Logo de cara para o que eu não gostei para que depois eu vá para o que eu gostei: o livro é MUITO previsível. Ridiculamente previsível. Previsível do tipo: personagem entra na história e você já sabe qual será o desfecho do livro, porque já viu ‘n’ filmes e leu ‘n’ livros assim. Pode ser falta de jeito de um escritor até então não tão experiente (lembrando, este foi o segundo livro publicado do Green lá fora), mas enquanto ele consegue ser bastante sutil e surpreender quando já maduro em A culpa é das estrelas, em O Teorema Katherine ele entrega apenas mais do mesmo. Não tem nada aqui que você já não tenha lido (ou visto) em histórias para adolescentes já contadas nos últimos anos. Além disso, acho que os conflitos das personagens são extremamente rasos, sem profundidade, quando o próprio enredo oferecia uma ótima oportunidade para falar dos desafios de tornar-se adulto de um modo mais sutil. E se usei a palavra “sutil” duas vezes em um mesmo parágrafo acho que dá para resumir a coisa toda como “falta de sutileza”. Mas veja bem, não estou me contradizendo sobre não poder comparar um com outro pelo intervalo de tempo. É um defeito do livro independente do que Green publicou depois. O problema é que pela ordem de publicação nem todo mundo aqui no Brasil ficará sabendo que O Teorema veio antes de A culpa, e para muitos ficará parecendo que a qualidade da escrita dele caiu, ao invés de evoluir. Então fica o aviso: Teorema veio antes. Não se esqueça disso. E sim, é previsível. Tente não se irritar com isso e leve em consideração os outros aspectos, e você terá algumas horas de diversão, posso garantir.
Categoria: Literatura
O filho de mil homens (Valter Hugo Mãe)
O enredo encanta porque, embora melancólico, é de uma doçura surpreendente. Temos inicialmente um pescador chamado Crisóstomo, que ao chegar nos 40 anos se dá conta que por conta de fracassos na vida amorosa é agora um homem sem filho. E ele realmente acredita que um filho o tornaria completo, tiraria dele uma tristeza na qual mergulhara. “Via-se metade no espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausência e silêncios como os precipícios ou poços fundos“. Sai então procurando alguém que o aceite como um pai, para encontrar Camilo, metade como ele que com Crisóstomo forma algo inteiro, completo. Até que o menino sugere ao pai que busque uma mulher, para que seja o dobro.
Por isso a gente acabou (Daniel Handler)
A identificação com a situação foi instantânea, por isso queria ver como a trama se desenvolveria. Minha primeira (boa) surpresa ao ter o livro em mãos foi perceber que ele tinha ilustrações de Maira Kalman representando os objetos dos quais Min está falando. A arte é muito legal, e o efeito que provoca ver o objeto e então ler o que Min tem a falar sobre ele acaba de certo modo reproduzindo a sensação que teríamos se fôssemos Ed, abrindo a caixa e vendo aos poucos aquelas recordações, revendo tudo o que passaram juntos nos poucos dias de namoro. Continue lendo “Por isso a gente acabou (Daniel Handler)”
O Circo da Noite (Erin Morgenstern)
Muitas pessoas torcem o nariz para livros de fantasia, isso é fato. Mesmo que autores como J.R.R. Tolkien e J.K. Rowling conquistem legiões de fãs, parece que livros desse tipo estão sempre com o estigma de “literatura de entretenimento”, como se por serem assim não tivessem qualquer qualidade. Não é verdade. O simples fato de conseguirem nos transportar para um lugar onde as regras do “mundo real” não são mais válidas, de nos permitir romper um pouco com nossa chata realidade já é, por si só, um aspecto mais do que positivo. Pensei nisso enquanto me maravilhava com Le Cirque des Rêves, criado por Erin Morgenstern em seu romance de estreia, O Circo da Noite. Não há outro verbo, é maravilhar mesmo, imaginando pequenos momentos descritos pela escritora e pensando em como isso ficaria lindo se visto “na vida real” (ou, pelo menos, em um filme).
A premissa é até bastante simples: uma garotinha de cinco anos é entregue ao pai logo após a morte de sua mãe. O pai é Próspero, um grande mago (embora não se refira a si mesmo como tal), que finge ser um ilusionista (se não ficou claro, a ideia é parecida com a do Teatro dos Vampiros em Entrevista com o Vampiro, só que ao invés de vampiros estamos falando de pessoas que conseguem manipular a realidade). O sujeito resolve envolver a filha em uma espécie de desafio com outro mago, que acolherá um pupilo para tal fim. O desafio em si não fica claro nem para a menina (Celia) nem para o rapaz (Marco) e ok, nem para o leitor – e em partes é isso que prende a atenção de quem tem o livro em mãos, descobrir o que é o tal do duelo entre Próspero e Alexander.
Garota Exemplar (Gillian Flynn)
Mas ok, comecei a ler. E poucas páginas depois, já não queria mais abandonar o livro, principalmente quando percebi a jogada que Flynn começou a fazer com as opiniões que o leitor tinha das personagens. E se menciono isso já, assim, segundaparagrafamente, é porque quero dar um aviso para você que ainda não leu Garota Exemplar: fuja da campanha de marketing da editora. Não leia sinopse do livro, orelha, nem nada. Algumas informações que estão sendo colocadas para anunciar o livro acabam te colocando na pista errada e, o principal, afetando seu julgamento das personagens de uma forma diferente do que deveria ocorrer. Sobre isso falo um pouco mais para frente, aguenta aí.
