As vantagens de ser invisível (Stephen Chbosky)

As Vantagens de Ser InvisívelNota: Este post foi publicado originalmente no Meia Palavra em abril do ano passado. Eu estava mantendo o histórico no meu blog-arquivo, mas como algumas pessoas andaram pedindo que eu republicasse o texto, estou colocando aqui para vocês. Sobre o filme, eu dei minha opinião neste post aqui.

Não há nada mais bacana que ter um livro em mãos sem qualquer expectativa e ser surpreendido pouco a pouco com o que ele tem a revelar. Com The Perks of Being a Wallflower, de Stephen Chbosky (lançado aqui no Brasil pela Rocco como As vantagens de ser invisível), foi exatamente assim. Comecei a ler porque depois de Psicopata Americano eu queria algo mais leve, para passar o tempo mesmo. E Perks parecia a escolha ideal: livro para jovens publicado originalmente em 1999, mas que se passa em 1991, trata-se de um romance epistolar mostrando um pouco da vida de Charlie, um adolescente de 16 anos que acaba de começar uma nova etapa na vida de estudante. O melhor (e único) amigo acabou de se suicidar, e como ele se encontra completamente sozinho, resolve enviar cartas para uma pessoa que ele não conhece, comentando sobre tudo o que tem vivido. Continue lendo “As vantagens de ser invisível (Stephen Chbosky)”

Parando de comprar livros

10 em cada 10 leitores vorazes sustentam um hábito de comprar mais livros do que conseguem ler. Pode seguir qualquer um deles e as reclamações estarão lá: “Metade do mês e já comprei 20 livros!”, “Não aguentei a promoção e comprei mais livros!” e variações do mesmo tema. Tem pouco tempo estava todo mundo por aí compartilhando esta imagem dizendo que praticava tsundoku.

tsundokuO que é legal, supondo que você tenha bastante dinheiro. E o que é unicamente problema seu, supondo que você não tenha. Não vou criticar quem tem orgulho de comprar livros como se não houvesse amanhã (ou limite no cartão), a questão é que agora no começo do ano resolvi parar de tsundokar por uns tempos.

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Ficção Nacional

Saiu hoje matéria na Folha comentando o óbvio para qualquer um que costuma acompanhar listas de mais vendidos aqui do Brasil: livros de ficção escritos por autores nacionais raramente aparecem entre os sucessos de vendas. O interessante da reportagem é ler o que o pessoal das editoras tem a dizer sobre o assunto. Chama a atenção o fato de que dessa vez a culpa não foi jogada no colo do leitor como normalmente acontece, mas do escritor, como dá para ver neste trecho:

recordOpinião parecida com a do publisher da Companhia das Letras, Otávio Marques da Costa, assim como o diretor-geral da editora Leya, Pascoal Soto, que comenta:

sotoSobre as afirmações do Soto eu vou comentar algo a mais, por enquanto vamos observar essa conversa de que não temos autores nacionais que escrevam “ficção mais popular” ou “de forma mais acessível”.

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Então você quer dar livros de presente de Natal?

Eu adoro ganhar livro de presente e defendo abertamente a ideia de que não há presente mais bacana para dar para uma pessoa do que livro. Portanto, é evidente que eu acho que a melhor sugestão de presente de Natal é dar um livro (oh, really?). Poréééém, muito embora seja algo bacana de ganhar, acho que vale o alerta: não é algo fácil de dar. E isso por ‘n’ motivos, mas principalmente porque, ao contrário de um perfume, uma camisa ou um urso de pelúcia, leitores têm a mania de procurar em livros um “significado oculto”, uma mensagem sutil. Leitores mais vorazes costumam ser especialmente chatos de presentear também, seja porque aparentemente eles já leram tudo o que já foi publicado hoje em dia, ou porque eles já estão naquela fase em que sabem exatamente o que querem, então não dá para agradar com qualquer coisa.

Pensando nisso resolvi elaborar não exatamente um post com dicas de livros para dar de presente, mas de dicas para você que resolveu dar livros de presente. O bom é que você pode usar esse guia para outras situações, como aniversário, formatura e casamento (não, seriously, até para casamento é um presente legal). Então pega na minha mão e vamos lá, pequeno gafanhoto.

