Escrever um livro, ter um filho, plantar uma árvore

Foto do Ashikaga Flower Park no Japão, um lugar que eu espero ter visitado com minha vó em alguma outra linha do tempo.

Uma das últimas conversas que tive com minha avó foi no último aniversário que comemoramos na casa dela. Ela falou da vez que achou que minha mãe (ainda bebê) não estava conseguindo respirar e chamaram uma ambulância -e como com todas as histórias da minha vó, do que parece uma história simples do nada o caos se instala e você tem ambulância presa na lama, meu vô sem entender o que estava acontecendo e minha mãe dando um punzinho aliviada quando o socorrista abre os cueiros que estavam muito apertados. Achei engraçado que o que eu considerava um traço da minha ansiedade (checar no meio da noite se o bebê saudável estava respirando) aparentemente é um momento meio universal da experiência da primeira vez como mãe.

A outra coisa que falamos foi sobre a glicínia no quintal dela, que naquele momento já tinha escapado do controle e dominava todo o muro, subindo em galho de árvore, caindo para o lado da casa do vizinho. Descobrimos que compartilhávamos a flor favorita.

Um pouco depois a vó morreu. Sempre que converso com meus parentes sobre isso fico na dúvida se eles realmente entendem o que quero dizer, mas quando retorno para aquele dezembro, penso aliviada que pelo menos foi antes do COVID. A vó tinha problemas pulmonares, teria sido um inferno para ela. Teria sido um inferno para nós também não poder se despedir. Continue lendo “Escrever um livro, ter um filho, plantar uma árvore”

Melhores Leituras de 2024

Já começo dizendo que vou aproveitar o post das Melhores Leituras de 2024 (que no fim das contas é meu jeito de registrar as leituras favoritas do ano para ter um link fácil à mão para quando me perguntam “e aí, o que você tem lido de bom?“) para deixar a sugestão do aplicativo Bookmory.

Já tem algum tempo que falo dele em redes sociais, mas acho que o que eu não costumo ressaltar como ponto positivo é justamente o fato de NÃO SER uma rede social de livros, o que é ótimo. Eu gosto de redes sociais, eu uso redes sociais e acho que tem muito de positivo na existência delas para criarmos espaços para falar sobre livros, mas eu sinto também que falta um pouco o momento pessoal, algo para além das opiniões de terceiros.

Porque com o passar dos anos mesmo quando você se sente profundamente consciente das suas escolhas, ainda assim parece que há sempre uma nota de performance no que a gente divulga em rede social, não? Eu já me peguei escolhendo livro para ler porque tinha muita gente falando dele e queria conferir mais pelo FOMO do que qualquer outra coisa – mesmo sabendo que ele não tinha muito o perfil de livro que eu gosto. Isso para não falar dos doidos que leem livros que obviamente não vão gostar só para fazer vídeo/post/sinal de fumaça na linha “eu li livro x para que você não tenha que ler”.

Além disso, tome por exemplo também as famosas metas de leitura. Eu tenho meta de leitura acho que desde 2016. Eu gosto, mas para mim sempre foi algo lúdico, não um compromisso sério. Aí agora no final do ano no topo do Goodreads1 tinha um link para uma lista de livros curtos para quem queria bater a meta de leitura. Aí eu te pergunto: onde fica a diversão?

Adianta ficarmos apavorados com os dados da Retratos de Leitura de 2024 se seguimos impondo uma natureza de obrigação para a leitura? Ou ainda, essa ideia de que leitura tem que ser mais do que por prazer, tem que sei lá, ser edificante, moralizante, ou qualquer outro -ante. Que a leitura tem que vir com conteúdo para te preparar para o mercado de trabalho, para ser uma boa pessoa, para ser alguém de sucesso?

Eu me pergunto de verdade se a gente espera de um filme da Marvel ou de uma série da Netflix a mesma coisa. E eu não estou diminuindo filmes da Marvel e séries da Netflix, eu estou dizendo que algumas vezes está ok só se divertir com arte, e com a leitura isso também funciona. Especialmente se você não é professor de literatura nem trabalha no mercado editorial ou com jornalismo cultural e portanto leitura nenhuma é obrigatória para você.

Enfim, vai lá amiguinho, descobre o que te faz feliz e se divirta. Por exemplo, eu abracei de vez o gênero mina branca triste, é minha praia e quando vejo um lançamento que segue nessa linha, vou sem medo de ser feliz. Até quebro a cara como no caso do Gold Rush, por outro lado passei boas horas com Piglet, Adelaide, As Irmãs Blue, As Young As This, What’s Like in Words, que só não entraram no top10 porque bem, é top10, não top15 ¯\_(ツ)_/¯.  Vamos para a lista então? Fora de ordem porque como sempre digo, já é difícil selecionar só dez.

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  1. não me escapa a ironia de que falei um monte e no fim todos os links do post são para o Goodreads, talvez eu devesse ser menos preguiçosa e passar a linkar as editoras, não sei.  No fim vira tudo link quebrado mesmo