Dark Places (Gillian Flynn)

darkplacesConsiderando que Garota Exemplar foi um dos livros mais bacanas que li agora em 2013, é natural a curiosidade sobre os outros romances já publicados pela escritora Gillian Flynn. Aquela coisa: alguém que acertou tanto em um, com certeza tem mais coisa bacana publicada, certo? Mas aí comecei a lembrar da maldição da Intrínseca que eu e a Dani comentamos no meu post sobre O Teorema Katherine: a editora lançava um livro que era um total sucesso aqui no Brasil, mas a escolha seguinte era sempre fraquinha e por isso mesmo um tanto decepcionante e, por coincidência, quase sempre trabalhos anteriores ao de sucesso (exemplos: A culpa é das estrelas seguido de O Teorema Katherine, A visita cruel do tempo seguido de O Torreão, Um Dia seguido de Resposta Certa, A menina que roubava livros seguido de Eu sou o mensageiro). Então fica aqui minha sugestão para a Intrínseca: ó, vai sem medo em Dark Places. MESMO. Só dessa vez faz o material promocional sem spoilers, ok? Ok.

Então. Eu não sei se já aconteceu com você de gostar muito de um autor, e aí você vai atrás de outro livro dele e quando lê ou tem a sensação de que aquilo não tem nada a ver com o cara (sabe, o estilo, a voz, nada está ali) ou é tão a ver que bem, parece só uma cópia/continuação do que ele já tinha escrito antes. É um terreno perigoso, no final das contas: como inovar sem perder o mojo? É engraçado que ao mesmo tempo que queremos algo familiar, queremos o novo. Sim, somos leitores exigentes e queremos o impossível. E é por isso que é sempre bom ter a surpresa de encontrar quem consegue fazer um ótimo malabarismo com essa nossa vontade, como é o caso de Gillian Flynn. Embora Dark Places tenha sido publicado anteriormente ao Garota Exemplar, você consegue enxergar as semelhanças, aquele tom que indica que está lendo algo da Flynn, ao mesmo tempo que entra em um novo terreno para ser explorado.

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Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children (Ransom Riggs)

Eu não lembro bem como foi que encontrei Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children pela primeira vez. Só sei que a capa chamou minha atenção (uma foto antiga, em preto e branco, de uma menininha cujos pés não tocam o chão) e que achei o título interessante. Julgando a sinopse (falando de orfanato abandonado e afins) e a imagem da garotinha da capa, pensei “Opa, é horror, vamos conferir”. Aí comecei a leitura e para mim pareceu algo meio The Princess Bride meets A Vida é Bela, com o avô do protagonista Jacob contando histórias sobre a ilha em que ele passou uma parte da vida com outras crianças como ele – que tinham habilidades extraordinárias. A sensação que fica é de que o livro será uma doce e divertida história sobre como o avô maquiou os horrores da Segunda Guerra Mundial com relatos sobre pessoas extraordinárias (judeus?) que precisavam se esconder em um orfanato para fugir dos monstros (nazistas?).

Bem, a questão é que Ransom Riggs tem uma carta na manga: ele te leva a pensar que o livro vai tomar um rumo e aí surpreende. E isso não é apenas uma vez só (e é óbvio que eu não vou ficar revelando aqui as surpresas). A leitura de Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children fica parecendo um pouco com um passeio em um trem fantasma, onde você nunca sabe ao certo o que virá a seguir. Eu disse que achava que seria uma história de horror, certo? É horror.  Mas também fantasia. E aventura. Daquelas obras que enquanto você passa por alguns parágrafos fica só pensando: “Caramba, digam que vão filmar isso aqui!”1

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  1. A Fox já comprou os direitos de filmagem do filme 

Deixa ela entrar (John Ajvide Lindqvist)

Meu primeiro contato com o romance Deixa ela entrar, do sueco John Ajvide Lindqvist, foi através da adaptação para o cinema de 2008, chamada Låt den rätte komma in. O responsável pelo roteiro do filme foi o próprio Lindqvist, então rapidamente imaginamos que há uma grande aproximação entre o filme e o livro – o que para mim ficou evidente ainda no mesmo ano, quando li a tradução para o inglês da obra (chamada Let the right one in). E desde então muita água rolou, o filme ganhou uma versão americana (chamada de Deixe-me entrar, que eu ainda não vi), e agora a Globo Livros lançou uma tradução em português direto do sueco, com o título Deixa ela entrar, que tive a oportunidade de ler recentemente. Aviso de antemão que como eu não sei lhufas de sueco, qualquer comentário a seguir sobre a tradução é baseado em teorias e, bem, na lembrança da primeira leitura em inglês.

