K. Rowling)

Sigo firme com minha meta de ler toda a série do Harry Potter antes de chegar aos 30.  Agora são mais 5 livros para ler em 3 meses, o que até daria conta com tranquilidade se as histórias não fossem aumentando exponencialmente, né? Aliás, já notaram como isso costuma acontecer com coleções de sucesso? Eu até consigo imaginar a conversa na editora, a escritora manda a primeira versão lá com suas 200 e tantas páginas e aí o sujeito pergunta “Mas não dá para colocar mais detalhes sobre o Quadribol? E por que não mais informações sobre os fantasmas de Hogwarts? O público vai adorar e nem vai se importar de pagar um pouco a mais em um livro maior! Todo mundo fica feliz!“.

De fato, Harry Potter e a Câmara Secreta é um tanto mais enrolado (ok, mais cheio-de-detalhes) do que o primeiro título da série, mas a estrutura é semelhante (e não faço ideia se vai se repetir nos próximos livros): um pouco da vida de Harry com os tios, chega à Hogwarts, um mistério se apresente, Harry quebra várias regras da escola para desvendar o mistério, Harry se dá bem, Harry volta para casa. O negócio é que por ter mais detalhes, parece que Rowling teve melhor oportunidade para desenvolver a parte do mistério, que na minha opinião ficou bem melhor do que em Harry Potter e a Pedra Filosofal.

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Putas Assassinas (Roberto Bolaño)

Publicado no Brasil pela Companhia das Letras pela primeira vez em 2008, e agora em 2010 ganhando a primeira reimpressão, Putas Assassinas trata-se de uma coletânea de contos do escritor chileno Roberto Bolaño. Eu confesso que ainda estou começando a conhecer o autor (lendo 2666 aos poucos, lembram?) e fiquei bastante impressionada com o que vi, ainda mais quando os fãs de Bolaño dizem que esse é o livro mais fraco dele. Se realmente é, fico imaginando os demais deve ser excelente.

Não é que todos os contos sejam perfeitos. Mas todos chamam a atenção por algum aspecto, mesmo os que se revelam mais sem graça. Os temas são recorrentes (e inclusive ecoam no romance 2666): sexo, violência, exílio, pesadelo. A maioria das personagens mostram aquele deslocamento de quem vive em vários lugares mas não reconhece nenhum como seu. São de outros países, vão para outros países e se perdem, tentando se encontrar em resgates de memória.

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Mais um da série: Eu não disse?

Dias atrás no meu post sobre o Kindle (aeee, ganhei um de presente do Fábio!!!) comentei sobre a questão dos preços dos e-books. Aquela coisa: em alguns casos o valor do formato digital ficava mais caro do que do livro impresso, o que convenhamos, é meio idiota se você considerar o corte no custo de papel, impressão, distribuição e afins. E aí eu falei:

Eu já vi esse filme antes, e o final não foi legal para quem estava muitcho loco atrás de lucro, devo dizer.

Eis que acabo de ler isso aqui na Folha: Cresce a pirataria de e-books, indica estudo. Ok, no final das contas isso era mais do que esperado, ainda mais que aqui no Brasil temos que somar o fato de que algumas editoras acabam demorando um tico para lançar as traduções de certos livros e o pessoal adere às traduções porquinhas que rolam pela inet (vide o caso da Arx com os títulos da Charlaine Harris) e presto! Por isso fica o registro: eu não disse? =P

Harry Potter e a Pedra Filosofal (J.K. Rowling)

Quando viu que eu estava lendo Harry Potter e a Pedra Filosofal meu amigo perguntou se eu estava querendo entrar no livro dos recordes como a última pessoa a ler esse livro. A piada faz sentido: 13 anos após o lançamento original,10 após a chegada ao Brasil e cá estou eu, na minha primeira-segunda vez com o título.

Explico: já tinha lido anteriormente (tem aí uns sete anos), mas não me agradou. Falaram que a tradução que era meio fraquinha mas que se lesse no original eu iria gostar. E ano após ano eu fui adiando a tal da leitura “no original”, até que vi uma caixa bacana para vender na Amazon e defini uma meta: terminar a série antes de chegar os 30 anos. A saber, tenho 29.

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A Valsa dos Adeuses (Milan Kundera)

Poucos títulos conseguem dar conta de uma obra como acontece no romance A Valsa dos Adeuses, de Milan Kundera. A imagem da valsa é tão forte e representa tão bem o todo, que acompanha o leitor mesmo quando o livro acaba. Uma obra-cebola, cheia de camadas que você só vai percebendo a medida que vira as páginas. Nesse caso lembra muito algumas comédias de Shakespeare, que conseguia mesclar o cômico com o trágico de uma maneira ímpar.

A história começa com Ruzena (uma enfermeira de casa de banho) entrando em contato com um famoso trompetista para avisá-lo que espera um filho dele. As implicações desse primeiro fato se desenvolvem de forma extremamente interessante, sobretudo se pensarmos na questão da relação das personagens e leitores. Não quero influenciar julgamentos (até porque essa é uma das diversões da obra), mas chegando pela metade do livro relembre quais foram seus sentimentos/reações para o que é contado no começo: qual personagem ganhou sua simpatia, qual mereceu a antipatia e por aí vai.

