NOS4A2 (Joe Hill)

nos4a2Eu falo bastante da semelhança entre a obra do Joe Hill e do Neil Gaiman, eu sei. Mas ler NOS4A2 (o mais recente livro do autor, ainda sem tradução no Brasil) logo depois de O Oceano no Fim do Caminho e não estabelecer uma relação entre os dois é praticamente impossível. Não que o Joe Hill vá te fazer chorar copiosamente como Neil Gaiman fez, mas parte do horror construído em seu novo romance tem como base a mesma ideia do livro de Gaiman, de ser criança e se ver sozinho em uma situação difícil, principalmente porque os adultos que deveriam apoiá-lo (ou ainda, protegê-lo) não acreditam em você, ou estão preocupados demais com suas próprias vidas para perceber o que está se passando com você. O efeito causado por esse tipo de situação é interessante porque, mesmo falando de fantasmas, vampiros e assassinos seriais, ainda assim o que mais assusta não é a ficção, mas a realidade.

De qualquer modo, comparações ficando de lado, vamos ao NOS4A2 (pronuncia-se “nosforatchu” ou, como é a intenção do dono do carro que apresenta esta placa, “nosferatu”). Eu me enrolei um pouco para começá-lo (saiu no final de abril lá fora) porque as 700 páginas me desanimavam um tanto. Calma, não é preguiça de ler livro grande. É só que eu estava achando que o Hill acabaria pegando uma mania chata do pai dele de escrever livros desnecessariamente prolixos, que estragam muito o clima do horror. Não vou dizer que não exista um tico de “gordura” em NOS4A2 (aquelas divagações de personagens secundárias que te fazem rolar os olhos e pensar em pular algumas páginas, por exemplo), mas logo entendi o motivo para o tamanho do livro: ele segue a história de Vic “The Brat” McQueen desde a infância, quando descobre que tem um dom especial para “encontrar” objetos perdidos.

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Trilogia Jogos Vorazes (Suzanne Collins)

Então que há tempos toda vez que vou mencionar Jogos Vorazes eu lembro que não coloquei os posts que publiquei no Meia Palavra aqui no Hellfire, tenho só meus comentários sobre o filme. Eu li os livros entre fevereiro e março do ano passado, daquele jeito meio imerso que depois dá até uma ressaca literária depois. No Meia escrevi separadamente sobre cada um deles, mas convenhamos, sendo isso aqui só uma republicação, não vejo motivo para separar em três posts. Portanto senta que lá vem história, porque aqui vou falar de Jogos Vorazes, Em chamas e A Esperança.

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JOGOS VORAZES

Confesso que comecei a ler Jogos Vorazes com uma certa carga de preconceito que tenho sobre o que se publica ultimamente para o público infantojuvenil. Pensei “Lá vem mais uma história romântica com um casal improvável…”. Mas estava dando um crédito mesmo assim para o primeiro livro da série escrita por Suzanne Collins porque pessoas cujo gosto é parecido com o meu falavam muito bem do livro. Primeiras páginas, fico conhecendo Katniss Everdeen, adolescente que vive em um futuro para lá de distópico: o mundo se organiza em distritos, cada qual com sua matéria-prima principal, todos tendo que servir a Capital sem perguntas. A última vez que uma revolta aconteceu, a Capital acabou com quem ia contra seu poder e criou a partir daí os Jogos Vorazes. Continue lendo “Trilogia Jogos Vorazes (Suzanne Collins)”

Escolhas, escolhas…

canecaSe me perguntarem do que sinto falta sobre ter parceria com uma editora, eu diria: de não precisar ter critérios para escolher o que leria. Os livros já chegavam até mim com uma pré-filtragem (normalmente os lançamentos ou livros que as editoras queriam divulgar) e, como eu tinha o compromisso de resenhá-los, tinha que ler todos até o fim – mesmo achando o começo sem graça. Eu sei que muita gente pode ver isso como algo negativo (já li muita reclamação de pessoas sobre “todo mundo sempre falar dos mesmos livros”, por exemplo), mas para mim, como leitora, era uma benção. Porque eu tenho um sério problema na hora de escolher o que ler.

