Retrato de um Assassino

Eu tenho certeza que já comentei aqui sobre minha angústia como leitora: aquela coisa de não importar o quanto eu leia, eu nunca lerei todos os livros do mundo e por consequência nunca saberei o que estou perdendo. Para filmes a sensação é mais leve, mas volta e meia eu me dou conta de que se fosse depender de assistir só o que sai nos cinemas, eu provavelmente perderia MUITA coisa e às vezes não necessariamente boas, mas no mínimo interessantes.

Veja o caso de Retrato de um Assassino (Henry: Portrait of a Serial Killer) que vi ontem à noite. Nunca tinha ouvido falar. Minhas referências de filmes com assassinos seriais ficavam ali entre Assassinos Por Natureza e Aconteceu perto de sua casa e provavelmente continuariam assim se eu não tivesse cruzado com esse. Enfim, não é exatamente uma experiência que vá mudar minha vida, mas é o tipo de situação que me faz lembrar que tem muito mais por aí, argh.

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Horror espanhol

Então que segui a sugestão do Jedan e assisti Quem pode matar uma criança? (no original, ¿Quién puede matar a un niño?). Eu não vou escrever um post dizendo que estou surpresa, porque a verdade é que há muito que tenho percebido o quanto eles mandam bem quando o assunto é horror. Vocês sabem, um dos meus filmes favoritos é uma produção hispano-mexicana, A Espinha do Diabo. E tem pouco tempo chegou [REC], que até ganhou uma versão americana, por exemplo.

Enfim, não foi surpresa. Mas ao mesmo tempo, Quem pode matar uma criança? surpreende pelo modo como lida com a ideia de horror. O filme é de 1976 e começa com uma sequência de trechos de documentários e reportagens mostrando guerras e as consequências dessas para as crianças. Muda então para um casal em férias que decide visitar uma pequena ilha na região, e quando chegam lá descobrem que não há adultos no lugar.

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Exam (2009)

Se você passar os olhos na sinopse, até pensa que é tipo O Aprendiz ou algum reality show do gênero. Oito pessoas (quatro homens e quatro mulheres) chegam na última fase de um processo de seleção do que seria um emprego imperdível. Eles estão todos acomodados em uma sala sem janelas, onde resolverão uma “prova”. A “prova” é responder uma pergunta em oitenta minutos, sem rasurar o papel, sem sair da sala, sem falar com o guarda ou com o fiscal de prova. Quem não respeitasse uma dessas regras estaria automaticamente eliminado.

E então você pensa “ok, o que pode sair de interessante disso?”. Bom, o negócio é que no momento que eles abrem a prova, reparam em um pequeno detalhe: não há pergunta. O verso do papel está em branco, constando apenas o número de cada um deles para identificá-los. Uma das mulheres sob stress resolve escrever na folha “Eu acho que mereço ser contratada…” e mal escreve, o guarda a retira da sala por rasurar o papel de prova.

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Festa estranha com gente esquisita

Eu era até bem tolerante sobre filmes de terror, pensava assim “ok, você sabe que está vendo algo que serve para se divertir, então não vá cobrar genialidade do entretenimento”. Mas depois de uma série de filmes maizomeno eu fico pensando aqui, se as boas opções estão se esgotando ou se os hormônios zoados da gravidez estão esculhambando meu gosto para filmes, não só comida. Não é que eu tenha odiado, mas faz tempo que não vejo um filme e me empolgo um monte pensando “Uou, tenho que indicar esse para um amigo”.

Enfim, vamos a um esquema meio pá-pum, checando o que vi até o momento. Eu queria fazer uma menção honrosa ao Valhalla Rising, que embora não seja de terror é tão bizarro que quase parece um. Lembrei na hora da imagem que eu tinha de filme europeu antes de começar a assisti-los, era exatamente aquilo, hehe. Mas ok, vamos à lista.

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Deadgirl

Já tinha um bom tempo que estava curiosa sobre esse filme, até porque li várias resenhas extremamente favoráveis. Aquela coisa de “não é só um filme de terror” e blablabla. Bom, talvez Deadgirl fosse um filme bacana se fosse um filme de terror. Até porque qualquer tentativa de leitura alegórica do que é visto ali acaba esbarrando em questionamentos básicos – para não falar que eu ainda acho que a narrativa foi extremamente mal montada.

Mas ok, do começo. Deadgirl começa com dois amigos do barulho passando uma tarde batutinha em um hospício fazendo coisas que até… ok, sem narração de Sessão da Tarde. Enfim, os amigos estão lá no hospício e por acaso descobrem no subsolo uma garota algemada em uma cama. E bem, ela é a garota que dá título ao filme, portanto você conclui antes dos amigos que apesar de respirar e se mexer, ela está morta. Um deles volta para casa, o outro decide que seria uma boa ideia transformar a zumbizinha em uma escrava sexual.