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Dead in the Family (Charlaine Harris)

Como comentei no meu post de test-drive do Kindle 3, eu testei o e-reader com a versão eletrônica do décimo livro da coleção que inspirou a série True Blood da HBO. Lançado em maio desse ano, Dead in the Family deixa bem claro qual será o tema principal da história de Sookie e companhia nesse livro: os entes queridos. Às vezes nem tão queridos assim, hehe. Já aviso para quem acompanha True Blood que talvez seja uma boa não ler esse post porque pode ter alguns spoilers (vá saber se a série durará dez anos, ou se continuarão mantendo alguma fidelidade aos livros, né…).

Quem já está acostumado com os livros sabe que Charlaine Harris descobriu ali um jeitinho de garantir o ganha pão, e estica a narrativa ao máximo, dando pouco tempo de intervalo entre os acontecimentos. Aqui Sookie começa lidando com os eventos de Dead and Gone: se recuperando da tortura que sofreu na mão de fadas (é estranho usar fadas para homens, se alguém tiver alguma tradução para fairies que seja masculina me avisa _o/ ) e da morte de Claudine, está “casada” com Eric, a cidade ainda reage a “saída do armário” dos shifters e por aí vai.

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Test-drive: Kindle 3

O pessoal que me conhece sabe da minha paixão por livros. Não, não estou falando da paixão por leitura, embora eu também a tenha. Mas é aquela coisa quase de fetiche, de colecionar edições bacanas de títulos que gosto (Bartleby, oi?), ter o maior orgulho de possuir daquelas tiragens especiais (tipo a de O Senhor dos Anéis, que temos três aqui em casa) ou ainda o velho e ótimo prazer de sentir o cheiro de livro novo, especialmente quando esse era desejado há muito tempo (naquele esquema Felicidade Clandestina, saca?).

Considerando tudo isso, como acham que recebi o conceito de e-readers? Não só total descrença que a coisa “pegaria” mas também certa de que eu jamais gastaria dinheiro em algo assim. Eis que o Fábio estava há tempos namorando a oportunidade de comprar um Kindle (e-reader da Amazon), e quando chegou a terceira geração, ele nem esperou o lançamento: já em pré-venda tratou de garantir o dele. A engenhoca chegou tem uns dias aqui em casa, e durante o feriado eu resolvi fazer um test-drive, até porque né, triste não é mudar de opinião (e não ter opinião para mudar, há!).

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Desgracida (Dalton Trevisan)

Lembro de uma certa discussão na qual um rapaz de São Paulo questionava “Por que vocês curitibanos se acham donos de Dalton Trevisan?”. Na época até pensei em responder qualquer coisa sobre familiaridade, mas acho que hoje em dia eu entendo a revolta do leitor. Dalton transforma Curitiba no mundo (como Rosa fazia com o sertão? Não sei.), porque embora em certos momentos o curitibano tenha a nítida sensação de estar andando com as personagens por ruas que conhece tão bem, se você tira esse reconhecimento do espaço, o que fica é o humano – retratado às vezes com uma simplicidade que não tem como não visualizar o mini-conto como um episódio da vida do leitor, ou de um conhecido do leitor.

Desgracida, coletânea de contos lançada em julho pela Editora Record, deixa isso ainda mais evidente. Sim, você ainda pode sair em busca de Curitiba Perdida, mas repare como os contos poderiam estar em qualquer lugar. E são deliciosos, talvez até pela concisão: rápidos e rasteiros, você lê o livro em uma hora e fica querendo mais. Até porque está tudo ali, mais uma vez – a acidez, o humor, a delicadeza. Plural de pequenos eventos, um melhor que o outro.

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2666: A parte de Fate

Dando continuidade à leitura de 2666 de Roberto Bolaño, acabo de terminar A parte de Fate. Para quem chegou aqui agora, vale lembrar que estou escrevendo sobre a obra aos poucos, seguindo a ideia inicial de Bolaño de que cada parte seria um livro. Sobre A parte dos críticos você pode ler o artigo clicando aqui, e sobre A parte de Amalfitano você pode ler clicando aqui. Vamos seguir então aos comentários sobre a terceira parte de 2666.

Eu estava com algumas leituras acumuladas, e acabou que passou mais de um mês entre a conclusão da parte anterior e a dessa. O que no final das contas foi algo positivo, acabou possibilitando um envolvimento com a nova personagem (o jornalista norte-americano Fate) que provavelmente não seria possível se eu tivesse engatado a leitura buscando os críticos ou Amalfitano. Porque é assim que começamos, com uma personagem completamente nova, em um lugar completamente novo e só pensando o que é que isso tudo tem a ver com o que tinha sido lido até então.

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A vitória de Orwell (Christopher Hitchens)

Sempre que penso em escritores cuja biografia renderiam por si só um romance, lembro de uma frase de Oscar Wilde em O retrato de Dorian Gray, que dizia “Um grande poeta é a menos poética de todas as criaturas. Parece que escreve a poesia que não consegue viver, enquanto poetas inferiores vivem a poesia que não conseguem escrever“. Óbvio, lembro da frase porque Wilde mesmo provou que o raciocínio não estava sempre certo – e a realidade é que eu me surpreendo muito com a quantidade de vezes que algum grande escritor parece contrariá-lo.

Veja só o caso de George Orwell. Tomando apenas os trabalhos mais conhecidos, como 1984 e Revolução dos Bichos, é indiscutível a importância desse escritor para a literatura do século XX. E se ao bater os olhos nas fotos de Eric Arthur Blair (nome de batismo do autor) você pensa que era só um tiozinho que escrevia umas boas histórias entre uma xícara de chá e outra, temos A vitória de Orwell (de Christopher Hitchens) para mostrar o contrário. Continue lendo “A vitória de Orwell (Christopher Hitchens)”