Até por causa da relativa demora para o livro chegar por aqui é importante contextualizar a obra, para compreender o porquê de ela conquistar tanta gente. A estreia do filme em 2008 (o livro é de 2004) coincidiu com o auge da febre Crepúsculo, que trazia o conceito de vampiros para adolescentes. A franquia de Stephenie Meyer não é de maneira alguma precursora, mas é certamente uma das maiores divulgadoras de uma fórmula que foi repetida exaustivamente ao longo dos anos (na realidade, até hoje), sempre trazendo o amor impossível entre um ser sobrenatural (vampiro, lobisomem, fantasma, boitatá, ou o que for) com um humano. E Deixa ela entrar tem essa fórmula, porém de uma forma muito, muito diferente do que esperamos em livros do tipo. A obra de Lindqvist acabou se tornando um anti-Crepúsculo, ou ainda, um Crepúsculo para quem não suporta uma dose muito alta de sacarina e prefere nossa realidade, muito mais dark. Continue lendo “Deixa ela entrar (John Ajvide Lindqvist)”

Agora é que são elas (Paulo Leminski)

No último dia 20 aconteceu na Livraria Cultura aqui de Curitiba um evento de lançamento do livro Toda Poesia, do Paulo Leminski. Se você, caro amigo caçador de autógrafos, já torceu o nariz pensando “Lançamento sem o autor? Pffft!” tenho que dizer que foi um dos eventos mais bacanas que já presenciei: a ideia foi de criar uma espécie de sarau, onde pessoas leram poesias do Leminski ou tocaram músicas que de alguma forma se baseavam na obra do poeta. Teatro lotadíssimo, um clima bacana e, por que não dizer, uma amostra grátis de um pouco do que aquele livro de capa laranja berrante tem para oferecer. Saí de lá morrendo de vontade de reler Toda Poesia. Saí também com um Agora é que são elas embaixo do braço.

Sobre o título, eu tinha uma vaga lembrança de um folder presente na bagunça do quarto do meu irmão (que eu adorava explorar em busca de cds para emprestar). O folder era de uma peça de teatro, que agora graças à Internet posso confirmar que era uma adaptação dirigida pelo Fiani, apresentada pela Cia Máscaras de Teatro (um beijo, Internet!). Mas talvez por não saber o quem é quem na época, fiquei com a ideia errada gravada na cabeça: de que Agora que são elas era um texto do Leminski escrito para teatro, e não um romance. Então na hora que abri o livro na Cultura tive uma baita surpresa – e por isso resolvi comprá-lo na hora. A saber: o livro foi originalmente publicado em 1984 pela Brasiliense (e lá vão quase 30 anos!), mas ganhou ano passado uma nova edição pela Iluminuras, que também relançou Catatau, com uma capa que faz jogo com a de Agora é que são elas, fica a dica para quem tem TOC. Continue lendo “Agora é que são elas (Paulo Leminski)”

Rock n’ Roll e outras peças (Tom Stoppard)

O nome Tom Stoppard pode não soar muito familiar para você, mas vamos tentar estes aqui: Que tal Brazil, o filme? Ainda nas produções da década de 80, quem sabe Império do Sol? Ou ainda o papa-Oscar Shakespeare Apaixonado? Pois saiba que os roteiros desses filmes tem as mãos de Stoppard, seja em autoria, co-autoria ou adaptação. Não acha que são boas referências ainda? Que tal irmos para o campo em que ele realmente atua, o teatro? Ganhador de vários prêmios Tony, além de ser nada mais, nada menos do que “Sir” Tom Stoppard. Já deu para ter uma ideia da importância da figura, não?

É por isso que a publicação de Rock n’ Roll e outras peças pela coleção listrada da Companhia das Letras vem em tão boa hora. Eu já havia comentado em outro momento como fazia falta uma tradução de Rosencrantz and Guildenstern are Dead aqui no Brasil, imagine então minha alegria ao saber que não seria apenas essa peça, mas uma coletânea dos trabalhos de Stoppard que chegariam em português, traduzidas por Caetano W. Galindo. É livro para fazer os olhos dos amantes de teatro brilharem, e mais importante, é daqueles para apresentar Stoppard para um público que aprecia boa literatura.