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O Lobisomem

Baseado no clássico de 1941 que contava com Lon Chaney no papel principal, esse novo O Lobisomem com Benicio Del Toro não teve exatamente a recepção que eu esperava. Por causa disso, acabei adiando o dia em que finalmente iria conferir o que para mim seria um daqueles raros casos de filme de terror com boa qualidade (que não se sustenta só no humor ou na tosqueira, digamos assim). E sabe como é, quando você tem baixas expectativas, as chances de se decepcionar também são baixas.

E para falar bem a verdade, passei boa parte do filme pensando no que é que as pessoas viram de errado nessa adaptação. Lembro que em uma das resenhas que li, diziam que o diretor não teve coragem de fazer horror de fato e a história ficou sem sal (digamos assim). Se for essa a razão mesmo, talvez a explicação seja o fato de que a versão que chegou nos cinemas tem lá 16 minutos a menos do que a versão do diretor (que foi a que eu assisti). E provavelmente boa parte das cenas gore do filme tenham ficado de fora para se ajustar a alguma classificação que atingisse um público maior, não sei.

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Kick-Ass

Já ali no começo o protagonista do filme pergunta como com tantas histórias em quadrinhos e filmes mostrando heróis, nunca ninguém teve a ideia de também ser um. E isso já te prepara para o que vem por aí: pessoas comuns, que resolvem tomar para si as “grandes responsabilidades” mesmo que não tenham “grandes poderes”. É então que começamos a acompanhar a história de Dave Lizewski, um adolescente normal (ok, nerd e loser) que cansado de apanhar de valentões começa então a “lutar o crime” como Kick-Ass.

Se esse primeiro momento do filme não te agradar, aguente as pontas. Eu também estava achando tudo meio bobo e pensando que bem, poderia estar vendo outra coisa que não isso. Aquele universo hiperbólico e cheio de tipos de filmes que misturam adolescentes e “vigilantes”, bem, acho que todos já vimos isso antes, com mais ou menos qualidade. Mas é quando somos apresentados a outros heróis que o filme começa a valer a pena.

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Colin

Já tem algum tempo que quero assistir Colin, filme inglês de zumbis, mas ficava adiando porque queria… cofcof… hum… gasp… ééé… porque eu queria ver com legenda. O que é meio idiota, se você for pensar que é um filme contado sob o ponto de vista do zumbi que dá título à história. Se o zumbi é o protagonista, é meio certeza que não veremos muuuuuuitos diálogos, ou pelo menos nenhum tão denso que um aluno de inglês basicão já não conseguisse captar. Mas ok, a preguiça é meu pecado preferido, então tá, vamos ao Colin.

É importante saber de início que a produção é famosa por ter custado algo em torno de 40 libras. Por 40 libras, você não vai esperar um Avatar, certo? E como toda produção-famosa-por-gastar-pouco-dinheiro, Colin conta com aquela irritante câmera no estilo documentário que irrita inicialmente, mas depois de algumas cenas se mostra razoável para o desenvolvimento da tensão (como por exemplo o zumbi na cozinha do protagonista, que você acaba vendo por um reflexo na torneira).

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Alice no País das Maravilhas

Então que finalmente assisti Alice no País das Maravilhas, e não, não vi em 3D. E talvez isso tenha feito toda a diferença entre acabar o filme com a sensação de um bom entretenimento ou extasiada com a experiência (que aparentemente parece estar acontecendo com quase todos que assistem ao filme em 3D). Nesse sentido, de filme que não funciona tão bem quando volta à “normalidade”, pode ser um demérito se pensar em tudo que Tim Burton já conseguiu trazer para o cinema sem o auxílio de imagens saltando sobre você. Mais ou menos assim: fica um filme bonitinho, mas ordinário.

A começar pelo desenvolvimento das personagens. Se em filmes como Peixe Grande somos apresentados a um Ed Bloom apaixonante até pelos elementos de seu passado, em Alice o ritmo do filme não permite desenvolver muito sequer a protagonista. Ok, temos lá a menininha com uma relação muito bacana com o pai, salta para a jovem prestes a se casar com um sujeito desagradável, salta para Alice chegando a Underland (etc.). Enfim, tudo rápido demais, o que não permite de fato que você se importe com a personagem principal. A simpatia maior fica para o Chapeleiro Louco, talvez a única personagem que conseguiu se destacar com a correria do roteiro.

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O Segredo dos Seus Olhos

Oscar de melhor filme estrangeiro, 199ª posição no top 250 do IMDb, centenas de críticas mais do que positivas sobre o filme… e aí é óbvio que fiquei morrendo de vontade de conferir O Segredo dos Seus Olhos, produção argentina com Ricardo Darín que conta a história de um agente de justiça que depois de aposentado resolve escrever um romance baseado em um dos casos mais marcantes de sua carreira, um estupro seguido de assassinato.

A intenção de escrever o romance é óbvia desde o início: o escritor reconhece que aquele caso foi uma das encruzilhadas em sua vida, um daqueles momentos decisivos que fazem toda a diferença por causa de suas ações e das demais pessoas envolvidas. Escrever sobre o assassinato é de certa forma repensar o que foi que fez dele o que é hoje, um sujeito que apenas vive, mas cheio de vazio.

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