Melhores (e piores) leituras de 2013

Então, sem mais enrolações, a listinha do ano. Clicando no link do título do livro você poderá ler minha resenha (trocentos anos escrevendo sobre livros e ainda não gosto de chamar post de blog de resenha, mas vá lá), por isso o comentário aqui no post é mais breve. Só ressaltando que a lista não conta só com livros lançados em 2013, por isso chamo de “melhores leituras” e não “melhores lançamentos”.  E quando eu vi que ia dar uma roubada descarada com mini-listas, resolvi fazer um top 10 mesmo (só para explicar a quebra de ~~tradição~~, já que normalmente faço só top5). Vamos lá, para a lista:

MELHORES LEITURAS DE 2013

1. Haunted (Chuck Palahniuk)

Eu sou da opinião que livro bom é livro que fica com você mesmo depois de muito tempo, e Haunted é exatamente o caso. Li em junho mas ainda não posso ver uma piscina e não lembrar da história do Saint Gut-Free e aí consequentemente de como esse livro mexeu comigo. E é isso: a galeria de personagens criada pelo Palahniuk acaba te assombrando, objetos ordinários fazem com que você lembre dos relatos extraordinários de cada um dos confinados. Mas mais do que os contos que mostram o que fez com que aquelas pessoas fossem ao “retiro de escritores”, o comportamento delas no tal retiro é bastante chocante também, e acaba trazendo bastante questões sobre a natureza humana. Saiu no Brasil como Assombro, pela Rocco.

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Quem é você, Alasca? (John Green)

970283_503112176424637_1315046538_nEntão, mais um do John Green. Eu realmente queria dar um tempo, mas sempre ouvia tantos elogios sobre Quem é você, Alasca? (lançado aqui no Brasil pela WMF Martins Fontes), que acabei lendo de uma vez. Considerando que o Green ainda não tem tanta coisa publicada, e que vários elementos de suas obras tendem a se repetir, é importante dizer que Quem é você, Alasca? foi o primeiro livro publicado do autor, em 2005. Digo isso porque há bastante semelhanças superficiais especialmente entre Quem é você, Alasca e Cidades de Papelmas o leitor nem precisará ser um grande observador para reparar que os temas explorados são um tanto diferentes, bem como o modo como isso é feito.

Calma. Ainda temos um narrador em primeira pessoa, masculino, nerd com alguma peculiaridade aleatória, que tem uma amizade forte com outro garoto e sim, a garota por quem o protagonista é perdidamente apaixonado. Mas há algo tanto na estrutura quanto na forma como o autor aborda certas questões (ei, já chego lá) que faz com que Quem é você, Alasca? seja único e, devo dizer, superior às publicações seguintes. A história começa aparentemente simples: Miles é um garoto meio solitário e meio sem propósito algum na vida que vê em uma ida a um colégio interno a possibilidade de dar uma virada, ou, como ele diz ao citar Rabelais, “sair em busca do grande talvez”. Chegando em Culver Creek, começa uma amizade com Chip (apelidado de “o Coronel”) e cai de amores por Alasca Young, uma garota visivelmente mais experiente, meio doidinha e, nas palavras dele, linda.

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Amsterdam (Ian McEwan)

(Sempre que vou falar algo sobre o Ian McEwan lembro de uma cena de Alta Fidelidade. Achei que seria um bom momento para registrar isso, desculpa aí a qualidade ruim do video. Acho que também é um bom momento para avisar que pode haver spoilers por aqui, então a não ser que você não ligue para isso, é melhor voltar quando já tiver lido o livro.)

Amsterdam saiu lá fora em 1998, ganhou uma edição brasileira no ano seguinte pela Rocco e ano passado ganhou nova tradução pela Companhia das Letras. Foi o livro com o qual McEwan ganhou o Man Booker Prize, o que eu sei que não quer dizer muita coisa, mas vá lá, agora já falei. Eu acho que o principal de todas as informações sobre o livro é o ano de 1998, tão próximo da virada do milênio e uma fronteira importante sobre a popularização da internet (pouco tempo depois disso, o que era algo para poucos virou lugar-comum em nossas vidas). Isso acaba fazendo um sentido enorme dentro da história de Vernon e Clive, dois amigos que se encontram no funeral da ex-amante e impressionados como o mal que a mulher sofrera fora tão súbito e lhe tirou qualquer dignidade no fim da vida, acabam fazendo um trato de que se um deles acabasse em situação semelhante, o outro deveria dar um jeito de matá-lo.

