O Lobo Voltou! (Geoffroy de Pennart)

Considerando os livros infantis, é muito engraçado como algumas vezes o texto parece ser simplesmente perfeito para que a história seja lida por um adulto para uma criança. É o caso de O Lobo Voltou! do francês Geoffroy de Pennart. O conto que reúne diversas personagens bastante conhecidas do imaginário infantil (como Chapeuzinho Vermelho ou os Três Porquinhos) fala da volta do temido Lobo, aquele mesmo, o maior vilão de todos os contos de fada.

O divertido é que talvez pelo ritmo da história, somado ao negrito da frase que se repete constantemente O LOBO VOLTOU!, o livro parece que pede para ser lido em voz alta, até para ajudar na construção dessa atmosfera de suspense ao redor do retorno do Lobo. E certamente uma leitura que poderá agradar muito ao pequeno que a escuta, por causa do tom de humor que toma conta do livro.

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O cobertor de Jane (Arthur Miller)

Dia desses encontrei uma lista com sete livros infantis de autores de literatura adulta, e me surpreendi com alguns títulos. Você sabia que James Joyce escreveu um livro para crianças? Eu não. E foi com a mesma surpresa que vi o lançamento que saiu este mês pelo selo Companhia das Letrinhas,O cobertor de Jane. Escrito por ninguém mais, ninguém menos do que Arthur Miller, o mesmo autor de As Bruxas de Salem e A Morte do Caixeiro Viajante.

A história é bastante singela, falando principalmente sobre o crescimento, de como envelhecer significa também deixar certas coisas para trás. Jane tem um cobertorzinho cor-de-rosa (que chama de “betô”) desde bebê, e a medida que vai crescendo o cobertor fica cada vez mais pequeno para ela. São várias as vezes que ela quase o abandona, mas acaba buscando o “betô” novamente – até que chega a hora da separação definitiva.

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Paris é uma festa (Ernest Hemingway)

Vencedor do prêmio Nobel em 1954, o norte-americano Ernest Hemingway parece personagem de ficção. Basta uma olhada rápida em sua biografia para se dar conta de como esse homem viveu intensamente: esteve presente na Primeira Guerra Mundial como motorista de ambulância, foi correspondente estrangeiro de jornal, conheceu pessoas que depois de algum tempo viriam a entrar na lista de personalidades favoritas de muitas pessoas.

É por causa disso que Paris é uma festa (A Moveable Feast) embora biográfico tenha todo o charme de um romance. Descrevendo os anos que Hemingway viveu em Paris, ainda dando os primeiros passos na carreira de escritor, o livro vem cheio de personagens fascinantes, ainda mais quando se sabe que são reais, e quanto influenciaram o trabalho de Hemingway.

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Roadside Picnic (Arkady and Boris Strugatsky)

Publicado pela primeira vez em 1972, o breve romance de ficção científica Roadside Picnicde Arkady and Boris Strugatsky é uma história para agradar não apenas aos fãs do gênero. Na narrativa ficamos sabendo que seres extraterrestres visitaram a Terra por um curto período de tempo, foram embora e deixaram para trás o que os cientistas chamariam de “Zonas de Visitação”, lugares onde estranhos fenômenos acontecem e que por conta dos perigos da região passaram a ser fechados para pessoas que não estivessem estudando os objetos ou os fatos que ocorrem lá. Porém, algumas pessoas tornaram-se “stalkers”, gente que entra nas zonas à noite para roubar o que encontrassem dos alienígenas para então vender por um alto preço para pessoas de fora. É em um desses stalkers que o romance se concentra, Redrick Schuhart.

É interessante observar a estrutura de Roadside Picnic, que prepara o leitor para o (fortíssimo) desfecho. Ao todo são cinco capítulos se considerarmos a entrevista na abertura como tal. A entrevista com o doutor Valentine Pilman situa o leitor no universo do livro: a questão da visita dos extraterrestres, como os cientistas estão lidando com o assunto, a natureza dos stalkers, etc. No segundo capítulo somos apresentados à Redrick, então com 23 anos e assistente de laboratório (e já um stalker). Esse capítulo é todo narrado por Redrick, que conhece tão bem o lugar que costuma saquear que logo traz para o leitor histórias que os cientistas desconhecem, envolvendo outros stalkers. É um capítulo importante também porque é nele que Redrick fica sabendo que sua namorada Guta está grávida.

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Boemia literária e revolução: O submundo das letras no Antigo Regime (R. Darnton)

Meu primeiro contato com a obra do professor Robert Darnton aconteceu ano passado, com O beijo de Lamourette. O livro trouxe tantas novidades no que diz respeito à pesquisa envolvendo História e literatura que despertou uma nova curiosidade em mim, que inclusive acabou influenciando algumas escolhas literárias posteriores, como por exemplo, o romance A sombra da guilhotina, que envolvia uma das especialidades de Darnton, a Revolução Francesa.