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Era final de 2001…

… tinha acabado de ganhar o livro de capa preta da minha mãe – não que ela tivesse adivinhado que eu queria muito aquele, eu sempre deixo muito claro o que eu quero muito ler perto de Natal e aniversário. “O Senhor dos Anéis”. Eu lia a revista SET (na realidade, tinha assinatura) e sabia de toda a agitação ao redor da produção que chegaria ao Brasil no dia primeiro de janeiro, e esse aliás foi um dos ‘n’ fatores que atiçaram minha curiosidade sobre o livro. Devorei em poucos dias (livro favorito: As duas torres. personagem favorito na época: Legolas), empolgadérrima ao ponto de tentar por conta própria aprender tengwar e aquelas runas dos anões cujo nome não lembro mais. Enfim, evidente que eu era uma das malucas que no primeiro dia do ano, com o resto do shopping inteiro fechado, estava lá fazendo fila para conferir o filme A sociedade do anel, o primeiro da trilogia do Peter Jackson.

Entendam: não era aquela nerd apaixonada pelos livros, que já tinha lido tudo o que saiu sobre Tolkien. Tolkien nem passava no meu radar antes de começarem os falatórios sobre a adaptação. Mas o filme me encantou ao ponto de eu começar a querer saber mais daquele mundo. Porém, a vida vai atropelando nossos pequenos prazeres, e em janeiro eu tinha aulas na faculdade para colocar em dia o calendário após uma greve longa, que inclusive só perdeu o posto de “greve mais longa” este ano. Verdade seja dita, acho que meu ex se envolveu muito mais em “tolkienidades” do que eu, tanto que ele que me apresentou o site e o fórum Valinor. Sobre o fórum, no começo eu lia usando a conta dele, adorava os tópicos do Clube da Insônia. Até que resolvi me cadastrar, com o fantástico nick ~·*Preciosssssa*·~ (sim, messsstre, preciossssa), que depois mudei para o ~·*Ana Lovejoy*·~. Fiz amigos lá, ao ponto de fazer uma churrascada em casa com trocentas pessoas que nunca tinha visto pessoalmente até então. Comecei a achar graça de questões que antes nem passavam na minha cabeça (alou, asas de balrog?), e a ansiedade pelo segundo filme foi crescendo. As Duas Torres chegou aos cinemas no dia 27 de dezembro, e eu estava lá na fila da estreia também.

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Música em True Blood

Já passaram aí 5 temporadas e acredito que qualquer um que acompanhe a série já deve ter reparado que True Blood tem uma relação bem forte com música. Ou vai dizer que você nunca percebeu que os títulos dos episódios são títulos de músicas? Eu percebi isso rápido, mas dava mais créditos pelas músicas bacanas que conhecia por conta da trilha sonora das propagandas anunciando temporadas novas (como Beyond Here Lies Nothin’, do comercial da segunda temporada, Fresh Blood da terceira e Future Starts Slow que eu juro que não lembro se era da quarta ou da quinta). Sabe aquela sensação de que mesmo que eles enfiem o pé na jaca e estraguem tudo, pelo menos valeu a pena por poder ter conhecido músicas que em outra situação eu provavelmente teria deixado passar batido.

Então, pensando nessa relação entre Música e True Blood, eu resolvi fazer um top5 de músicas de cada temporada, adicionando alguns comentários sobre a temporada em si. Para ouvir a música basta clicar nos links (e torcer para que os deuses da internetz não façam deles links quebrados no futuro). Vamos lá!

