Como comentei no post em que falo sobre o filme As aventuras de Pi, estava com uma birra gigante com essa história por conta de todo o bafafá sobre o autor (Yann Martel) ter plagiado um livro de Moacyr Scliar chamado Max e os Felinos. E como ficou bastante claro para quem me ouviu falar sobre a adaptação, a birra acabou porque me encantei completamente com a história, o que acabou fazendo com que o livro “furasse a fila” das leituras pendentes. Neste post falarei sobre o livro, sobre o plágio e sobre como minha visão do filme mudou após ler a obra – mas vamos por partes.
1. O filme após a leitura
Eu adorei o filme. É meu queridinho para o Oscar, por mais que eu saiba que ele não tenha café no bule para ser o grande ganhador da noite. E como andei sendo bem ranzinza com algumas adaptações (As vantagens de ser invisível e O lado bom da vida, mais especificamente), achei que cabiam alguns comentários, até para deixar claro que eu não sou aquele tipo de bocó que não consegue perceber que é óbvio que adaptações são diferentes dos livros.
A questão é: tomo o trabalho de Ang Lee com As aventuras de Pi como modelo de um bom roteiro adaptado. Coisas foram deixadas de lado? Claro. Coisas foram alteradas? Evidente. Mas a essência da obra foi captada, o que a fez dela algo especial (ou seja, uma história que merecia ser contada), está lá. Continue lendo “As aventuras de Pi (Yann Martel)”
Nem vou entrar nos méritos da obviedade de uma adaptação cinematográfica de um livro não ser exatamente igual ao livro (consigo pensar em poucos casos em que isso de fato ocorreu), mas estava pensando aqui sobre dois lançamentos de 2013 que têm zumbis no enredo, e em como essa questão da adaptação pareceu trabalhar de formas diferentes para cada um.
Verdade seja dita, passei dias me enrolando para assistir ao filme mais recente de Quentin Tarantino, Django Livre. Eu via alguma notícia sobre o filme e antes mesmo de me empolgar e procurar mais informações, já pensava: “poutz, mas nem gostei tanto assim dos últimos”. E enrolei, enrolei, enrolei até que finalmente assisti. E aí lembrei de todos os motivos que me faziam ficar animada quando lia algo sobre “um novo filme do Tarantino”.
Eu acho que o que mais me agradou em Django foi o cuidado com o roteiro. Eu gostei de Bastardos Inglórios, mas não lembro de diálogos que eu pensasse FOOOOOOODA como o entre Schultz e Candie falando sobre Alexandre Dumas. As frases curtas e de efeito ainda estão lá, como já provaram as ‘n’ piadas sobre “Django” ser com “d” mudo (aqui tem um exemplo disso), mas a sensação que dá é que está tudo melhor amarrado, mais fluido, menos forçado. O filme tem quase três horas que passam quase sem que você sinta (embora eu tenha percebido uma ligeira quebra no ritmo ali um pouco depois da primeira hora) – esse tipo de coisa não acontece por acaso.
Para você ver como são as coisas: naquelas birras inconscientes bobas do nosso dia-a-dia, eu estava disposta a odiar As aventuras de Pi (Life of Pi), do diretor Ang Lee. Basicamente porque assim que o filme chegou aos cinemas, uma história voltou a ser comentada: de como o autor do livro As aventuras de Pi (Yann Martel) teria plagiado uma obra do brasileiro Moacyr Scliar, chamada Max e os Felinos. Mas como disse, birra inconsciente boba. Para quem quiser saber mais sobre o assunto, tem um depoimento que o Scliar deu sobre o assunto aqui.
De qualquer forma, é fato que na primeira meia hora do filme eu ainda estava assistindo com um certo cinismo. “Ok, Ang Lee, entendi, você fez receita de bolo para ganhar Oscar.”, era o que eu pensava (além de “Se fizerem algo com o Tigre eu vou ficar muito puta”). Mas aí na outra vez que fui me dar conta de qualquer pensamento que não a história em si, eu percebi que já tinha sido completamente encantada, para não dizer seduzida. Sim, é receita de bolo para ganhar Oscar. Mas ninguém disse que seguir receita faz o bolo ficar ruim, ele só não fica, hum, original, certo?
O leitor é um adivinhador. Inconscientemente enquanto lemos estamos sempre tentando antecipar o que vem a seguir: qual a próxima ação da personagem, quando o autor explicará alguma condição dessa e assim vai. Mesmo quando os temidos “spoilers” são revelados, ainda assim o processo de adivinhação continua: ok, você sabe que “x” acontecerá – mas quais os eventos que levarão até “x”? Muitos autores construíram suas maiores obras partindo justamente dessa dinâmica do leitor com o texto, buscando inclusive romper com as expectativas mais óbvias. Outros, criam a expectativa através dos famosos “ganchos” que finalizam um capítulo o outro.