Fico tão ansiosa com essa ideia de que não poderei ler tudo o que foi publicado que acabo encontrando dificuldades na hora da escolha. Quem vem primeiro na fila dos ‘n’ livros para ler? Aquele livro recomendadíssimo por um amigo com gosto similar ao seu? O outro que tem sido elogiadíssimo em várias resenhas? O novo do seu autor favorito? Qual o critério para quem não tem qualquer obrigação com a leitura? Pois é. Eu não tenho. Ou às vezes até tenho, mas são bizarríssimos ou completamente contraditórios, do tipo “Leia antes que chegue o filme” (como fiz com O lado bom da vida) e “Leia porque você gostou do filme” (como fiz com As aventuras de Pi). No final é tão aleatório que não dá para dizer que há um critério (ou um método nessa loucura, como dizia o tio Will).

O problema disso tudo é que na ansiedade, você acaba largando livros mais rápido do que normalmente abandonaria. Ou ainda, quando você não tem critério fica muito fácil começar a tender para um só tipo de leitura. Porque a gente se acomoda. Gosta de um autor em específico e aí quer ler tudo dele (oi, Gillian Flynn!), fica confortável com um determinado tipo de livro e aí basicamente só troca de autor (ou título), mas o enredo continua sempre o mesmo. E mesmo assim, a tal da ansiedade de não poder ler tudo continua, dando espaço para um sentimento que faz com que eu lembre muito de uma cena em especial do filme Quase Famosos: Continue lendo “Escolhas, escolhas…”

Se eu Ficar (Gayle Forman)

if-i-stayEu tenho certeza que o Book Riot fez uma lista semelhante, mas semana passada vi uma lista no BuzzFeed com 14 livros para ler antes que chegassem às telonas, e alguns títulos chamaram minha atenção, mais especificamente os três últimos: If I Stay, The Spectacular Now e Reconstructing Amelia. Ok, kindle carregado, vamos lá. Comecei por If I Stay, não sei bem por qual razão. Escrito por Gayle Forman e publicado lá fora em 2009, ele chegou aqui no Brasil no mesmo ano pela editora Rocco, com o título Se eu Ficar. A adaptação para o cinema ainda está naquele limbo de pré-produção, com mais rumores do que notícias, sabe como é. Entre os tais rumores, há o de que a Hit Girl Chloë Grace Moretz interpretará a protagonista, e até que o brasileiro Heitor Dhalia (de O Cheiro do Ralo) assumiria a direção, que no momento está por conta de R. J. Cutler, de quem nunca ouvi falar mas o IMDb diz que dirigiu alguns episódios de Nashville (que eu também nunca vi, há!). Enfim, se você quer ler “antes que chegue às telonas”, pode ficar tranquilo que antes de 2014 não chega, não.

Então, sobre o livro. Se eu ficar conta a história de Mia, uma adolescente de dezessete anos que sofreu um acidente de carro bem feio com sua família. Ela está em coma e passa por uma daquelas experiências fora do corpo, viagem astral, projeção de consciência ou seja lá como chamam isso. Enfim, ela vê o corpo dela lá, todo entubado. Vê as pessoas conversando com ela, e aos poucos vai percebendo que ela terá que tomar uma decisão: a de viver (ou seja, “ficar”, sacou o título, ahn, ahn?) ou desistir e morrer. Aos poucos vão aparecendo os argumentos para cada uma das opções, que é o que de forma segura a atenção do leitor até o fim da narrativa: o que aconteceu com sua família? Como o namorado Adam reagirá ao acidente?, etc.

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Love Is a Mix Tape: Life and Loss, One Song at a Time (Rob Sheffield)

LADO A

Love is a mix tape

Muito embora meu contato com música no último ano seja mais Interpol/Paul Banks em eterno repeat no player, a verdade é que gosto de música. Muito. Cresci em uma família de pessoas apaixonadas por música, durante um bom período da minha adolescência música era o que movia meus dias e portanto eu sei bem o que Rob Sheffield quer dizer quando comenta sobre nossa capacidade de conversar através da música em sua autobiografia Love is a Mix Tape: Life and Loss, One Song at a Time, publicado em janeiro de 2007 nos Estados Unidos e, pelo menos após uma rápida googlada, aparentemente sem tradução no Brasil (ainda). Mais do que nos ajudar a falar, a música também tem outra característica (também reconhecida por Sheffield e muito, muito apreciada por mim) de permitir viagens no tempo. Toca Bitter Sweet Symphony e lá estou eu, caminhando pelos corredores da PUC. Escuto Love Me Do e estou em uma viagem de carro com a família quando ainda era criança. Toca Qualquer coisa e tenho quinze anos e estou voltando do colégio com minha amiga e juntas cantamos a música bem alto. E por aí vai. Não tem a ver com o ano de lançamento da canção, mas com o momento em que você conheceu a canção. Quem estava com você. O que você estava fazendo. Quem te apresentou. Quem ouvia muito com você.