O interessante sobre o texto de Darnton é que, embora acadêmico e voltado a um nicho específico, ele consegue ser interessante e gostoso de se ler. Foge e muito daquela distância e frieza típica de autores que envolvem o mundo das pesquisas e talvez por isso mesmo consiga agradar até mesmo quem não é “da área” que ele aborda em seus trabalhos. Continue lendo “Boemia literária e revolução: O submundo das letras no Antigo Regime (R. Darnton)”

Almanaque Jornada nas Estrelas (Salvador Nogueira e Susana Alexandria)

Em 1966, quando Jornada nas Estrelas foi ao ar pela primeira vez pela NBC, o que se viu foi o nascimento de uma das mais duradouras e rentáveis franquias da cultura pop. Outros tantos seguiriam o rastro de Capitão Kirk, Spock e Dr. McCoy, a maioria no cinema (como Star Wars de George Lucas, por exemplo), mas não dá para desconsiderar que quem foi abrindo caminho naquele então campo desconhecido das convenções de fãs, vendas de produtos relacionados e afins foi a série criada por Gene Roddenberry.

E é para ficar sabendo dos bastidores dessa franquia que o Almanaque Jornada nas Estrelas (de Salvador Nogueira e Susana Alexandria) vem para agradar os fãs, e mesmo os curiosos sobre esse fenômeno. Tendo como base principalmente a série original, o livro comenta detalhes envolvendo as personagens, o processo de criação, fofocas de bastidores e muito mais. É muita informação, até porque inclui também detalhes sobre as outras séries (e filmes) que se originaram a partir dessa.

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A outra volta do parafuso (Henry James)

Novela escrita por Henry James e publicada pela primeira vez em 1898, A outra volta do parafusoé sem sombra de dúvidas uma das grandes histórias de fantasmas já escritas. Primeiro porque cumpre muito bem a função de assustar – há momentos do livro que são de tirar o fôlego e não decepcionarão em nada os amantes do horror. Mas também por causa da precisão do estilo e, mais ainda, da qualidade literária da obra de Henry James.

O livro começa com um encontro entre conhecidos em uma noite de Natal. Um deles promete que contará uma história assustadora, assim que tiver em mãos um manuscrito que lhe foi confiado décadas atrás. Quando passa a ler o manuscrito, ficamos sabendo que é o relato de uma governanta que aceitou o trabalho de cuidar de duas crianças (Miles e Flora) em uma casa no interior da Inglaterra, com a condição de que não procurasse jamais o tio e guardião das crianças para relatar problemas. Mas mal ela chega na casa, e logo eles começam a aparecer – o garoto, Miles, é expulso da escola e a governanta passa a ver fantasmas de antigos empregados da mansão, e acredita que eles desejam corromper as crianças.

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We (Yevgeny Zamyatin)

We, romance do russo Yevgeny Zamyatin tem uma história por trás da história. Os manuscritos mais antigos da obra datam de 1919, mas ela só foi concluída em 1921. Por conta do tema tratado, foi a primeira obra censurada pelo Goskomizdat, na época o novo bureau de censura da União Soviética. A primeira vez que o livro foi publicado foi em inglês, três anos após ter sido terminado. Em russo, só em 1988 ele foi impresso, revelando-se assim um dos casos raros em que a tradução foi publicada muito tempo antes do original.

E mesmo com tantas dificuldades para ser publicada, ainda assim We serviu de inspiração para várias das distopias da literatura moderna, incluindo aí a citadíssima obra de George Orwell, 1984. Nesse caso é importante ressaltar a questão que um inspirou outro, porque levando-se em conta que a obra do russo ganhou ares “cult” no Brasil (não há traduções disponíveis nem no Estante Virtual), o inglês parece mais conhecido e então há uma inversão na distribuição dos méritos: ao ler o romance russo, não esqueçam, foi Orwell que se inspirou, e não o contrário.

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A página assombrada por fantasmas (Antônio Xerxenesky)

As pessoas tem a falsa ilusão de que por serem mais curtos que romances, contos são fáceis de escrever. Pode até ser, mas bons contos não. É difícil dizer muito, causar sensações no leitor, criar personagens cativantes ou mesmo trazer uma boa história com tão poucos caracteres.  Some a isso o fato de que qualquer excesso no texto fica ainda mais óbvio, e já dá para perceber a série de dificuldades que um escritor enfrenta ao seguir por esse caminho. E é por conta disso que sempre fico muito feliz ao ter em mãos uma coletânea tão boa como A página assombrada por fantasmas, de Antônio Xerxenesky.

Os contos são enxutos, fluem de um jeito gostoso e pegam o leitor de jeito – especialmente se esse leitor for também um apaixonado por literatura. Correndo o risco de causar um efeito semelhante ao que acontece com a personagem Charles Mankuviac (do conto A breve história de Charles Mankuviac), a verdade é que A página assombrada por fantasmas é livro que fala de literatura. Mas de um modo delicioso (porque o leitor se reconhece em determinadas situações) e mesmo crítico (não dá para não transferir certas passagens para a realidade).

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As aventuras de Ook e Gluk: Mestres do kung fu primitivo do futuro

Um dos maiores problemas de fazer uma criança se interessar por leitura é vencer a barreira do formal – as personagens podem ser legais, mas não falam como elas falariam no dia-a-dia, por exemplo. É tudo certinho e redondinho demais, o que pode acabar fazendo com que a atenção se perca rapidamente, por mais que o livro traga um enredo bacana para o jovem. Considerando isso, As aventuras de Ook e Gluk (de Dav Pilkey) chega para vencer esta barreira.

Quando a capa fala em 527,2 erros gramaticais, acreditem, eles estão de fato lá. Mas não aparecem à toa, fazem conjunto com as engraçadíssimas personagens principais de modo a tornar a leitura dessa história em quadrinhos algo tão divertido que certamente deixará a criança com gosto de quero mais.

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