Para ler o livro ilustrado (Sophie Van der Linden)

Carregado do preconceito de “coisa para criança”, o livro ilustrado (ou picture book em inglês) parece render pouca discussão e até mesmo merecer pouca atenção do público mais velho. Mas fica a ênfase para a palavra “parece”, como mostra Sophie Van der Linden em seu excelente Para ler o livro ilustrado (publicado no Brasil recentemente pela Cosac Naify). Através de uma pesquisa bastante aprofundada ela nos mostra que de simplório esses livros não têm nada, e possuem mecanismos próprios e complexos, no que vem a ser uma combinação do texto com a imagem.

Como a autora mostra ao longo do seu estudo, o livro ilustrado evoluiu muito desde as primeiras versões em xilogravura do século XVIII até os dias de hoje. Os artistas exploram cada vez mais a infinidade de possibilidades do casamento entre a escrita e a ilustração, indo muito além de um simples contar história. Ele chama o leitor para dentro dela, faz com que ele participe, faça parte daquilo. O livro vem como uma máquina cujo motor é o leitor.

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Luka e o Fogo da Vida (Salman Rushdie)

Vinte anos após a publicação de Haroun e o Mar de Histórias, Salman Rushdie publica o que seria uma continuação desse primeiro livro, Luka e o Fogo da Vida. De fato, personagens do primeiro livro reaparecem, mas como o foco desta vez é o caçula do contador de histórias Rashid Khalifa, o que temos é uma obra que pode ser lida de forma independente sem apresentar qualquer dificuldade de compreensão.

Luka e o Fogo da Vida foi escrito para o filho mais novo de Rushdie, e assim voltado para o público infantojuvenil. Mas é o típico caso de livro escrito para um público mas que pode agradar todo tipo de leitor, porque resgata não só a magia de histórias já conhecidas (sejam de mitologias milenares, seja do imaginário da cultura pop), mas também a estrutura básica dos contos populares, dando aquela sensação de familiaridade com o texto que permite para quem o lê simplesmente se deixar levar pela história, seduzido página após página pelo mundo encantado criado por Rushdie.

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Balanço Literário do Mês: Abril

Há quem diga que o melhor jeito de começar a odiar literatura é cursar Letras. Se isso é verdade, então eu posso dizer que dei sorte, acabei conhecendo professores que me apresentaram gente que ainda não conhecia, e criaram em mim paixão e respeito por outros que já conhecia, mas pensava não gostar. Porém, não vou negar que há algo bastante chato sobre o curso, especialmente se seu bacharelado é em Estudos Literários como foi o meu. Vai soar estranho o que direi, mas a parte chata é que você lê muito.

“Está louca? Isso é exatamente meu sonho!”. Pois sim, meu pequeno gafanhoto, era o meu também quando optei por esse curso e esta habilitação. A questão é que são leituras obrigatórias. E mesmo que dentre dessas obrigatórias eu quase sempre tivesse um prazer enorme em ler, ainda assim elas continuavam com esse status de… hum, obrigatórias. E aí eu lia muito, muito mesmo. Mas do que eu queria mesmo, era nada, porque quando chegavam as férias era óbvio que eu queria mais é descansar.

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Oriente, Ocidente (Salman Rushdie)

A crítica literária sempre debate sobre o real peso da biografia de um autor na compreensão de sua obra, debate esse marcado por dois extremos: os que acham que é perigoso interpretar um texto considerando a vida do autor, e os que acham que é simplesmente fundamental. De minha parte continuo achando que o ideal é o meio termo, antes de tudo saber identificar quando dados biográficos realmente vão de encontro ao texto, podendo ser então utilizados para o estudo da obra.

No caso de Salman Rushdie, escritor nascido em Mumbai na Índia, mas que ainda jovem foi estudar na Inglaterra, acredito que deixar de lado sua biografia chega quase a ser um pecado, ainda mais no caso de Oriente, Ocidente, coletânea de contos publicada originalmente em 1994 e que agora a Companhia das Letras lança em formato de bolso através do selo Companhia de Bolso. O título mostra de bastante óbvia o que veremos nas (poucas!) 168 páginas do livro: mundos aparentemente tão diferentes se mesclam, criando uma literatura sem pátria, sem fronteiras – tal e qual acontece com pessoas como Rushdie, nascidas em um lugar mas que passaram a viver muito tempo de vida em outro.

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Lolita (Vladimir Nabokov)

Publicado originalmente em 1955, Lolita do escritor russo Vladimir Nabokov chega com nova tradução no Brasil pelo selo Alfaguara. São aí mais de 50 anos que dividem o momento da primeira publicação (após a recusa de diversos editores) para essa tradução de Sergio Flaksman. E mesmo com todo esse tempo, Lolita ainda é um livro moderno, que mais do que sobrevive ao tempo: consegue se moldar de acordo com o momento em que o leitor tem o livro em mãos.

Isso porque para quem passa da primeira parte do romance, fica mais do que óbvio que ele vai muito além do suposto teor erótico que marcam os primeiros momentos do livro. Nabokov chega a zombar no artigo “Sobre um livro entitulado Lolita” (escrito em 1956 e presente nesta edição da Alfaguara) que alguns dos leitores que abandonaram a obra o fizeram levando em conta a primeira parte, achando que a narrativa seguiria esse caminho. E complementa: “Se acharam ou não que seria pornográfico não me interessava. Sua recusa em comprar o livro baseava-se não em meu tratamento do tema, mas no tema em si, pois existem pelo menos três temas que são totalmente tabu no entender dos editores americanos.

