O Artista

Eu já estava curiosa para ver O Artista desde que o título surgiu como um dos indicados ao Oscar. É uma mania que persiste mesmo quando já não tenho mais tempo para correr atrás de todos os lançamentos: ver os indicados a melhor filme do Oscar (fazia isso com a Sol, anos atrás). Enfim, sexta à noite, finalmente fui dar uma conferida no filme. Não tinha muitas expectativas – já sabia que era um filme mudo e preto e branco, mas vá lá, a ideia nem é tão original se pensarmos em filmes como The House of the Devil que também recriam a estética e a técnica do período da história que conta (embora nesse caso ele faça referência ao cinema de horror do final da década de 70 e começo da de 80). Mas mesmo assim, eu tinha lá o palpite de que tinham acertado no que fizeram – não pelo Oscar, mas pela quantidade de pessoas que sei que não são exatamente as que assistem cinema mudo dizendo que adoraram o filme.

E meu palpite estava certo, mas vamos por partes. Se a parte técnica não é uma novidade, o plot também não é: a ideia da transição do cinema mudo para o cinema falado já havia sido explorada por um grande clássico do cinema, o Dançando na chuva. Então você me pergunta: se o filme não tem realmente nada de novo, como pode ter agradado tanto? Bom, acho que porque as qualidades não são as supostas inovações, ao contrário do que se imagina. Os aspectos mais positivos de O Artista estão no fato de – assim como o cinema que está homenageando – saber mostrar que simplicidade nada tem a ver com má qualidade ou desleixo. É trazer novamente aquele gosto pelo cinema pelo que ele tem de melhor, a possibilidade de fazer com que acreditemos num mundo que não mais existe.

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Cinema com mamadeira 2

Não deixa de ser engraçado que logo o número 2 do Cinema com mamadeira seja quase todo com filmes que revi, e não filmes novos. Se o tempo é curto, por que estou assistindo novamente alguns filmes? Bem, a resposta é óbvia: porque eles valem a pena. Ou porque esqueci que já tinha visto, há. De qualquer forma, vamos lá, um pouco sobre cada um deles.

O melhor amigo da noiva (2008): Era uma noite aleatória, eu estava morta de cansaço e não queria nada além de uma comediazinha bonitinha e aí vi esta opção no Netflix e resolvi conferir. E né, pelo menos nos primeiros minutos pareceu entregar o que eu queria. Vemos Patrick Dempsey como Tom, um carinha pegador que não se prende a ninguém previsivelmente se apaixonando pela melhor amiga Hannah justo no momento em que ela larga mão do amor platônico por ele para ficar com outro cara. Aí eu comecei a pensar “Peraí, tudo bem que o enredo é previsível, mas isso tudo está começando a soar muuuuito familiar”. Pensei que estava confundindo com algum outro filme que envolvesse casamento, fura olho e afins, e então quando eles chegam na Escócia (sim, vergonhosamente uma parte já bem avançada do filme) eu me dei conta de que já tinha assistido O melhor amigo da noiva. Não lembro quando, não tenho nada anotado – muito provavelmente nos meses finais da gravidez ou em algum momento dos primeiros meses do Arthur, quando não dormir era algo bastante comum. Enfim, o filme não é ruim. Só dá aquele arrependimento ter usado meu tempo revendo algo quando tem tanta coisa que ainda não vi. Continue lendo “Cinema com mamadeira 2”

Cinema com mamadeira 1

Porque eu sou mãe, e não tenho mais muito tempo nem para ver muito filme, nem para escrever grandes posts sobre cada um deles. Por isso resolvi fazer comentários breves sobre o que andei assistindo.