A questão é que minha cabeça está aqui cheia de ideias a serem comentadas sobre o livro, mas não queria estragar a experiência inicial de ninguém, portanto fica a velha recomendação: volte quando tiver acabado de ler. Por incrível que pareça, esse meu cuidado nada tem a ver com o enredo principal que tem sido apresentado por aí (mulher desaparece, marido é o principal suspeito, etc.), aliás, eu acho que é o tipo de livro que “sobrevive” muito bem mesmo que revelem spoilers, só que fica aquela sensação de chupar bala sem tirar o papel (há!). Avisados? Ok, então agora vamos por partes. Três, como no livro.
Max e os Felinos (Moacyr Scliar)
A edição que ganhei da Clara veio sete anos após a polêmica de 2002 envolvendo o canadense Yann Martel, portanto já veio “equipada” com alguns itens para quem deseja informações sobre a questão do plágio: uma introdução escrita pelo próprio Scliar em 2003, além de Zilá Bernd chamado De trânsito e de sobrevivências, que traça um paralelo entre as duas obras, mostrando suas óbvias semelhanças. Como não queria afetar meu julgamento sobre a questão, deixei para ler esse texto depois (mas que achei bem interessante, com algumas interpretações que passaram batido para mim inicialmente). De qualquer forma, acredito que os dois estarão presentes na nova edição, por motivos óbvios.
Canibais, baleias e o medo ou: Santa coincidência, Batman!
Pois veja como são as coisas: no começo da semana recebi do Matheus Lins via twitter o link para um texto falando sobre o evento que inspirou Herman Melville a escrever Moby Dick, chamado The True-Life Horror that Inspired Moby-Dick (você jura, Anica?). Enfim, o texto é assustador e eu recomendo fortemente a leitura (mas já aviso que sim, está em inglês). O engraçado é que eu realmente desconhecia a história do Essex, e ao mesmo tempo ela me parece tão familiar: lembra muito The Narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket e todas aquelas coincidências envolvendo o nome Richard Parker (sim, o do tigre de As aventuras de Pi).
Enfim, acabei lendo o texto apenas ontem a tarde e deixei a janela aberta para comentá-lo depois. Então, à noite, estava dando uma olhada básica na lista de videos disponíveis no site do TED, e um chamou minha atenção. O título era “O que o medo pode nos ensinar”, e quem falava era a Karen Thompson Walker, autora de A idade dos milagres. Adivinha que história ela conta no video? Sim, a do Essex.
Tanta coincidência só podia ser um sinal de que eu tinha que compartilhar este link aqui no blog. Fica a sugestão então, The True-Life Horror that Inspired Moby-Dick (sem tradução) e O que o medo pode nos ensinar (com legendas em português). E aproveita que já está no site do TED e vê logo o video da Amanda Palmer, que derreteu meu coração gaimete e de quem agora sou fã: The art of asking (ainda sem legendas em português).
Tipos de leitores
Aí que este mês quase só li clássicos e lembrei dos tempos da universidade, que meio que achava que qualquer tempo gasto com literatura de entretenimento era tempo jogado fora. E de como hoje em dia mudei essa visão, e me permito ler para me divertir, e inclusive abandonar livros se estiver achando muito chato. E então me dei conta de como nós mesmos mudamos como leitores, e como existem diversos tipos de leitores por aí.
Se você frequenta fóruns de literatura ou redes sociais voltadas ao assunto, esses variados tipos ficam ainda mais evidentes. E foi pensando nisso (e em tudo o que eu já fui como leitora) que resolvi elaborar aqui uma listinha de tipos de leitores. É bem provável que você nem se veja em nenhum deles (ou talvez se veja em mais de um), mas fica até como uma proposta de exercício para que você reflita como é como leitor. Continue lendo “Tipos de leitores”
Zodíaco (Robert Graysmith)
Na época em que Zodíaco começou a atacar Graysmith trabalhava como cartunista no jornal San Francisco Chronicle, e estava presente no momento em que a primeira carta para o editor do periódico chegou. Por conta disso, se envolveu de tal forma com as histórias dos crimes que resolveu investigá-los por conta própria, para tentar encontrar a resposta para quem era o homem que dizia ter matado quase 40 pessoas.
The Sense of an Ending (Julian Barnes)
Confesso que não conhecia Julian Barnes, embora ele já tenha publicado onze romances. Foi o fato de o último livro dele, The Sense of an Ending ter levado o Man Booker desse ano que chamou minha atenção para o título. A sensação que ficou ao ter acabado o romance em questão foi um misto de alívio por saber que tenho mais do autor para conhecer e arrependimento por nunca ter lido algo dele antes. Não dá para economizar elogios, é realmente um livro fantástico.
E como todo livro bom, falar do enredo pode ser perigoso, passar uma falsa ideia de que é simples. Cabe então frisar que embora The Sense of an Ending gire em torno das memórias de Tony Webster, especialmente em seu relacionamento com seu primeiro amor Veronica e sobre sua amizade com Adrian, ele é muito mais do que isso. Há camadas e camadas nesse romance, muito para se absorver. Tanto, que após lido há uma sensação de urgência em encontrar mais alguém que também o conheça para poder conversar sobre ele. Continue lendo “The Sense of an Ending (Julian Barnes)”