Como todo livro do McEwan eu comecei lendo achando que seria uma coisa, e aos poucos ele foi se revelando algo completamente diferente do que eu esperava. Eu gosto do jeito que ele quebra essa expectativa, então para mim ver uma história que eu tinha certeza que seria um drama debatendo a eutanásia se transformar em um tipo de suspense salpicado de humor negro foi uma ótima surpresa. Não que não existam debates envolvendo ética, moral ou seja lá qual for o prato do dia: é só que o autor consegue escapar do caminho óbvio que poderia ter tomado.

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Noites de Alface (Vanessa Barbara)

Otto e Ada viveram juntos na casa amarela por muitos anos, até que um dia Ada morre, e Otto fica para trás tendo que lidar não só com a perda da esposa, mas com a solidão que chegara depois de anos pensando e fazendo tudo em dupla. Assim, pense em uma versão com idosos de alguns versos de I just don’t know what to do with myself: I just don’t know what to do with myself/Don’t know just what to do with myself/I’m so used to doing everything with you/Planning everything for two/And now that we’re through… Esse será o motor principal de Noites de Alface, de Vanessa Barbara. Infeliz com a perda da esposa, Otto mescla memórias dela com observações que vai fazendo da vizinhança da cidadezinha do interior, “adivinhando” o que acontece nas outras casas a partir do que Ada lhe contara, e dos barulhos que escuta.

E aos poucos, nós mesmos vamos conhecendo a vizinhança, num modelo que de certa forma se aproxima de The Brief History of the Dead que eu acabei de ler, com um capítulo concentrado em uma personagem. A diferença é que se no livro americano eu não achei que as personagens foram bem desenvolvidas dentro desse modelo, em Noites de Alface eu fiquei surpresa como a autora conseguiu desenvolver tão bem cada uma das figuras da cidadezinha, de torná-las tão palpáveis e carismáticas ao ponto de prenderem sua atenção mesmo que o que esteja retratado ali seja mero cotidiano: datilografa, vende remédio, bate iogurte no liquidificador, etc. Não há nada de realmente extraordinário (pelo menos aparentemente, já falo disso), mas cada um deles acaba conquistando sua atenção, como se fossem todos protagonistas junto ao Otto.

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The Brief History of the Dead (Kevin Brockmeier)

Pegue um papel e anote nele todas as pessoas das quais você se lembra. Para facilitar, pense em categoria de pessoas, começando por sua família. Pais, avós, irmãos, primos, tios. Agora pense na categoria trabalho. Chefe, gerente, colegas, tia do cafezinho. Vizinhos. Faculdade. E siga aí, fazendo sua lista. Há uma possibilidade grande de que você canse antes de chegar perto do fim de descobrir o número real de pessoas que apesar de não conviver diariamente (ou há tempos), ainda assim você lembre delas. É com essa infinidade de pessoas que armazenamos na memória que Kevin Brockmeier brinca em seu The Brief History of the Dead, publicado lá fora em 2006 (e, no que diz uma busca mequetrefe no google, sem tradução no Brasil).

A premissa básica do romance é que quando uma pessoa morre, ela não vai para um céu ou inferno. Ela vai para uma cidade, onde ficará com outras pessoas mortas até o momento em que não exista mais ninguém vivo que lembre dela. Há alguns trocadilhos no texto que deixam implícita a ideia de “alma”, mas os habitantes dessa cidade comem, dormem, ouvem música, se apaixonam, enfim, “vivem” como fariam do lado de cá. E aí você pega o papelzinho onde anotou o número de gente de quem você lembra e pensa: nossa, então essa cidade deve estar cheia, e seu raciocínio está correto, embora a cidade de adapte às novas “almas” que vão chegando, e vai crescendo cada vez mais, além de existir um certo equilíbrio: para um determinado número de gente que chega, há outro que vai embora.

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House of Leaves (Mark Z. Danielewski)

É curioso que meu último post aqui no blog tenha sido sobre livros de papel e e-books, porque logo depois resolvi (FINALMENTE) ler House of Leaves, um livro que aparentemente ganhará edição eletrônica, mas que não consigo imaginar como isso acontecerá sem algum prejuízo. Porque House of Leaves depende de cor (o que restringiria a leitura para e-readers como o kindle), depende de uma formatação fixa inclusive das notas de rodapé e outros tantos detalhes que fazem dele o que ele é. Sabe quando até a capa tem significado? Então. A obra é toda cheia de pistas, algumas irrelevantes (tem o nome do autor escondido em uma nota de rodapé gigante) outras mais importantes (uma carta esconde um outro texto em que uma mulher revela que foi estuprada no hospital psiquiátrico). É um livro que exige bastante do leitor, não só pela atenção, mas pelas “n” releituras de trechos que aparentemente não diziam nada, “n” momentos refletindo depois o que algum trecho poderia dizer. Pega um lápis, rabisca sem dó. Enfim, é livro para ser lido como livro de papel mesmo.