Porém, há os que buscam de certa forma colocar o leitor na mesma condição de seus protagonistas. Aquela sensação de pegar “o bonde andando” e ter que se atualizar sobre o que andou acontecendo, a estranheza ao estar em um ambiente que deveria ser familiar mas que não é mais. É exatamente o que Matthew Quick faz em seu romance de estreia, The Silver Linings Playbook (publicado lá fora em 2008 e chegando no Brasil agora pela Instríseca como O lado bom da vida). Situando a história no momento em que o protagonista Pat está deixando um hospital psiquiátrico, e fazendo com que essa personagem seja também o narrador da história, revivemos um sentimento de termos que primeiro encaixar peças de nosso passado para então partir para a brincadeira de adivinhação sobre o que virá a seguir.
Eu tenho um verdadeiro fraco por filmes que zombam da violência. Nunca parei para pensar bem no motivo, mas adoro histórias como Cães de Aluguel, Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Survive Style 5+. Então é claro que logo que fiquei sabendo de Sete Psicopatas e um Shih Tzu fiquei morrendo de vontade de assistir, considerando não só o enredo mas também o elenco – um punhado de gente que adoro ver no cinema.
Dirigido por Martin McDonagh (o mesmo de Na mira do chefe), o filme conta a história de Marty (Colin Farrell), um roteirista passando por um bloqueio criativo e que recebe apoio do amigo Billy (Sam Rockwell) para escrever uma história sobre sete psicopatas. A graça do enredo é que pouco a pouco vamos percebendo que a história que Marty está escrevendo é na realidade a que estamos vendo no filme.
Eu não sou especialmente fã do Wes Anderson, daquele tipo que sai correndo conferir qualquer filme novo que ele tenha dirigido só por ter o nome dele nos créditos. Na realidade, assisti pouca coisa dele, adoro Os excêntricos Tenenbauns e achei Rushmore bacaninha e acho que fiquei por aí. Então minha curiosidade por Moonrise Kingdom era só sobre o filme em si, até porque pelas poucas informações que eu tinha recebido dele, parecia ser o tipo de história que me agradaria.
E é engraçado eu ter citado os Tenenbauns e Rushmore, porque Moonrise Kingdom parece pegar muito dos temas principais dessas duas histórias. Pode ser uma constante do cinema do Anderson, mas de novo, eu não vi tudo dele então não posso afirmar. De qualquer forma, vemos lá o crescimento, o deslocamento e, principalmente, aquele tom doce, mas ao mesmo tempo triste – ele tem seus momentos “Nhoooum!” ao mesmo tempo em que você vê a personagem de Bill Murray dizendo que deseja que o telhado saia voando e que ele seja tragado para o espaço.
Começo o número 3 do Cinema com mamadeira com uma resolução de ano novo: Ou melhor, algumas resoluções. A primeira é assistir pelo menos quatro filmes por mês em 2013 (sei que o ano não acabou, mas a tendência é que eu feche 2012 com a média de 2 por mês). A segunda é achar um nome novo para essa sessão, até porque Arthur já está quase largando a mamadeira. A terceira é conferir os Oscarizáveis ANTES do Oscar este ano, como eu gostava de fazer há uns anos. Acho que é isso. Sou péssima com resoluções, elas parecem funcionar ao contrário: eu listo as coisas e aí que eu não faço mesmo. Mas bem, fica pelo menos o registro da intenção. Mas vamos lá, para a última rodada do que eu tenho visto este ano.