Drive (2011): Podia jurar que tinha comentado sobre ele aqui. Acho que foi meu primeiro filme com Ryan Gosling como protagonista, e gostei bastante do que vi. É daquelas histórias que acabam sendo construídas muito mais nos silêncios das personagens do que em suas falas propriamente ditas. E bem, nas ações, é claro. O motorista (que se eu não me engano nunca tem o nome revelado na história) vai se revelando aos poucos a partir do momento que conhece a nova vizinha e tenta ajudá-la. Achamos que é um sujeito que quer só a sorte de um amor tranquilo ou algo que o valha (e bem, parece que é o que ele quer), mas a seta na régua da moralidade da personagem não está apontando para o mesmo lugar que a maioria dos heróis, tornando a personagem bem interessante, no final das contas. Chamou minha atenção principalmente a forma como a tensão é mantida ao longo da história, em pelo menos uma cena eu lembro de ter dado um pulo de susto.

O primeiro ano do resto de nossas vidas (1985): Pode parecer meio bizarro se for pensar que já passei dos 30, mas não, eu ainda não tinha assistido a esse filme. E lógico, o efeito não foi o mesmo que teria se eu tivesse assistido, sei lá, uns 10 anos atrás (não necessariamente logo que foi lançado). Mas é bastante curioso, no final das contas, ver uma Demi Moore (hoje uma senhoooura) pirralhinha e atores que já foram galãs no seu tempo e hoje são ilustres desconhecidos. A história fala de um grupo de amigos que está naquela difícil fase de transição entre a vida de jovem e a de adulto – pagar conta, trabalhar, enfim, entrar na roda viva. Chamou minha atenção a movimentação dos atores e o ritmo dos diálogos, lembrou MUITO o estilo de uma peça de teatro (especialmente nas partes que passam dentro do bar St. Elmo’s). Foi dirigido por Joel Schumacher 12 anos antes do horroroso Batman & Robin.

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Jogos Vorazes

cena favorita <3

No começo do ano li a trilogia Jogos Vorazes de Suzanne Collins já sabendo que um filme estava para chegar ainda em 2012 (para saber o que achei dos livros, tem post aqui, aqui e aqui). E como gostei muito do que eu li (bateu até aquela deprê pós-leitura depois), óbvio que estava curiosa como seria a adaptação, especialmente por alguns aspectos visuais mesmo: como ficariam as roupas criadas por Cinna para Katniss? Como diabos parece aquela Cornucópia? E como fica a camuflagem do Peeta? Enfim, por aí vai. Não achava que Jogos Vorazes era infilmável, só que algumas ideias dele poderiam não funcionar na hora da troca de mídias e acabaria passando por algum tipo de reformulação (como no caso dos uniformes dos super-heróis das HQs, por exemplo).

E foi com um pouco de receio que eles esculhambassem tudo que comecei a assistir ao filme que, para minha surpresa, conseguiu dar conta muito bem dos desafios que a adaptação trazia. Para começar um ponto bem importante que é a narração em primeira pessoa. No livro temos Katniss narrando os eventos, o que é crucial para mostrar, por exemplo, a dúvida dela sobre como reagir com Peeta na arena; ou ainda do senso de responsabilidade que ela tinha para com a irmã e a mãe. Por isso achei que no filme usariam um voice-over, onde Katniss mostraria seus pensamentos tal e qual no livro. Não fizeram isso, partindo para a criação de cenas que nós leitores não teríamos acesso pelo ponto de vista de Katniss, como uma conversa entre o presidente Snow e Sêneca, Haymitch tentando convencer Sêneca a não matar Katniss ou ainda a ótima ideia dos locutores dos jogos – que explicam para quem não está familiarizado com o universo criado por Collins algumas questões da arena, ao mesmo tempo que servem para chamar a atenção para alguns aspectos que poderiam passar batido.

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Namorados Para Sempre

Eu já sabia da bola fora da distribuidora aqui do Brasil que resolveu traduzir Blue Valentine (um trocadilho do blue de tristeza, acredito eu) para, sei lá por qual motivo bizarro, “Namorados Para Sempre”. Resultado é que muita gente pode ter ido aos cinemas pensando que veria algo romântico e fofo (até porque tem o Ryan Gosling no papel principal) e bem, não é o caso deste filme. Há sim, uma infinidade de momentos fofos e românticos, mas o clima geral é de um tapa na cara: a história segue o caminho contrário dos romances que vemos por aí, do felizes para sempre – para mostrar algo que é bem comum: o que acontece quando acaba o amor, quando acaba o respeito que um tem pelo outro.