A primeira vez que ouvi falar de House of Leaves foi em uma dessas listas que pipocam por aí sobre livros “intraduzíveis”. Fiquei curiosíssima após ver algumas imagens mostrando a formatação completamente louca das páginas, imaginando como é que aquilo se encaixaria na história, que em teoria é até simples. Temos três linhas para seguir: o artigo de Zampanò sobre um documentário, as notas que Johnny Truant incluiu neste artigo após a leitura e o material coletado por Will Navidson para criar o documentário do qual Zampanò fala. Cada linha é apresentada com uma fonte diferente, para ajudar o leitor a reconhecer a “voz” predominante. O documentário em questão é conhecido como The Navidson Record, e desde o início Truant revela nas notas de rodapé que não encontrou qualquer informação que comprovasse a existência do vídeo, porém o estudo de Zampanò vem recheado de referências a livros e pessoas tratando o documentário como real. Nós, como leitores, sabemos que é ficção mesmo que nomes como Miramax e Weinstein apareçam por ali, mas não deixa de ser interessante até como um recorte do nosso tempo a inclusão de nomes reais em um romance. Não tem como não achar graça, por exemplo, do trecho em que pessoas são entrevistadas e falam do Navidson Record. Quais pessoas? Ah, só “desconhecidos” como Anne Rice, Stephen King, Harold Bloom, Hunter S. Thompson e Stanley Kubrick. De novo: é evidente que são depoimentos “falsos”, mas ainda assim, cria um efeito interessante, puxando a ficção para a realidade.

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Love and Other Perishable Items (Laura Buzo)

Acho que a esta altura do campeonato quem lê os posts por aqui já sabe que eu tenho uma queda descarada por livros com títulos não muito convencionais, certo? Tem quem escolhe pela capa, tem quem escolhe por causa de resenhas positivas, e tem o meu caso: não resisto quando vejo um título criativo. No caso de Love and Other Perishable Items de Laura Buzo (algo como “Amor e outros itens perecíveis”, ainda sem tradução no Brasil) meu contato foi através de um post no tumblr, daqueles que fazem relação entre certas obras (num esquema “você gostou de…” então leia tal livro). Achei a ideia do post bem legal, mas mais ainda o título do livro da Buzo. E ali eles associavam com Eleanor & Park, que eu gostei bastante. Pronto, não precisava de mais nada.

Negócio é que não começou muito bem. Amelia, menina de 15 anos descreve seus primeiros dias no emprego em um supermercado. Hum, sim, ela se apaixona por um funcionário chamado Chris. Não sei se era só porque eu estava em uma fase ruim (já mencionada no post anterior), mas a leitura só engrenou mesmo para mim quando descobri que a história era narrada por Amelia, mas cada trecho dela era seguido por páginas dos diários de Chris (uma personagem bem mais interessante, digo desde já). Assim, como leitores nós ficamos sabendo dos eventos primeiro sob o ponto de vista da garota, depois do garoto.

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Jack o Estripador (Paulo Schmidt)

Quando falei toda empolgada sobre Retrato de um assassino da Patricia Cornwell para a Kika, ela disse que tinha um pé atrás com esse livro, mais especificamente com a teoria defendida pela autora (a saber, que o pintor Walter Sickert era o famoso serial killer britânico do século XIX). Ela dizia que tinha lido uma obra que acabava com os argumentos da Cornwell, e por isso a desconfiança sobre Retrato ser realmente bom. Aí esta semana ela me emprestou Jack o Estripador, de Paulo Schmidt, o tal do livro do qual ela falava. Antes de continuar qualquer coisa aqui preciso deixar destacado que desde que acabei A vida privada das árvores (Zambra), eu estava em uma maré de preguiça com minhas leituras: começava, até achava legal mas aí acabava abandonando. Abandonei The Cuckoo’s Calling, The Radleys, e outros tantos, durou quase um mês isso, quando hoje finalmente (UFA UFA UFA) terminei um livro que comecei. Sim, exatamente este do Schmidt.