O Artista: Já falei sobre ele aqui. Sabe aqueles filmes que o tempo passa e a lembrança dele parece ficar cada vez melhor? Eu realmente gostei, e é um daqueles que me arrependo de não ter visto no cinema – algumas cenas devem ter ficado especiais com som e imagem apropriados (como por exemplo, naquele sonho do protagonista, em que ele começa a ouvir as pessoas falando). Se eu fizesse top10 de lançamentos este ano como costumava fazer, ele estaria entre os três primeiros colocados com certeza. Acho que o que mais me agradou foi ele ter tantas personagens boas, dá aquela sensação gostosa quando o filme acaba de que você passou algumas horas sem pensar em qualquer merda da “vida real”. Lembro que um que deu a mesma sensação foi Juno. Continue lendo “Cinema com mamadeira 3”
Zambra em seu livro Bonsaifala de um casal que tem uma relação de certa forma construída com livros. A graça é que um diz para o outro que leu Em busca do tempo perdido, quando na verdade não o fizeram. Digo isso porque de certa forma minha história com o Fábio também tem uma presença forte dos livros, mais especialmente os de Tolkien. E ontem de manhã, enquanto ele se arrumava para ir trabalhar, eu tive que despejar a bomba que seguro há quase 8 anos: EU NUNCA TERMINEI DE LER O HOBBIT. Pois é. Cheguei na metade, cansei, larguei. Nunca li os Apêndices de O Senhor dos Anéis também. Eu acho que nosso relacionamento sobreviverá a isso (eu não o perdoo por nunca ter lido Os Três Mosqueteiros, talvez façamos uma negociação aí), mas se estou deixando registrado esse momento é para explicar que, embora eu tenha sido fã de Senhor dos Anéis, eu nunca fui fã hardcore – não sou do tipo que discute personagens ou passagens obscuras do livro, até porque eu provavelmente os ignorei enquanto lia. Ok, divago: fato é que eu fui ao cinema ontem à noite mais como leiga do que como fã. Acho importante ressaltar isso e logo mais explico o por quê.
Então, o filme. Começo avisando que não vou cuidar para filtrar spoilers, então se você ainda não viu, não leia. Também não vou passar todo o histórico, a essa altura vocês já devem estar carecas de saber. Mas vou ressaltar novamente que foram 9 anos de espera entre o lançamento de O Retorno do Rei e a estreia de Uma Jornada Inesperada, um período de tempo que por si só já é um ótimo alimento para uma expectativa gigante. O filme abre com um prólogo mostrando Bilbo mais velho (interpretado por Ian Holm) escrevendo sua história para Frodo no dia de sua festa de aniversário. Sim, aquelaaaaa de A sociedade do anel. Quando chegar o dvd alguém provavelmente vai mostrar como uma coisa se encaixa com outra (Frodo indo encontrar Gandalf em Uma Jornada Inesperada e Frodo encontrando Gandalf em A Sociedade do Anel, por exemplo). O prólogo serve não só para conectar as duas trilogias, mas também para apresentar a história dos anões de Erebor, que será a base dos eventos que ocorrerão em O Hobbit.
… tinha acabado de ganhar o livro de capa preta da minha mãe – não que ela tivesse adivinhado que eu queria muito aquele, eu sempre deixo muito claro o que eu quero muito ler perto de Natal e aniversário. “O Senhor dos Anéis”. Eu lia a revista SET (na realidade, tinha assinatura) e sabia de toda a agitação ao redor da produção que chegaria ao Brasil no dia primeiro de janeiro, e esse aliás foi um dos ‘n’ fatores que atiçaram minha curiosidade sobre o livro. Devorei em poucos dias (livro favorito: As duas torres. personagem favorito na época: Legolas), empolgadérrima ao ponto de tentar por conta própria aprender tengwar e aquelas runas dos anões cujo nome não lembro mais. Enfim, evidente que eu era uma das malucas que no primeiro dia do ano, com o resto do shopping inteiro fechado, estava lá fazendo fila para conferir o filme A sociedade do anel, o primeiro da trilogia do Peter Jackson.
Entendam: não era aquela nerd apaixonada pelos livros, que já tinha lido tudo o que saiu sobre Tolkien. Tolkien nem passava no meu radar antes de começarem os falatórios sobre a adaptação. Mas o filme me encantou ao ponto de eu começar a querer saber mais daquele mundo. Porém, a vida vai atropelando nossos pequenos prazeres, e em janeiro eu tinha aulas na faculdade para colocar em dia o calendário após uma greve longa, que inclusive só perdeu o posto de “greve mais longa” este ano. Verdade seja dita, acho que meu ex se envolveu muito mais em “tolkienidades” do que eu, tanto que ele que me apresentou o site e o fórum Valinor. Sobre o fórum, no começo eu lia usando a conta dele, adorava os tópicos do Clube da Insônia. Até que resolvi me cadastrar, com o fantástico nick ~·*Preciosssssa*·~ (sim, messsstre, preciossssa), que depois mudei para o ~·*Ana Lovejoy*·~. Fiz amigos lá, ao ponto de fazer uma churrascada em casa com trocentas pessoas que nunca tinha visto pessoalmente até então. Comecei a achar graça de questões que antes nem passavam na minha cabeça (alou, asas de balrog?), e a ansiedade pelo segundo filme foi crescendo. As Duas Torres chegou aos cinemas no dia 27 de dezembro, e eu estava lá na fila da estreia também.