Escrever um livro, ter um filho, plantar uma árvore

Foto do Ashikaga Flower Park no Japão, um lugar que eu espero ter visitado com minha vó em alguma outra linha do tempo.

Uma das últimas conversas que tive com minha avó foi no último aniversário que comemoramos na casa dela. Ela falou da vez que achou que minha mãe (ainda bebê) não estava conseguindo respirar e chamaram uma ambulância -e como com todas as histórias da minha vó, do que parece uma história simples do nada o caos se instala e você tem ambulância presa na lama, meu vô sem entender o que estava acontecendo e minha mãe dando um punzinho aliviada quando o socorrista abre os cueiros que estavam muito apertados. Achei engraçado que o que eu considerava um traço da minha ansiedade (checar no meio da noite se o bebê saudável estava respirando) aparentemente é um momento meio universal da experiência da primeira vez como mãe.

A outra coisa que falamos foi sobre a glicínia no quintal dela, que naquele momento já tinha escapado do controle e dominava todo o muro, subindo em galho de árvore, caindo para o lado da casa do vizinho. Descobrimos que compartilhávamos a flor favorita.

Um pouco depois a vó morreu. Sempre que converso com meus parentes sobre isso fico na dúvida se eles realmente entendem o que quero dizer, mas quando retorno para aquele dezembro, penso aliviada que pelo menos foi antes do COVID. A vó tinha problemas pulmonares, teria sido um inferno para ela. Teria sido um inferno para nós também não poder se despedir. Continue lendo “Escrever um livro, ter um filho, plantar uma árvore”