Mesmo a forma com a qual somos apresentados ao casal é diferente do convencional. A história de Dean e Cindy começa já pela crise, de quando pequenos atos do cotidiano já parecem irritar como se fossem coisas importantíssimas, quando um não parece mais sequer tocar no outro. O amor que resta ali está em Frankie, a filha do casal – é quase como se todo o afeto que Dean e Cindy sentissem um pelo outro fossem canalizados unicamente para ela, não sobrando mais nada. E disso vem a crise do casal, o que consequentemente leva ambos a começarem a refletir sobre o passado, de como foi que eles chegaram até ali. Uma tentativa de tentar responder a pergunta número 1 de qualquer fim de relacionamento: onde foi que erramos?

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A Hora do Espanto (2011)

Eu não gosto de remakes. E eu não faço ideia porque essa praga hollywoodiana ataca principalmente os filmes de terror. Mas quando soube que A Hora do Espanto ganharia uma nova versão, fiquei extremamente dividida entre minha opinião sobre esse tipo de filme e o fato de Jerry Dandrige ser interpretado por Colin Farrell. Então sim, resolvi dar uma chance. E não é que foi legal? É evidente, você tem que deixar o lado purista completamente de lado (o filme tinha uns 10 minutos e eu já tinha repetido umas trocentas vezes “Mas no original não é assim”, até que larguei mão e resolvi só ver). Mas realmente valeu bastante a pena.

O plot básico está lá: o garoto desconfiando que o vizinho é um vampiro. Além de Jerry e do garoto Charles, as personagens principais estão lá: a mãe de Charles, Peter Vincent e o amigo Ed. Mas eles parecem ter algumas diferenças que acabaram ajudando MUITO na construção da tensão da história que sim, é tensa bagarai. De todas as cenas eu tiraria apenas a perseguição de carro, porque né, ficou bocó (ninguém nunca superará Terminator 2 nesse quesito).

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Um Dia

Eu não sei se voltei. Deu vontade, to escrevendo.

Eu realmente tenho uns motivos meio bizarros de ir atrás de filmes (e livros). No caso de Um Dia (o livro), eu estava bastante curiosa porque estava sendo bastaaaaante divulgado e comentado, mas como tinha lido opiniões tanto favoráveis quanto desfavoráveis ao livro, nunca me animava de comprá-lo. Aí acabei colocando na lista de pedidos de amigo secreto e ganhei (com uma dedicatória bem fofa do Gabriel lá do Meia Palavra), e tão logo o livro chegou, já comecei a ler. E meio que devorei, porque não era óóóó que obra de arte, mas era muito gostoso. Sobre ele eu falei no blog do Meia Palavra, e não vou me prolongar muito aqui. A questão é que também fiquei curiosa sobre o filme, e com aquela mesma sensação de vou ou não vou, mas aí o fato de ter momentos que se passam em Edimburgo falou mais alto e lá fui eu conferir.

Então, sobre o filme Um Dia. Achei que a proposta de mostrar um dia na vida das personagens ao longo de 20 anos. Porque no livro a cada capítulo há alguns parágrafos que meio que tentam colocar o leitor em dia sobre o que se passou durante o ano na vida de Emma e Dexter, e isso é meio que querer dar um migué na proposta do romance, entende? Desse jeito, não mostra um dia na vida deles, mas vááários dias. No filme não é assim: somos trasportados de um ano para outro realmente sentindo a diferença que esse período pode fazer em nossas vidas. Do nada tá o cara com um bebê no colo, ou a menina toda elegante em Paris. Quem está assistindo acaba subentendendo o que aconteceu no espaço de tempo que não aparece na tela.