E Love is a Mix Tape toma emprestada essa característica da música para que o autor resgate as lembranças do tempo em que conheceu e viveu com sua esposa, Renée Crist. Ambos eram jovens recém-formados e obcecados por música (e mix tapes, é óbvio), casaram cedo mas, infelizmente, tiveram apenas cinco anos para compartilharem essa paixão. Renée faleceu em maio de 1997, vítima de embolia pulmonar.1

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  1. Sei que isso parece ser um spoiler, mas lembrem, é uma autobiografia centrada justamente na morte de Renée. Tem coisas que não tem como não dizer, mas de qualquer forma, comento um pouco mais sobre isso um pouco para frente 

Tempo para ler

avid-reader-clock1O texto a seguir foi publicado originalmente no Meia Palavra em 30 de novembro de 2011. Eu já tinha planejado colocá-lo aqui tem algum tempo, mas sempre acabava adiando a publicação, até que hoje cedo dei de cara com uma citação no tumblr e pensei: “uou, isso basicamente resume tudo o que eu quis falar naquele texto, mas de um jeito mais bonito”. Então vou colocar a citação seguida do texto, iepiiii.

“By making time to read, like making time to love, we expand our time for living. If we had to think of love in terms of our busy schedule, who’d risk it? Who’s got time to fall in love? But have you ever seen someone in love not finding time for it? I’ve never had time to read, but nothing’s ever stopped me from finishing a novel I loved. Reading isn’t about managing your social life better; it’s a way of being, like being in love.”

The Rights of the Reader by Daniel Pennac

É inevitável: pessoa aleatória começa a fazer parte da minha rotina, repara nos livros que leio e logo comenta: “Nossa, mas quantos livros você lê por semana? Está sempre mudando!” . Eu fico meio sem jeito de dizer que são em média dois por semana, ainda mais considerando que tem alguns anos 2 era a média de leitura anual do brasileiro. Aquela coisa, fica parecendo que estou querendo me exibir. Aí o que eu invariavelmente escuto é algum elogio ao meu hábito de leitura (obrigada) normalmente seguida pela famosa frase “Puxa, queria ter tempo para ler.” Continue lendo “Tempo para ler”

E foram todos para Paris (Sérgio Augusto)

E-foram-todos-para-ParisAntes de tudo, um relato pessoal. Antes de conhecer Paris, eu pensava na cidade como um clichêzão, não tinha lá muita curiosidade para conhecê-la. Lembro que, ao contrário de Londres, sobre a qual já tinha lido tanto, tanto que já parecia conhecer as ruas que ainda nem visitara, cheguei na Cidade Luz tendo em mente dois destinos: o cemitério Pere Lachaise (meta ainda mais definida: túmulo de Oscar Wilde) e a óbvia Torre Eiffel (seguindo a dica do 1001 lugares para conhecer antes de morrer, de ser a última visita ao local). Sei que no final das contas foram poucos dias, mas serviram para eu compreender porque a cidade é um clichê. Ela é de fato apaixonante. Não dá para visitar Paris e sair ileso. Fica um pouco de você ali, aquela vontade de voltar, de rever lugares que parecem ter saltado da tela de um filme.

E muito dessa saudade que sinto da cidade fez com que eu me encantasse perdidamente por Meia Noite em Paris, filme de Woody Allen lançado no ano passado. Misturando figuras populares da década de 20, de Fitzgerald até Hemingway, a mescla entre figurinhas carimbadas do universo literário e a cidade dos sonhos inevitavelmente tinha que ser encantadora. E creio que não só para mim, já que o filme foi um sucesso (que se refletiu nas livrarias, com leitores procurando os autores que aparecem na história). E é na esteira do sucesso desse filme que o jornalista Sérgio Augusto lança seuE foram todos para Paris: um guia de viagem nas pegadas de Hemingway, Fitzgerald e cia. Continue lendo “E foram todos para Paris (Sérgio Augusto)”

Viagem ao fundo da sala (Tibor Fischer)

viagem-ao-fundo-da-sala---tibor-fischer_4274337_178249Tive uma leve ressaca literária depois de terminar o apaixonante O oceano no fim do caminho. Começava um livro, abandonava, começava outro, ficava para lá. Acho que é o lado ruim do kindle: são tantas opções que acaba ficando mais fácil desistir de uma leitura (com aquela desculpa do ‘ok, esse fica para depois’). Então resolvi dar uma olhada na pilha dos livros de papel que comprei este ano e ainda não tinha lido, e abri o Viagem ao fundo da sala, do inglês Tibor Fischer. “Eu só fiquei rica porque estava em casa às quatro e meia da tarde numa sexta-feira“. Pronto, senti ali, logo na primeira frase, que este seria o livro que curaria minha ressaca – o que de fato aconteceu.

