The Echoes (Evie Wyld)

The Echoes da anglo-australiana Evie Wyld (ainda sem tradução no Brasil) inicia com o que é até o momento minha frase de abertura favorita das leituras de 2025. Diz o narrador: “Eu não acredito em fantasmas, o que desde minha morte vem sendo um problema.”. O fantasma-narrador conversa com o leitor de um ponto recente do pós-vida, ele ainda não sabe o que precisa fazer para sair daquela situação, ele não sabe o que pode fazer já que é um ser incorpóreo e invisível. Ele também não lembra como morreu. Mas sabe que está preso na casa onde vivia com a namorada Hannah.

O que eu gosto desse primeiro capítulo é que de certa forma ele já nos apresenta o tom da história, mesmo que ela cresça em forma nos capítulos seguintes: é engraçada na mesma medida em que é melancólica. Ela é, principalmente, uma reflexão sobre como nossas ações no passado acabam repercutindo não só no nosso presente, mas nos dos outros também. E isso conseguimos ver inclusive na estrutura do romance: Max é o mestre de cerimônias, abre o livro com seu capítulo em primeira pessoa que também iniciará a sequência de capítulos que estruturará o livro.

Depois de Max vem sempre Hannah, num passado pouco distante, registrando os últimos meses antes da morte de Max – os capítulos em terceira pessoa. Depois desse passado recente somos jogados para um passado mais distante, na adolescência de Hannah vivida na área rural australiana. Finalmente, fechando a sequência, vemos um pedaço da vida de uma das pessoas desse passado distante de Hannah. Como dá para perceber, Max não é a personagem principal -e de certa forma ele nem será o personagem principal da vida de Hannah. Mas é um daqueles casos de pessoas que passam na nossa vida e deixam uma marca, que (nesse caso literalmente) nos assombram mesmo depois de anos.

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Iris, Annie e outras garotas que falhariam no teste Voight-Kampff

Eu queria ter gostado mais de Acompanhante Perfeita (Companion, 2025), mas até agora eu não se se é o filme que bate na trave mesmo, ou se é porque eu já vi a mesma ideia melhor desenvolvida em um livro no ano passado. Eu achei bem sacado nos minutos iniciais eles não entregarem logo de cara a natureza da Iris (embora por trailers e outras peças de marketing a gente já saiba). Você vê Iris e Josh como um casal normal e apaixonado, fora uns “opa, pera.” que surgem do nada (mas bem discretos, como o fato de Iris chegar carregando as malas grandes sozinha enquanto Josh está só com uma bolsa leve, ou a Iris toda animada depois do sexo e Josh só vira para o lado e diz um “vai dormir, Iris”).

Talvez o que tenha me incomodado é que o enredo tenha girado mais em torno de Iris tentando sobreviver aos eventos da viagem com os amigos de Josh. Em muitos momentos o filme é mais comédia do que um suspense, o que parece tirar um pouco o peso do que é que significam as ações de Josh ou mesmo a relação dele com Iris. É um filme ruim? Não é. Mas fica a sensação de que poderia ser bem melhor. Continue lendo “Iris, Annie e outras garotas que falhariam no teste Voight-Kampff”