A coletânea não está organizada por ordem cronológica, mas a forma como foi montada aproximou temas recorrentes do teatro de Stoppard, quase como se fosse uma galeria de quadros dos mais variados estilos na qual temos a oportunidade de ver um pouco de tudo que ele já fez. Stoppard já escreveu mais de 30 peças, a coletânea traz sete (oito se separarmos O Macbeth de Cahoot de O Hamlet de Dogg, embora o dramaturgo afirme que uma complementa a outra). Algumas delas vem com um texto introdutório de Tom Stoppard, explicando algumas questões sobre a criação do texto, característica de personagem, contexto, etc., o que é ótimo para uma leitura mais fluida dos textos. Continue lendo “Rock n’ Roll e outras peças (Tom Stoppard)”

A probabilidade estatística do amor à primeira vista (Jennifer E. Smith)

Sem qualquer obrigação de leitura (não estou na faculdade, não escrevo para um blog com parcerias e, principalmente, não quero provar nada para ninguém) acaba que meus critérios para escolha de livros estão para lá de aleatórios. Tentei engatar leituras de terror por causa de Little Stranger, mas então vi este livro de capa fofíssima e título meio nonsense e pronto, já fiquei curiosa. Sim,é young adult, então se essa não for sua praia nem perca tempo, porque não tem nada que vá te surpreender em termos de escrita. Mas é tão gostosinho de ler, tão bonitinho, tão -inho, -inho que pelo menos para as meninas que gostam de uma história doce eu certamente recomendo este livro. Trocando em miúdos: tive mais sorte do que juízo, porque se o critério foi bocó, pelo menos o livro não foi uma perda de tempo.

Confesso que as primeiras páginas prenderam minha atenção porque eu simplesmente adoro essa teoria de que pequenos momentos banais dos nossos dias podem significar uma grande mudança em nossas vidas (acho que o exemplo mais lindo dessa ideia foi mostrado em um filme nacional chamado Não por acaso). Hadley por uma série de fatores acaba perdendo seu voo para Londres por exatos quatro minutos, e corre o risco de se atrasar para o segundo casamento de seu pai. Fica evidente logo de cara que a garota não está muito bem com a obrigação de estar lá, muito menos com o fato do pai casar novamente – o que a leva a questionar em muitos momentos o que diabos faz com que uma pessoa que tinha uma vida estável e boa largue tudo isso por causa de uma paixão.

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iDrakula (Bekka Black)

Já comentei diversas vezes que sinto que boa parte dos livros atuais ainda não conseguem retratar o impacto da internet no nosso cotidiano. Não só da internet, é claro, mas de todas as mudanças nas formas de se comunicar que vieram nos últimos 20 anos. Tem livro de adolescente em que o adolescente não manda mensagem de texto ou NUNCA dá uma olhadinha nos emails, por exemplo. Dude, existe algum adolescente que não manda mensagem de texto nem dá uma olhadinha nos emails nos dias de hoje? Não entenda mal, não é uma questão de verossimilhança: os autores criam um universo próprio, se nesse universo adolescente não twitta, tá tudo certo, leia logo a história e não seja xarope, Anica. Oooooook. Mas enfim, o anacronismo chama minha atenção, e por isso fico até surpresa quando encontro um livro que tenha algo aproximado do que é o cotidiano de uma pessoa nos dias de hoje.

E se falo isso tudo, é para explicar o que fez com que eu começasse a ler iDrakula, de Becca Black. Pela sinopse, entendi que a ideia era trazer a história de Drácula para os dias atuais, justamente com a adição do elemento “internet” no enredo: Mina, Jonathan, Lucy, etc seriam personagens que trocariam e-mails e mensagens de texto, ao invés de trocarem cartas como acontece no romance de Bram Stoker. O negócio é que mesmo sabendo do que se tratava o livro, nada poderia me preparar para o susto que foi, logo na primeira página, dar de cara com isso aqui:

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Abraham Lincoln caçador de vampiros (Seth Grahame-Smith)