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Barba Ensopada de Sangue (Daniel Galera)

Quando anunciaram os 20 nomes selecionados para a Granta dos jovens escritores brasileiros, lembro que boa parte não vi como surpresa – já sabia que estariam lá. O que é até engraçado, se pensar em casos como o de Daniel Galera, autor que até então nunca tinha lido, mas de quem ouço tantos elogios que só poderia imaginar que estaria entre os 20. E sim, lá está ele, com Apneia, trecho de um romance que até então ainda não havia sido publicado. Não li todos os textos da revista ainda, mas até o momento o do Galera é meu favorito, de longe o que mais me empolgou. Digo isso para explicar minha ansiedade para a chegada de Barba Ensopada de Sangue, o tal do romance de onde foi retirado o trecho da Granta. Se o autor continuasse no livro o que fez naquele pedaço da história, eu sabia que iria adorar. Enrolei um pouco para comprar o livro porque não queria comprar em loja virtual e correr o risco de receber a capa azul ou a verde (sim, sou dessas), mas finalmente com o livro em mãos, devorei as mais de 400 páginas rapidamente. O que já responde a pergunta de todo curioso “É bom?”. Sim, é.

Mas vamos por partes, porque não é um livro que merece ser comentado apenas na base do é bom ou não. Eu sabia alguma coisa da história por conta da leitura de Apneia: o pai do protagonista queria se suicidar, e ao conversar com o filho, conta sobre o passado de seu pai, dado como morto em Garopaba (litoral catarinense) muitos anos antes. Tendo isso em mente, acabei estranhando o texto de abertura do romance, em itálico e na primeira pessoa, falando “meu tio”. Meu tio? Mas não seria o avô? Como assim? Ok, resolvi confiar em uma explicação que surgiria mais para frente (e aparece, falarei sobre isso depois) e deixei o narrador (que passa a ser em terceira pessoa) me conduzir.

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Breves comentários sobre o que tenho lido

Rapidinhas.

The Lover’s Dictionary (David Levithan): Não lembro o que me levou a ler, acho que estava nos títulos similares de alguma coisa que gostei lá da Amazon. O livro é bacana, o problema é que a ideia não é nova, pelo menos não para mim: já comentei por aqui sobre meu amor por Pequeno Dicionário Amoroso, filme da década de 90 que chegou até a ganhar uma versão em livro. A mecânica do livro é contar a história de um casal a partir de verbetes de dicionário, que se relacionam com o que está sendo narrado. A diferença do livro do Levithan é que, ao contrário do roteiro do Halm e do Torero, a narrativa não é linear, dá saltos entre o presente e o passado, o que cria dois efeitos bacanas. O primeiro é que você fica curioso para saber o motivo do rompimento do casal, o segundo é se eles reatam ou não. Tem algumas passagens bem interessantes (daquelas que dá vontade de grifar), e eu provavelmente teria me emocionado mais se tivesse lido em tempos de dor de cotovelo (como foi o caso de Pequeno Dicionário Amoroso). Resultado: valeu a pena para passar o tempo. Sugestão: procure o filme nacional, é muito legal.

Poesia é não (Estrela Ruiz Leminski): Uma vez lembro de ter lido algo escrito ou citado pelo Antonio Xerxenesky, falando sobre não se resenhar textos de amigos. Mas vá lá, não é uma resenha, é só uma breve opinião que funciona mais para registro quando alguém me perguntar “Ei, você leu x? O que achou dele?”, etc. Enfim: gosto muito de como ela experimenta não só com as palavras, mas também com imagens, colagens. Tem senso de humor (o que eu adoro, e o que acho que falta na poesia atual) e vale ressaltar que a formação musical acaba influenciando bastante em muito do que ela coloca ali. Ouvi em qualquer lugar que o livro foi adotado pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola do MEC, o que me parece ótimo, já que tira um pouco daquela imagem que muito jovem tem de que “poesia é coisa do século passado (ou melhor, retrasado, já que o passado já tinha internet e talz)” – melhor ainda porque a linguagem da Estrela é jovem, até no sentido de querer romper com o convencional. Resultado: lembrei que gosto de poesia. Sugestão: aproveita que está lendo a Estrela e procure pela obra do Paulo Leminski e da Alice Ruiz e faça uma reunião de família. Continue lendo “Breves comentários sobre o que tenho lido”

Serena (Ian McEwan)