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A Morte de Bunny Munro (Nick Cave)

É complicado começar a falar de A Morte de Bunny Munro sem comentar sobre o autor, Nick Cave, até porque a simples menção desse nome já explica a curiosidade de muita gente sobre o título. Ele é bastante conhecido como músico, através do seu trabalho com The Bad Seeds (sempre com canções envolvendo morte, religião e outros assuntos polêmicos), mas quando o assunto é arte ele não para aí: já escreveu roteiros e até atuou em certos filmes (dá uma conferida aqui) e lá fora já publicou dois romances.

A Morte de Bunny Munro é o segundo, porém é o primeiro que ganha tradução aqui no Brasil, dando a chance para muitas pessoas daqui conhecerem essa outra face do músico por trás de canções como Red Right Hand e Into My Arms. E para quem está com medo de se decepcionar, fica desde já o aviso: o escritor também sabe agradar muito bem seu público.

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Ficção de Polpa Crime! (Vários)

O lançamento mais recente da série Ficção de Polpa foi lançado com uma proposta bem definida, como já mostra o título “Crimes!”, dando lugar à sequência numerada dos anteriores. E se nos outros volumes mesmo com um tema principal (horror, ficção científica e conto fantástico) ainda assim os contos circulavam livremente entre gêneros, agora nesse quarto livro isso não acontece: são histórias de detetive, do começo ao fim. Outra diferença sobre os outros números da série é que o número de contos é menor, porém esses são mais longos (e todos são ilustrados).

Uma vez que são menos contos, é até possível falar um pouco de cada um deles. No geral, são todos ótimos e certamente agradarão aos fãs de histórias policiais, até porque são todos combinações de elementos já conhecidos desse universo literário, mas com enredos ou estilos de narrativas bastante inovadores, diferentes.

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Ficção de Polpa Vol.3 (Vários)

E então você já está familiarizado com a série e sabe mais ou menos o que esperar do livro que tem em mãos. Pelo menos você pensa isso quando começa a ler Ficção de Polpa vol.3, da Não Editora. Mal passa a Introdução, já damos de cara com uma surpresa: a primeira história não é um conto, é história em quadrinhos! Com roteiro de Guilherme Smee e arte de Jader Corrêa, O Quarto Desejo abre a coletânea já mostrando qual será o tom predominante: o fantástico.

Talvez não só fantástico, mas também maravilhoso. Retomando a discussão proposta na Introdução de Contos Fantásticos do Século XIX escrita por Italo Calvino, em todas elas temos o elemento sobrenatural, que foge da nossa realidade. Mas a sutil diferença é que no caso do conto fantástico, temos uma explicação sobre os eventos da narrativa, enquanto no maravilhoso há pura e simplesmente uma suspensão da realidade, o leitor compra aquela história como “real” e aceita os fatos sem questioná-los. É mais ou menos o que acontece já com O Quarto Desejo, no qual temos um homem que pode fazer quatro desejos para um gênio: você não questionará se é possível a existência de um gênio, apenas seguirá os desdobramentos da narrativa.

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As Intermitências da Morte (José Saramago)

No dia seguinte ninguém morreu. É como José Saramago abre o livro As Intermitências da Morte, publicado originalmente em 2005. O que se vê a seguir é o que aconteceria se a morte (sim, ela insiste no uso da letra minúscula) não cumprisse seus deveres. Inicialmente recebida como uma boa notícia, logo se percebe que “não morrer” não é exatamente o maior desejo do ser humano, visto que “não morrer” quando você está doente e sofrendo não parece uma boa perspectiva, por exemplo.

A partir dessa ideia das “férias” da morte, Saramago mais uma vez usa de sua língua ferina para criticar diversos setores de nossa sociedade e, por que não dizer, nós mesmos. Mas a crítica é feita com um senso de humor formidável, fazendo da obra talvez uma das mais leves que já tive a oportunidade de ler de Saramago, o que não deixa de ser irônico visto que lida com um dos nossos maiores tabus.

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Ficção de Polpa Vol.2 (Vários)

Então que uma banda que até aquele momento você não conhecia tem um álbum de estréia que é simplesmente viciante, você não consegue parar de ouvir. Um tempo depois, eles anunciam que logo lançarão o segundo álbum. E aí vem aquele medo: será tão bom quanto o primeiro? Tem como ser melhor? E se for ruim, desisto da banda ou faço de conta que só existiu o trabalho que era bom? E com esse medo todo vem misturada uma curiosidade tremenda para saber logo a resposta.

A verdade é que com livros a coisa não é muito diferente, seja com autores ou projetos novos. Tome o exemplo do Ficção de Polpa, da Não Editora. O primeiro volume da série é arrebatador, daqueles que eu fico pensando em dar de presente para todo mundo desde que conheci. E claro que fiquei com vontade de conferir o segundo, mas ele estava esgotado. Aí agora no final de março, junto com o quarto volume (o Ficção de Polpa: Crime!) saiu a reimpressão do volume 2 e aí foi hora de ver se era banda de um sucesso só (há!) ou não.

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