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Dylan Dog e as criaturas da noite

Verdade seja dita, já tem um bom tempo que não leio quadrinhos. Mas posso falar com toda certeza que uma das últimas vezes que me empolguei com um título foi quando descobri Dylan Dog, os primeiros que li saíram pela Conrad, e depois acompanhei a série pela Mythos. Tinha algo nas histórias do “detetive do pesadelo” que realmente me agradavam, aquela boa e velha mistura de horror com humor, não tinha como eu não gostar. Mas aí pararam de publicar e eu larguei mão, acho que meu último contato foi com o filme Dellamorte Dellamore, que é “baseado” no Dylan Dog mas não exatamente uma adaptação.

E aí chegou a notícia de Dylan Dog: Dead of Night, adaptação meeeeesmo do meu personagem do coração. Eu desde o começo estava um pouco cética, até porque nas primeiras informações já se sabia que personagens como o Groucho não estariam no filme (e desculpem, eu adoro o Groucho e acho que faz falta sim). Mas tudo bem, de qualquer forma eu tinha que conferir, até porque ao ver o trailer eu tinha ficado bem curiosa e até com alguma esperança de que não fosse de todo ruim.

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X-Men: First Class

Tem três meses que não assisto filme algum (o último foi o ótim Meia Noite em Paris). E bem, eu poderia dizer que é porque agora sou mãe e tenho filho para cuidar, mas a verdade é que o Tuco é um anjo que me dá tempo para minhas coisas (tanto que assisto minhas séries e leio meus livros na boa). Mas aí vem o cinema e eu vejo as opções das novidades e bleargh, não dá vontade alguma de assistir. E vou dizer na maior cara de pau que a vida não está fácil para quem costumava piratear, não. Você tem que esperar um bom tempo até que chegue uma versão de qualidade para ver. E aí no final das contas tudo vai ficando para depois e eu não assisto nadica.

Mas então chegou uma versão boa de X-Men: First Class e eu fui lá matar minha curiosidade mórbida. Porque né, pelo menos considerando imagens da produção, sinopse e afins, não dava para pensar de forma muito positiva sobre o que viria ali. Entretanto, me conte: você tem horror a sangue, vai gastar minutos preciosos da sua vida com filme de horror só para falar mal depois? Não né. Aí vale o mesmo par aos fãs xiitas de x-men. Não adianta dizer qual era a primeira formação do grupo, que algumas situações ali seriam improváveis nas HQs, etc. etc. etc. O que você pode fazer é pensar que trata-se de um “E se…” versão cinematográfica e se divertir. Foi o que eu fiz.

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Meia Noite em Paris

Novo Woody Allen na praça, e lá vamos nós ao cinema conferir Meia Noite em Paris. A história tinha todos os elementos para me ganhar logo de cara: Paris, Nostalgia, referências mil à arte da década de 20. E realmente me conquistou, foi como se por pouco mais de uma hora e meia eu tivessa a mesma sorte da personagem Gil (interpretada por Owen Wilson) e pudesse viajar no tempo e viver um pouco naquela época maravilhosa, um prato cheio para qualquer amante da arte. Pense em nomes como Ernest Hemingway, T.S.Eliot, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Salvador Dalí, Man Ray, Scott Fitzgerald, Cole Porter… enfim, todos reunidos.

É por isso que dá para entender esse desejo de Gil de viver aqueles tempos. Porque deve ter sido simplesmente um daqueles momentos únicos para a arte, com tantas mentes brilhantes cruzando caminhos e trocando informações. O sujeito que sonha em produzir algo que faça diferença certamente deseja estar nesse meio, recebendo conselhos de pessoas que vê como mestres, exemplos. Somando a isso tem também o fato de que o presente de Gil era simplesmente chato: uma esposa que simplesmente não compreende suas vontades e com quem tem em comum o fato de gostarem de comida indiana. Preso entre viver na roda viva, escrevendo roteiros para Hollywood (o que dava dinheiro) ou desenvolvendo seu romance (o que daria satisfação pessoal).

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