Você provavelmente já passou por essa situação: gostou muito de um livro, queria demais que outras pessoas também lessem para conversar sobre ele com você, mas no momento em que vai tentar explicar pela primeira vez o que faz dessa obra algo tão bacana, se dá conta de que é um daqueles casos de “quanto menos souber, melhor”. E não é no sentido de estragar alguma surpresa do enredo (como aquele sacaninha que vem contar o final de O Sexto Sentido para quem ainda não viu o filme) – até porque livros realmente bons não se sustentam apenas em um plot twist para serem considerados como tais. Mas é que ao falar do que encantou em determinado romance você corre o risco de estragar a experiência de leitura da outra pessoa, chamando atenção para pontos que deveriam ser descobertos a seu tempo, como parte do processo de leitura. E eu digo tudo isso para pedir desculpas e dizer que esse post não é para você que deseja saber algo sobre Serena antesde ler o livro, mas para quem já leu o romance de Ian McEwan.

(Se vale de consolo para você que ainda não leu o livro, eu posso resumir brevemente que Serena é uma história que envolve espiões mas não tem nada daquele estilo “James Bond”, e é muito mais sobre a relação das pessoas com a Literatura do que qualquer outra coisa. E sim, é lindo. E sim, você deveria ler. Obrigada pela compreensão, espero que volte mais tarde.)

Então que Serena é um romance narrado em primeira pessoa pela narradora-protagonista Serena Frome, que para mim chegou como mais uma personagem para a galeria dos odiáveis de Ian McEwan. Não, ainda não é uma Briony (precisa tomar muito Nescau para chegar aí), mas inicialmente não tem como gostar da garota, tão egocêntrica e aparentemente tão apaixonada por si mesma. Vou enfatizar o inicialmente e pedir um tanto de paciência que depois volto para o motivo de ser só no começo. Retornando, Serena conta para o leitor como é que, após um breve romance com um homem mais velho, acabou sendo contratada pelo MI5, serviço de Inteligência Britânico. Quem espera toda a ação eglamour típicos das histórias de espiões pode se decepcionar: o cargo inicial da jovem é bastante sem graça, e pelo menos uma boa parte do começo do livro de McEwan se sustenta quase que só na curiosidade do leitor em saber por que o ex-amante de Serena a indicou para aquele trabalho. Mas aí chega o projeto Tentação e a narrativa realmente engrena. Continue lendo “Serena (Ian McEwan)”

Foco (Arthur Miller)

O romance Foco, escrito por Arthur Miller, foi publicado em 1945, antes das grandes peças que o consagraram como Morte de um Caixeiro Viajante e As Bruxas de Salém. Mas quem espera um trabalho mais ingênuo, ou até mesmo mais fraco com o livro (lançado recentemente com nova tradução pela Companhia das Letras), pode ter certeza que não é o caso. A semente do que se verá em seus trabalhos mais conhecidos já está plantada ali, criando não só um retrato cru e verdadeiro dos Estados Unidos daquele tempo, mas também no desenvolvimento de personagens inesquecíveis, seja pelo que têm de melhor ou de pior – porque as figuras de Miller são assim, imperfeitas, e por isso mesmo tão cativantes.

Veja o caso de Foco. O protagonista, Lawrence Newman, é apresentado para o leitor como uma pessoa horrorosa: ouvindo os gritos pedindo socorro de uma garota na rua, ele resolve ficar quieto. E não é nem por covardia, é simplesmente porque acha que se chamasse a polícia, quando ela chegasse o assunto já estaria resolvido e ele acabaria tendo que explicar a situação para os policiais. No outro dia a coisa piora ainda mais, quando em conversa com um vizinho no caminho para o trabalho, esse conta que era “só uma latina” e que ajudou o amigo bêbado que cometia a agressão a voltar pra casa – Newman nada diz sobre isso, não repreende o vizinho como esperamos que uma personagem “boazinha” faça. E aos poucos vamos vendo como ele é preconceituoso, decidindo quem ganha ou não emprego na empresa em que trabalha baseado no juízo que ele faz da aparência da pessoa. Se parece com um judeu, por exemplo, o emprego está fora de questão. Continue lendo “Foco (Arthur Miller)”