Daquela história dos vários sentidos que uma palavra carrega, sempre que ouvia a Sol comentando sobre este livro eu pensava que a “sala” do título era a sala de aula. Coisa de professor, sabe como é. E qual não foi minha surpresa quando dou de cara com Oceane, uma designer que é, como conta a primeira frase do romance, rica e acaba usando seu dinheiro para manter um estilo de vida recluso. A jovem não sai de casa nem mesmo quando vai viajar: contrata um agente de viagens que organiza festas temáticas com estrangeiros no apartamento do andar de baixo para saciar sua curiosidade sobre as diferentes culturas.

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O Oceano no Fim do Caminho (Neil Gaiman)

oceano-no-fim-do-caminhoSei que quando falo disso pareço aquelas pessoas que visitam a praia pela primeira vez depois de anos de vida, mas vá lá, pense comigo em como a Internet mudou as coisas para todos nós. Começo de 2000 eu fiquei sabendo sobre Deuses Americanos de Neil Gaiman e como já era fã do autor por causa de Sandman, obviamente entrei no modo “OHMEUDEUSEUPRECISOLERESTELIVRO”. E aí eu ia todo dia na livraria perto da faculdade e perguntava “Já chegou Deuses Americanos?” e necas. E foram dias e dias assim, até que finalmente tive o livro em mãos. Agora no caso do lançamento mais recente de Gaiman, O Oceano no Fim do Caminho, não só acompanhei pelo twitter do escritor todo o processo de publicação da obra, como também tive o prazer de acordar na manhã do dia do lançamento e já ter o livro lá no meu kindle, me esperando. Isso para não dizer que eu tinha a opção de escolher entre o original e o traduzido, já que a Intrínseca lançou a tradução simultaneamente (e então os fãs que não leem em inglês não precisaram esperar meses para poder conferir o trabalho do Gaiman, certo?).

Enfim, sobre o livro. O Oceano no Fim do Caminho foi anunciado como o primeiro romance para adultos desde Os Filhos de Anansi. Gaiman de fato tem se dedicado mais à literatura infantojuvenil, com livros como Odd and the Frost Giants ou ainda, O livro do CemitérioEntão com um intervalo de seis anos, é claro que havia uma certa dose de expectativa. Eu estou frisando esse ponto porque normalmente quando criamos expectativa sobre algo, acaba que elas não são superadas e ficamos com um gosto amargo pelo livro “não ter sido tão bom assim”. Mas o fato é que esse não é o caso. Gostei tanto de O Oceano no Fim do Caminho que, quando vi que a porcentagem de leitura no kindle se aproximava dos 99%, comecei a me despedir das personagens junto com o narrador com lágrimas nos olhos. Sério. LÁGRIMAS. Neil Gaiman, seu puto, devolve meu coração.

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A Máquina Diferencial (William Gibson & Bruce Sterling)

maquinadif_frente_alta_2O termo steampunk em literatura é aplicado para histórias que se passam em uma realidade alternativa na qual o século XIX ainda tem como principal fonte de energia o vapor (daí o termo “steam”), mas encontra-se mais avançada tecnologicamente do que realmente foi em nossa história. Seja a Inglaterra vitoriana, seja o velho oeste norte-americano, a ideia é incluir no cotidiano das personagens elementos que não existiam na época e que hoje em dia nos são comum, tudo isso adequado ao que estava disponível naquele tempo em termos de matéria prima ou mesmo de tecnologia.

Foi em 1990 que dois autores famosos por trilharem o caminho do cyberpunk (William Gibson e Bruce Sterling) escreveram a quatro mãos uma história que parte desse princípio, criando o agora clássico da ficção científicaA Máquina Diferencial. Vencedor de prêmios, o livro embora não possa exatamente ser chamado como o primeiro steampunk da literatura, ainda assim tem papel fundamental na divulgação desse gênero, sendo que por isso frequentemente aparece como referência ao falar desse tipo de obra.

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