Quando gosto muito de um autor costumo dar uma segunda chance caso ele me decepcione. Foi o que aconteceu com os livros que li de Seth Grahame-Smith: o primeiro, How to Survive a Horror Movie (ainda sem tradução no Brasil) achei fantástico. Aí chegou Orgulho e Preconceito e Zumbis e foi simplesmente uma decepção. Resolvi dar a tal da segunda chance com Abraham Lincoln caçador de vampiros, e agora fiquei com a sensação de que muito do que não gostei de Orgulho e Preconceito e Zumbis está em ter procurado humor onde não havia humor. Porque é óbvio que ao ler um título que una o nome de um dos mais famosos presidentes americanos com um dos monstros da moda, dá a sensação de que será uma piada atrás da outra (como em How to Survive a Horror Movie), tanto quanto a inclusão de “e Zumbis” no título do romance de Jane Austen. Mas o que Seth Grahame-Smith faz é construir uma aventura das boas usando uma personagem conhecida como ponto de partida. Não vou negar que há alguns momentos de humor, mas são mais leves.Abraham Lincoln caçador de vampiros deve ser lido como você leria qualquer livro que tenha vampiros.1

A história começa com Seth Grahame-Smith contando que enquanto trabalhava como caixa em um mercadinho recebera de um cliente chamado Henry nada mais nada menos do que os diários de Abraham Lincoln. O que ele percebe logo que começa a ler é que há um elemento até então não conhecido na vida do presidente: ele fora um caçador de vampiros. Após a introdução, começamos a ler o que seria uma biografia de Lincoln – mesmo estilo de texto, mesma voz narrativa, as mesmas fotos ilustrando passagens descritas ao longo do livro – só que é aí que vem o truque de Grahame-Smith, que sem abrir mão do que já é conhecido sobre a figura política, inclui o elemento vampiro de forma muito engenhosa. Continue lendo “Abraham Lincoln caçador de vampiros (Seth Grahame-Smith)”


  1. Ok, hoje em dia é melhor enfatizar: vampiros como vilões, monstros. Não os vampiros bonzinhos que se apaixonam por humanas etc. etc. etc. 

Giffy Reviews

Ontem o Tuca me apresentou o que achei um dos tumblrs mais bem sacados dos últimos tempos: Giffy Reviews. A ideia é, através de uma imagem (sim, no formato gif, Sherlock) “resenhar” um livro. Pense assim: é quase um Como eu me sinto quando, só que para livros. E achei tão engraçado que em pouco tempo já tinha visto todas as Giffy Reviews da página, e estava morrendo de vontade divulgar aqui no blog e também de fazer ao semelhante. Não, calma: não vou criar um tumblr assim, nem mudar o formato dos meus posts sobre livros. Mas resolvi entrar na brincadeira e fazer “giffy reviews” de alguns livros que li este ano, mas não comentei por aqui (o plano original, jogado na lixeira do wordpress, era falar deles no formato de um tweet, mas concisão não é bem uma qualidade minha, digamos assim). Vamos lá então, de janeiro até agora, temos:

A Mulher de Preto (Susan Hill)

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The Little Stranger (Estranha Presença, Sarah Waters)

Nunca tinha ouvido falar do livro The Little Stranger de Sarah Waters (lançado aqui no Brasil pela Record como Estranha Presença). O que chama minha atenção para a total ignorância sobre o título foi basicamente o fato de que eu adoro histórias de casas assombradas por fantasmas e bem, The Little Stranger tem uma casa assombrada por fantasmas. Junte aí o fato de que a obra foi finalista do Man Booker Prize de 2009 e pans, wtf Anica, por onde anda sua cabeça? Ok, voltamos à ordem natural das coisas, já li o dito cujo. É realmente uma ótima história de fantasmas, mas ela não é uma história de fantasmas, e daí justamente o seu charme. De certa maneira lembrei muito de A outra volta do parafuso enquanto lia, já que muito dos recursos utilizados por Waters são bastante parecidos com os da obra de Henry James.

As semelhanças começam com a presença de um narrador não confiável, Faraday. Logo de cara  ele descreve seus sentimentos sobre a primeira vez que esteve na mansão Hundreds Hall, quando ainda era criança: uma grande admiração e desejo de ser parte daquilo. Faraday era filho de pessoas humildes, ainda jovem perdeu a mãe e com esforços do pai conseguiu seguir carreira na medicina, e é como médico que retorna à mansão, para cuidar da empregada da família Ayres. Quando chega ao local, descobre que ele não tem mais nada a ver com as memórias de sua infância: decadente e caindo aos pedaços, Hundreds Hall aparece como um símbolo do que as Guerras fizeram com as famílias mais ricas da Inglaterra.

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