Um dos pontos altos de Jack o Estripador é o modo como o autor consegue nos transportar para a Inglaterra Vitoriana, mesclando fatos sobre os assassinatos e as investigações com o dia-a-dia dos envolvidos (algo que também gostei no texto da Cornwell). Não é uma mera descrição fria de detalhes até perturbadores (se formos pensar especialmente nas descrições das vítimas), mas um texto montado de tal forma que pequenas informações te fazem lembrar uma das principais razões para Jack não ter sua identidade revelada: era a mente de alguém do século XX contra uma polícia que na realidade parecia pertencer ao século XVIII: impressão digital, amostra de sangue e outras pistas que hoje são lugar comum em qualquer investigação hoje sequer existem. Junte a isso um lugar superpovoado, com iluminação fraquíssima e temos o cenário perfeito para que Jack o Estripador cometesse seus crimes.

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Fangirl (Rainbow Rowell)

Dois meses e já li três livros da Rowell. Terei virado fangirl? Ok, usei logo o trocadilho para não cair em tentação mais para frente. O negócio é que sim, a moça tem um jeito gostoso de contar história mesmo. Você começa achando que é meio “meh” e depois está completamente envolvido com as personagens, por mais que o drama central da narrativa seja meio bobinho (no caso de Fangirl, bobinho é eufemismo). É, como comentei sobre Eleanor & Park, uma viagem para a adolescência, aquele “matar saudades” de quando você achava que um carinha era a-coisa-mais-importante-do-mundo e variações de outras coisas que te fazem dar um tapa na testa hoje em dia e pensar “Caraca, eu era uma monga”. Mas ao mesmo tempo que você faz isso, já pensa que bem, eram bons tempos e ser monga era permitido e cá está você de boa, então no harm done, vamos lembrar desse período como algo bom. Enfim, acho que deu para entender.

Continuando, eu acho que Fangirl é um presente da Rowell para os Potterheads. Poderia ser para qualquer outro fandom entre os milhares existentes por aí, é evidente, mas você não consegue deixar de lado as óbvias referências e principalmente, da homenagem que a autora presta aos leitores que cresceram (literalmente) lendo Harry Potter. Você sabe, este não é meu caso. Morro de inveja dessa galerinha que mal tinha entrado na adolescência quando leu o primeiro livro e já estava quase chegando na fase adulta quando leu o último. Deve ter sido uma experiência única, crescer junto com um livro. Não à toa esse pessoal é profundamente devotado, e continua falando dos livros como se o último não tivesse sido publicado há o que? Uns seis anos? É essa paixão pelos livros que a Rowell acaba captando ao contar a história de Cather, uma garota completamente obcecada pelas histórias de Simon Snow (o que seria aqui o equivalente de Harry Potter). Dezoito anos, morando fora de casa pela primeira vez, começando a se ambientar na faculdade e mantendo firme o amor pelas histórias de Snow, bem como o gosto por escrever fanfics sobre a personagem.

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Important Artifacts and Personal Property From The Collection of Lenore Doolan and Harold Morris, Including Books, Street Fashion, And Jewelry (Leanne Shapton)

Ok, a coisa toda começa com esta lista aqui: dez livros para superar uma separação. Não conheço todos, mas assim que bati os olhos em Important Artifacts and Personal Property From The Collection of Lenore Doolan and Harold Morris, Including Books, Street Fashion, And Jewelry de Leanne Shapton na hora fui buscar informações sobre a história, porque veja bem, eu tenho um fraco por títulos bizarros. Então, lendo as informações sobre a obra, descubro que ela é exatamente isso, uma coleção de objetos de duas pessoas, apresentados em um catálogo de leilão. A coisa é que além de um fraco por títulos bizarros, eu tenho também uma queda descarada por qualquer tipo de inovação literária, então é evidente que comprei imediatamente o livro (uma das coisas mais bacanas daquele buy with one click da Amazon, há!)  e comecei a ler.

O livro começa com uma nota dos responsáveis pelo leilão avisando que a introdução ao catálogo seria a reprodução de um cartão postal escrito em 2008 por Harold Morris, o dono dos itens que estão sendo leiloados. No cartão, Morris conta para Lenore que o único relacionamento que ele se arrependia de ter terminado era o que ele tinha com ela. É uma boa sacada de Shapton, porque ela na realidade já está nos entregando que não haverá surpresas: veremos o relacionamento de um casal do começo até o fim. Portanto, o enredo em si é ordinário, mas a forma como ela o desenvolverá que ganha destaque aqui. Primeiro porque a autora conta com o leitor para complementar as lacunas que são deixadas na história, adivinhar o que está acontecendo por conta de simples objetos. Segundo pela ideia que ela acaba desenvolvendo do que é um fim de relacionamento (e falo disso logo mais, calma aí).

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